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    “A confiança é um ato de fé no desconhecido. Cada decisão de confiar carrega consigo o potencial para a salvação ou a ruína.” 

    — Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. básico.


    Os passos apressados de Harley cortavam o ar, seus músculos tensos pelo peso de Ivana em seus ombros. Ele sabia que logo as sombras lhe encontrariam novamente e como medida preventiva, ele conjurou uma barreira mágica móvel ao redor deles, uma defesa contra possíveis ataques sorrateiros dos guepardos sombrios ou de outras ameaças que pudessem surgir. 

    A fuga prosseguia e de tempos em tempos, olhares cautelosos eram direcionados para trás, em busca de indícios de perigo, mas, até o momento, tudo permanecia calmo.

    A paisagem peculiar amplificava a sensação de desorientação e incerteza. O calor emanado pelos três sóis intensificava-se, envolvendo-os em um ambiente sufocante. Harley, com Ivana em seus braços, deslocava-se em alta velocidade, esforçando-se para se distanciar das sombras que os buscavam incansavelmente.

    Sem poder olhar diretamente para a mulher de olhos puxados e preocupado com o estado dela, perguntou:

    — Como você está? 

    — Bem… — e, após um intervalo que parecia interminável, ela concluiu — graças a você!

    A resposta da mulher foi direta, pegando Harley desprevenido, uma vez que esperava alguma provocação ou arrogância. Com a falta de resposta, o silêncio se instalou entre eles por um longo momento, até que Ivana quebrou a quietude: 

    — Eu vou te pagar esse favor.

    O jovem não respondeu novamente, mas pôde sentir o peso das palavras dela, compreendendo o quão significativo era aquele gesto de gratidão.

    Harley sentido que Ivana aparentemente tinha recuperado um pouco de sua vitalidade, respirando ofegante, ousou deixar sair uma questão que o intrigava: 

    — Que lugar é esse?

    — É o purgatório. Um campo que separa os demônios superiores dos inferiores.

    — Como assim? — indagou Harley, tentando entender melhor.

    Ela por gratidão ou como forma de retribuição resolveu explicar, com uma voz carregada com um tom peremptório quase como um louvor: 

    — Este é um mundo forjado pelos nossos ancestrais, projetado para revelar a verdadeira dimensão do desequilíbrio em nosso favor. É um local de renascimento, onde nos imergimos nas sombras. Aqui, as almas são esculpidas pela escuridão.

    — Eu ainda não entendo!

    — nem nunca vai entender. Você pergunta muito e observa pouco. Basta saber que aqui poucos sobreviverão e que os demônios em algum momento vão dominar o mundo. 

    Após essa impactante declaração, Ivana mergulhou em um silêncio profundo, deixando Harley aguardar ansiosamente por qualquer complemento adicional. O tempo se estendeu diante deles, tornando-se uma pausa significativa antes dele decidir romper o silêncio e perguntar novamente:

    — É algum tipo de torneio?

    Ivana riu com desdém e respondeu:

    — Você não escutou o que eu disse? Não há como você compreender completamente. Você não é um demônio — e, depois disso, voltou ao silêncio, deixando a fuga prosseguir sem mais troca de palavras.

    Diante do silêncio que voltou a ser constante, Harley ponderou sobre as diferentes perspectivas que cada grupo que encontrara possuía. Cada explorador deste mundo, iluminado por três sóis, parecia ter criado sua própria interpretação e repassado adiante. 

    Para alguns, era um terreno fértil para evoluir ou treinar os jovens; para outros, um espaço adequado para rituais de passagem ou crescimento; e, ainda, para alguns, uma arena de disputa, onde o vencedor receberia algum tipo de benefício. 

    Cada visão apresentava uma versão distinta da verdade, e Harley começava a perceber que talvez a resposta correta estivesse em um meio termo entre todas as interpretações. 

    Apesar das sombras implacáveis que os perseguiam, das dificuldades iminentes e dos desafios que ainda estavam por vir, Harley continuava a correr incansavelmente, com Ivana em suas costas. 

    Mesmo diante das incertezas, ele mantinha um otimismo firme, acreditando que poderia salvar a mulher de olhos puxados ou, no mínimo, protegê-la até sua recuperação. Essa missão não era apenas uma questão de sobrevivência; era uma promessa feita a si mesmo. 

