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    “É uma sombra persistente, uma lembrança constante das feridas do passado. A inimizade profunda é um lembrete de que algumas batalhas nunca terminam, apenas adormecem, esperando o momento de despertar.”

    Sussurros das Sombras XL, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.


    Harley estava imerso em um misto de surpresa e perplexidade ao olhar para Isabella. 

    Ela continuava sendo uma presença esguia e ágil, dona de uma cabeleira negra que ondulava como a noite, ornada por duas tranças finamente entrelaçadas. Seu olhar, profundo e penetrante, emitia um brilho cativante, revelando a aguçada inteligência que herdara de seu pai.

    Por um instante, Harley pensou que tudo não passava de um pesadelo fugaz, uma ilusão efêmera que se dissiparia com o piscar de olhos. Contudo, ao fitar Isabella com mais intensidade, a realidade se impôs de forma incontestável.

    Seus olhos encontraram os dela, e uma onda de reconhecimento misturada com incredulidade percorreu sua mente:

    “Como a sua ex-noiva pode estar aqui? A última vez que a vi foi quando ela fugiu para o Clã da Lâmina Oculta, não faz muito tempo, uns 6 meses, talvez? Difícil precisar.”

    Mas ali estava ela, a poucos metros de distância, mais real do que qualquer lembrança. No entanto, ao observá-la mais atentamente, Harley percebeu nuances que escapavam à lógica do tempo. Isabella parecia mais madura, suas expressões mais destacadas, como se o peso dos anos tivesse sido distribuído de forma mais intensa sobre ela.

    O tempo, de maneira injusta, havia deixado sua marca mais evidente em sua ex-noiva do que em suas lembranças. Seus traços, antes suaves, carregavam agora a bagagem de experiências que Harley mal conseguia conceber. Era como se o tempo, implacável, tivesse lhe conferido uma maturidade precoce.

    Isabella quebrou o silêncio, sua voz ecoando no espaço entre eles: — Você não amadureceu nada. Onde esteve se escondendo esse tempo todo? Dez anos sem te ver, e muitas coisas mudaram.

    — As coisas mudaram e vão mudar mais — as palavras de Sergio Romanov rasgaram o silêncio pesado do ambiente subterrâneo. Seu tom indiferente e frio ecoou pelas paredes escuras, como se trouxesse consigo a própria sombra da morte. 

    Inexplicavelmente, lá estava o jovem líder imponente do clã Dragões de Sangue e um inimigo irreconciliável do jovem. Sua postura transmitia confiança e poder, enquanto os cabelos negros e sedosos caíam elegantemente sobre os ombros, contrastando com a pele clara.

    Uma risada irônica escapou dos lábios de Sergio, criando ondas de desespero que reverberaram na mente de Harley. A surpresa pairava no ar, um gosto amargo na boca de quem ousava desafiar o destino. 

    O jovem, no entanto, não conseguia conter a enxurrada de sentimentos que inundava seu peito. A lembrança de Lysandra, morta pelas mãos implacáveis de seu inimigo, agia como um catalisador de raiva.

    Sem aviso algum, impulsionado por uma fúria recém-desperta, Harley lançou-se furiosamente contra Sergio. Sua adaga avançou muito antes de qualquer sombra de emoção ou pensamento se manifestar. Era um golpe carregado de determinação, como se cada célula de seu corpo clamasse por justiça. 

    Cada investida subsequente era um novo capítulo, uma expressão de dor e revolta, um grito silencioso que ecoava pelas entranhas da caverna.

    — Você matou Lysandra! — gritou Harley, quase como um uivo.

    — Matei? — questionou Sergio, com indiferença, apenas memorizando a informação.

    As palavras cederam lugar a socos, chutes. Cada golpe de adaga desferido por Harley contra o  jovem líder do clã Dragões de Sangue carregava consigo um ímpeto de morte. 

