Capítulo 105 - Julgamento
“O clímax de cada jornada é o confronto inevitável. É no choque entre forças opostas que o equilíbrio do universo se manifesta.”
— Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.
Harley mergulhava em uma experiência desconhecida, completamente imerso em um ambiente de regras e rituais que escapavam à sua compreensão. Era como se estivesse testemunhando um tipo de julgamento, mas tudo ali se desdobrava de uma maneira tão distinta do que ele esperava.
Cada gesto, cada palavra proferida pelas entidades sombrias era enigmática, deixando-o ansioso por desvendar os segredos ocultos por trás daquela atmosfera intrigante.
Para Harley, era uma experiência singular estar conectado não apenas a Ivana, mas a todas as entidades sombrias presentes. Ele começava a perceber a complexidade da teia de interconexões que os unia. Ele podia sentir a tensão no ar, perceber as emoções e os pensamentos que algumas delas não faziam questão de ocultar. Era como mergulhar em uma atmosfera repleta de incerteza, onde cada gesto e palavra proferida pelas entidades sombrias revelava um pouco mais de suas verdadeiras intenções.
Através dessa conexão, o jovem compreendeu que cada participante estava prestes a comprometer parte de sua própria energia sombria. E assim, cada um dos envolvidos no julgamento ponderava cuidadosamente suas decisões, cientes do peso que suas escolhas teriam.
Inicialmente, o pai de Ivana, que também ocupava o papel de líder dentro da tradição, havia explicitado as possíveis punições diante da infração cometida por sua filha.
A transgressão ao tabu de compartilhar o poder sombrio com um estranho deixou claro que as consequências se resumiam a duas opções: expulsão ou morte. Todos os presentes foram confrontados com essas alternativas, sem margem para outras escolhas.
O início do julgamento trouxe uma surpresa para todos os presentes quando o líder proferiu sua decisão: a expulsão de Ivana. O que mais chamou a atenção foi o gesto incomum de comprometer 20% de sua própria energia sombria, um valor consideravelmente maior do que o padrão de 5% geralmente observado em julgamentos similares.
A decisão do líder de comprometer 50% de sua energia sombria em favor da expulsão de Ivana criou uma atmosfera tensa e carregada de expectativa. Foi uma jogada surpreendente que deixou claro para todos os presentes que a opção de expulsão estava sendo fortemente favorecida.
O comprometimento significativo de energia sombria pelo líder no início do julgamento não apenas enfatizou a gravidade da situação, mas também aumentou consideravelmente a pressão sobre todos os presentes.
Com a quantidade de energia necessária para expressar uma decisão sendo elevada a um nível extraordinário, as perdas potenciais para aqueles que estivessem em desacordo com a decisão predominante seriam substanciais. Isso colocou todos em uma posição delicada, onde cada escolha teria repercussões profundas e duradouras.
A decisão de não participar do julgamento, embora pudesse proteger as entidades sombrias de possíveis perdas de energia, era vista como uma demonstração de covardia e fraqueza.
Em uma sociedade onde o prestígio e a coragem eram altamente valorizados, aqueles que optavam por se abster estavam sujeitos ao escárnio e à desconfiança dos demais. Ser rotulado como covarde era um estigma que podia assombrar uma entidade sombria pelo resto de sua existência, minando sua influência e autoridade.
Portanto, apesar dos riscos envolvidos, a maioria das entidades preferia enfrentar o desafio do julgamento, mesmo que isso significasse arriscar uma parte de sua própria energia sombria. A coragem em defender suas convicções era considerada uma virtude inestimável, enquanto a covardia era vista como um defeito repudiado pela comunidade sombria.
O próximo a se pronunciar surpreendeu a todos ao comprometer 80% de sua energia, atendendo assim à quantidade mínima estipulada pelo líder para participação no julgamento. Esse ato não apenas evidenciou a seriedade do compromisso assumido, mas também lançou uma atmosfera ainda mais tensa.
A energia desprendida por cada participante era como um tributo antecipado, um pagamento adiantado para ingressar na disputa, e à medida que se mesclava com a quantidade inicialmente desprendida pelo pai de Ivana, formava uma aura imponente de energia sombria, pairando acima de todos os presentes como um lembrete constante da magnitude do evento em curso.
Essa demonstração de comprometimento extremo enviou ondas de choque, deixando os presentes perplexos diante da determinação do indivíduo em questão. Afinal, sua disposição para arriscar uma porcentagem tão significativa de sua energia sombria demonstrava uma coragem sem igual, mas também carregava consigo um peso considerável de consequências.
Em caso de a decisão preterida ser a escolhida, suas perdas seriam devastadoras, possivelmente relegando-o ao ostracismo do conselho e a qualquer posto de comando ou administração, uma vez que ter apenas 20% de suas forças representaria um retrocesso monumental em sua influência e poder.
