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    “A verdadeira força não está na ausência de fraqueza, mas na capacidade de enfrentar e superar os próprios medos. A persistência é o que permite essa transformação.”

    O Código do Guerreiro Solitário, Verso 5.


    O corredor da biblioteca parecia mais longo do que o normal, e o silêncio que antes era reconfortante agora pesava sobre Harley como uma corrente invisível. O servo não disse mais nada enquanto o guiava, e o som de seus passos ecoava pelo chão de mármore frio, cada batida ressoando como um prenúncio do que estava por vir. 

    Ao se aproximar da sala do administrador, Harley sentiu uma onda de suor frio escorrer por sua testa. Seu corpo reagia ao ambiente como um animal encurralado, e ele não conseguia evitar o crescente desconforto. 

    Não era apenas nervosismo, era como se o próprio destino não estivesse mais esperando sua escolha, como se o estivesse empurrando para fora, forçando-o a abandonar o Clã dos Dragões de Sangue. 

    O ambiente ao seu redor parecia conspirar, as paredes da biblioteca, outrora cheias de conhecimento e segurança, agora pareciam vigilantes, observando cada passo seu, como testemunhas de um julgamento silencioso.

    Ele sabia que, por mais que tentasse adiar, os fatos o obrigariam a agir, a lutar e até a fugir. Iria se afastar de tudo que conhecia: da certeza, dos segredos ocultos nos livros, e, o mais doloroso de tudo, de Thalassa. Cada vez mais distante do conhecido e inevitavelmente mais próximo do incerto.

    Quando chegou à grande porta de madeira entalhada, o servo parou, gesticulando para que ele entrasse sozinho, como se aquele momento selasse sua ruptura definitiva com o passado. 

    O silêncio entre os dois era denso, carregado de algo não dito, e Harley sabia que aquele encontro mudaria o rumo de sua vida, mesmo que ainda não compreendesse a magnitude dessa mudança.

    Harley respirou fundo e empurrou a porta, tentando manter a calma. O rangido da madeira pareceu ecoar por toda a sala, como um aviso sinistro de que não havia mais volta.

    O administrador estava sentado à sua mesa, os olhos fixos em um pergaminho antigo. A sala estava iluminada apenas por uma lamparina a óleo, lançando sombras irregulares sobre as paredes adornadas por mapas náuticos e símbolos antigos. 

    O ambiente era abafado, como se cada objeto carregasse o peso de decisões passadas e segredos antigos. Harley sempre sentira que aquela sala era um lugar onde o passado e o presente se misturavam de forma inquietante, e estar ali agora apenas reforçava essa sensação.

    — Ginsu — a voz do administrador ecoou fria, tão diferente dos outros chamados, que até o ar ao redor parecia pesar — Sente-se.

    Harley obedeceu, sua mente correndo em todas as direções possíveis, tentando antecipar o que estava por vir. O administrador não era conhecido por sua empatia, e suas palavras sempre carregavam um peso difícil de decifrar. Harley sabia que aquele encontro não seria uma exceção.

    — O Conselho tomou algumas decisões importantes, e você foi envolvido nelas — o administrador finalmente ergueu os olhos, fixando-os diretamente em Harley. O olhar era calculista, com uma intensidade que fez o jovem engolir em seco — Você foi selecionado para uma missão especial.

    Aquelas palavras flutuaram no ar, pesadas como uma sentença, sinalizando que o destino ainda não havia dado o golpe final. Harley sentiu uma pouco de alívio. 

    “Missão especial?” — as palavras rodopiavam em sua mente, mas ele não conseguia decifrar se aquilo era uma honra ou uma armadilha.

    — Uma missão especial? — a voz de Harley soou mais fraca do que ele pretendia. Ele tentou se recompor, a adrenalina pulsando em suas veias — Que tipo de missão?

    O administrador fez uma pausa, deixando o suspense pairar sobre o ambiente. Cada segundo de silêncio parecia se arrastar, como se ele estivesse medindo as palavras para causar o máximo impacto.

    — Você pode se considerar sortudo — continuou o administrador, sua voz distante, quase desdenhosa — Três anos sob minha supervisão, e agora você tem a chance de provar seu valor ao clã. Não me decepcione.

    Harley não conseguia entender o que aquilo significava, mas o olhar do administrador transmitia que ele não tinha escolha. Suas opções eram poucas, e falhar não era uma possibilidade.

    Antes que Harley pudesse formular outra pergunta, o administrador estendeu-lhe um pergaminho dourado, selado com o símbolo do clã. O brilho do selo dourado parecia brilhar com uma intensidade que contrastava com a penumbra da sala, quase como se estivesse carregado de um peso próprio.

    — Abra apenas quando terminar seu serviço e estiver em seu quarto. Agora, retorne ao trabalho.

    Harley pegou o pergaminho com cuidado, o peso simbólico daquele objeto começando a cair sobre seus ombros, como se carregasse mais do que apenas uma missão. Ele não precisou dizer nada, apenas se levantou e saiu da sala em silêncio, sentindo o olhar do administrador queimando em suas costas até o último segundo.

    Quando voltou aos corredores da biblioteca, sua mente estava a mil. 

    “Missão especial?” — ele pensou — “Que tipo de missão seria essa, e por que ele, um forasteiro, um espólio de guerra, seria escolhido para algo tão importante?” 

    Harley sabia o valor que o clã colocava na linhagem e no sangue. 

    “Como isso se aplica a mim?” — questionou-se. Ele não era um deles, pelo menos não no sentido que importava para o clã.

    Ele caminhou de volta para onde havia deixado Thalassa, segurando o pergaminho dourado com uma força controlada, quase como se estivesse tentando manter o controle sobre a situação. 

    Ao vê-la andando de um lado para o outro, uma reviravolta no estômago o pegou de surpresa. Thalassa sempre foi uma força imprevisível: capaz de trazer à tona emoções que ele mal sabia como lidar, e de complicar qualquer situação, mesmo sem tentar.

    — Então, o que aconteceu? — Thalassa perguntou assim que ele apareceu à vista, correndo até ele com olhos cheios de curiosidade — O que foi dessa vez?

    Harley mostrou o pergaminho dourado sem dizer uma palavra. Seus olhos encontraram os dela, e ele viu a mudança imediata em sua expressão. O sorriso travesso que Thalassa carregava desapareceu, substituído por uma expressão de genuína surpresa.

    — Esse pergaminho… — Thalassa murmurou, os olhos fixos no objeto dourado. Ela sabia o que aquilo significava, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, o som de passos ecoando novamente pelos corredores os fez ficar tensos.

    Harley, instantaneamente, reconheceu o som. Havia algo inconfundível no jeito que Sérgio Romanov andava, como se cada passo fosse planejado para impor sua presença. Não havia dúvida, era ele. E, claro, não seria uma conversa pacífica.

    Ao lado de Thalassa, Ginsu se preparou para o confronto que sabia ser inevitável. Então, Sérgio apareceu, sua presença preenchendo a entrada como uma sombra ameaçadora.

    Com seus 1,85 metros de altura, ele dominava o espaço. Os cabelos negros caíam sobre seus ombros como uma cortina de escuridão, destacando-se contra a pele quase translúcida.

    O quimono negro, com detalhes dourados, moldava perfeitamente seu corpo, e a faixa preta na cintura era uma marca de seus anos de domínio nas artes marciais. Os músculos se moviam tensos sob o tecido, enquanto seu olhar desdenhoso parecia perfurar o ar entre eles.

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