Capítulo 34 - Batalha na muralha
“As muralhas não são apenas barreiras físicas, mas simbolizam as batalhas internas que todos enfrentamos. Cada pedra erguida é um desafio superado, cada brecha, uma vulnerabilidade exposta.”
— O livro da VERDADE, de Pavel Vaselinna, página 244.863.297.
A tensão era palpável no ar, envolvendo Harley, Anastasia e os guarda-costas, que corriam em direção à muralha, impulsionados por uma contingência que haviam planejado como parte de uma encenação. A intenção inicial era proteger Anastasia da ilusão de perfeição que seu clã mantinha, mas agora parecia que a situação estava escapando de suas mãos.
Ao se aproximarem da entrada da muralha, uma figura imponente surgiu de forma inesperada na torre em frente. Era uma das estátuas: O Ministro da Justiça, um ser temido por todos na cidade. Sem qualquer hesitação, ele emitiu ordens que ressoavam pelo local:
— Matem todos! Não deixem ninguém entrar!
O pânico varreu a população que tentava desesperadamente entrar pela entrada principal da muralha. Homens, mulheres e crianças se espremiam, empurrando e gritando, clamando por segurança.
As palavras do Ministro da Justiça eram uma sentença de morte, e todos sabiam disso. O portão, outrora símbolo de segurança, transformou-se em uma barreira intransponível. Lá fora, pessoas clamavam com desespero, implorando para que o portão se abrisse.
As vozes da multidão ecoavam em agonia, reverberando entre os muros da cidade. A cada momento, mais pessoas chegavam, e as que estavam próximas do portão eram espremidas, algumas sendo pisoteadas por aqueles que desesperadamente buscavam segurança.
Aqueles que estavam do lado de fora da muralha, desprovidos dos privilégios e tecnologias dos cidadãos de dentro, reconheciam a fragilidade de suas vidas. Uma sensação de impotência os dominava. Era um pesadelo que se desenrolava diante de seus olhos, e ninguém tinha clareza sobre o que o futuro reservava.
No ápice do caos, o Ministro da Justiça revelou sua face sombria. Em vez de buscar justiça e proteção para todos os cidadãos, suas ações transpareceram crueldade e injustiça.
— Derramem o óleo! — rugiu, com uma voz autoritária que ecoou pela praça.
Das muralhas altas, enormes caldeirões cheios de óleo incandescente, com mecanismos de tombamento precisos, foram acionados. O líquido quente e ardente jorrou como uma cascata mortal, caindo impiedosamente sobre a população aglomerada junto ao portão. O impacto inicial gerou pânico e gritos ensurdecedores enquanto o óleo se espalhava, inflamando-se e criando uma cena de terror inimaginável.
— Acendam o fogo! — completou o Ministro da Justiça com uma crueldade sádica, que ecoou como um sussurro inevitável de condenação.
E como ordenado, tochas acesas foram arremessadas com precisão nos pontos onde o óleo escaldante havia caído, aumentando a temperatura e fazendo com que o fogo surgisse com uma intensidade avassaladora. O calor insuportável, as chamas crepitantes e o desespero que se abateram sobre a população causaram ainda mais dor e caos, transformando em segundos aquele local em um inferno incandescente.
— Bum! — uma bomba foi lançada contra o portão da muralha.
O impacto da explosão não apenas rompeu a barreira como também causou danos consideráveis à sua estrutura, deixando uma brecha que permitiria a entrada para dentro da muralha.
Além disso, lanceiros habilidosos e determinados posicionaram-se estrategicamente entre a muralha e a população em pânico. Cada um deles estava acompanhado de um ajudante carregando lanças adicionais, prontos para lançá-las com precisão letal.
Seus ataques certeiros atingiram vários dos guardas e arqueiros encarregados de proteger a muralha. Essas ações habilidosas só serviram para agravar ainda mais a situação, transformando-a em um cenário caótico e extremamente perigoso.