    Contudo, em um instante, o jovem parou os seus movimentos, e antes mesmo de processar o motivo, ela já compreendia. Como uma maré negra, as sombras avançaram, uma horda de horrores convergindo para envolver Harley e Ivana em seu abraço mortal. 

    O exército sombrio, sete vezes maior do que o enfrentado anteriormente, manifestou-se como uma amálgama aterrorizante de pesadelos. Guepardos sinistros, dragões fumegantes, gorilas colossais e serpentes gigantes retorciam-se, criaturas deformadas por uma fusão sombria de caranguejos e cavalos. 

    Uma legião de horrores erguia uma barreira intransponível ao redor dos dois, não oferecendo espaço algum para escapar.

    Era uma imponente massa de sombras, uma barreira maciça que delineava vários círculos concêntricos de inimigos. A cada momento, essa formação se reduzia, estreitando-se em direção ao centro onde Harley e Ivana estavam. 

    O rugido estridente dos guepardos sombrios se misturava ao sibilar das serpentes e ao retumbar das asas dos dragões. As sombras, agora em uma quantidade avassaladora, convergiam com uma precisão assustadora, revelando uma inteligência maligna que superava todas as expectativas. 

    Os olhos brilhantes das criaturas refletiam uma malícia calculada, enquanto os gorilas sombrios batiam seus peitos, criando uma cacofonia ensurdecedora.

    Harley se viu encurralado em meio à horda sombria. Ivana, ao seu lado, permanecia em silêncio, seus olhos refletindo a gravidade da situação.

    Os guepardos sombrios avançavam em uma velocidade impressionante, suas garras prontas para desferir golpes fatais. As serpentes, com olhos hipnóticos, moviam-se sinuosamente, cercando o perímetro com um abraço letal. 

    A variedade de criaturas sombrias era impressionante e assustadora, uma mistura grotesca que desafiava toda a lógica. Cada sombra, cada olhar sinistro, alimentava a sensação de desespero. A escuridão era opressiva, um oceano implacável prestes a engoli-los. O cerco das sombras era implacável.

    O ranger de presas, o bater de asas, e o arrastar de escamas preenchiam o ar, criando uma cacofonia de ameaças iminentes. O terreno antes vasto e aberto agora tornara-se um campo de batalha claustrofóbico, onde cada sombra era uma promessa de perigo.

    Harley trocou um olhar significativo com Ivana, comunicando silenciosamente a compreensão mútua de que a fuga agora era uma empreitada impossível. Com a mulher de olhos puxados incapaz de lutar e a horda de inimigos aumentada exponencialmente, o desafio diante deles tornou-se monumental.

    A decepação aconteceu de forma abrupta, um golpe inesperado que desencadeou uma explosão de dor e surpresa em Harley. 

    Ivana, agindo com uma velocidade impressionante, retirou uma faca que estava presa em sua cintura e desferiu um golpe carregado de energia sombria, cortando o braço esquerdo do jovem. O choque o fez cair no chão, enquanto a dor se espalhava por seu corpo.

    Os olhos de Ivana, agora distantes e carregados de uma frieza cruel, encontraram os de Harley. Com um sorriso desprovido de qualquer traço de compaixão, ela proferiu palavras que ecoariam na mente dele por muito tempo: 

    — Nunca confie em uma mulher! 

    O significado profundo dessas palavras se tornava claro à medida que ela começava a beber vorazmente o sangue que fluía do braço recém-cortado.

    Enquanto Ivana se entregava ao ritual, as sombras ao redor, incitadas pela presença da Guardiã Sombria que se aproximava flutuando, intensificaram seu ataque. 

    A escuridão parecia dançar em um frenesi, respondendo ao chamado de Ivana. O ar estava impregnado de uma energia sinistra, e a atmosfera tornou-se tensa.

    A Guardiã Sombria, com sua presença imponente, estava plenamente ciente das intenções dela. Seu rosto, envolto pelas sombras, parecia expressar uma satisfação sombria diante do caos que se desdobrava. 

    O solo tremia sob a influência da magia que envolvia Ivana, e a energia mágica pulsava intensamente ao redor delas, criando uma atmosfera saturada de uma animosidade palpitante.

    O destino de Harley parecia estar selado por correntes invisíveis. O jovem, agora ferido e vulnerável, encontrava-se à mercê de forças que transcendiam sua compreensão.

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