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    “A sobrevivência é um conceito flexível. Para alguns, é apenas seguir em frente. Para outros, é a evolução forçada pelo caos.”

    —  O Código do Guerreiro Solitário, Verso 19.


    O velho mago, ainda imperturbável e alheio ao desespero crescente de Harley, não desviou o olhar do teto, onde sua atenção parecia fixada em algo distante. Ele falou sem emoção, como se estivesse ensinando a lição mais trivial do mundo.

    — A verdadeira força vem da compreensão e do domínio sobre si mesmo. Esta é uma lição crucial, aprendiz. Aprender a lidar com desafios imprevistos faz parte do caminho para se tornar um mestre.

    Harley estava furioso. A voz calma de Cedir apenas alimentava sua raiva. Ele estava sozinho, cercado por criaturas das sombras que se moviam como nuvens vivas de trevas. Cedir o estava abandonando, como se tudo fosse um exercício de aprendizado. 

    O número de criaturas aumentava a cada segundo. Elas avançavam e recuavam, testando suas defesas. Assumiam formas disformes, feitas de uma substância que oscilava entre o vapor e a solidez. 

    Era como lutar contra a própria escuridão, que constantemente mudava, se adaptava e retornava mais forte. As sombras atacavam de todas as direções, buscando brechas em seus movimentos. Suas adagas eram sua única defesa.

    Cada golpe com a adaga branca perfurava as criaturas como se fossem balões de gás, estourando-as em uma dispersão, de um tipo de fumaça, que se dissolviam no ar. 

    Harley sentia o poder de seu artefato de combate, como se ela não fosse apenas uma arma, mas uma extensão de sua própria energia. Era uma força precisa, mas ele sabia que não poderia confiar apenas nela.

    A adaga preta, em contrapartida, parecia inútil. Cada vez que ele tentava atacar com ela, o metal encontrava resistência nas criaturas, mas não as cortava. 

    O impacto era inútil, como se a lâmina fosse incapaz de ferir aquelas formas feitas de sombras. Isso o forçava a adaptar suas táticas, usando a adaga preta para distrações e defesa, enquanto a adaga branca se tornava a verdadeira arma de ataque.

    O combate era frenético. Harley movia-se rapidamente, esquivando-se dos golpes e atacando sempre que via uma abertura. A frustração alimentava seus reflexos, mas o cansaço estava começando a se acentuar. O jovem sentia a cada momento que suas energias estavam se esgotando.

    E, enquanto lutava, ele sentia a presença constante de Cedir, apenas observando. O velho mago estava protegido por seu escudo, intocável, sem jamais levantar um dedo para ajudá-lo. Harley não pôde deixar de se perguntar se aquilo era mesmo uma lição.

    A situação piorou quando mais criaturas surgiram das sombras. Elas se aproximavam com uma rapidez alarmante, seus corpos disformes e gasosos se misturando à escuridão circundante. 

    Não havia espaço para recuar, e os ataques vinham de todos os lados. Ele cortava, desviava e atacava, mas cada vez mais sentia que as criaturas estavam aprendendo seus movimentos. Elas estavam se adaptando.

    De repente, o ambiente ao redor mudou. Ele sentiu uma vibração sob seus pés, como se a própria terra estivesse viva. As criaturas nas sombras recuaram momentaneamente, mas o silêncio que se seguiu era ainda mais ameaçador. O chão tremeu, e Harley percebeu que algo muito maior estava para acontecer.

    Do subsolo, formações rochosas começaram a se mover, como se tivessem ganhado vida própria. Minerais e pedras retorcidas se erguiam, tomando formas desarmônicas. 

    Elas se moviam lentamente no início, mas logo começaram a avançar com mais velocidade. Essas novas ameaças eram mais sólidas, mais imprevisíveis.

    E então, para aumentar o caos, orbes flutuantes surgiram. Elas brilhavam com luz elétrica, pulsando com energia em tons intensos. A cada pulsar, o ambiente se iluminava brevemente, revelando a quantidade absurda de inimigos ao redor. Cada orbe emitia um zumbido, uma energia que parecia corroer o ar ao redor.

    E surgiram mais criaturas monstruosas. Eram como minhocas gigantes, seus corpos largos escavando túneis pelo subsolo. Suas bocas ostentavam fileiras de dentes afiados, e elas se arrastavam com uma velocidade assustadora, deixando um rastro de gosma corrosiva que queimava tudo em seu caminho.

    Harley estava completamente cercado. Os olhos das criaturas, brilhando na escuridão, fixaram-se nele. Cada nova ameaça parecia mais mortal que a anterior. Ele sabia que a luta estava se tornando insustentável. Não havia espaço para fugir, e a cada golpe, suas chances de sobrevivência diminuíam.

    O velho Cedir, que até então havia se mantido alheio à luta, finalmente parou de observar o teto. 

    Ele agora olhava o caos com uma atenção renovada, mas não havia nenhum sinal de que ele pretendia intervir. Harley depois de um tempo, entendeu que estava sozinho, e Cedir estava apenas observando, como se tudo aquilo fosse um espetáculo.

    — Cedir! — gritou, o desespero finalmente tomando sua voz. 

    E então, algo aconteceu.

    Antes que o jovem Ginsu pudesse reagir, Cedir, em um movimento inesperado, desapareceu. Ele se moveu como uma rajada de vento, sumindo sem deixar vestígios. O mago, que até então parecia alheio, fugiu.

    Harley não podia acreditar no que estava vendo. O abandono de Cedir o atingiu como um soco no estômago. O desespero se transformou em raiva. Ele estava sozinho, cercado por um número crescente de criaturas, e agora sem nenhuma esperança de receber ajuda.

    As sombras ao seu redor avançaram, as criaturas maiores começaram a se aproximar, e Harley sabia que o fim estava perto. Ele sentiu seu corpo enfraquecendo, a exaustão tomando conta. Sua visão começou a escurecer, e ele sabia que estava à beira de desabar.

    Mas então, algo dentro dele mudou. Uma faísca de determinação, uma última reserva de força, surgiu. O jovem Ginsu apertou as adagas, sentindo o poder nelas fluir por seus dedos. Ele estava sozinho, sim, mas não estava derrotado. Cedir havia fugido, mas não iria desistir.

    — Aaaah!

    Com um grito de pura determinação, Harley lançou-se contra as criaturas, esquivando-se dos ataques das minhocas que cavavam novos túneis a cada investida. 

    Suas adagas brilhavam com uma luz revigorante. Ele se movia com uma precisão surpreendente, desferindo golpes com a adaga branca que estouravam as sombras ao seu redor. 

    E a adaga preta, ágil em sua outra mão, desviava os ataques das criaturas minerais, sem causar danos diretos; transformava-se em uma poderosa arma de distração, quebrando o ritmo dos inimigos e permitindo que o jovem Ginsu mantivesse o controle da batalha.

    A batalha era uma questão de sobrevivência, e Harley, movido pela necessidade de sobreviver, lutava com todas as suas forças. As criaturas continuavam avançando, mas ele as enfrentava com uma nova força, uma nova determinação.

    Ele não sabia quanto tempo poderia resistir, mas naquele momento, Harley sabia que, mesmo sozinho, ele iria lutar até o fim. O subsolo ao seu redor, agora uma terra de pesadelos, se tornara seu campo de batalha. Ele estava cercado, traído e abandonado, mas não seria derrotado.

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