Capítulo 83 - Qual o verdadeiro poder das sombras?

“Aquele que se encontra entre a luz da esperança e a sombra da morte precisa decidir o que deixar para trás. Pois, o passado perde a importância, e o que resta é a promessa de sobreviver ao presente.” 

— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 32.

Subitamente, sem aviso, a investida da mulher loira pegou Harley de surpresa. De suas costas, uma entidade feita do mesmo material sombrio invocado pela Guardiã Sombria emergiu. 

Tentáculos sinuosos e escuros se retorciam no ar como serpentes feitas de sombra viva. Esses apêndices prolongavam-se de sua espinha, conectando-se à essência sombria que envolvia a mulher.

Com um movimento ágil, Harley se afastou do alcance dos invólucros feitos de sombras, seus pés encontrando o ponto exato para impulsioná-lo. O ataque passou a milímetros de distância, enquanto ele parecia prever cada movimento dos apêndices que rasgavam o ar perto de sua pele.

Suas adagas cortaram o ar com rapidez, cada movimento preciso. Os apêndices negros disparavam em sua direção, serpenteando pelo espaço e se alongando como lanças, tentando capturá-lo ou perfurá-lo. 

Harley desferia cortes com violência controlada, e a cada investida, sua lâmina encontrava o ponto exato para repelir o ataque. Ao serem atingidos, os membros sombrios desintegravam-se em pequenas partículas nebulosas, dissipando-se antes de recuarem e se reformarem em novas ofensivas.

Harley não perdia a Guardiã Sombria de vista nem por um instante, mesmo em meio à batalha frenética contra os apêndices. Ela permanecia imóvel, uma figura imponente cercada por soldados e criaturas feitas de sombras que não se moviam, como se estivessem aguardando ordens. 

A postura dela transmitia uma calma inquietante, e o jovem Ginsu podia sentir seus olhos frios sobre ele, avaliando cada movimento, cada esquiva, cada golpe que ele desferia. 

Era como se aquele confronto fosse um teste, um espetáculo montado para provar suas capacidades diante de uma plateia de horrores sombrios, todos prontos para atacar ao menor sinal de fraqueza. 

Ele sabia que ela estava apenas observando, julgando se ele era digno de sua atenção ou nada além de mais um obstáculo a ser esmagado.

Independente da presença da Guardiã Sombria, a preocupação imediata de Harley era sobreviver aos tentáculos que o cercavam. Cada apêndice de sombra se movia com uma precisão mortal, e ele sabia que qualquer distração, qualquer olhar prolongado em direção à Guardiã, poderia ser seu fim. 

Seus instintos gritavam para focar no perigo presente, e ele obedecia, concentrando cada gota de energia na defesa contra as sombras que buscavam consumi-lo.

Cada apêndice de sombras exibia uma sinuosidade única, com ventosas nas extremidades que se fixavam em qualquer superfície ou corpo que tocavam. 

Objetos inanimados, pedras e vegetação, tudo era sugado para o vazio da escuridão quando tocado por esses apêndices, como se fossem portais para um abismo desconhecido. 

Harley mal tinha tempo para respirar; a cada segundo, os membros sombrios o cercavam, movendo-se como serpentes traiçoeiras, tentando sugar sua própria essência para a escuridão. 

Os tentáculos se esticavam e cobriam uma boa distância, tornando-se armas de longo alcance que o obrigavam a se movimentar constantemente.

Ele girava o corpo, recuava e saltava para os lados, desviando dos ataques que vinham de todos os ângulos. A cada vez que um dos tentáculos se aproximava, ele levantava a adaga para bloqueá-lo, e o choque entre metal e sombra produzia um som surdo, como se a própria escuridão ganhasse densidade. 

Harley sentia o ar ao seu redor ficar mais pesado a cada tentativa das ventosas de se prenderem em algo, o vazio da sombra ameaçando sugar tudo em seu caminho.

Com um impulso ágil, Harley saltou para trás, afastando-se de um dos apêndices que se transformou em uma lâmina afiada, cortando o chão onde ele estivera instantes antes. 

Não havia pausa. Ele avançou com um grito de determinação, suas adagas riscando o ar em cortes rápidos e ferozes. Dois apêndices vieram de lados opostos, tentando prendê-lo em um golpe coordenado, mas Harley se abaixou, rolando pelo chão e erguendo-se em um movimento contínuo. 

Com uma de suas lâminas, ele desfez o apêndice à direita, enquanto a outra adaga perfurou a sombra à esquerda, que se desfez em névoa ao ser atingida.

A inimiga, oculta pela escuridão, parecia manipular cada membro como uma extensão de sua própria vontade. Harley sabia que precisava romper esse controle. 

Quando um dos tentáculos avançou como um chicote, ele ergueu a adaga e cortou-o em um movimento ascendente, desfazendo o apêndice mais uma vez em uma chuva de fragmentos que cintilaram antes de desaparecer.

Os ataques vinham incessantes, cada vez mais rápidos e precisos, obrigando Harley a manter-se em movimento constante. Seus pés mal tocavam o chão antes de precisar esquivar novamente, e suas adagas pareciam uma extensão de seus braços, respondendo de maneira instintiva aos perigos que surgiam. 

Ele sentia a proximidade das ventosas, e em uma fração de segundo percebeu um fragmento de sua capa sendo puxado para a escuridão, desaparecendo no vácuo devorador.

O confronto se desenrolava com uma intensidade brutal; os apêndices pareciam infinitos, e cada golpe desferido era uma batalha para não ser subjugado pela escuridão que o cercava. As ventosas continuavam a se lançar em busca de algo para prender e sugar, como se quisessem devorá-lo por completo.

Mas Harley não cedia. Com um olhar firme, ele avançou contra a inimiga, desferindo um corte violento que partiu um dos tentáculos em dois. As sombras se dissiparam, e, por um instante, ele conseguiu enxergar o rosto dela. 

Os olhos dela brilharam com raiva, e ele soube que essa luta estava longe de terminar.

Repentinamente, as sombras ao redor começaram a se agitar furiosamente, criando uma barreira que separava Harley da mulher loira. A Guardiã Sombria, sem mais interesse em apenas observar, saiu de sua imobilidade com um ar de desagrado estampado em seu rosto. 

Ela deu um passo à frente e, com um aceno imperioso, ordenou que as sombras intervissem, criando uma parede viva que respondia diretamente ao seu comando.