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    “Os segredos do tempo não são revelados a todos, mas àqueles que sabem que o destino é uma teia entrelaçada.” 

    — Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.


    A dúvida que dominava Harley foi rapidamente suprimida pela consciência de suas responsabilidades. Nem todas as vitórias são conquistadas sem sacrifícios ou riscos, e ele sabia que as escolhas feitas agora ecoariam profundamente no futuro. 

    Enquanto ele observava Isabella caída no chão, o grito de Sergio ecoava pelo subterrâneo:

    — Não se iluda, Harley. Isso está longe de terminar — a voz de seu inimigo reverberou entre as paredes rochosas — Vou continuar arrancando cada pessoa importante de sua vida, destruindo cada conexão, cada lembrança. Você não pode escapar do destino.

    A ameaça deixou uma marca profunda na mente do jovem Ginsu enquanto ele corria em direção a Isabella. Antes, ele sempre se via como o mestre da fuga, um estrategista que preferia se retirar dos confrontos. 

    Mas agora, ao se mover com uma determinação feroz, percebeu que o jogo havia virado. Ele não estava mais fugindo. Agora, ele fazia os outros recuarem.

    Um poder novo florescia dentro dele. Ele ergueu uma barreira de energia branca ao redor de Isabella e do corpo inerte de Astrid, uma proteção mágica sólida como uma muralha. O brilho suave da barreira iluminava seus rostos e ele sabia que aquela batalha havia mudado tudo.

    Ao chegar ao lado de Isabella, Harley percebeu o ferimento grave. O sangue fluía lentamente, e ele, com mãos firmes tentava estancar o sangramento. O silêncio momentâneo oferecia uma pausa, mas sua mente estava agitada. 

    “Sergio!” — o nome vinha com uma carga de ódio que ele nunca havia sentido antes. O vilão não apenas causava dor, mas parecia se alimentar do sofrimento alheio, especialmente o das mulheres.

    — Covarde — murmurou Harley, enquanto aplicava pressão na maior abertura que espirrava sangue — Machucar aqueles ao seu lado… isso é o que você faz de melhor, Sergio?

    Os pensamentos do jovem se voltaram para Astrid, agora apenas uma sombra do que foi. Duas mulheres, ambas destruídas pela crueldade do filho do clã Dragões de Sangue. Ele não hesitava em usar e descartar quem quer que cruzasse seu caminho. 

    Harley sentia a raiva fervendo dentro de si, alimentada pelas injustiças que Sergio cometia.

    Ele olhou para Isabella, ainda inconsciente, e percebeu que, embora ela tivesse na infancia sido prometida em casamento para seu clã, o tempo e os acontecimentos a haviam transformado. 

    Uma mulher antes arrogante, agora parecia tão humana quanto ele. Havia algo mais profundo nas expressões de seu rosto, algo que indicava uma maturidade que ele ainda não compreendia totalmente.

    Harley a levantou, sentindo o peso dela em seus braços, e por um instante, o contato físico trouxe lembranças esquecidas. A sensação de segurar alguém tão importante em outro momento da vida despertava emoções contraditórias. 

    Ele podia usar magia das sua adaga branca para carregá-la com mais facilidade, mas havia algo reconfortante em sentir a presença real dela. Uma parte dele queria que Isabella se lembrasse de que, um dia, ela precisou dele.

    Mas, além desse momento de intimidade forçada, Harley ponderava sobre algo maior. 

    “O que levou Isabella a Sergio? Por que uma mulher tão orgulhosa se envolveu com alguém tão desprezível?” — ele não conseguia deixar de se perguntar se escolhas como essa vinham de pressões externas, ou se eram simplesmente caminhos tortuosos que a vida impunha. 

    “Por que as pessoas escolhem caminhos que sabem que trarão sofrimento?”

    Sua mente retornou ao passado, às histórias que ele ouvia ao redor da fogueira em sua tribo. Os anciãos sempre falavam de portais invisíveis, fendas mágicas que conectavam diferentes momentos no tempo, mas que só podiam ser percebidas por aqueles que soubessem o que procurar. 

    “O tempo é uma teia” — o ancião costumava dizer — “Cada ação reverbera por todas as eras.”

    A revelação de que o tempo não era uma sequência linear, mas uma estrutura interconectada, sempre havia fascinado Harley. 

    Agora, ao olhar para Isabella, vinda de uma linha temporal diferente, ele começava a entender melhor a natureza dessas conexões. O futuro e o passado estavam sempre entrelaçados, como ondas que se moviam juntas, criando realidades que se cruzavam e colidiam.

    — O que você viu no futuro? — murmurou o jovem Ginsu, enquanto caminhava com ela nos braços. Ele sabia que havia mais do que ela revelara. Algo na expressão dela, mesmo inconsciente, dizia que o destino de ambos estava conectado de formas que ele ainda não compreendia.

    As palavras dos anciãos retornavam à sua mente: “O presente molda o futuro, mas o futuro também lança sombras sobre o passado”. 

    Ele refletia sobre como suas escolhas naquele momento poderiam reverberar em realidades diferentes — “E se cada escolha criasse uma nova linha temporal? E se Isabella já tivesse visto o que ele faria?”

    A incerteza corroía Harley e o fazia questionar: 

    “O que significava salvar alguém de um destino predestinado?” 

    Com cada passo que dava, carregando aquela mulher conhecida, era como se o tempo se partisse em camadas distintas — presente, passado e futuro. E, junto com o peso do corpo dela, as dúvidas o atingiam com força:

    “O que ele estava mudando com essa decisão? Será que havia uma linha temporal em que ele a deixaria para trás, focado apenas em vingança?”

    O caminho à frente estava envolto em incertezas. Harley sabia que, ao optar por salvá-la, estava abdicando da chance de confrontar Sergio imediatamente e possibilitando sua fuga. Isso o incomodava profundamente. 

    Parte dele queria o confronto imediato, resolver tudo de uma vez, mas uma parte mais profunda sabia que essa jornada era maior do que um único confronto.

    Ele riu, apesar de si mesmo.

    — Isabella, você sempre foi uma dor de cabeça — murmurou, mesmo sabendo que ela não poderia ouvi-lo — Mesmo quando não está consciente, você consegue complicar tudo.

    Com ela nos braços, ele olhou para o horizonte subterrâneo que se estendia à sua frente. Não havia um caminho claro definido, assim como não havia certeza sobre o que o futuro reservava. 

    A jornada de Harley continuava, e, embora carregasse as dúvidas sobre o tempo, os portais e as escolhas que ainda teria de fazer, ele aceitava que o presente era o único tempo sobre o qual realmente tinha controle. O futuro, com todas as suas incertezas, se revelaria no momento certo.

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