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    “A vida em constante movimento ensina que, para seguir em frente, primeiro é necessário aceitar a própria paralisia.” 

    — O Código do Guerreiro Solitário, Verso 26.


    O tempo continuava a passar, desenrolando-se como uma pequena pedra que rolava montanha abaixo, sem direção, sem destino, apenas seguindo o curso que lhe era imposto. 

    O vento soprava incansável, agora colidindo com o corpo ainda imóvel de Harley, que parecia parte da própria paisagem. Seu corpo estava se misturando ao ambiente árido, formando um pequeno monte inerte, quase indistinguível da terra à sua volta.

    Por dentro, Harley estava vazio. Não havia mais pensamentos, reflexões ou desejos — eles se transformaram em espinhos que o perfuravam sempre que tentava sentir ou lembrar. 

    A dor dessa perda ainda era profunda. Era uma ferida na alma, algo que o havia deixado paralisado, congelado no tempo.

    “Quanto tempo seria necessário para curar essa dor?” — a pergunta vinha à sua mente repetidas vezes, como um eco interminável — “Quanto tempo seria preciso para encontrar novos sonhos, novos motivos para viver?” 

    Ele sabia que, em algum ponto, precisaria seguir em frente, mas essa ideia parecia mais distante do que nunca. A frustração o prendia como correntes invisíveis, e cada recordação dos fracassos o afundava mais no abismo da inércia.

    O tempo fluía, mas para Harley, ele não passava. Cada segundo parecia se esticar em horas, cada minuto em dias. O jovem guerreiro permanecia imóvel, travado entre o desejo de não sentir mais nada e a necessidade de encontrar algum sentido para continuar. 

    A paralisia era uma força irresistível; era um estado da alma, uma febre que consumia sua essência, deixando-o sem vontade de se mover ou lutar.

    “Por que continuar? Por que seguir adiante quando tudo ao seu redor estava destruído?” — perguntava-se Harley.

    A perda de Isabella, de amigos, de sua família e até de sua vingança o deixara vazio. 

    “O que restava? O que havia para encontrar além da dor?” — a confusão o envolvia, perdido em suas dúvidas.

    O jovem Ginsu estava cansado. Cansado de lutar, cansado de tentar sobreviver em um mundo que parecia determinado a arrancar tudo dele.

    Mas, em algum lugar dentro dele, uma centelha recomeçou a brilhar. 

    “Um recomeço” — pensou. 

    Talvez o recomeço fosse o único caminho. 

    “Mas o que fazer?” — ele não tinha uma resposta. 

    “Não seria fácil, mas talvez fosse possível” — as memórias de tempos antigos retornavam, martelando sua mente: 

    “O tempo… cruel e impiedoso, mas também capaz de transformar. E se eu realmente conseguisse, como nos sussurros da minha infância, converter a dor em força? E se eu finalmente aceitasse o que perdi e, com isso, encontrasse uma maneira de seguir em frente?”

    Perguntas, respostas vagas e novas incertezas se chocavam desordenadamente na mente do jovem, que se via paralisado pela confusão. 

    A noção de tempo havia se perdido, entre a espera de respostas que nunca vinham e o acúmulo de dúvidas que chegavam sem aviso. Agora, no entanto, uma leve sensação de ordem parecia emergir do caos.

    Harley começou a entender algo novo: as tragédias de sua vida não o definiam. Elas moldavam sua jornada, mas não o que ele era. A dor não era o fim; ela era o combustível para algo maior. 

    E mesmo com as cicatrizes do passado, ele ainda podia recomeçar. Aceitar isso era o primeiro passo para a mudança. 

    Nada durava para sempre. O tempo era implacável, sempre exigindo um fim, mas também oferecendo novas chances. A ideia de recomeçar, antes tão dolorosa, começava a parecer possível nos caminhos tortuosos que o jovem Ginsu fazia em sua mente. 

    Finalmente, um primeiro movimento aconteceu. Um leve movimento muscular, quase imperceptível, mas real. Harley quebrou a paralisia que o prendia. 

    Como um campo seco que vê as primeiras gotas de chuva, as lágrimas que ele derramava sobre a terra estéril prometiam o início de algo novo. O tempo não curava todas as feridas, mas o ensinava a sobreviver apesar delas.

    Harley se levantou lentamente. Cada parte de seu corpo protestava, mas ele continuou. A dor não desaparecera, mas ela começava a ceder espaço para outra coisa: a compreensão de que a vida, a dor… Tudo era efêmero. 

    Nada era eterno, mas era justamente o fato de que tudo tinha um fim que tornava cada momento precioso.

    Ele começou a andar. O mundo ao seu redor parecia o mesmo, mas algo dentro dele havia mudado. As tragédias ainda pesavam, mas ele continuou em movimento. As memórias lhe apunhalavam, mas ele permaneceu andando. 

    Passos lentos e cuidadosos começaram a conduzi-lo por um novo caminho. Cada passo era um feixe de esperança em meio ao vazio. 

    O recomeço, percebeu Harley, não era apenas continuar em frente. Era um ato de transformação, de pegar tudo o que havia sido perdido e encontrar novos significados em meio ao caos.


    E então, o mundo ao seu redor mudou novamente.

    O deserto árido e sem vida onde Harley estivera desapareceu num piscar de olhos, substituído por uma floresta exuberante. Árvores imponentes erguiam-se como pilares verdes, com folhas que filtravam a luz do sol. 

    Harley piscou, confuso, tentando entender o que acabara de acontecer. O ar estava fresco, carregado com o perfume da vegetação e o som distante de animais invisíveis.

    Ele estava atordoado. A transformação foi tão abrupta que ele mal conseguia acreditar no que via. Cada folha, cada raio de luz parecia um espetáculo de beleza natural, em contraste com o vazio desolado do deserto que ele havia acabado de deixar para trás. O cenário era deslumbrante, mas perturbadoramente irreal.

    De repente, um som de palmas ecoou pela floresta.

    Harley girou rapidamente, o corpo ainda enrijecido pela dor e pela longa paralisia. Mas, apesar de sua exaustão, ele agarrou suas adagas, pronto para enfrentar o que viesse.

    Uma voz familiar soou suave:

    — Magnífico. Você conseguiu passar no teste.

    Harley congelou, seus olhos se arregalando. “Isabella?” 

    Ela estava ali, de pé, entre as árvores. Ela parecia diferente. Havia algo nos olhos dela, algo que ele não conseguia decifrar. Não era mais a mulher rancorosa que ele conhecera. Mas ele hesitou. Suas palavras ainda ecoavam em sua mente, lembranças de traições passadas.

    — Finalmente, podemos prosseguir — disse ela, seu tom suave, quase melódico. 

    Harley manteve sua postura defensiva, sem baixar as adagas enquanto cogitava:

    “O que está acontecendo?”

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