Capítulo 35 - Ruptura do destino
“O destino é um fio frágil, facilmente rompido por nossas escolhas e ações. Cada ruptura é uma chance de reescrever nossa história.”
— Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.
De maneira surpreendente e rápida, Anastasia retirou um pequeno artefato de sua bolsa e lançou-a na direção da misteriosa mulher. A bomba explodiu em uma nuvem de gás densa, deixando a mulher misteriosa momentaneamente incapacitada. Sem perder tempo, Harley seguiu a princesa em sua fuga.
Ele estava genuinamente impressionado com a rápida e astuta tomada de decisão de Anastasia. Ela tinha avaliado a situação e agido prontamente diante da aparição inesperada, que, muito possivelmente, representava uma ameaça.
Os jovens corriam, esforçando-se para afastar-se o mais possível da nuvem de fumaça, ganhando distância em relação à possível ameaça que permanecia imobilizada no centro da explosão. Enquanto Harley compreendia que, com Anastasia ao seu lado, a prioridade era evitar conflitos, seus pensamentos teimavam em vagar por entre lamentações e frustrações que o assombravam.
Ele estava cansado de correr, fugir, como se fosse um ladrão ou um criminoso. Mas as circunstâncias o forçavam a mais uma vez desviar-se do confronto direto, e isso o consumia de raiva e impotência. Suas pernas doíam, seus músculos gritavam de exaustão, e ele se sentia como se estivesse sempre correndo, sempre evitando o inevitável. Pelo menos, por enquanto, eles pareciam ter conseguido despistar a mulher misteriosa.
Ele enquanto corria ao lado de Anastasia, sentiu a intensidade do momento pesar sobre ela. Seus pensamentos refletiam a gravidade da situação. Ela havia lançado um olhar provocativo e reconhecimento em meio à adversidade e finalmente conseguiu dizer algo:
— Papai está certo. Você é a melhor pessoa quando se trata de fuga! — comentou a princesa tentando parecer menos tensa.
Harley, apesar de sua frustração e autocrítica, não pôde evitar esboçar um sorriso diante da observação de Anastasia.
— Bem, talvez ele estivesse certo, afinal. Mas eu preferiria estar enfrentando nossos inimigos de frente do que fugindo deles.
A garota assentiu. A realidade do momento estava indo além de suas expectativas, e ela lutava para assimilar todos os eventos que aconteciam ao seu redor.
— Harley? Quem são nossos inimigos? — perguntou Anastasia com um olhar cheio de dúvida. — Meus guarda-costas nos deram algum tempo para fugir, mas eles estavam enfrentando os guardas do meu pai, e até mesmo o povo de fora da muralha estava nos atacando.
O jovem a encarou com determinação.
— Não se preocupe, Anastasia. Eu vou te proteger.
A princesa hesitou por um momento e então respondeu:
— Talvez seja melhor continuarmos fugindo. Você já me tirou de minha família e agora terá que assumir a responsabilidade quando meu pai vier nos resgatar.
As palavras de Anastasia atingiram o jovem como um grande impacto. A tensão já era palpável na situação, e mais uma mal-entendido parecia agravar as coisas. Ele engasgou, incapaz de encontrar as palavras certas para responder a garota. Seus olhos fixaram-se nela, enquanto ele lutava para expressar sua sinceridade.
— Anastasia, você não entende… — começou Harley, mas ela o interrompeu, seus olhos revelando uma mistura de raiva, mágoa e frustração.
— Eu entendo muito bem! — disse ela com firmeza. — Você interferiu na minha vida e agora deve fazer o que for necessário para consertar isso.
As palavras da princesa atingiram o jovem em cheio, e ele sentiu um nó na garganta. Ele sabia que havia feito escolhas difíceis e que, de alguma forma, havia se tornado parte da vida da garota, mas ele não podia aceitar a ideia de que ela via aquilo como uma prisão.
— Anastasia, não sou responsável por tudo o que está acontecendo. Estamos juntos nisso, e vou fazer o meu melhor para te manter a salvo. Mas também temos que descobrir a verdade, desvendar os segredos do clã e entender por que estão atrás de você.
— Harley! — grita a princesa — Está na hora de você assumir suas responsabilidades.
As palavras da princesa ecoaram no coração do jovem como um trovão. Ele não conseguia esquecer o olhar dela, o misto de sentimentos que ela demonstrara naquele momento. As lágrimas que surgiram em seus olhos apenas aprofundaram o nó em sua garganta.
Ele tentou responder, mas suas palavras ficaram presas, impedindo qualquer tentativa de se explicar. O silêncio que se seguiu pareceu se prolongar infinitamente. Anastasia, desesperada e magoada, correu para longe dele.
Ele assistiu impotente, vendo-a desaparecer na floresta.
Desesperado para encontrar Anastasia antes que a situação se agravasse ainda mais, Harley correu pela densa floresta em sua busca. Cada passo que dava parecia ecoar a batida acelerada do seu coração. Sua determinação em alcançar a princesa antes de qualquer confronto com a mulher da panela era o único pensamento em sua mente.
