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    “O dilema entre o dever e o coração é a prova suprema da alma do guerreiro. Em momentos de escolha, a verdadeira natureza se revela.”

    O Código do Guerreiro Solitário, Verso 7.

    Harley avançava pela Floresta de Espinhos com uma determinação implacável. Deixara para trás o grupo de adversários que derrotara, mas sabia que o verdadeiro desafio apenas começava. 

    As vagas diminuíam rapidamente, e o desespero dos competidores tornava cada segundo mais perigoso. A sobrevivência não dependia mais apenas de habilidade, mas de decisões rápidas e fatais.

    Seu corpo ardia de exaustão. Cada músculo parecia feito de chumbo, e a respiração pesada misturava-se ao suor e ao sangue que escorria pelos cortes infligidos pelos espinhos ao longo da prova. 

    Ele não podia parar, mesmo que cada passo fosse uma tortura. O som abafado dos fogos de artifício, marcando a chegada de mais competidores à linha final, ecoava à distância, como um lembrete cruel do tempo que se esgotava.

    À medida que avançava, a floresta começou a clarear. A densidade dos espinhos diminuiu, e a luz do sol filtrava-se pelas copas das árvores, iluminando um novo caminho à frente. 

    O fim da Floresta de Espinhos estava próximo, mas a visão que se revelou foi mais terrível do que ele esperava. O terreno árido se desdobrava abruptamente até o Abismo Sem Fim: um desfiladeiro profundo que marcava o limite entre o conhecido e o incerto. 

    A Névoa pairava além do abismo, uma barreira de mistério e terror, o último teste aguardando os que tivessem coragem de enfrentar o desconhecido.

    Os ventos ferozes sopravam sobre o desfiladeiro, ameaçando desestabilizar qualquer um que ousasse se aproximar da beira. Harley sabia que a Névoa era o último obstáculo, e que dentro dela os segredos dos Kamikazes seriam revelados. Mas, para chegar até lá, ele precisaria superar algo ainda mais imediato e letal.

    Duas figuras surgiram à distância, pendendo precariamente à beira do penhasco. Quando seus olhos se ajustaram à visão, o choque quase o fez parar. Thalassa, sua única amiga e aliada, estava à beira da morte, segurando-se desesperadamente a uma raiz que brotava da terra. 

    Ao lado dela estava Sérgio Romanov, o cruel filho do líder do Clã Dragões de Sangue. Seu sorriso sádico era um reflexo da escuridão dentro dele.

    O sangue de Harley gelou. Sérgio empurrava Thalassa, forçando-a cada vez mais para o abismo, enquanto zombava da situação. O grito de Sérgio ecoou na mente de Harley como uma faca.

    — Novamente o inútil, fazendo a escolha errada! — vociferou Sérgio, a voz impregnada de desprezo.

    A raiva explodiu dentro de Harley. O ódio queimava seu coração, suas mãos tremiam enquanto a adrenalina percorria seu corpo. Ele sabia o que estava em jogo — a última vaga entre os Kamikazes. Este era o momento pelo qual havia se sacrificado, treinado, e lutado.

    Mas agora, Thalassa estava ali, à beira da morte. Ele não podia ignorá-la. Mesmo com o peso esmagador da escolha, Harley sabia que não abandonaria sua amiga. 

    Seguir em frente significava garantir seu lugar na linha final, mas isso custaria a vida de Thalassa. Cada segundo contava, e o tempo parecia se arrastar, enquanto sua mente corria em todas as direções.

    Com um grito de fúria, Harley tomou sua decisão. Ele se desviou da rota, abandonando a certeza da vitória para correr em direção à amiga. Seu coração batia descontrolado, e os músculos queimavam com o esforço. 

    Ele estava jogando fora sua chance de se tornar um Kamikaze, mas a lealdade era mais forte do que qualquer desejo de glória.

