Capítulo 69 - Dragão enfurecido: A última cartada
“Quando o dragão se enfurece, o mundo estremece sob a força devastadora de seu rugido. Cada movimento seu carrega o potencial de ser fatal, e a linha entre a vida e a morte se torna perigosamente tênue, desafiando a própria essência da existência.”
— Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. sobre Feras Aladas.
O rugido ensurdecedor do dragão ecoava pelo subterrâneo, seus olhos faiscando em fúria enquanto observava a horda de criaturas que o envolvia. O poder da segunda cabeça do monstro irradiava uma aura de desestabilidade mental, transformando as criaturas em marionetes insanas.
Entretanto, ao invés de recuarem, os seres mágicos se lançavam contra o dragão, como uma tempestade de projéteis mágicos, impulsionados pela loucura e destituídos de qualquer resquício de medo.
O corpo da besta alada era atingido incessantemente, uma torrente de criaturas descontroladas que pareciam ignorar qualquer consequência. Nesse frenesi caótico, a fera se via momentaneamente cercada por um enxame de ataques selvagens, uma cena que desafiava até mesmo a resistência impenetrável do dragão.
Em outro ponto do subterrâneo, Sergio, mesmo com o apoio de Isabella, via-se sobrecarregado pela incessante investida das criaturas e pela aproximação iminente de seus inimigos. À medida que as criaturas aumentavam em número, ele percebia o crescente distanciamento entre ele e o corpo de Astrid, uma lacuna que ameaçava suas oportunidades de recuperar os artefatos mágicos presentes no corpo dela.
Sergio encarou Isabella e proferiu com indiferença cortante:
— Esposa, vou precisar de seu artefato!
Num movimento ágil, ele decepou parte do braço dela, fazendo com que Isabella se ajoelhasse, surpresa e gritando de dor. Enquanto o grito ecoava por todo o subterrâneo, Sergio retirou o bracelete do braço ensanguentado.
Sem hesitar, o jovem líder do clã Dragão de Sangue empregou o artefato recém-adquirido para reabastecer seu amuleto e, com destreza, acionou as três sombras demoníacas.
O ato mágico provocou uma leve flutuação de energia que momentaneamente repeliu as criaturas mais próximas. Agora impulsionadas pelo novo influxo de poder, as sombras se separaram rapidamente, cada uma seguindo em uma direção diferente.
Ao canalizar o poder recém-adquirido dos artefatos mágicos, Sergio percebeu uma alteração sutil, mas crucial, no estado do seu amuleto. Anteriormente à recarga, o artefato encontrava-se à beira da exaustão, prestes a fragmentar-se após seu último uso.
No entanto, com a energia revitalizada, o amuleto pareceu retornar a um estado anterior, oferecendo-lhe uma oportunidade adicional de acionar seus poderes antes de alcançar o inevitável colapso. Essa revelação trouxe um vislumbre de esperança e estratégia renovada para Sergio, enquanto ele se preparava para enfrentar as adversidades que se desdobravam no tumulto do subterrâneo.
Já Isabella, afastando qualquer lamentação ou decepção para o fundo da memória, fortaleceu sua resolução em sobreviver ao momento presente. Diante da ameaça iminente das criaturas e do caos ao seu redor, ela decidiu priorizar sua própria sobrevivência.
Sem perder tempo, ela realizou uma rápida cauterização no ferimento, substituindo o horror e a traição por uma determinação resiliente. Com a mente focada e os sentidos aguçados, Isabella retira outra adaga com a mão restante e enfia em uma criatura e continua a lutar contra as adversidades imediatas.
Enquanto isso, Harley, percebendo a sagacidade do jovem líder do clã Dragão de Sangue e antecipando suas possíveis ações, ajustou rapidamente sua estratégia original, que envolvia a extensão invisível do escorregador para congelar o tempo na área onde os jovens se encontravam.
Rapidamente, desfez o gigantesco escorregador e a imponente montanha feitos de energia mágica, que foram utilizados para dificultar que Sergio obtivesse mais artefatos mágicos do corpo de Astrid. O resultado, embora pudesse ser visualmente belo, revelou-se trágico para as criaturas.
Uma cena surreal se formou: uma chuva de criaturas caindo repetidamente, desprovidas do suporte mágico que as sustentava. A cachoeira momentânea de criaturas tornou-se fatal para as primeiras a cair, enquanto as últimas foram amparadas pelo corpo das que haviam caído anteriormente, minimizando o risco para elas. Sangue, parte de corpos e o caos formou-se.