Mesmo que sua decisão fosse uma aposta estratégica visando o potencial ganho na divisão de energia, caso sua posição emergisse vencedora, o risco assumido era monumental. Essa atitude não apenas alterava drasticamente o equilíbrio de poder no julgamento, mas também sugeria uma convicção e resolução que desafiavam os limites do entendimento comum.
A ligação estabelecida entre as entidades sombrias permitia que todas essas nuances e estratégias fossem compartilhadas diretamente com Ivana, que, por sua vez, transmitia essas informações para Harley com mais detalhes e cuidado. Com a ajuda dela, o jovem começava a decifrar os intrincados meandros da cultura e das decisões daquele povo, mergulhando cada vez mais fundo em seu entendimento.
A cada revelação, ele se via imerso em um mundo antes desconhecido, compreendendo melhor as motivações por trás das escolhas e dos comportamentos de cada indivíduo sombrio.
Essa troca de conhecimento não apenas fortalecia o vínculo entre eles, mas também preparava Harley para enfrentar os desafios que estavam por vir, armado com uma compreensão mais profunda do contexto em que estava inserido.
Seguiu-se outro, colocando 70%, também alinhando-se à decisão do líder. A atmosfera pesada e tensa foi intensificada à medida que cada entidade revelava sua posição, sua energia sombria servindo como um testemunho de sua determinação.
Quando chegou a vez de outra entidade se manifestar, ele colocou 100% de sua energia, o mínimo necessário, e declarou brevemente sua oposição. No entanto, a reviravolta mais surpreendente veio com o próximo a se pronunciar.
Com 60% de energia, correspondendo a 50% da energia do líder, um entidade expressou sua posição com firmeza e convicção:
— Eu sou contra! A favor do extermínio, mas meu filho tem os termos.
Um silêncio denso tomou conta do ambiente sombrio, ecoando por todos os cantos enquanto todos absorviam o impacto daquela declaração inesperada. O filho da entidade poderosa adiantou-se, comprometendo 77% de sua própria energia sombria, um valor que ultrapassava em 5% a quantidade mínima estipulada pelo líder.
Essa energia extra não apenas lhe conferia o direito ao voto, mas também lhe dava a prerrogativa de estabelecer detalhes adicionais sobre a decisão em caso de vitória. Esses detalhes poderiam ser submetidos à aprovação ou rejeição, mediante um novo comprometimento de energia equivalente aos 5% adicionais.
Essa oferta de participação mais ampla acrescentava uma camada adicional de complexidade ao julgamento, fazendo com que todos os presentes refletissem sobre as implicações de suas escolhas e os possíveis desdobramentos da decisão final.
Com a votação encerrada e nenhuma outra entidade sombria para manifestar sua escolha, a posição contrária emergiu como vencedora, ainda que por uma margem estreita de energia.
O veredito estava selado: o destino de Harley e Ivana seria o extermínio. A decisão pairava no ar, pesada e sombria, carregada de consequências inescapáveis.
Ele sentiu uma onda de emoções conflitantes inundar sua mente vida da ligação com Ivana. Uma sensação de tristeza, frustração, inconformismo e injustiça o envolveu, ecoando também a decepção dela.
Enquanto novamente lutava para se libertar da paralisia imposta pela energia sombria, Harley tentava desesperadamente entrar em contato com suas adagas, suas preciosas armas que pareciam ter desaparecido ou sido tiradas dele desde que adentrara aquele mundo sombrio.
Agora, com a impossibilidade de escapar e a decisão desfavorável firmemente estabelecida, o desespero do jovem atingiu novos patamares. Ele compreendia que as perdas iminentes ultrapassariam em muito a simples privação de suas adagas.
A noção de que, talvez, escapar dessa situação pudesse permitir-lhe restaurar seu estado físico normal, mesmo sem um braço, mas recuperando suas adagas, começou a ecoar incessantemente em sua mente.
Ele lamentava profundamente a perda do poder de combate que suas adagas proporcionavam, bem como a capacidade de rasgar a própria realidade e viajar entre os mundos, uma habilidade ainda em processo de domínio, mas que agora, mais do que nunca, poderia ser a chave para escapar da paralisia sombria que o envolvia e, consequentemente, deste mundo sombrio.
Harley sentia-se novamente frustrado e enfraquecido, subjugado por forças além de seu controle, enquanto a sensação de impotência crescia dentro dele.
Enquanto esses pensamentos tumultuavam sua mente, a entidade vencedora, aquela que tinha o poder de determinar os termos de sua punição, quebrou o silêncio com palavras que cortaram o tumulto mental de Harley…
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