Capítulo 115 - A jornada de Sérgio Romanov
“Em um mundo onde o tempo, espaço e outras dimensões se entrelaçam, as profecias são faróis de sabedoria. Elas iluminam o caminho para aqueles que buscam compreender o intrincado tecido do destino.”
— Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.
No implacável deserto, sob os três sóis que se fundiam em um céu opressor, Sergio Romanov avançava com determinação. Com cada passo, ele adentrava o desconhecido, guiado por um mapa obtido junto ao clã Demônios Sombrios: um grupo invisível à maioria dos mundos, guardião de segredos ocultos há milênios.
O artefato em sua posse, antigo, indicava um ponto específico. Até então, aquele destino era apenas uma marca abstrata na esfera giratória suspensa na palma de sua mão, pulsando suavemente, exibindo sinais de vida própria.
Com passos firmes, Sérgio seguiu as orientações que o conduziam por áreas claras e seguras, sentindo o peso do calor que lhe queimava a pele, enquanto a esfera brilhava e o guiava, cada vez mais próxima do ponto que prometia revelações.
Ao chegar ao local indicado, o jovem líder do clã Dragões de Sangue ergueu a mão, tocando o ponto luminoso que tremulava no artefato. No instante em que seu dedo encostou-se à superfície, a esfera começou a girar em velocidade, liberando uma luz translúcida que pulsava com uma intensidade sobrenatural.
Sérgio sentiu o corpo estremecer, e o mundo ao seu redor começou a distorcer-se, dando a impressão de que duas realidades se chocavam. A esfera expandiu-se, perdendo sua solidez, transformando-se em uma projeção que parecia conectar mundos diferentes.
Uma luz ofuscante dominou a vastidão do deserto, e os três sóis desapareceram, criando a sensação de que tinham sido engolidos pela escuridão.
Subitamente, Sérgio se viu sufocado, sentindo o ar desaparecer de seus pulmões. O que antes era calor agora se transformara em uma torrente de água que o envolveu sem aviso, uma transição brutal que seu corpo mal pôde processar.
Seus pulmões contraíram-se desesperadamente, e uma pressão esmagadora o envolvia, dando a sensação de que o próprio oceano o engolisse, puxando-o cada vez mais para o fundo.
Ele lutava contra uma força incontrolável. O ambiente parecia pulsar com vida, pressionando-o, desafiando-o. Bolhas flutuavam ao seu redor, alheias ao seu desespero.
O líquido gelado parecia invadir seus sentidos, bloqueando qualquer esperança de sobrevivência. O jovem líder estava agora à mercê de forças antigas e inescapáveis. Ali, não havia espaço para lamentações, apenas a aceitação silenciosa do próprio destino.
“Droga! Uma armadilha?” — pensou Sérgio, sem qualquer arrependimento. Afinal, sabia que a busca por poder exigia riscos, e ele estava disposto a enfrentá-los.
Sérgio mal percebia o brilho que havia desaparecido, dando lugar a uma penumbra azul profunda, onde apenas vibrações de luz esmaecida dançavam na vastidão.
O som abafado da água em seus ouvidos soava, fazendo-o perceber um lamento, um murmúrio sinistro enquanto seu corpo era arrastado por correntes invisíveis, mergulhando em abismos insondáveis.
Cada vez mais fundo, as bolhas de ar se dissipavam, e a consciência de um fim próximo se infiltrava em sua mente.
Um único pensamento ecoou em sua mente: “Fim?”
No momento em que tudo ao seu redor cedia à escuridão absoluta, um riso amargo, formou-se em sua mente, mesmo que sua garganta não pudesse expressá-lo.
— Glub! Glub!
O som do riso era quase um deboche em sua mente, uma última resistência contra a rendição total. Apesar do avanço contínuo da água invadindo seu ser, Sergio encontrava uma estranha paz. Ele finalmente percebeu que o fim possuía uma cor, e que esta era o preto absoluto.
