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    LIVRO 2 – O despertar do antigo mal


    “O caos não é apenas uma força de destruição, mas uma marcha inexorável que redefine a ordem. Aqueles que podem navegar pela tempestade do caos emergem como verdadeiros mestres da sobrevivência.”

    Sussurros das Sombras XLIII, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.


    Sergio Romanov avançava incansavelmente pelo deserto escaldante, os raios ardentes dos três sóis castigando impiedosamente sua pele. A cada passo, deixava para trás o corpo inerte de Isabella. Para ele, a morte dela não passava de mais uma ocorrência na vastidão impiedosa do deserto. 

    Pouco lhe importava se a verdadeira Isabella jazia sem vida ali ou quais seriam as consequências de sua morte para o futuro. Naquele momento, ela era apenas mais uma entre as miríades de vítimas anônimas da aridez e do calor abrasador. Uma baixa, uma preocupação a menos, um rosto a menos para considerar. 

    Ele ponderava friamente que, se fosse ele no lugar dela, ninguém sentiria sua falta, nenhuma lágrima seria derramada, apenas o mundo o absorveria e se regozijaria ao se apropriar de seu corpo em decomposição.

    Era uma reflexão sombria, permeada pela crueldade do deserto e pela indiferença impiedosa do mundo ao seu redor. Sergio sentia-se como uma peça descartável, onde a morte era apenas mais uma jogada inevitável. 

    Contemplando a vastidão árida à sua frente, ele se viu envolto por uma sensação de solidão e desolação, sem que houvesse qualquer presença além de si mesmo, em um universo indiferente à sua existência.

    A noção de sua própria insignificância o assaltava, fazendo-o questionar o propósito de sua jornada e o valor de sua própria vida:

    “Tudo o que eu fiz, todas as escolhas que fiz, terão algum significado no final? Ou será apenas mais um esforço fútil em um mundo que não reconhece nem se importa com minhas conquistas?”

    À medida que o sol implacável pintava o deserto com tons de laranja e vermelho ardentes, os passos de Sérgio ecoavam pela areia árida. Em meio a esse cenário implacável, ele mergulhava em reflexões profundas sobre o significado da morte, contemplando de que maneira ela simbolizava a derrota definitiva.

    Mas ele, não estava disposto a aceitar mais uma derrota e muito menos a morte. Enquanto houvesse vida em seu corpo, ele lutaria, faria de tudo para alcançar a vitória. Porque para ele, a vitória não era apenas uma conquista externa, mas uma afirmação interna, uma prova de sua própria capacidade e valor.

    As lembranças de sua infância surgiram sussurrando palavras cruéis que ecoavam em sua mente: Ele se viu novamente como o menino que perdia repetidamente, cuja autoestima era minada a cada derrota.

    — Inferior! — cochichavam os guerreiros de sua tribo.

    — Inferior! — cochichavam os colegas de mesma idade. 

    — Inferior! — murmuravam todos à sua volta após mais uma derrota.

    Sergio se lembrava com vividez da sensação de ser constantemente rotulado de ‘inferior’ por todos ao seu redor.

    Nos olhares dos seus vizinhos, de seu pai, de sua mãe, de seu próprio irmão, ele via refletida a palavra que o atormentava. “Inferior”, estava estampado em cada olhar, em cada gesto, em cada palavra não dita.

    Essas lembranças não eram apenas recordações do passado; eram feridas abertas que ainda doíam, lembranças que o impulsionavam a buscar a superioridade, a provar para si mesmo e para o mundo que ele não era inferior. 

    Cada passo no deserto era um passo em direção à vingança contra aqueles que duvidaram dele, contra aqueles que o menosprezaram. Sergio Romanov estava determinado a fazer com que o mundo tremesse aos seus pés, a deixar claro para todos que ele era alguém a ser temido e respeitado.

    Ele puxou firmemente sua adaga negra, sentindo o peso familiar da arma em sua mão. Seus olhos afiados percorreram o horizonte diante dele, onde a realidade se estendia com a vastidão de um oceano de possibilidades. Com um movimento fluido e determinado, ele lançou a lâmina afiada cortando verticalmente o ar. 

    No instante em que a adaga penetrou o tecido da realidade, uma onda de energia se espalhou pelo ar, distorcendo e fragmentando o espaço ao redor de Sérgio. A realidade pareceu ceder sob o impacto da lâmina, rasgando-se em dois pela força implacável de sua vontade.

    Um portal se abriu diante dele, revelando um vórtice de luz e sombra, uma passagem para além dos limites do tempo e do espaço. Através desse portal, ele vislumbrou uma visão de si mesmo, envelhecido e marcado pelo tempo, mas ainda carregando a mesma determinação implacável em seus olhos.

