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    “O passado é uma sombra que nunca nos deixa, uma constante lembrança de onde viemos e das escolhas que fizemos. Um guerreiro deve aprender a caminhar ao lado do passado, permitindo que ele guie seu caminho e fortaleçam sua resolução.” 

    O Código do Guerreiro Solitário, Verso 11.


    Os três sóis iluminavam o céu desconhecido, lançando uma luz vibrante sobre a jornada de Harley pela superfície do novo mundo. Em meio ao silêncio que envolvia o ambiente, o jovem refletia sobre a presença de Isabella ao seu lado. Mesmo com o passar do tempo, ela permanecia a mesma mulher intrépida e desafiadora, uma figura que resistia a qualquer mudança.

    Harley, com um sorriso nostálgico, reconhecia a dinâmica peculiar que sempre existiria entre eles. As trocas de palavras afiadas e provocativas não eram novidade; eram uma marca registrada de suas interações ao longo dos anos. Cada desafio lançado, cada mordida verbal, eram vestígios de uma longa história de disputas entre os dois.

    Enquanto caminhavam, ele relembrava outros momentos marcantes de suas vidas, nos quais esse tipo de interação era uma constante. A rivalidade entre eles se manifestava em cada gesto, em cada olhar desviado, em uma competição constante que transcendia palavras.

    Era um jogo no qual disputavam até mesmo quem conseguiria desviar o olhar primeiro, uma competição que se desdobrava em diversos aspectos de suas vidas. As lembranças desses embates, repletos de sarcasmo e provocação mútua, faziam parte do tecido das experiências compartilhadas entre Harley e Isabella.

    Em meio à nostalgia desses momentos, ele sabia que essa dinâmica peculiar estava longe de ser apenas uma troca de palavras. Era um vínculo único, uma conexão que, apesar de suas diferenças e desafios, resistia ao teste do tempo.

    O auge e também a última disputa entre eles, antes desse reencontro, foi protagonizado pelo episódio do cancelamento do contrato de casamento. Entretanto, muito antes desse momento e ao longo de todos os encontros entre eles, Isabella, com sua postura indomável, fazia questão de proclamar que não se submeteria a nenhum homem, especialmente a alguém que julgava fraco e inferior como Harley.

    Nos embates do dia a dia, ela consistentemente saía vitoriosa, alimentando assim a sua crença inabalável na própria superioridade.

    A competição com a garota, embora enraizada em rivalidade, tinha sido permeada por uma busca silenciosa por conexão e compreensão. A verdadeira batalha, Harley compreendia, era tanto contra as ameaças externas quanto contra os demônios internos, uma luta constante para manter o equilíbrio entre luz e sombra. 

    Em alguns momentos, o jovem permitia que ela vencesse, apenas para testemunhar o raro sorriso que iluminava o rosto da garota.

    Por trás do olhar indiferente e da postura competitiva, existia um desejo silencioso de ver aquela garota sorrir mais, como se fosse uma luz rara capaz de iluminar até mesmo as sombras mais densas. 

    Essa dinâmica peculiar entre eles, uma dança entre competição e um anseio por conexão genuína, revelava uma complexidade oculta em sua relação. Harley entendia que, na superfície de suas disputas, residia uma busca por compreensão mútua, uma tentativa de encontrar uma ponte sobre as águas turbulentas de suas diferenças.

    Talvez esse desejo de Harley estivesse enraizado no fato de que ele próprio havia perdido a capacidade de sorrir. As responsabilidades sobre o futuro de seu clã pesavam sobre seus ombros, e como um dos herdeiros potenciais, ele havia sido treinado com crueldade, disciplina e violência. 

    Em seu mundo, marcado pela feiura, pela mentira e pelo engano, pessoas fracas de espírito, indecisas e sem determinação não poderiam liderar. O líder verdadeiro, aquele que inspira confiança e é seguido, precisa conhecer as dores, dificuldades, a mentira e a traição.

    Ele entendia que a brutalidade e a violência delimitavam as decisões difíceis que um líder precisava tomar. Para ser um guia eficaz, era necessário ter enfrentado as sombras e o inferno, compreendendo a luz e a importância de coisas boas como inocência, justiça e bondade. 

    As cicatrizes e sombras moldavam convicções, e somente aqueles que haviam experimentado o lado feio da vida podiam verdadeiramente proteger o lado belo.

