Capítulo 40 – Mundo à deriva
“Quando o mundo se desfaz, o silêncio ecoa como um grito agonizante. À medida que o tecido da realidade se rompe, é a vontade indomável que costura os fragmentos dispersos. Apenas aqueles que se adaptam e encontram ordem no caos emergirão das ruínas.”
— Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.
O silêncio que se seguiu àquele fechamento abrupto do portal era opressivo. Harley e Anastasia ficaram parados, atordoados, olhando para o local onde o portal instável uma vez se ergueu.
Mas o mundo à sua volta não permaneceu em silêncio por muito tempo, pois a destruição se desdobrava de maneira implacável. Era como se o próprio planeta estivesse gemendo em agonia. Terremotos sacudiam o solo abrindo crateras, e o som das placas tectônicas se movendo ecoava por toda parte.
Os tufões e tempestades obscureciam os céus, acompanhados pelo estrondo dos trovões e relâmpagos. A natureza parecia ter se virado contra si mesma, e a devastação e o número de vítimas aumentavam rapidamente, sem piedade. Era o mundo em colapso, e eles estavam no epicentro dessa catástrofe iminente.
Harley apertou a mão de Anastasia, e a expressão dela refletia o mesmo espanto que ele sentia. Eles foram deixados em um mundo que desmoronava rapidamente.
Enquanto o jovem continuava seu percurso sem destino ou rota definida, mantendo-se em movimento constante para evitar se tornar um alvo fácil, lembranças dos ensinamentos de seu clã ressurgiam em sua mente.
Na época, ele costumava considerar essas lembranças como meras histórias de ninar, mas agora, diante da realidade que se desdobrava diante dele, percebia que havia mais do que imaginara.
Seu clã ensinava que durante as crises de extinção de um mundo, a própria essência do planeta se dissiparia, dando origem a um ou mais portais de conexão com um mundo próximo, onde um novo começo poderia ocorrer. No entanto, na época em que ele absorvera essas histórias, elas pareciam mitos desnecessários, ou, na melhor das hipóteses, histórias contadas para oferecer esperança.
Seu clã Adaga Arcana sempre esteve confinado em um mundo bloqueado por uma neblina mortal, incapazes de escapar, e essas histórias soavam como fantasias inatingíveis ou mentiras inventadas por mentes criativas que ansiavam por uma experiência maior do que a realidade podia oferecer.
Até aquele momento, nenhum portal novo havia se manifestado. Entretanto, a memória dos ensinamentos do seu ressurgiu como uma centelha de esperança, uma possível saída para a catástrofe iminente.
A contagem regressiva já começara, e uma sensação de urgência tomou conta deles. Era uma corrida contra o tempo para encontrar uma rota de fuga antes que o mundo fosse engolido pelo caos e destruição.
No frenesi do desespero, o jovem girou 360 graus, seus olhos vasculhando freneticamente em busca de um novo portal ou qualquer vislumbre de esperança. Não havia espaço para hesitações. Até o último segundo, ele recusaria a desistir da busca por uma saída. O mundo desmoronava diante de seus olhos, e a sobrevivência se tornava sua única e iminente prioridade.
Harley e Anastasia olharam um para o outro, compartilhando a mesma sensação de impotência diante do colapso do mundo. Eles estavam sozinhos, cercados por destruição, e não havia respostas. A contagem regressiva se aproximava do seu fim, e o destino era incerto.
Enquanto avançavam, o tempo parecia um inimigo impiedoso. A cada passo, o mundo desmoronava à sua volta. Eles sentiam a terra tremer sob seus pés, como se o próprio planeta estivesse em revolta contra sua presença.
Crateras surgiam cada vez mais, rasgando o solo e criando armadilhas traiçoeiras que poderiam se tornar fatais a qualquer momento. Era uma corrida contra a destruição iminente, onde a sobrevivência dependia de sua habilidade em encontrar uma saída.
