Capítulo 114 - O encontro

“Em um mundo de incertezas, a única constante é a mudança. Adaptar-se e evoluir são as chaves para a sobrevivência, e aqueles que abraçam a transformação são os que prosperam.” 

— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 3.

Com o mapa projetado na pequena esfera giratória suspensa na palma de sua mão, Sérgio Romanov avançava com determinação, seus olhos fixos nas coordenadas que se desdobravam diante dele. 

O jovem líder do clã Dragões de Sangue avançava com firmeza pelas áreas claras no mapa, cada passo ecoando na vastidão silenciosa do mundo com três sóis. 

Ao seu redor, os raios dos três sóis entrelaçavam-se em um espetáculo de cores, tingindo o céu com tonalidades vibrantes de laranja, vermelho e amarelo. 

A luz intensa banhava as intermináveis dunas, revelando uma paisagem desértica entrecortada por formações de rochas erodidas e desoladas, onde sombras dançavam entre os picos escarpados e os vales sinuosos. 

O calor era opressivo, envolvendo o jovem líder do clã dos Dragões de Sangue de forma sufocante, enquanto os grãos de areia ardente se infiltravam em suas botas, arranhando sua pele a cada passo.

Sergio Romanov estava gradualmente se adaptando a esse mundo implacável, embora cada respiração ainda fosse um desafio, o ar rarefeito e impregnado por uma mistura de gases estranhos que faziam seus pulmões arderem. 

Contudo, em meio a essa adversidade, ele encontrava uma determinação renovada, pois tinha plena consciência de que cada passo o aproximava mais de seu destino, daquele encontro que, segundo seu conhecimento do futuro, alteraria o curso de sua vida para sempre.

Durante sua estadia neste novo mundo, Sérgio testemunhou e ouviu muitas histórias, compreendendo que para a maioria, essa terra estranha com três sóis era envolta em mistério, um lugar de lendas e mitos obscuros. 

Alguns o consideravam um campo de testes, onde apenas os mais fortes sobreviviam. Outros acreditavam que era palco de um torneio secreto, onde os guerreiros mais habilidosos duelavam pela supremacia. Havia até mesmo aqueles que o viam um inferno em si, habitado por criaturas demoníacas e almas perdidas.

No entanto, para ele, era mais do que isso. Era a chave para seu sucesso, um mundo onde ele poderia moldar seu próprio destino e alcançar a vitória que tanto almejava.

Este mundo árido e abrasador escondia a entrada secreta para a verdadeira sede do Clã dos Demônios Sombrios, uma linhagem de combatentes em constante busca por novas oportunidades, poder e sabedoria. 

O pequeno círculo sob posse de Sérgio não apenas revelava a localização de todas as bases e territórios ocupados pelos demônios, mas também possibilitava a comunicação com cada uma dessas filiais dispersas por todo o universo.

Enquanto avançava pelas dunas escaldantes, Sérgio era envolvido por uma mistura de sentimentos e lembranças de sua terra natal. Recordava-se vividamente dos desafios e riscos enfrentados para chegar até ali. 

Agradeceu novamente pela oportunidade de vislumbrar o futuro, uma habilidade que o permitiu agir com precisão e salvar o Clã Dragões de Sangue da iminente aniquilação. 

A imagem de seu arqui-inimigo, Harley, sendo lançado por ele no abismo sem fim, ecoava em sua mente, sendo um dos momentos mais marcantes de sua vida. 

A sensação do vento cortante enquanto Harley caía, os olhos desesperados do adversário refletindo sua derrota iminente, tudo isso era tão real, a ponto de parecer estar acontecendo novamente diante de seus olhos.

Foi com uma manobra astuta, convencendo a todos de que o sangue de Harley tinha o poder de abrir o portal para conhecimentos ancestrais do clã Adaga Arcana, que Sérgio alcançou a vitória. 

Utilizando seu conhecimento do futuro, ele desviou a elite de seu clã de uma emboscada no Abismo Sem Fim, enviando guerreiros menos qualificados em seu lugar. 

Com o exército dos Demônios Sombrios dividido, parte deles no abismo e outra aguardando a emboscada, conseguiram invadir a filial do clã no Continente das Terras Esquecidas, eliminando todos que estavam ali. 