Enquanto o pânico se espalhava como um incêndio descontrolado, o Ministro da Justiça conseguiu demonstrar uma resistência notável diante dos ataques, lidando com as lanças arremessadas com agilidade surpreendente.
O caos estava instalado, com gritos de medo e desespero ecoando por todo o local. A explosão no portão deixou uma brecha na entrada da muralha, permitindo que alguns moradores determinados tentassem invadir a cidade.
Era evidente que um grupo deles não se limitava a buscar abrigo pacificamente; eles estavam dispostos a ir até às últimas consequências para quebrar a barreira que os separava da promessa de riqueza e privilégios do interior da cidade.
O Ministro, enfrentando a ameaça, mostrava-se como um obstáculo quase intransponível, liderando os guerreiros da muralha, desviando de ataques e repelindo-os com determinação. Sua imobilidade aparente era, na verdade, uma fachada que escondia sua força impressionante e sua habilidade excepcional.
Harley, ainda segurando a mão de Anastasia, estava perplexo diante do que presenciava. O que começara como uma contingência para proteger a princesa da ilusão de perfeição do clã agora se tornara uma situação perigosa e imprevisível.
No meio daquele tumulto caótico, Harley permanecia imóvel, observando com horror o cenário de barbárie que se desenrolava diante de seus olhos. Era uma representação crua e brutal da desigualdade, onde os mais fracos e impotentes se viam limitados a apenas duas opções: defender-se ou fugir, enquanto uma minoria detinha o poder de determinar o destino da maioria.
Essa minoria, ofuscada por seus próprios interesses, não hesitava em infligir sofrimento, disseminar a desordem e manipular as massas como peças em um jogo cruel.
Ali, naquele caos, desenrolava-se uma luta entre dois lados opostos: de um lado, aqueles que buscavam preservar seus privilégios e o equilíbrio já estabelecido, desejando manter o status quo. Do outro lado, encontravam-se os que almejavam destruir esses privilégios e subverter o equilíbrio existente, ansiosos por estabelecer uma nova ordem.
A mesma população, que poderia servir como exemplo do sofrimento a ser infligido para manter o equilíbrio, também era explorada como inocente útil, utilizada como peões descartáveis em um ataque à muralha, tudo em nome da mudança ou da destruição do equilíbrio estabelecido.
Era uma dolorosa reflexão sobre a injustiça justificada pela luta pelo poder, camuflada como uma necessidade cruel. Também era uma exposição crua da falta de escrúpulos daqueles que não hesitavam em explorar o caos para alcançar seus objetivos egoístas, ignorando o preço humano dessa busca insensível.
Naquele momento turbulento, revelavam-se a fragilidade do equilíbrio construído ao longo de gerações, nas mãos daqueles dispostos a semear o caos, na busca de estabelecer uma nova ordem que os beneficia. Também se descortinava até que ponto os que defendiam a manutenção desse equilíbrio estavam dispostos a ir para proteger seus privilégios.
Harley compreendia que, em meio à selvageria e às reviravoltas, a verdadeira natureza do poder e da injustiça estava sendo revelada diante de seus olhos, deixando-o perplexo e indignado.
As palavras dos guardas, que minutos atrás haviam sido leais à princesa, agora ecoavam nos ouvidos do jovem. Eles estavam cercados por inimigos implacáveis, enquanto o Ministro da Justiça defendia a entrada da cidade com uma determinação de ferro.
A situação era caótica e desesperadora, e Harley sabia que a imobilidade apenas agravaria as consequências desse conflito crescente. Ciente de que permanecer naquele lugar era potencialmente letal, ele agarrou a princesa com firmeza e a puxou, iniciando uma fuga frenética em meio ao caos que se desdobrava ao seu redor. Era uma corrida desesperada pela sobrevivência, enquanto a turbulência da situação parecia apenas aumentar.