Enquanto adentrava na floresta, ele mal conseguia conter a ansiedade e a confusão que o atormentavam. Ele ansiava por esclarecer o mal-entendido e dissipar as preocupações de Anastasia. Harley estava determinado a encontrar sua princesa e tranquilizá-la sobre a situação.
Finalmente, ao se aproximar da princesa, o jovem viu o corpo da garota desmoronar e mais lágrimas surgindo em seus olhos .
Harley se viu diante da decepção nos olhos da mulher que o observava. Ele se sentiu perdido, sem saber ao certo como confortá-la ou reverter a situação. Com a clareza de que o passado não podia ser desfeito, ele se encheu de determinação para proteger Anastasia a todo custo.
— Vamos continuar fugindo! — disse ela, com uma nova determinação enquanto se levantava — chorar nunca resolveu nada mesmo. E se morrermos aqui de que vai adiantar minhas lágrimas ou a força do meu pai
Eles seguiram correndo, os ecos da tumultuada batalha ainda ressoando ao redor. Seu único objetivo era alcançar o refúgio da base secreta. A cada passo, a incerteza do desconhecido se fechava ao redor deles.
Era uma corrida contra o tempo e contra inimigos desconhecidos, mas eles não tinham outra escolha senão seguir em frente, buscando abrigo para que no futuro pudessem encontrar algumas respostas sobre todo esse caos acontecido no Clã da Lâmina Oculta.
Enquanto corriam em direção à entrada subterrânea, Harley não pôde deixar de se perguntar o que os aguardava nas profundezas do bunker de defesa. E como ele poderia proteger Anastasia em um mundo cheio de incertezas e perigos. O futuro era incerto, mas uma coisa era clara: ele faria qualquer coisa para mantê-la a salvo e desvendar os mistérios que cercavam o clã.
A cada passo que davam, a escuridão da passagem subterrânea parecia engolir suas esperanças e dúvidas. A verdade estava escondida nas profundezas, esperando para ser revelada, e o destino deles estava intrinsecamente ligado aos segredos que guardavam.
Ele não pôde deixar de admirar a força e a determinação que ela exibia, mesmo nas situações mais difíceis. Ela era uma princesa que não se encolhia diante dos desafios, mas enfrentava-os de frente, assim como ele próprio queria fazer.
Subitamente, foram surpreendidos novamente pela mulher misteriosa, que não estava disposta a ser enganada uma segunda vez. Harley freou bruscamente, seu coração disparando ao deparar com a mulher segurando a panela, bloqueando o caminho à sua frente. Com destreza ameaçadora, ela empunhava o artefato, seus olhos refletindo um ardil venenoso.
A mulher de cabelos negros e olhos profundos bloqueou o caminho do casal, e uma faísca de curiosidade e interesse dançou em seus olhos enquanto os fixava. A panela de barro, gasta pelo tempo, parecia deslocada naquele ambiente sombrio, mas seu exterior envelhecido contrastava com os detalhes cuidadosamente esculpidos que ainda eram nítidos e marcados.
Em um gesto rápido e inesperado, a mulher ergueu a panela de barro e a virou de cabeça para baixo. Para surpresa de Harley e Anastasia, em vez de alimentos ou líquidos, um espesso vapor venenoso começou a emergir da panela.
Uma onda de horror se apossou deles quando perceberam a ameaça que se formava. O vapor envolveu o casal, fazendo-os tossir e sufocar, com os olhos lacrimejantes e ardentes. Era um veneno mortal que ameaçava consumi-los por completo.
Em um momento de desespero profundo, o jovem, com seus sentidos já comprometidos pelo veneno que o envolvia, empunhou sua adaga com mãos trêmulas e a brandiu com fúria implacável contra a panela de barro. O som estridente da cerâmica se quebrando ecoou no ar quando o artefato colidiu com o chão.
A panela, percebendo a iminente ameaça à sua própria existência, não teve escolha a não ser desencadear sua autodefesa mágica. Esta defesa singular era ativada apenas em situações de risco extremo, um último recurso para sua sobrevivência.
O artefato, de origem antiga e enigmática, estava impregnado de poderes ocultos que, naquele momento crítico, se manifestaram em toda sua magnitude. A adaga de Harley, igualmente imbuída de poder, representou um desafio que a panela não poderia simplesmente ignorar.
Quando o corte afiado da adaga perfurou a panela de barro, uma convergência de magias ocorreu, criando uma ressonância mística instantânea que abalou o ambiente ao seu redor.
A fusão das energias mágicas resultou na abertura de um portal, sugando Harley e Anastasia para dentro de uma nova realidade, sem que tivessem a chance de resistir. Enquanto o vórtice mágico os arrastava para um mundo desconhecido, as faíscas de energia dançavam ao seu redor, levando consigo segredos, perigos e possibilidades que ainda estavam para serem desvendados.
Com um flash de luz e um estrondo silencioso, eles desapareceram do local da batalha, deixando para trás um cenário de confusão e perplexidade, enquanto o portal se fechava atrás deles.
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