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    “O conceito de controle vai além do poder bruto; é a capacidade de definir o que os outros enxergam como suas possibilidades. Quando a escolha é retirada e o caminho se fecha, não há necessidade de correntes físicas. A mente já está aprisionada.” 

    — Sussurros das Sombras XIX, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.


    — Então você se atreve a me desrespeitar aqui!? — a voz da Guardiã Sombria, cheia de irritação, ressoou pelo ambiente. Cada palavra era uma faísca que queimava sua paciência. O olhar de desprezo que ela lançou à outra mulher marcava o fim de sua inércia. A observação acabara. A ação, agora, era inevitável.

    — Ah!Ah!Ah — a mulher loira apenas riu com desdém.

    — Achei que fosse quem pegasse primeiro — Sua voz carregava uma leveza perturbadora, como se ela estivesse brincando com a situação, indiferente ao perigo.

    Harley observava o confronto entre as duas com atenção, mas seu pensamento voou brevemente para longe, lembrando-se das mulheres de sua tribo. Lá, as mulheres eram fortes, sim, mas equilibradas. 

    Elas não precisavam recorrer à dissimulação ou brutalidade para conseguir o que queriam. Em sua comunidade, as mulheres eram honradas, guerreiras dignas que enfrentavam seus desafios com cooperação, não arrogância e desejo de dominação.

    Essas mulheres diante dele, no entanto, eram diferentes. Perderam a suavidade e a capacidade de transformar a vida com a delicadeza que equilibrava o mundo. 

    Harley não podia deixar de notar a ausência daquela essência feminina, algo que ele sempre considerou complementar e essencial para trazer equilíbrio ao caos do mundo.

    — Vocês são tão oferecidas quanto flechas voando no ar — falou Harley com sarcasmo, um leve sorriso cruzando seu rosto. A comparação era banal, quase risível, mas ele não parecia se importar com a falta de originalidade, desde que conseguisse feri-las — Agora entendo por que estão sozinhas e acabarão como titias solitárias com esses “instrumentos” sem vida.

    As duas mulheres lançaram a ele olhares de puro desprezo, uma fúria fria incendiando seus olhos. Para elas, a ideia de colaboração ou igualdade era risível. Apenas a força verdadeira podia definir relações.

    Quem detinha o poder fazia as regras e ditava as leis. A Guardiã Sombria foi a primeira a falar, sua voz ecoando pela escuridão, carregada de um senso de superioridade absoluto.

    — Quem precisa de homens? — ela cuspiu as palavras com desprezo — Vocês são a causa de toda dor e destruição no universo. O mundo será melhor quando todos vocês forem eliminados.

    Harley, mantendo-se vigilante, percebeu uma sutil mudança nas sombras. Elas se moviam de maneira que sugeria um novo ataque, e ele se preparou. Mas antes que pudesse agir, uma nova figura emergiu da escuridão. Outra mulher, formada a partir das sombras, apareceu lentamente.

    — Ivana! — sussurrou Sanguessuga, a raiva vibrando sob sua voz ao reconhecer a figura que se aproximava. O sussurro era baixo, mas carregado com uma intensidade contida que mostrava o quanto ele desprezava aquela chegada inesperada.

    Ivana, como a chamavam, era alta e magra, com olhos levemente puxados que brilhavam com determinação. Seus cabelos negros fluíam graciosamente por seus ombros. A presença dela parecia trazer uma nova dimensão de perigo, e Harley percebeu imediatamente que ela não era uma adversária comum.

    — Cale-se! — A voz de Ivana cortou o ar com força. Em seguida, uma onda sonora poderosa foi disparada em direção a Harley, pegando-o desprevenido. O impacto da força o arremessou longe, derrubando-o contra o chão.

    Recuperando-se rapidamente, Harley viu a cena mudar drasticamente. Ivana tinha uma habilidade única, manipulando o som de forma mortal. Ao seu redor, o ar parecia vibrar, distorcendo a realidade.