    Sem hesitar, o Sérgio do presente avançou e desferiu um golpe certeiro contra seu eu futuro. A lâmina perfurou o peito do outro Sérgio, e num instante, toda a sua essência foi absorvida.

    Em um turbilhão de sensações, emoções e conhecimento, Sérgio do presente absorveu tudo o que o seu eu do futuro tinha vivido nos últimos cinco anos. Cada evento, cada escolha, cada desafio e cada vitória foram internalizados em sua mente.

    Enquanto isso, o outro Sérgio, agora vazio e sem vida, começou a murchar, sentindo suas energias se dissiparem rapidamente. O corpo do seu eu do futuro encolheu e se desfez em partículas minúsculas, até que restasse apenas um monte de poeira, dispersando-se no ar, fazendo parecer que jamais tivera existido.

    Ao mesmo tempo, o rasgo na realidade começou a se fechar lentamente, dando a impressão de que nunca tivera sido aberto. As energias ao redor se estabilizaram, retornando ao seu estado natural, e não havia mais vestígios de que algo extraordinário tivesse acontecido ali momentos antes. Nenhum sinal de que uma ponte entre tempos diferentes havia sido criada e cruzada.

    Sérgio sentiu uma dor aguda e lancinante percorrer seu corpo, uma dor tão intensa que fez seu corpo tremer e sua mente gritar. Com a mão na cabeça e os dentes cerrados devido à dor excruciante, ele murmurou para si mesmo: “Não é a primeira vez.” Mas desta vez, a dor durou o dobro do tempo.

    Após enfrentar e superar a dor, Sérgio refletiu sobre sua própria imprudência. Ele deveria ter se preparado melhor para enfrentar as consequências de seus atos, especialmente em um mundo tão implacável quanto aquele em que vivia.

    “A sorte também faz parte da equação” — pensou ele, agradecendo por ter sobrevivido à experiência.

    Porém, a desintegração de seu eu do futuro deixou Sérgio pensativo novamente. Ele se questionava sobre as consequências daquilo tudo:

    “Meu eu do futuro é uma entidade física representativa, ou apenas uma versão morta de mim mesmo? E o que acontece agora, com um novo futuro se formando diante de mim?”

    Apesar das incertezas e das derrotas que o futuro lhe trouxera, Sérgio agora possuía um conhecimento precioso sobre cada surpresa e as consequências que suas escolhas lhe haviam levado. 

    Com essa visão do futuro, ele enxergava uma nova janela de oportunidades se abrindo diante de si. “ada erro, cada obstáculo, serviria para alimentar sua preparação, impulsionando-o a encontrar novas soluções e alternativas.

    Determinado, Sérgio estava decidido a se fortalecer, a explorar novas estratégias e a moldar seu próprio destino. Ele sabia que, com o conhecimento adquirido, tinha o poder de traçar um caminho diferente, de superar os desafios que estavam por vir e de alcançar a vitória que tanto almejava. 

    Cada desafio seria encarado tal qual uma oportunidade de crescimento, preparando-o para os desafios que o futuro ainda reservava.

    Sérgio estendeu a mão esquerda à sua frente, os dedos se abrindo e da palma aberta emergiu uma pequena esfera branca, que se formou gradualmente através da pele, representando sua própria energia.

    A bola flutuava delicadamente, suspendida a cerca de 10 centímetros acima de sua mão, girando suavemente no ar.

    Conforme a esfera começava a girar, nuvens de energia começaram a se formar ao seu redor, assumindo a forma de um intrincado mapa tridimensional. Era como se cada nuvem fosse uma representação viva de diferentes regiões desse mundo hostil de três sóis. 

    Cores vibrantes e tonalidades suaves indicavam os caminhos a seguir, enquanto áreas sombrias eram sinalizadas com regiões a serem evitadas.

    Sérgio compreendia, por experiência própria, que as áreas claras eram mais seguras, oferecendo possíveis refúgios e recursos essenciais para sua jornada. Os triângulos que piscavam e eram formados de energia que flutuavam ao redor do mapa representavam formas de vida nesse ambiente implacável.

    Enquanto observava o mapa tomar forma diante de seus olhos, ele sabia que estava se aproximando de seu destino, daquele encontro marcado que mudaria o curso de sua jornada. 

    Com um último olhar para o mapa em sua mão, Sérgio sentiu o pulsar da energia que o cercava, impulsionando-o adiante. Ele sabia que cada passo o aproximava cada vez mais da força que buscava, dos segredos enterrados sob a superfície árida desse mundo.

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