Capítulo 108 - Batalha no Abismo Sombrio
“Cada batalha no abismo é um capítulo de uma história maior, onde o verdadeiro inimigo não é a escuridão ao redor, mas a sombra que habita dentro de cada coração.”
— Sussurros das Sombras V, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.
Harley se deslocou desesperadamente pelo mundo sombrio, cada movimento um mergulho nas várias tonalidades da densa escuridão que o envolvia.
Conforme avançava, a realidade ao seu redor se distorcia, turvando-se diante de seus sentidos, como se estivesse mergulhando em um abismo de trevas ainda mais profundo do que a escuridão que ele se recordava de sentir quando fechava os olhos. Sua percepção era guiada por uma conexão interna com aquele lugar, onde as formas eram distorcidas por uma névoa negra que tudo envolvia.
Cada deslocamento representava um embate singular entre as massas de energia sombria que constituíam o cenário do mundo sombrio e a consciência que permeava a forma de energia que Harley tinha se transformado ao ingressar neste mundo, tornando-o único em meio à estática paisagem.
Enquanto as vastas massas de energia sombria ao redor careciam de vontade, desejo ou mesmo vida, servindo apenas como elementos estáticos na paisagem, ele era dotado de consciência, destacava-se como uma presença dinâmica e consciente em meio à escuridão que o cercava.
Harley absorvia e se fundia com outras massas sombrias, aumentando sua própria densidade e potência. E ao se movimentar pelas tonalidades mais escuras, deixava para trás uma leve trilha de sombras mais claras, uma marca sutil de sua passagem.
Enquanto isso, a entidade sombria perseguidora, avançava com fúria veloz, determinada a alcançá-lo a todo custo. Irritada pelo tempo perdido com algo que julgava sem valor, essa entidade se impulsionava pela raiva, ansiosa por recuperar o tempo perdido e seguir em direção à sua grande conquista no mundo sombrio.
À frente da entidade sombria, Harley sentia como se o tempo se dissolvesse enquanto se deslocava, sua essência vibrando com o esforço, cada pulsação de sua energia ecoando em seu ser como um tambor ensurdecedor. As palavras depreciativas da entidade ressoavam em sua mente, impulsionando-o a aumentar sua velocidade.
Enquanto isso, o perseguidor se aproximava, cada vez mais próximo, sua presença sinistra tornando-se cada vez mais palpável para o jovem.
Enquanto ele escapava, cada transição para uma nova tonalidade no mundo sombrio provocava uma contração em sua massa de energia sombria. As sombras se fechavam ao seu redor, pressionando-o, tentando aprisioná-lo em seu abraço carregado de energia sombria.
Mas Harley se recusava a desistir, mesmo em tonalidades altamente densas das quais não podia fugir. Sua determinação se intensificava a cada movimento, mesmo diante da iminente sensação de sobrecarga, que ameaçava dominá-lo.
Ele não tinha alternativa a não ser persistir, pois qualquer sinal de desistência significaria antecipar o seu próprio fim. Assim, sentiu-se compelido a fazer um esforço máximo na sua fuga, consciente de que, quando a entidade finalmente o alcançasse, cada gota adicional de energia sombria absorvida faria diferença.
No seu âmago, independente da crença deste mundo, Harley compreendia que a força pura não era o único fator determinante. Suas experiências de vida ensinaram-no que havia outros elementos além da força que podiam influenciar significativamente o desfecho de uma batalha, às vezes até superando-a.
Agora, mais do que nunca, ele precisava aproveitar ao máximo esses recursos, embora soubesse que o resultado e as esperanças permaneciam incertas.
O tempo estava se esgotando, cada segundo parecia durar uma eternidade enquanto o jovem lutava para manter-se à frente de seu perseguidor.
Enquanto isso, o perseguidor estava quase alcançando-o. O confronto era iminente, e Harley sabia que não podia mais se esquivar. Era hora de enfrentar seu destino de frente, custe o que custasse.
— Zzzap!
Nada saiu como planejado. O primeiro choque foi avassalador. A entidade finalmente havia alcançado Harley e ele mal teve tempo de reagir antes de ser lançado pelo campo de batalha, seu corpo de energia sombria arremessado com uma força descomunal.
O som do impacto ecoava, abafando qualquer outra sensação. Era como ser puxado por uma tempestade furiosa, enquanto as massas de energia sombria ao redor eram cortadas pelo deslocamento descontrolado.
— Bruzz! Bruzz!
Aquelas energias sombrias eram rasgadas pela velocidade do impacto, fazendo com que Harley fosse lançado como uma bola de bilhar atingida com força.
— Ainda está vivo? — foi a primeira sensação compartilhada pela maioria das entidades sombrias que o jovem percebeu depois do impacto — ele quer machucá-lo primeiro — foi a última declaração compartilhada, pela entidade que era pai do seu desafiante, antes de ele se concentrar em sua recuperação.