No entanto, no limiar entre a vida e a morte, algo se manifestou, uma presença inesperada. Em resposta a um comando supremo, a esfera branca ressurgiu na palma de sua mão.
A linha que demarcava sua existência parecia tênue, mas aquela esfera emergiu, cumprindo o papel de uma barreira invisível, formando uma bolha protetora que neutralizava a pressão esmagadora ao seu redor.
Sergio sentia-se flutuando, um fio de consciência resistindo no vasto oceano de inconsciência.
Embora seu corpo estivesse envolto pela energia protetora, sua consciência sucumbiu momentaneamente, apagada pelo impacto das forças marítimas. Em um último movimento, as correntes pareceram se aquietar, depositando-o gentilmente no solo.
O entorno estava desolado, um silêncio absoluto que contrastava com o caos anterior. E, diante dele, com olhos astutos, um pequeno ser aguardava pacientemente.
O demônio à sua frente era um anão, de pele marrom esverdeada e aspecto insignificante. Não possuía força ou uma presença ameaçadora, mas algo nele parecia deslocado.
Enquanto observava aquele estranho ser, um mal-estar o envolvia, uma repulsa inexplicável pela tonalidade enjoativa de sua pele.
— Finalmente chegou! — disse o demônio, sua voz ressonando com ironia.
— Leve-me ao seu líder! — exigiu Sérgio, sem rodeios, ignorando o demônio que insistia em questioná-lo.
— Por que você veio?
— Já disse, quero falar com seu líder! — insistiu Sérgio, seu tom de voz elevando-se, sua paciência começava a se esgotar.
— Não será necessário. Ele já sabe que você está aqui, mas ainda está curioso para entender por que aceitou o convite tão facilmente.
Sérgio cruzou os braços e ergueu o queixo em desafio, seus olhos fixos no anão que agora, sem mais delongas, ergueu uma esfera brilhante.
A esfera começou a girar rapidamente, emitindo uma luz translúcida que projetava uma imagem hipnotizante do líder supremo do clã dos Demônios Sombrios, substituindo a figura do anão por uma presença avassaladora.
A figura do líder surgiu diante de Sérgio, envolta em uma aura de poder e mistério. Com presas afiadas e um sorriso cruel, ele trazia o mesmo olhar que Sérgio lembrava desde o primeiro encontro, quando a esfera o convidara para aquela reunião fatídica.
— Pensei que fosse mais astuto — disse o líder, sua voz profunda e carregada de desprezo — Corpos físicos são apenas ferramentas que utilizamos conforme necessário. Acredita que eu precisaria de uma forma imponente para intimidá-lo? Verdades se perdem sob aparências grandiosas.
Seu olhar penetrava Sérgio com a intensidade de um predador observando sua presa, capaz de atravessar sua carne e desvelar seus segredos.
— Você é o mestre do tempo ou do espaço? — perguntou incisivamente o demônio — Com qual parte da adaga você ficou?
Sérgio ponderou por um instante, o peso da pergunta reverberando em sua mente.
— Por que me deixou vivo? — indagou ele, tentando entender a lógica do líder, que parecia jogar com vidas e mortes sem hesitação.
— Porque eu não fui capaz de controlar, tampouco tocar a adaga em seu poder — admitiu o demônio, sua expressão momentaneamente marcada pela sombra de uma frustração mal disfarçada — Realizei experimentos e descobri que, mesmo com você morto, a adaga seria inútil para mim.
Sérgio ergueu as sobrancelhas, entendendo aos poucos as intenções de seu adversário.
— Então quer me usar? — perguntou Sérgio, sua voz carregada de uma cautela calculada.
— Todos nós usamos uns aos outros constantemente — disse o líder, com uma serenidade perturbadora — Tudo depende das motivações: alguns se movem pela força, outros pela necessidade de prazer ou poder. Como não posso me valer da força por causa da sua adaga, podemos explorar uma segunda possibilidade, não acha?
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