Essas memórias, embora repletas de triunfo, também traziam consigo o peso das escolhas feitas e das consequências enfrentadas.

A lembrança da imagem do líder supremo do clã dos Demônios Sombrios emergindo em uma projeção imponente, refletida em um grande círculo no centro do salão, permanecia vívida na mente de Sérgio, uma pintura sinistra que se recusava a desaparecer.

A visão do líder, envolto em sombras ondulantes e iluminado por uma luz sombria, era a aparição de um espectro ancestral, cuja presença hipnotizava com sua imponência inquestionável.

Presas afiadas, aos moldes de garras, espreitavam por trás de lábios retorcidos em um sorriso cruel, enquanto chamas dançantes em sua cabeça adicionavam uma aura infernal à sua figura. 

A magnitude do líder era tão avassaladora que mesmo seu pai não parecia possuir tamanha autoridade em comparação. Sua pele, pintada por marcas rituais e cicatrizes de batalha, testemunhava uma aparente história de conquista e dominação. 

O olhar penetrante do líder era como a sua própria adaga negra, cortando fundo a alma de Sérgio e o deixando paralisado. A lembrança daquele momento deixou uma impressão tão profunda que o perturbava, algo que o jovem líder do clã Dragões de Sangue não estava acostumado a sentir. 

Ele detestava ser impactado ou intimidado por qualquer pessoa ou situação. Sentia-se sob o escrutínio de uma entidade sobrenatural, cujos desígnios eram insondáveis e sua vontade ou ao tempo.

Era evidente que aquele ser era extremamente poderoso, contrastando com o caos do ambiente, tingido pelo sangue do clã dos Demônios Sombrios e pela devastação deixada pelas batalhas. 

A atmosfera ao redor ainda reverberava com os ecos distantes dos gritos de guerra, enquanto o odor de enxofre misturado ao ferro do sangue impregnava o ar.

No entanto, naquele instante, a atitude da criatura era distinta. Enquanto encarava o líder do clã Demônios Sombrios, Sérgio vivenciou pela primeira vez o impacto de um olhar de aprovação, uma sensação completamente nova em sua vida até então.

O líder inesperadamente bateu palmas com uma reverência sinistra, e após um instante de observação silenciosa, dirigiu-se a ele com uma voz grave:

— Obrigado por eliminar esses inúteis. Meu clã sempre se destacou por valorizar a força acima de tudo. Em reconhecimento ao seu serviço, vou lhe conceder um presente.

As palavras não eram um convite à negociação nem ofereciam escolha; eram um comando absoluto. Uma onda de apreensão tomou conta do corpo de Sérgio quando ele percebeu que estava completamente imobilizado, sendo manipulado como uma marionete por uma força desconhecida.

Não era apenas uma força física que o prendia, mas algo mais sinistro, algo que subjugava até mesmo seus pensamentos mais profundos.

Um calafrio percorreu sua espinha quando uma pequena esfera branca voou em sua direção e se fundiu à palma de sua mão, provocando uma grande dor: 

— Aaargh!

— Estou concedendo a você o privilégio de se comunicar com meu povo. Venha me encontrar. Tenho uma proposta interessante para você.

Com essas palavras, a imagem do líder se dissipou, deixando Sérgio inquieto. Ele compreendeu que não havia mais nada a temer; afinal, se o líder desejasse sua morte, já a teria ordenado ali mesmo. 

A vida, ele sabia, era uma série de apostas e riscos, onde nada era garantido sem coragem e esforço. Decidido a aceitar o desafio, intensificou sua determinação e resolveu não esperar mais para seguir em direção ao convite do desconhecido.

— Muahahaha!

O som reverberou pelo salão vazio, ecoando em um prenúncio sinistro, enquanto uma voz se fez ouvir em sua mente, revelando que até seus pensamentos não estavam ocultos:

— Você é um candidato promissor. O círculo em sua palma lhe guiará até mim e lhe fornecerá o caminho — com essas palavras, o silêncio se abateu sobre o salão.

A esfera branca, agora flutuando acima de sua palma, parecia pulsar com uma energia misteriosa, anunciando um novo destino para a sua jornada.