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    “A abertura de um portal é um ato de criação e destruição simultânea. Cada novo portal desbravado exige um sacrifício, e cada sacrifício oferece uma nova chance de renascimento.”

    Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.


    Harley sentiu o portal se fechando ao seu redor, novamente aquela sensação vertiginosa que o fazia perder a noção do tempo e do espaço. De repente, o caos que envolvia o mundo à beira do colapso deu lugar a uma calmaria assustadora, o medo do desconhecido pairando sobre ele. Que novo mundo ele seria levado? Que novos desafios se apresentariam? 

    Quando ele recuperou os sentidos, a sensação de alívio varreu sobre Harley. Ele estava de volta às proximidades do Clã Lâmina Oculta, de volta ao seu antigo mundo aprisionado por uma neblina intransponível.

    Os três encontravam-se próximos à muralha do clã Lâmina Oculta, em meio a uma densa floresta. A mulher ferida, fraca e ensanguentada, jazia no chão. Anastasia permanecia ao lado de Harley, claramente impactada pelo retorno súbito. 

    O jovem observou com atenção o cenário ao seu redor, tentando assimilar os eventos extraordinários que acabavam de se desenrolar diante de seus olhos. Em breve, uma figura familiar emergiu da densa floresta. 

    À medida que se aproximava, Harley percebia que aquela figura não era estranha, mas sim alguém que havia cruzado seu caminho antes: a mulher misteriosa que havia enfrentado ele e cujo artefato em forma de panela havia desempenhado um papel crucial no início de sua jornada através da abertura do primeiro portal.

    Ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha enquanto encarava a mulher, ciente de que a difícil batalha que haviam travado havia sido abruptamente interrompida pela abertura acidental do portal, causada pelo choque de sua adaga com o artefato que a misteriosa mulher carregava. 

    Espantado, o jovem observava atentamente a notável semelhança entre a mulher ferida no chão e a mulher misteriosa que acabara de chegar. Seus olhos alternavam entre as duas, incrédulos diante da impressionante semelhança entre ambas.

    A mulher sorriu, mas sua expressão contrastava com o olhar firme que lançava. Instintivamente, Harley defensivamente agarrou a adaga com firmeza, preparando-a para um possível contra-ataque, caso a situação tomasse um rumo inesperado.

    — Não vim mais lutar. Você me salvou e parece digno do artefato que carrega — disse a mulher misteriosa

    — Chamo-me Lysandra! — continuou a misteriosa mulher enquanto dava um passo para trás, desviando o olhar para observar a aparente irmã gêmea ensanguentada com evidente preocupação.

    O jovem, com as lembranças do embate anterior em mente, respondeu com firmeza:

    — Eu acho que você está enganada!

    — Você não está entendendo! — continuou a mulher — Somos uma só. E o destino nos juntou aqui para encontrar o que foi perdido, para recuperar o que foi fragmentado.

    Enquanto a mulher falava em enigmas e mistérios que escapavam à compreensão de Harley, Anastasia aproximou-se da mulher ferida no chão com uma expressão de profunda preocupação estampada em seu rosto.

    Ele não pôde evitar a comparação que surgia em sua mente enquanto olhava para as duas mulheres diante dele. Anastasia era uma visão de beleza criada artificialmente pelo poder e pelas afirmações fervorosas de seu pai, o rei. 

    Por outro lado, Lysandra era o oposto em quase todos os aspectos. Seus cabelos eram negros como a noite, e seu rosto não era embelezado por véus ou adornos, revelando sua beleza de forma simples e direta. Suas feições eram graciosas e refinadas, conferindo-lhe uma aura de mistério e sabedoria. 

    O jovem observou as duas mulheres, maravilhando-se com a notável diferença entre elas. Era como se estivesse diante de um delicado equilíbrio entre a luz e a sombra, entre a artificialidade inquestionável de Anastasia e a aura misteriosa de Lysandra.

    Em meio ao choque do reencontro, Harley fora trazido de volta à realidade pelo questionamento de Anastasia, que direcionou sua preocupação à outra mulher ferida: 

    — O que aconteceu com você? Você não parecia tão ferida assim.

    A outra mulher misteriosa que estava ferida no chão sussurrou com dificuldade: 

    — Quando o portal se fechou, uma parte de mim ficou para trás, presa no outro mundo.

    Harley e Anastasia compartilharam um olhar de compreensão. A panela que fora usada para abrir o novo portal acabou ficando no mundo em colapso de onde partiram. Seria essa parte a que ela se referia?

    O jovem, com a adaga ainda em mãos, permanecia em guarda, pronto para qualquer reviravolta inesperada. Observava a cena com cautela enquanto Lysandra se aproximava ainda mais da mulher ferida. Sua expressão era séria e determinada, mas também carregava um toque de melancolia.

    A mulher misteriosa fechou os olhos da mulher ferida e, com um abraço gentil, começou a absorver a energia dela. Era uma cena impressionante e misteriosa. Harley e Anastasia, perplexos, observavam a transformação ocorrer diante de seus olhos.

    Conforme Lysandra absorvia a mulher ferida, as características desta última começaram a se desvanecer. A mulher ferida parecia se tornar uma parte da outra, uma integração de suas essências e consciências. No processo, ambas mantinham os olhos fechados, como se estivessem profundamente concentradas.

    Aos poucos, a mulher ferida deixou de existir como uma entidade separada, e suas energias foram completamente absorvidas pela outra mulher. O processo de integração não era apenas físico, mas também uma fusão de suas memórias, experiências e conhecimentos.

    Finalmente, Lysandra com um passo se afastou do local onde sua outra cópia havia desaparecido por completo. Ela abriu os olhos e encarou Harley e Anastasia, mas sua expressão refletia uma tristeza inegável.

    — Agradeço por terem auxiliado minha outra metade e por não terem interferido na nossa união agora. Sem vocês, eu teria perdido parte de minha consciência e enfraquecido ainda mais o poder do meu artefato.

    Harley olhou para a mulher misteriosa com curiosidade, tentando entender a complexidade de sua situação. Lysandra então começou a explicar:

    — Meu artefato tem a habilidade de fragmentar minha consciência em inúmeras cópias, permitindo que eu viaje por diferentes mundos e dimensões, investigando, aprendendo e evoluindo.

    Ela continuou, esclarecendo:

    — O que aconteceu foi que minha ganância me levou a me fragmentar em mais seres do que o artefato poderia suportar. Isso resultou na perda de conexão com algumas de minhas cópias. No entanto, não posso descartar a possibilidade de alguma força externa ter interferido nesse processo.

    — Para me contar tudo isso, você precisa da minha ajuda, não é? — Harley questionou, buscando entender a mudança de perspectiva de Lysandra. 

    — Exato! — Lysandra confirmou com um aceno de cabeça — No início, estava considerando tomar posse do seu artefato, mas agora percebi que você pode ser um aliado valioso na minha busca. 

    — E por que a mudança de ideia? — Harley indagou. 

    — Porque agora tenho as experiências e percepções de minha cópia que estava com vocês no mundo em colapso. — Lysandra respondeu com um sorriso. 

    — E por que eu deveria ajudá-la? — Harley perguntou novamente. 

    Lysandra deu um leve sorriso e continuou: 

    — Posso compartilhar segredos sobre essa poderosa Adaga, que por enquanto não passa de um mero enfeite em suas mãos.

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