Cada segundo era precioso, e a contagem regressiva prosseguia implacável. Sem tempo para olhar para trás, em meio ao caos de mortes e destruição, Harley foi acometido por um pensamento desesperado: A adaga!
A adaga na mão do jovem parecia chamar sua atenção, como se sussurrasse promessas de salvação e esperança em meio à catástrofe iminente. Com um gesto frenético, ele tentou ativar um novo portal usando a adaga, mas suas inúmeras tentativas se mostraram em vão. O artefato permaneceu impassível, insensível a seus golpes no ar, a suas súplicas e até mesmo a seus pensamentos angustiados.
Então, um insight surgiu na mente do jovem. Ele tinha uma ideia. Com a adaga em uma mão, ele começou a procurar pelos corpos dos seres que estavam caídos. Ele tinha em mente a tentativa de induzir a abertura de um novo portal, mas para isso, precisava encontrar outro artefato.
No chão, enquanto vasculhava em busca de um artefato entre os corpos inanimados que jaziam ao seu redor, Harley testemunhava uma cena que ecoava a brutalidade de uma batalha sangrenta e desgastante. Os corpos exibiam cortes profundos, equimoses, e marcas de pancadas, testemunhas dos confrontos ferozes que esses seres enfrentaram antes de sucumbirem.
O chão estava tingido de cores inusitadas de sangue, criando um contraste chocante com as peles, vestimentas ou armaduras variadas desses seres de mundos diferentes. Suas formas e características eram tão diversas quanto inusitadas. Alguns tinham múltiplos braços ou pernas, enquanto outros possuíam apêndices exóticos e chifres curvados. A vestimenta desses seres estava repleta de detalhes intrincados e ornamentos únicos, que revelavam uma infinidade de culturas desconhecidas e fascinantes.
Enquanto procurava, o jovem não tinha um artefato específico em mente. Cada objeto era uma possível solução para a situação desesperada na qual se encontravam, e ele procurou rapidamente, sentindo que o tempo se esgotava, e o mundo continuava a desmoronar à sua volta. Cada segundo era precioso na busca por um artefato que poderia fornecer-lhes uma chance de sobrevivência.
Enquanto vasculhava o ambiente em sua volta em busca de qualquer artefato que pudesse replicar a abertura igual a do primeiro portal, Harley se deparou com uma pequena panela que surpreendentemente lembrava muito aquela que os havia transportado para o atual mundo.
Ele agiu rapidamente, empunhando sua adaga e desferindo um golpe preciso contra a antiga panela, da mesma forma que havia feito com a primeira.
O golpe certeiro na antiga panela provocou novamente uma reação imediata. Um portal começou a se materializar diante deles, criando um vórtice turbulento de luz e energia que girava como um redemoinho. E mais uma vez o próprio tecido da realidade estava se distorcendo à sua volta, e não havia como resistir à sua atração avassaladora.
Antes que qualquer um deles pudesse tomar uma decisão consciente, algo ocorreu com uma velocidade surpreendente. Anastasia, em um gesto de puro instinto, agarrou as mãos de Harley, e, mais rápido do que ela, algo se moveu nas proximidades dos dois.
Uma mulher misteriosa, cuja aparência se assemelhava notavelmente à primeira portadora da panela que os trouxe a esse mundo, esticou o braço e agarrou o tornozelo do jovem. De forma estranha, a mulher ensanguentada recusava-se a ser deixada para trás e estava decidida a acompanhá-los na jornada através do portal.
O vórtice os engoliu os três com força irresistível, sugando-os para dentro dele. Eles foram levados em uma jornada tumultuada, onde cores e sensações se misturaram em uma espiral caótica. A passagem pelo portal foi como uma montanha-russa de emoções e sensações, uma viagem desorientadora e implacável. Eles perderam toda noção de tempo e espaço, mergulhados na incerteza do desconhecido.