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    “No abismo da queda, encontra-se a ascensão do espírito. É na escuridão que a verdadeira luz interior se revela.”

    Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.


    Cada segundo da queda era uma batalha contra o desespero crescente. Com cada metro descido, a velocidade aumentava e o vento chicoteava seu corpo sem piedade. O abismo, mais próximo a cada instante, parecia exercer uma força magnética, arrastando Harley para suas profundezas.

    Harley sabia que não poderia esperar mais. O abismo já o puxava por tempo demais. Seu corpo começava a fraquejar, mas sua mente resistia com todas as forças.


    “Não posso perecer aqui!” — o pensamento reverberava em sua mente, ecoando pela escuridão ao redor.

    As profundezas do abismo pareciam intermináveis. Se ele não agisse logo, seria completamente consumido. O vazio ameaçava devorar sua vontade, mas Harley não era do tipo que cedia facilmente ao destino. Não agora. Não assim.

    Enquanto caía, sua mente rodopiava, buscando possibilidades de sobrevivência. Cada solução surgia e se dissipava tão rapidamente quanto a escuridão que o cercava. 

    Mas algo dentro dele ainda lutava, e uma certeza crescente emergia: sua sobrevivência dependia da adaga misteriosa, flutuando em algum lugar no abismo sem fim.


    — Será possível trazê-la de volta?” — murmurou, sua voz sendo engolida pelo rugido do vento.


    “Será pela força das palavras, pela minha vontade, ou há um poder oculto ainda não revelado? Esta adaga pode ser a chave para escapar do desastre iminente?”

    O vento parecia responder, misturando-se aos seus pensamentos, como se o próprio abismo ouvisse suas dúvidas e esperanças. Suas palavras se dissipavam, tornando-se parte da turbulência ao seu redor.

    Conforme a queda se acelerava, ele sentiu a presença da adaga mais próxima. Era como se ela estivesse viva, possuindo uma vontade própria. Não era apenas uma arma, mas uma entidade, respondendo ao destino que os conectava. Sempre que escapava de vista, a adaga retornava, como se fosse atraída por uma força invisível.

    Quanto mais próximo os portais surgiam de Harley, mais clara essa conexão se tornava. Sempre que ele desviava o olhar, a adaga reaparecia, seguindo-o como uma sombra inevitável. Um poder emanava dela, algo incompreensível, mas vital para sua sobrevivência.

    Com um suspiro profundo, o jovem Ginsu estendeu a mão, mas hesitou antes de tocar a adaga. Mas o artefato mágico ainda não estava ao alcance de suas mãos. Mesmo assim, ela girava ao seu redor, cortando o ar e abrindo fendas na escuridão. 

    Cada fenda revelava portais brilhantes, como opções esperando ser escolhidas. Harley sabia que, eventualmente, teria que tomar uma decisão.

    A adaga, como se reconhecesse sua hesitação, começou a tremer levemente, aproximando-se relutante em abandoná-lo. Os tremores aumentaram à medida que ele estendeu o braço e finalmente a agarrou firmemente. 

    A lâmina pulsou em suas mãos, mas não escapou. Pela primeira vez, parecia aceitar que seus destinos estavam irrevogavelmente entrelaçados.

    Então, sem aviso, uma explosão de luz irrompeu ao redor de Harley. O branco cegante envolveu tudo, impossibilitando até mesmo a abertura de seus olhos. Harley se encolheu instintivamente, tentando se proteger daquela força avassaladora.

    Não era apenas luz. Era o próprio vazio, o início de tudo, antes da criação de qualquer cor ou forma. O mundo ao redor de Harley desapareceu, devorado por aquele brilho branco, deixando apenas o nada.

    — Ah! — O grito de Harley ecoou impulsivamente, mas logo foi absorvido pelo vazio ao redor. 

    O silêncio era total, sufocante. Ele sentia que estava só, mas até mesmo sua própria voz parecia ter sido consumida, impedida de viajar pela luz opressora.

    “Como posso lutar contra isso?” — pensou, desesperado — “Como posso enfrentar algo que não tem forma, nem origem?”

