Capítulo 39 - Batalha pela sobrevivência
“A verdadeira prova de um guerreiro não é apenas a habilidade com a adaga, mas a capacidade de sobreviver ao caos e encontrar ordem no desespero. A batalha externa é apenas um reflexo da batalha interna.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 70.
A ruptura provocada pela adaga causou um impacto avassalador nas projeções das consciências presas na margem do rio. À medida que o mundo desmoronava, as conexões que mantinham essas formas de energia separadas de seus corpos físicos começaram a vacilar.
O abalo era sentido por todos, um frenesi de sensações que se espalhava pelas consciências. Era como se o próprio tecido do mundo estivesse sendo rasgado.
Então, algo extraordinário aconteceu. As consciências, anteriormente presas em uma existência etérea, começaram a se retrair. Como se fossem cordas elásticas, elas eram puxadas de volta a seus corpos físicos.
A fusão dessas duas realidades, o etéreo e o físico, causou uma tempestade de emoções e sensações. Era como se as almas tivessem sido arrancadas de suas moradas espirituais e forçadas a retornar a corpos que há muito tempo haviam abandonado.
Aqueles na margem do rio viram-se submersos em um turbilhão de experiências, um retorno abrupto à realidade física que agora estava em colapso.
Harley, cuja própria consciência também havia sido lançada de volta ao seu corpo físico, sentiu uma onda de preocupação esmagadora quando viu Anastasia também retornando à sua forma corpórea.
Seus olhos encontraram os dela em meio àquela confusão caótica de retorno às formas físicas. Ele a viu lutando para se adaptar à transição, seu rosto revelando uma mistura de choque e desorientação.
A situação climática estava à beira do caos total. Tufões selvagens e tempestades surgiam inesperadamente, lançando o céu claro em um turbilhão de nuvens escuras e ameaçadoras. Estrondos e relâmpagos rasgavam o horizonte de maneira sinistra, pintando um quadro apocalíptico sobre a paisagem.
O solo tremia sob seus pés à medida que terremotos sacudiam o mundo, como se a própria terra estivesse à beira do colapso. Era como se estivesse testemunhando a extinção iminente de tudo o que conheciam e, diante desse caos avassalador, a busca por uma saída tornou-se ainda mais crucial.
O jovem estendeu a mão na direção da princesa, sentindo uma necessidade urgente de alcançá-la e protegê-la nesse momento de incerteza.
— Anastasia! — ele gritou, mal sendo capaz de ouvir sua própria voz sobre o tumulto.
Suas mãos se encontraram, agarrando-se com firmeza, e o jovem tentou transmitir a ela um senso de calma, mesmo que ele próprio estivesse cheio de apreensão.
— Estamos juntos nisso, não importa o que aconteça. Vamos encontrar um jeito de sair dessa realidade.
A garota olhou nos olhos de Harley, seus olhos azuis encontrando os dele. Ela apertou a mão dele com força e assentiu, sua expressão determinada. Apesar da desorientação inicial, a princesa estava se recuperando rapidamente, sua coragem inabalável emergindo no momento mais crítico.
Eles tinham enfrentado desafios incríveis até agora, e esse era apenas mais um obstáculo a superar.
— Eu não esperava menos do meu futuro marido! — disse a garota com um sorriso radiante, sua alegria iluminando a cena e dissipando a confusão. A honestidade e inocência de sua declaração pegaram o jovem de surpresa, fazendo-o gaguejar enquanto tentava entender o que a levara a pensar nisso.
— Chiuu!
Um ruído agudo e súbito cortou o ar, seguido de um borrifo de sangue que respingou em Harley e Anastasia. Os dois se viraram e presenciaram um braço decapitado.
O agressor, além de seus quatro braços, segurava um enorme machado manchado de sangue, que resplandecia com um brilho ameaçador no meio do caos.
Seu oponente, uma figura encurvada com inúmeros colares e contas adornando seu corpo exibindo uma infinidade de cicatrizes por toda a pele, conjurava formas ovais feitas de uma misteriosa fumaça negra. Ambos estavam profundamente envolvidos na sangrenta batalha que se desenrolava na margem do rio.
Eles não podiam ignorar os inúmeros conflitos que se desenrolavam ao seu redor. Na margem do rio, a cena era um verdadeiro caos. Seres de diferentes espécies, que antes compartilhavam o mesmo espaço pacificamente, agora se viam como inimigos mortais.
O que era antes um ambiente harmonioso agora se transformava em um campo de batalha caótico e descontrolado. Cada projeção de consciência, ao retornar a seus corpos físicos, parecia ser tomada por uma enxurrada de hostilidade e paranoia, o que só aumentava a urgência de encontrar uma saída diante daquele colapso iminente.
Em questão de segundos, uma verdadeira carnificina tomou conta da margem. As batalhas se espalhavam rapidamente, resultando em um acúmulo de membros decepados, corpos inertes e sangue jorrando por todos os lados.
A contagem de seres vivos na margem diminuía a uma velocidade alarmante, à medida que a violência incontrolável se espalhava como um rastro de destruição.
Enquanto a confusão se intensificava na margem do rio, um acontecimento inesperado capturou a atenção de todos. No centro da agitação, um portal misterioso surgiu, radiante em sua estranheza. Era uma ruptura na realidade, uma fenda na ordem do mundo que atraiu olhares atônitos.
O que isso significava? Eles mal tiveram tempo para refletir, pois o portal parecia pulsar, como se chamasse por aqueles que ousassem atravessá-lo. Era como se o próprio colapso do mundo estivesse ativando essa estranha saída de emergência, uma oportunidade rara em meio ao caos.
Harley agarrou o braço de Anastasia com uma determinação palpável, e num silêncio compartilhado, seus olhos se encontraram, refletindo a profunda compreensão da situação que enfrentavam. Sem palavras, o frenesi das batalhas ao redor desapareceu, enquanto todos se lançaram apressadamente na direção do portal.
O mundo ao seu redor distorcia-se e desmoronava, e o portal instável parecia ser a única tábua de salvação disponível no turbilhão daquela realidade despedaçada. À medida que mais e mais seres vivos cruzavam o portal, Harley percebia que a passagem se tornava visivelmente instável.
Cada pessoa que se aventurava por esse caminho parecia diminuir a intensidade de seu brilho e o tamanho do portal, como se estivessem consumindo seus recursos. Era uma corrida contra o tempo, uma batalha para atravessar antes que o portal se esgotasse por completo.
A jornada deles para a saída estava repleta de obstáculos e desafios imprevisíveis. A cada passo, o portal parecia mais fraco, e a atmosfera à sua volta tremia com instabilidade. Eles não tinham certeza se conseguiriam sair a tempo, mas não podiam permitir-se duvidar.
Harley e Anastasia se esforçaram para chegar ao portal antes que ele se dissipasse completamente. O mundo ao seu redor estava em colapso, as forças da natureza descontroladas e o caos em todos os lugares.
Desesperados, eles deram um último salto em direção ao portal, mas antes que conseguissem cruzar, um grupo final de seres lutando pela sobrevivência atravessou o portal, selando-o irrevogavelmente.
O portal se fechou abruptamente, deixando os dois jovens diante de um cenário de caos, corpos sem vida e um mundo que parecia estar rapidamente entrando em extinção.
A incredulidade tomou conta deles enquanto observavam o local onde o portal havia se fechado. Eles se sentiram desesperados, perdidos em um mundo que estava desmoronando diante de seus olhos, sem nenhuma saída aparente.
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