    Harley entendia perfeitamente que manter o estado de conforto quando já se desfrutava dele era uma tarefa simplificada, pois implicava na defesa da manutenção do que foi conquistado e estava sendo desfrutado. 

    A verdadeira dificuldade surgia ao tentar proteger algo que não se possuía, algo que poderia parecer inatingível, como a justiça, ou ainda algo de que só se ouvira falar, como a verdade.

    A travessia desse território incerto moldava não apenas os líderes, mas também gerava cínicos e psicopatas. Para cada indivíduo inspirador, várias almas corrompidas surgiam. 

    O jovem reconhecia essa dualidade intrínseca ao seu papel, sabendo que a liderança envolvia mais do que simplesmente dar ordens; significava carregar o peso das decisões difíceis, enfrentar a escuridão e, ao mesmo tempo, defender a luz.

    Harley caminhava em silêncio com Isabela em suas costas pelo terreno desconhecido, carregando o peso da solidão que agora pesava mais do que nunca. A perda de seu clã, de seu pai e de seu povo marcavam um capítulo sombrio em sua vida. 

    Sua vida, outrora tão previsível, agora eram apenas fragmentos dispersos pelo vento. A sensação de ter suas raízes cortadas deixava-o sem um lugar ao qual pertencer, sem uma herança para assumir.

    A vida, Harley refletia, “é uma constante transformação, um fluxo imprevisível que exige adaptação contínua. Assim como as paisagens em constante mudança do mundo ao seu redor, a existência humana também é moldada por inúmeras variáveis. 

    A imprevisibilidade do viver, com suas curvas inesperadas, nos exige construir novos alicerces internos, seguir em frente com novas trajetórias e buscar novas metas e sonhos.”

    O jovem sentia de forma bastante concreta, como se a vida, em toda a sua imprevisibilidade, estivesse sussurrando a necessidade de transformação, de deixar para trás o que já não serve e abraçar o desconhecido. 

    O peso das perdas era tangível, no entanto, ele compreendia que, no vácuo deixado pelas antigas realidades, surgiam oportunidades para novas possibilidades.

    Harley começou a ponderar se deveria ou não questionar Isabella sobre os eventos que aguardavam seu caminho, dados os conhecimentos que ela trazia de uma linha temporal diferente.

    No entanto, o receio de perturbar o equilíbrio do tempo ou de introduzir preocupações desnecessárias no momento fez Harley optar por explorar o vasto conhecimento que Isabella poderia compartilhar sobre o novo mundo e os dragões que o habitavam.

    Antes que Harley pudesse indagar sobre qualquer possível informação que Isabella poderia compartilhar, uma figura feminina emergiu ao longe. O jovem experimentou uma sensação interna de familiaridade que o fez deter-se por um momento. 

    A mulher se aproximava, e seus olhos se encontraram. Harley, confuso, tentava decifrar a conexão que parecia transcender tempo e espaço.

    A mulher sorriu suavemente ao perceber o impacto que causava e, com uma voz que ecoava em sua alma, disse:

    — Não reconhece sua mãe?

    Aquelas poucas palavras foram como um trovão em sua mente, abalando as fundações de sua compreensão. Isabella, solta no chão, assistia surpresa enquanto Harley, tomado pela emoção, correu em direção à mulher. As lágrimas inundaram seus olhos quando ele a abraçou, seu coração uma prova viva de que a realidade diante dele era inegável.

    Em meio a lágrimas de alegria, o jovem encontrou sua mãe, um elo entre dois mundos e uma confirmação de que as conexões entre as pessoas não conheciam limites. O abraço caloroso e a sensação de pertencimento fizeram Harley perceber que, mesmo em meio ao desconhecido, algumas verdades permaneciam constantes.

    Enquanto a emoção se acalmava, ele se afastou o suficiente para olhar nos olhos da mulher que o trouxe ao mundo. As palavras pareciam insuficientes para expressar a gratidão e a felicidade que enchiam seu coração. No entanto, a curiosidade persistia.

    — Como isso é possível? — Harley finalmente perguntou, ainda processando a revelação que mudara o curso de sua jornada.

    Sua mãe sorriu novamente, os olhos cheios de sabedoria.

    — O tempo e o espaço são mais fluidos do que imaginamos, meu filho. Algumas ligações são eternas e transcendem as barreiras temporais. Estamos aqui por um propósito maior.

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