Harley, alheio ao espetáculo de queda das criaturas, com um movimento ágil, concentrou todo o poder dessas construções em si, formando um campo de força brilhante ao seu redor, ocultando suas características individuais.
Ao invés de utilizar o poder mágico como uma simples armadura protetora, ele começou a canalizar a energia de forma peculiar. Gradualmente, diante dos olhos perplexos dos presentes, ele gerou um pequeno exército de criaturas de energia mágica, todas semelhantes a ele. Cerca de 500 cópias, indistinguíveis entre cópia e original, formaram-se em um movimento uníssono.
Essas criaturas, cada uma envolta em um brilho similar ao de Harley, dividiram-se em quatro grupos. O maior contingente avançou rumo ao dragão, enquanto outro dirigiu-se ao local onde Sergio, Isabella e o corpo de Astrid estavam. Os dois menores grupos restantes dirigiram-se a duas das três sombras criadas pelo jovem líder do clã Dragão de Sangue.
O exército de criaturas avançou com uma sincronia perfeita, fluindo como uma onda luminosa e se dispersando para cumprir seus objetivos designados. As cópias de Harley moviam-se de maneira tão coordenada que tornava-se impossível distinguir o original da replicação, ocultando o destino do verdadeiro corpo do jovem.
O contingente, destinado ao ponto em que Sergio, Isabella e o corpo de Astrid se encontravam, estava prestes a se reunir e erguer uma redoma para congelar o tempo em toda a área. Contudo, antes que a redoma pudesse tomar forma, o líder do clã Dragão de Sangue executou uma troca de posição com a sombra mais distante, a única desprovida do exército de seres luminosos.
Harley não deixou uma das sombras sem um exército como parte de sua estratégia, mas sim porque ele estava enfrentando dificuldades em controlar essa grande massa de poder mágico de maneira adequada. Apesar de parecer um exército, todas as construções agiam como um único ser, e controlar individualmente cada cópia estava além da sua capacidade.
Enviar um exército adicional para o local onde Sergio estava agora, impossibilitaria o jovem de moldar suas cópias com precisão e rapidez em um campo paralisante do tempo. Essa nova divisão resultaria em muitas oportunidades para seu inimigo evitar, além de aumentar o desgaste mental e diluir o poder mágico em várias frentes de batalha.
Enquanto o grupo de cópias luminosas, direcionado ao dragão, continuava se movimentando pela distância que a fera se encontrava, Harley rapidamente moldou as áreas onde estavam as duas outras sombras, Isabella e o corpo de Astrid em uma espécie de cúpula.
O tempo foi paralisado nesses três locais internos dos construtos mágicos, criando uma pausa momentânea nas ações e nos perigos que cercavam cada um desses pontos específicos.
Com as três sombras de Sergio paralisadas, afastadas do local do embate, Harley direcionou suas ações para o dragão. Parte do constructo em volta da área onde o corpo de Astrid estava moldou-se em uma colher, direcionando o corpo de Astrid em direção à boca da fera alada.
Ao redor do dragão, alguns constructos tentavam paralisar a criatura sem sucesso, enquanto o bombardeio contínuo de criaturas mágicas, provenientes da segunda estrutura em forma de escorregador, persistia.
O novo exército de seres luminosos paralisou seus movimentos, posicionando-se próximo ao dragão, enquanto tudo indicava que o desfecho da batalha seria decidido quando o corpo de Astrid chegasse à boca da besta.
O dragão, percebendo a aproximação de uma fonte de poder sem resistência, observou desconfiado, lançando olhares desconfiados para os lados. Pela primeira vez, a fera alada se pronunciou:
— Humanos desprezíveis. Se vocês acham que com esse ato vou poupar vocês, estão enganados. Vocês subestimam o nosso ódio por vocês.
Num ato audacioso, o próprio Harley, impulsionado por coragem inabalável, investiu contra a imponente figura do dragão. Todo o poder mágico da área, então, se transformou em três poderosos constructos que também se lançaram em direção às cabeças e patas do dragão.
Com as patas presas, o monstro alado se desequilibrou, tombando violentamente ao solo cavernoso. A resistência das cabeças aprisionadas em uma formação de energia tornava impossível para a besta alada abrir sua boca, frustrando qualquer tentativa de lançar seus poderosos feitiços.
O desespero e a crescente dificuldade ecoavam nas feições do dragão, uma expressão de ira e confusão enquanto suas formas mágicas escuras se agitavam em uma luta desesperada contra as amarras que as prendiam.
E foi neste momento que a adaga branca cortou o ar, encontrando seu alvo com precisão letal, perfurando uma das cabeças da criatura.
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