O jovem não prestou mais atenção no sentido das sensações, que agora pareciam zumbidos, pois Harley dissociou o significado dos sons. O foco era algo poderoso e ele ia usar tudo a seu alcance para o seu benefício.
Agora, consciente de seu estado, ele percebia que cada parte de sua massa de energia sombria parecia vibrar em desalinho, ao mesmo tempo que ele tentava se recompor do choque avassalador. A dor era intensa, amplificada de uma forma que parecia transcender o próprio impacto físico.
Naquele momento, Harley sentiu sua energia sombria sendo cortada em várias partes, como se fragmentos de si mesmo estivessem sendo arrancados. Cada fragmento perdido era como uma amputação em sua essência, uma agonia pulsante que reverberava por todo o seu ser, quase incapacitante.
Mas Harley sabia que não podia se permitir ficar paralisado por muito tempo. A entidade desafiante estava se aproximando novamente, determinada a vê-lo sofrer antes de dar o golpe final.
No entanto, esse talvez tenha sido seu maior erro.
A entidade sombria avançava como uma bola de canhão em direção ao jovem, determinada a infligir mais um golpe devastador. Enquanto isso, Harley percebia sua aproximação iminente e se preparava para o embate vindouro.
Sentindo a entidade se aproximando, ele começou a se deslocar minimamente para uma área turva próxima da divisão entre as diferentes tonalidades do mundo sombrio. Já havia absorvido todo o impacto do local onde fora arremessado anteriormente, o que lhe permitiria enfrentar o próximo ataque com mais preparo.
Em vez de passar para a próxima localidade com tonalidade diferente, Harley decidiu esperar pelo novo impacto da entidade sombria naquele local específico. Confiando em sua percepção aguçada e na topografia do mundo sombrio, ele aguardou o momento certo para agir.
Se ainda mantivesse a conexão para compreender o significado das mensagens e sensações que fluíam das outras entidades, Harley ouviria:
— Tolo!
— Falta inteligência para esse ser?
— Agora é seu fim!
— Nada diferente do esperado!
— Um covarde!
— Um desperdício de tempo!
Para o jovem, todas essas sensações eram apenas zumbidos sem significado ou impacto. Seu foco absoluto estava na entidade que se aproximava a toda velocidade.
Ele sabia que outro choque igual ao último seria seu fim. Por isso, quando a entidade se aproximou o suficiente, ele se deslocou para o lado, adentrando a nova tonalidade.
— Bruzz!
Enquanto isso, a entidade sombria colidiu com o local onde o jovem estava antes. E em vez de encontrá-lo, encontrou apenas o vazio. A sensação vazada da entidade conseguiu deixar de ser um zumbido para se transformar em um rugido estrondoso, ecoando por todo o ambiente sombrio com uma intensidade que Harley ainda não tinha experimentado.
— Maldito!!!
A reverberação do som atravessou o jovem como uma lança afiada, penetrando em sua essência. Ele percebeu instantaneamente que aquela sensação não era apenas um eco distante, mas sim um aviso direcionado, uma intenção que não podia ser ignorada ou defendida. Refletia o crescente ódio da entidade, sua determinação em eliminar cada fragmento da energia de Harley, até o último.
Para a entidade, era uma humilhação intolerável ser enganada por alguém cuja energia sombria era consideravelmente inferior, especialmente por um ser que não fazia parte da raça dos demônios.
Mesmo agora, erradicando Harley da existência em seu próximo golpe, a mera ideia dessa derrota era uma mancha permanente em seu grande plano, uma cicatriz que reduziria sua conquista. Esse fato seria lembrado por todas as entidades como o primeiro exemplo de humilhação no mundo sombrio, alimentando o ódio e o desdém.
Conforme sua raiva crescia, ele compreendia que esse evento era verdadeiramente único em muitos aspectos. Ele estava determinado a infligir mais do que apenas uma simples morte ao jovem tolo.
O plano do jovem de usar a topografia do mundo sombrio para sua vantagem mostrou-se eficaz para todos que assistiam. A mudança repentina de tonalidade provocou uma redução na velocidade da entidade sombria, além de proporcionar uma retenção mínima, permitindo que Harley escapasse do impacto iminente.
Ele havia aproveitado as diferenças entre as várias massas de energia sombria, cada uma com suas próprias características e forças, para criar uma estratégia de fuga inteligente.
Enquanto a entidade sombria tentava se recuperar do impacto, o jovem já estava planejando seu próximo movimento. Sabia que precisava continuar sendo astuto e utilizar todas as vantagens que o mundo sombrio oferecia. A batalha estava longe de terminar, mas Harley estava determinado a sobreviver e superar seu adversário, custasse o que custasse.
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