Em um instante de puro instinto de sobrevivência, o jovem desembainhou sua adaga, preparado para enfrentar os adversários que não poupariam aqueles que, por medo, escolheram a fuga em detrimento de avançar em direção à muralha.
Ele se movia com agilidade e destreza, esquivando-se dos ataques inimigos e usando sua lâmina afiada para se defender. Quando um atacante se aproximou rapidamente, Harley conseguiu desarmá-lo com um movimento preciso, fazendo-o cair ao chão com expressão de dor.
Outro agressor veio em sua direção, e ele usou sua adaga com maestria, cortando o braço do inimigo e fazendo-o recuar com um grito de agonia. A luta prosseguia com fúria ao seu redor, e Harley estava determinado a proteger Anastasia a todo custo.
Enquanto ele enfrentava os adversários, a princesa permanecia ao seu lado, observando a batalha com descrença. Seu mundo ilusório e pacífico estava desmoronando, e ela se encontrava encolhida no chão, incapaz de chorar, olhar ou dizer qualquer palavra. Harley, consciente da necessidade de agir, puxou a garota para si e, com firmeza, expressou sua preocupação:
— Se continuarmos assim, não serei capaz de protegê-la. – Sacudindo a princesa suavemente, ele questionou: – Você conhece algum lugar próximo para onde podemos ir?
Entre soluços, Anastasia finalmente respondeu:
— Eu… Acho que sim… Existe uma entrada subterrânea secreta, desconhecida pela maioria dos cidadãos. É uma base militar e um bunker de defesa, uma estrutura subterrânea projetada para proteger a realeza do clã contra ameaças, ataques de outros clãs, desastres naturais e outros perigos.
O jovem olhou surpreso para a princesa, impressionado com o conhecimento que ela tinha sobre aquele lugar. Enquanto continuava a lutar contra os inimigos, ele perguntou:
— Como você sabe disso?
A garota explicou rapidamente:
— Meu pai me contou sobre a existência desse local quando era mais jovem. Ele disse que era um segredo guardado a sete chaves para garantir a segurança da realeza. Agora, é a nossa melhor chance de escapar dessa situação.
Harley assentiu, confiando na princesa. Eles precisavam sair dali o mais rápido possível. Com determinação renovada, ele continuou lutando, mantendo os inimigos afastados.
A garota liderava o caminho, apontando com confiança na direção da entrada subterrânea. Enquanto avançavam, ainda podiam ouvir os ecos distantes da luta feroz que rugia do lado de fora da muralha. O som da batalha ecoava por todos os cantos, lembrando-os constantemente do caos que deixavam para trás.
O caos e o fogo rugiam, deixando para trás um rastro de destruição que parecia interminável. Eles não tinham escolha senão continuar adentrando a escura e misteriosa passagem, esperando encontrar refúgio na base secreta. À medida que mergulhavam nas profundezas, o ar ficava mais fresco e a escuridão mais densa.
Um som de passos ecoou inesperadamente à frente deles, interrompendo seu caminho rumo à entrada subterrânea. Anastasia e Harley se depararam com uma mulher de beleza extraordinária.
Seus cabelos negros caíam em cachos que contornavam graciosamente os ombros, e seus olhos, embora intensos, tinham um brilho de curiosidade e interesse enquanto observavam os dois. O que mais chamou a atenção, no entanto, foi a panela de barro que ela segurava com mestria.
A panela de barro estava gasta pelo tempo, revelando sua antiguidade e uso frequente. Em contraste com sua aparência exterior envelhecida, os detalhes esculpidos na superfície da panela ainda eram nítidos e marcados, evidenciando o cuidado com que fora feita.
Era um artefato que, à primeira vista, parecia deslocado em meio àquele ambiente sombrio e subterrâneo, mas que, ao mesmo tempo, carregava consigo um certo fascínio e enigma, como se tivesse uma história para contar.
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