    O som do choque entre seus golpes ecoava com tamanha intensidade que parecia desprezar as misteriosas criaturas paralisadas no tempo, ignorando a presença dos magos e até mesmo de Isabella. 

    Em meio à dança frenética de lâminas e socos, o embate entre os dois protagonistas se tornava o epicentro de um caos singular, no qual o restante do cenário parecia se desvanecer diante da intensidade de seus movimentos. 

    As criaturas imóveis, os magos estupefatos e a própria Isabella, com suas adagas suspensas, pareciam espectadores involuntários de uma batalha que transcendia o tempo e o espaço ao redor.

    A luta era intensa, embora tivesse durado apenas alguns segundos até o momento. Enquanto Harley expressava sua dor através dos punhos cerrados, Sergio permanecia imperturbável. Seus movimentos eram calculados, cada defesa e ataque fazia parte de um plano maquiavélico que o aproximava da vitória desejada.

    Não havia traço de emoção em seus gestos, nenhum vislumbre de desejo ou remorso. Cada ação do jovem líder do clã Dragões de Sangue assemelhava-se a uma peça meticulosamente movida no tabuleiro de um jogo sinistro.

    O embate entre os dois era mais do que uma simples luta física; era a colisão de dois mundos, dois destinos entrelaçados pelo passado e condenados a se confrontarem no presente. Enquanto Harley buscava redenção, Sergio buscava apenas o avanço de seu plano sombrio, indiferente aos estragos deixados no caminho.

    Mais alguns segundos se desdobraram em uma sucessão de ataques e defesas. Cada movimento, cada respiração, era um testemunho da dualidade entre a paixão ardente de Harley e a frieza calculista de Sergio. 

    A caverna se tornara o palco sombrio de uma dança letal, onde as sombras se contorciam em resposta à dança macabra dos adversários.

    Harley, impulsionado pela fúria e pela dor, buscava vingança e justiça. Cada ataque era uma tentativa desesperada de romper as barreiras frias e imperturbáveis do jovem líder do clã Dragões de Sangue. No entanto, o mestre das sombras continuava a desviar, a bloquear, a se esquivar, como se dançasse no limiar da morte sem temer a queda.

    Enquanto a caverna absorvia os ecos dos golpes, o destino de ambos se desenrolava em cada movimento grácil ou brusco. Cada passo, cada giro, era uma expressão da dualidade inescapável que os unia.

    No meio do turbilhão de sentimentos e sombras, Harley buscava um propósito, uma resposta para o caos que se desenrolava diante dele. Sergio, por sua vez, permanecia imperturbável, seus olhos vazios de qualquer emoção humana. A vitória de um significaria a derrota do outro, e naquele momento, a balança do destino pairava em um equilíbrio precário.

    A batalha transcorria cheia de ímpeto, desdobrando-se em uma velocidade impressionante, onde apenas segundos haviam se passado.

    De repente, uma interrupção inesperada quebrou a dança mortal. Uma chuva de adagas desceu do teto da caverna, direcionada ao epicentro da batalha entre Harley e Sergio. Os dois instintivamente pularam para trás, evitando os afiados projéteis que cortavam o ar em direção a eles. A voz de Isabella ecoou no ambiente tenso.

    — Marido, não é o momento para dividirmos as forças.

    A palavra “marido” pairou no ar como uma revelação surpreendente. Harley, perplexo, mal podia acreditar no que acabara de ouvir. Sua ex-noiva, em tão pouco tempo, agora era esposa de seu maior inimigo. A confusão e o choque refletiam-se em seus olhos enquanto ele tentava assimilar essa reviravolta inesperada.

    Sergio, por sua vez, respondeu com indiferença, como se a situação não fosse mais do que um detalhe casual em seus planos.

    — Marido?

    O cenário sombrio parecia vibrar com uma nova dinâmica, com alianças e relações que desafiavam a lógica. O trio estava agora imerso em um jogo complexo de interesses entrelaçados, e a verdadeira natureza de suas conexões se desvelava com cada revelação.

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