Capítulo 86 - O campo de batalha isolado
“O verdadeiro guerreiro sabe que o controle do espaço é, na verdade, o controle do destino, e aquele que define os limites define também as regras do combate.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 34.
Com um movimento decidido, Harley ergueu a adaga branca, invocando toda a energia de criação que possuía. Uma luz intensa explodiu de sua lâmina, expandindo-se em todas as direções.
Ele não criava uma simples barreira, mas sim um campo inteiro ao seu redor. Um espaço de área considerável, onde ele pudesse se movimentar livremente.
A energia branca formou uma cúpula ampla, isolando-o completamente das três mulheres que o cercavam. O campo cobria um raio generoso ao seu redor, criando uma arena particular.
Dentro daquela barreira, ele teria espaço para reagir, se deslocar e testar diferentes estratégias, mantendo suas oponentes à distância e forçando-as a uma posição onde precisariam decidir entre lutar entre si ou encontrar uma forma de quebrar sua defesa.
Os soldados de sombras da Guardiã Sombria foram os primeiros a reagir, avançando contra o campo branco com uma força imponente. Diferente dos tentáculos produzidos por Sanguessuga, que se desfaziam como névoa ao tocar a luz, esses soldados eram resistentes.
Eles se chocaram contra a barreira, produzindo um impacto poderoso, mas a cúpula brilhante de Harley resistiu firmemente, sem ceder um centímetro.
Os soldados, feitos de uma substância sombria, continuavam suas investidas, golpe após golpe, mas o campo não mostrava sinais de fraqueza, mantendo-os do lado de fora, incapazes de ultrapassar a proteção.
Logo depois, a mulher loira agiu com mais ímpeto. Seus tentáculos sombrios serpenteavam em direção ao campo de energia, estalando como chicotes enquanto testavam as bordas da barreira.
Os apêndices se enrolavam, buscavam falhas, tentando penetrar, mas a luz emitida pela barreira os queimava antes que pudessem atravessar. Cada tentativa era recebida com um clarão de luz e faíscas que se espalhavam pela área.
Harley observava tudo com cuidado. Ele sabia que, ao criar um espaço mais amplo, não apenas estava se protegendo das ameaças diretas, mas também manipulando o campo de batalha a seu favor.
Ali, ele poderia contra-atacar à distância, lançar ataques de dentro da barreira, enquanto as três mulheres teriam que gastar tempo e energia para tentar derrubar sua proteção ou lutar entre si até que restasse apenas uma.
As mulheres hesitavam. A Guardiã Sombria mantinha as sombras em constante pressão contra o campo de energia, enquanto a mulher loira parecia sopesar suas opções, um olhar astuto e calculista no rosto.
O jovem Ginsu podia ver que elas estavam considerando os riscos e as vantagens. Elas poderiam se desgastar tentando romper a barreira ou se voltar umas contra as outras, deixando-o para depois.
No entanto, Harley não esperava que Ivana agisse de forma tão sorrateira. Ele sentiu uma sensação de perigo iminente que o fez girar instintivamente. Mas já era tarde demais.
Ivana, com seu poder único de viajar através das sombras, entrou no campo de energia usando uma brecha que apenas ela poderia explorar. Ela emergiu de uma sombra no chão da barreira, como se fosse uma extensão do próprio escuro, e sorriu, satisfeita por ter conseguido entrar.
— Achou que poderia se esconder de mim? — provocou a mulher.
Harley sentiu o impacto do gasto de energia. Ele havia utilizado toda a energia branca na criação da redoma, uma barreira tão extensa e sólida que drenou cada resquício da força da adaga. A lâmina branca, agora, era apenas uma arma comum. Não havia mais poder para moldar novos objetos ou lançar rajadas de energia.
Ele sabia que a energia usada para fazer o constructo era moldável, e, se quisesse criar qualquer outro objeto com a energia branca, teria que desfazer ou retirar parte da energia da barreira de proteção. Isso, porém, seria um risco enorme, pois a barreira enfraqueceria e poderia ser destruída facilmente pelas inimigas.
