Capítulo 82 - O inferno é feito por mulheres
“No calor do conflito, a verdadeira natureza do poder do guerreiro se revela, moldando o destino dos homens e do mundo ao seu redor.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 4.
A voz quebrou o silêncio:
— Mais um coelhinho perdido!
Harley permaneceu firme, não se abalando pelo comentário provocativo. Seus olhos vasculhavam a escuridão, tentando identificar os contornos da entidade daquela voz incomum. Suas mãos apertaram as adagas com mais força, enquanto seu corpo se preparava instintivamente para qualquer ataque iminente.
— Quem é você? — sua voz era firme.
A resposta veio em um tom enigmático, carregado de desdém:
— E qual a utilidade dessa informação? — a mulher continuou, sua voz carregada de sarcasmo — Nem eu sei quem eu sou direito. O importante é o que quero!
— Muahaha! — um riso grave e desafinado se seguiu, ecoando pelas ruínas da cidade abandonada. A risada ressoava de maneira perturbadora cheia de malícia.
Observando a postura firme do jovem, a mulher deixou escapar outro riso, como se estivesse se divertindo com a resistência dele:
— Muahaha!
— Porque vocês homens acham que têm algum controle ou escolha em algo? — sua voz tinha um tom de desprezo — Vocês se superestimam. Mas hoje… Vou lhe dar duas opções.
— Opções!? — Harley riu, um som cortante e cheio de desprezo. Ele sabia que era um insulto descarado. Nenhum inimigo ousaria oferecer escolhas, a menos que quisesse comprovar quão fraco julgava ser seu adversário.”
— Sim! — respondeu ela com um sorriso malicioso — Você pode se submeter a mim agora, sem perguntas, e receber os benefícios por isso. Ou eu posso fazê-lo se submeter de forma dolorosa. Qual vai ser?
Harley não hesitou em sua resposta, mas antes que pudesse falar, a mulher o interrompeu, sua voz impregnada de doçura venenosa:
— Pense bem, docinho — seus olhos faiscaram enquanto ela falava.
A escuridão ao redor de Harley parecia pulsar com uma energia própria. As sombras começaram a se mover, adquirindo formas mais definidas. Eram figuras humanóides, quase como se fossem feitas de uma luz sinistra, que se destacava do fundo negro da noite.
Os contornos tornaram-se mais nítidos, revelando corpos que um dia foram cheios de vida. Agora, no entanto, estavam desprovidos de qualquer traço de humanidade, como se fossem espectros capturados em sua última expressão de desespero.
Entre essas figuras, Harley reconheceu a imponência de guerreiros robustos, homens que, em vida, exibiam força inigualável. Agora, eram sombras obedientes, presos à servidão da mulher.
Ao lado deles, quatro figuras femininas musculosas emergiram, além de dois cavalos e até um dragão pequeno, todos envolvidos na mesma aura sombria.
A mulher, apreciando a confusão nos olhos de Harley, deixou escapar outra risada cruel:
— Esses… escolheram o caminho da dor. Não como escravos, mas como servos dispostos a qualquer coisa por mim, vivendo apenas para cumprir cada um dos meus desejos — disse ela, piscando um olho, o brilho de satisfação evidente.
— Gostei de você, meu docinho. Você tem uma força bruta que me agrada — continuou dizendo a misteriosa mulher, sua voz pingando charme — Ainda não está no nível que quero, mas eu vou moldar você até ficar perfeito para mim.
Depois, com um gesto despreocupado, ela jogou uma coleira ao lado de Harley. O objeto caiu no chão, produzindo um som surdo, mas seu significado era ensurdecedor. Havia uma clara expectativa, como se a casualidade daquele movimento escondesse uma ordem implícita: ele deveria aceitá-la, sem questionar.
Mas Harley conhecia muito bem o que aquela coleira representava. Não era apenas um acessório; era um dispositivo de controle, pronta para transformar qualquer senso de liberdade em ilusão. Uma prisão disfarçada de obediência, uma promessa cruel de submissão que a mulher fazia parecer quase um privilégio.
— Coloque! — ordenou ela — Hoje é seu dia de sorte, docinho. Preciso de um novo escravo. O último morreu há pouco, e há coisas que essas sombras simplesmente não conseguem fazer.
Harley permaneceu em silêncio por um momento avaliando suas possibilidades até que finalmente explodiu, sua voz cheia de incredulidade:
— Quem, em plena sanidade, se renderia sem lutar? Quem cederia sua liberdade, sonhos e desejos para se tornar um simples objeto de posse?
A mulher, surpresa pela recusa de Harley, torceu os lábios em uma expressão de desagrado. Mas sua irritação logo se transformou em desprezo.
— E quando lhes foi dada escolha? — retrucou ela com raiva, sua voz carregada de desdém — A liberdade é uma ilusão.
Harley continuou a desafiá-la com o olhar, resistente, determinado a não se curvar. A mulher, irritada com a insubordinação, soltou um suspiro de frustração:
— É uma pena… — Sua voz estava repleta de sarcasmo — Terei que procurar outro coelhinho para brincar.
Nesse momento, a adaga preta de Harley começou a brilhar intensamente. Uma luz cegante tomou conta da escuridão, transformando o ambiente sombrio em uma explosão momentânea de claridade.
Harley sentiu uma onda de lembranças o atingindo com força. Ele lembrou da primeira vez que a adaga brilhara dessa maneira, quando foi cercado por uma horda de criaturas, apenas para ser salvo por dois magos atraídos pela luminosidade da adaga.
Era como se a adaga tivesse vontade própria, emitindo um pulso de energia em momentos críticos, mudando as chances de Harley na batalha. Mas agora, algo estava diferente. O brilho da adaga estava chamando atenção novamente, e Harley não sabia o que isso atrairia.
Enquanto ele ponderava sobre a natureza da adaga, uma nova figura apareceu, quase imperceptível, deslizando entre as sombras. Seus movimentos eram silenciosos, mas sua presença logo se fez notar, carregando uma energia que não podia ser ignorada.
Uma mulher loira, montada sobre uma espada que cortava o ar com maestria, apareceu de forma majestosa. Seus cabelos curtos realçavam sua beleza fria enquanto seus olhos, intensos examinavam a cena com curiosidade.
— Então você estava bloqueando as emissões de energia mágica nesta região, Guardiã Sombria — disse a recém-chegada, em tom casual, mas o brilho nos olhos era de provocação — Egoísmo é um defeito grave.
A Guardiã Sombria, como Harley agora a identificava, lançou um olhar enojado para a nova chegada.
— Não me irrite, Sanguessuga! — respondeu ela — Eu não compartilho nada com ninguém. Talvez você devesse aprender isso da maneira mais difícil.
A tensão no ar era palpável. Harley observava atentamente as duas mulheres, que pareciam compartilhar um passado cheio de rivalidades. A loira, porém, manteve-se calma, com um sorriso no rosto.
— Só quero uma pequena parte — Seu olhar se voltou para Harley, como se ele fosse o prêmio em uma disputa que ela ainda não havia vencido.
Harley sentiu o peso da escolha iminente. A batalha entre essas forças estava apenas começando, e ele estava no meio de tudo, sem saber exatamente qual seria seu próximo movimento. Ele sabia que a escuridão estava se fechando ao seu redor, mas a luz de sua adaga ainda brilhava com intensidade.
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