    “Isso só torna tudo mais complicado…” — pensou Harley, seus músculos tensionando à medida que ele encarava mais uma adversária se juntando ao combate. Parecia que o destino conspirava para empilhar as dificuldades cada vez mais altas.

    Harley, apesar do golpe sofrido, não perdeu o humor. Ele se levantou com um sorriso irônico nos lábios, e falou: 

    — Bem, acho que finalmente todos os demônios se reuniram — sua voz soava descontraída, mas seus olhos estavam afiados, prontos para o próximo ataque. Ele sabia que qualquer deslize poderia custar sua vida.

    Sanguessuga soltou uma risada ao ouvir o comentário de Harley.

    — Você tem um senso de humor peculiar para alguém prestes a se tornar meu — havia algo ameaçador e provocador em sua voz, como se ela estivesse saboreando o momento.

    Enquanto isso, Ivana observava com desprezo, seu poder de controle sobre o som tornando-se mais evidente a cada segundo. O ar ao redor dela tremia, como se sua presença fosse suficiente para moldar a realidade.

    — Vocês três, hein? — Harley não podia deixar de provocar, mesmo cercado pelo perigo — Demônios nunca foram tão bonitos. Mas sabem, meu coração já pertence à minha adaga. Desculpem, meninas.

    A tensão entre as três mulheres atingiu um novo pico. Harley podia sentir que algo estava prestes a explodir. 

    As sombras ao redor da Guardiã Sombria estavam se agitando mais intensamente, como se respondessem à raiva crescente de sua mestra. Sanguessuga, por outro lado, mantinha seu olhar fixo em Harley, como se já o tivesse reivindicado.

    E então, um movimento repentino. Ivana atacou, e desta vez foi um ataque sonoro direto. O som parecia materializar-se em ondas visíveis, disparadas em direção ao jovem. 

    Harley mal teve tempo de reagir, e a onda o atingiu como uma explosão de pressão. Seu corpo foi arremessado para trás novamente, e ele sentiu suas costelas vibrando com o impacto.

    Ele sabia que estava em desvantagem, mas sua mente já trabalhava em uma maneira de superar aquilo.

    — Você realmente tem coragem, garoto — Ivana falou enquanto se aproximava lentamente, sua voz carregada de uma confiança fria — Mas coragem não é o suficiente.

    A adaga preta de Harley brilhou novamente. O jovem sentiu a mesma onda de energia que o ajudara no passado começar a reverberar em seu corpo. Ele podia sentir o poder fluindo, mas havia algo diferente dessa vez. O brilho estava mais intenso, quase como se a adaga estivesse… viva.

    — Sabe o que eu odeio em demônios? — Harley continuou com seu tom provocador, mesmo enquanto seus músculos gritavam de dor — Vocês sempre acham que estão no controle.

    E com isso, ele lançou-se para frente, cortando o ar com as duas adagas. O ataque foi rápido, uma explosão de energia, e desta vez, ele mirou diretamente em Ivana.

    O som ao redor da mulher distorceu-se, tentando protegê-la, mas a adaga preta parecia absorver a energia, rompendo a barreira sonora que a cercava. O golpe cortou o ar, deixando Ivana brevemente vulnerável.

    Mas antes que Harley pudesse aproveitar a brecha, as sombras da Guardiã Sombria se moveram rapidamente, criando uma barreira viva entre ele e Ivana. Sanguessuga riu, divertindo-se com o caos ao seu redor.

    — Que emocionante! — exclamou ela, observando as faíscas de energia mágica e sombras colidindo ao redor deles.

    Mesmo no meio da escuridão, Harley sabia que algo dentro de si acreditava em uma saída, uma pequena possibilidade de virar o jogo. 

    Tudo que ele precisava fazer era manter o controle, lembrar de suas habilidades afiadas pelo tempo e, acima de tudo, acreditar no fio das adagas, companheiras fiéis que nunca falharam em momentos decisivos.

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