    A resposta veio de dentro, não de fora. Incapaz de abrir os olhos diante da luz implacável, ele não vacilou. Com a outra mão, agarrou a adaga, sentindo sua força reverberar. 

    Determinado a romper aquele vazio interminável, cortou a palma da mão com um gesto preciso. O sangue fluiu como um símbolo de sua decisão, cada gota carregando consigo a promessa de um novo caminho. O vermelho se destacou contra o branco avassalador. Pela primeira vez, algo diferente da luz apareceu.

    A adaga tremeu novamente, como se hesitasse diante do toque de seu sangue. Mas, aos poucos, uma nova cor emergiu. O brilho azul que circundava o portal agora emanava da lâmina, e uma força poderosa começou a puxá-los. 

    O sangue de Harley havia desbloqueado algo na adaga, uma conexão mágica, algo além do entendimento humano.

    Quase com portas a centímetros de distância de seu rosto, a ponta da adaga continuava a rasgar o ar, desenhando portais que surgiam e desapareciam como estrelas cadentes, oferecendo saídas, cada uma com promessas de destinos incertos. 

    Harley sentia a resistência da lâmina em sua mão, como se ela tivesse uma vontade própria, lutando para se manter livre, saltando de portal em portal, sempre criando novos caminhos. Ele lutava para mantê-la sob controle.

    Cada novo portal era uma escolha, e a adaga parecia desafiá-lo a seguir qualquer caminho. A tensão entre Harley e a lâmina aumentava, uma luta silenciosa entre sua vontade de decidir seu próprio destino e o desejo da arma de continuar moldando o caos ao seu redor.

    Com um suspiro pesado, Harley finalmente tomou sua decisão. Apesar da resistência da adaga, seus olhos se fixaram em um portal recém-aberto. Suas bordas brilhavam em um azul profundo, pulsando como se estivessem vivas, atraindo-o irresistivelmente. 

    Ele sentia a energia do portal chamando, sabendo que era sua chance de impor sua vontade sobre a adaga, usando seu poder para abrir o caminho definitivo.

    “Se não posso alcançar a névoa, então este será meu destino” — pensou, ciente de que sua escolha era final. 

    Com um último aperto na adaga, como se estivesse domando uma fera selvagem, Harley avançou em direção ao portal. Sabia que, ao atravessar aquele limiar, não haveria volta. A luta entre ele e a adaga talvez nunca terminasse, mas agora, pelo menos, ele podia escolher seu próprio caminho.

    De repente, Harley foi puxado com violência para dentro do portal. A transição foi rápida e brutal, mas quando seus pés finalmente tocaram o chão, ele percebeu que havia sobrevivido. O abismo ficou para trás.

    Diante dele, uma paisagem deslumbrante se estendia. O ar estava carregado de um silêncio pesado, quase reverencial. No centro da vastidão, uma figura solitária estava de costas, de braços cruzados, como se esperasse por sua chegada. 

    Era um velho, curvado pelo peso dos anos, contemplando algo invisível diante de si. De longe, Harley sentiu uma estranha familiaridade emanando daquela figura.

    A figura ainda de costas, despertou um alerta em seu interior — “Quem era aquele homem, e que segredos ele guardava?” — algo em sua presença parecia estranhamente familiar, mas ao mesmo tempo inquietante.

    Quando o velho se virou, a surpresa de Harley se transformou em choque. O rosto diante dele era inconfundível, apesar das cicatrizes e marcas do tempo. Era Julius Ginsu, seu pai.

    Julius parecia mudado, mais envelhecido. As cicatrizes em seu corpo eram testemunhas silenciosas dos anos que se passaram desde que eles se separaram. Mas seus olhos ainda brilhavam com a mesma sabedoria, e um sorriso suave se formou em seus lábios ao reconhecer o filho.

    — Harley… — A voz de Julius carregava emoção — Você cresceu, meu filho.

    As palavras de seu pai reverberaram dentro de si. Memórias esquecidas, sentimentos reprimidos e dúvidas há muito enterradas vieram à tona em um turbilhão avassalador. 

    Ele nunca imaginou um reencontro tão inesperado, especialmente em um lugar tão estranho. O destino, ao que parecia, começava apenas agora a revelar seus mistérios.

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