    Ao chegar à beira do abismo, Harley se jogou no chão, estendendo a mão para Thalassa. O medo estampava-se em seus olhos, mas também havia confiança — ela sabia que ele viria. 

    Com um esforço sobre-humano, Harley a puxou de volta para a borda, salvando-a do precipício. Os dois caíram no chão, ofegantes, suas respirações misturadas com o vento cortante que uivava ao redor.

    Mas não havia tempo para descansar. Uma sombra se ergueu sobre eles.

    Sérgio Romanov estava ali, seu sorriso cruel iluminado pela luz pálida que escapava das nuvens escuras. Ele avançou com o mesmo sadismo de sempre.

    — Você é realmente um idiota, Harley. Podia ter garantido sua vaga, mas escolheu perder por ela? — zombou Sérgio. Sua voz cortava o silêncio como lâminas afiadas. — Sempre foi um tolo, e agora vai aprender sua última lição!

    Sem aviso, Sérgio atacou com a fúria de um predador. Harley mal teve tempo de reagir. Seu corpo estava no limite, desgastado pelo resgate de Thalassa. Sérgio o empurrou com brutalidade, lançando-o para o abismo. 

    O mundo girou ao redor de Harley enquanto o chão desaparecia sob seus pés. O vento uivava em seus ouvidos, e o abismo o chamava.

    — Hehehe! — A risada cruel de Sérgio ecoava ao longe.

    Mas Harley não estava pronto para desistir. Em um último ato de desespero, ele estendeu a mão e agarrou a alça de sua mochila. Com todas as forças que lhe restavam, lançou a mochila em direção a uma saliência rochosa. 

    O impacto foi brutal. A alça se prendeu com um tranco violento, interrompendo sua queda. A dor explodiu em seu braço, uma onda de agonia irradiando de seus ossos, mas ele segurou firme.

    Por um momento que pareceu uma eternidade, Harley ficou pendurado, lutando contra a gravidade. O abismo parecia querer devorá-lo, enquanto as rochas sob seus pés começavam a se desintegrar. 

    Mas ele não podia desistir agora. A Névoa esperava por ele, além do abismo, o último teste, e ele precisava sobreviver para enfrentá-la.

    Com um esforço final, balançou o corpo com todas as forças que ainda possuía, conseguindo agarrar uma nova saliência com a outra mão. A dor rasgava seus músculos, mas Harley forçou seu corpo a subir.

    Thalassa estava de pé na borda, os olhos arregalados de terror, mas estendeu a mão para ajudá-lo a se erguer. Sérgio já havia partido, em busca de sua vaga. Quando Harley finalmente voltou à superfície, um tremor repentino atravessou o solo, abalando o penhasco. O som profundo das rachaduras reverberava ao redor.

    O penhasco começou a desmoronar. O chão se desfez sob seus pés, e Harley caiu novamente no vazio. Desta vez, ele agarrou a alça da mochila com desespero, tentando desacelerar sua queda.

    A mochila se prendeu em uma rocha, mas o impacto destruiu sua mão, deslocando o pulso e provocando uma dor lancinante. Seu grito de agonia ecoou pelo abismo, e a alça, já desgastada, se soltou de sua mão. A queda reiniciou.

    O mundo ao redor de Harley começava a se desfazer, a sensação de queda infinita o envolvia, e o vento frio cortava sua pele como navalhas. A Névoa, que antes parecia tão próxima, agora começava a se distanciar, como se estivesse se afastando dele, rejeitando sua aproximação. 

    Ela o chamava, mas a queda o levava para longe, cada segundo o separando mais do seu destino.

    Harley sentia o desespero se infiltrar em sua mente. Ele estava tão perto — tão perto de tocar a Névoa com as próprias mãos, de descobrir se os portais se abririam diante dele, de saber se o mistério além dela era real. 

    A promessa de atravessar para o outro lado, de ver o mundo além, estava a apenas alguns passos de distância. Mas agora, com a queda incontrolável, esse futuro se desvanecia diante de seus olhos.

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