Além disso, o jovem não tinha tempo para testar a resistência e o uso adequado da energia com transferências e trocas. Compreendendo suas limitações, Harley ajustou sua postura, preparando-se para enfrentar Ivana apenas com suas técnicas marciais.
Sem o suporte da magia, restavam-lhe apenas sua agilidade, precisão e o conhecimento de combate corpo a corpo.
Harley girou, sua adaga já em posição, e desferiu um golpe em direção a Ivana. Ela desviou facilmente, a lança sombria surgindo em suas mãos, quase como se fosse um prolongamento de seus próprios braços. Ela se moveu rapidamente, uma dança letal de sombras e luz, cada ataque mirando um ponto vulnerável de Harley.
Ivana atacava com fúria, cada golpe buscando encurralar Harley, tentando forçá-lo contra as paredes internas da barreira. Ele sabia que precisava usar o espaço a seu favor. Era exatamente por isso que havia criado uma barreira tão ampla.
Com uma série de esquivas rápidas, ele se afastou, usando o espaço disponível para ganhar tempo e pensar em uma nova estratégia.
— Você não vai conseguir fugir o tempo todo! — gritou Ivana, a lança desferindo um golpe de cima para baixo.
Harley bloqueou o ataque com a adaga e saltou para trás, aproveitando o espaço livre para se afastar e se reagrupar. Ele sabia que precisava manter distância e controlar a batalha, utilizando o poder da barreira para seu benefício.
Enquanto se movia, ele concentrou uma ínfima energia na adaga e lançou uma rajada direta contra Ivana. O feixe de luz cortou o ar, e Ivana teve que rolar para o lado para evitar o impacto, perdendo a posição vantajosa que tinha.
Sem retirar energia da barreira, Harley rapidamente a moldou para que as paredes se voltassem para dentro, comprimindo-se contra Ivana, tentando aprisioná-la de uma vez por todas. Ivana, no entanto, reagiu em um piscar de olhos: mergulhou em uma sombra e surgiu do lado de fora da barreira, como uma sombra viva que não podia ser contida.
Ela sabia que sua sobrevivência dependia de ataques curtos e precisos. Permanecer dentro da barreira significaria ser alvo fácil para Harley, então seus movimentos se tornaram cada vez mais calculados — cada entrada e saída precisava ser perfeita.
— Esta é a minha arena, Ivana — afirmou Harley, seus olhos fixos nos dela — Aqui, eu faço as regras.
Ivana o fitou com ódio, e por um momento hesitou. Ela percebeu que, dentro da barreira, Harley tinha vantagem de mobilidade e poderia usar o campo para rechaçar seus ataques. Ele poderia contra-atacar de qualquer direção e, se ela fosse descuidada, acabaria ficando presa dentro de uma armadilha.
Harley continuou a se mover pelo espaço amplo, sua adaga brilhando intensamente, iluminando cada canto da barreira. Ele estava determinado a manter o controle, forçando Ivana a lutar nas suas condições.
Com um movimento rápido, ele canalizou a energia branca em uma série de explosões concentradas, cada uma delas direcionada para limitar os movimentos de Ivana que tinha reaparecido dentro da cúpula, empurrando-a para longe.
Ivana, por sua vez, continuava tentando encontrar uma forma de romper a vantagem de Harley. Seus olhos estreitaram-se enquanto ela buscava uma fraqueza, uma abertura para atacar. Ela se movia com a fluidez das sombras, mas Harley tinha o espaço necessário para reagir, se afastar e lançar contra-ataques precisos.
— Você não é a única que pode usar as sombras contra seus inimigos — murmurou Harley, e, em um movimento ágil, saltou para o lado, fazendo com que a própria luz da barreira projetasse uma sombra que engolfou Ivana por um instante, confundindo-a e forçando-a novamente a se deslocar rapidamente para outro sombra ainda dentro da cúpula de energia branca.
Ele então aproveitou a hesitação dela, canalizando toda a energia da barreira em um ataque único e potente, mirando enfraquecer sua conexão com as sombras. A luz brilhou intensamente, e por um instante, a figura de Ivana pareceu vacilar.
O olhar em seus olhos mostrava que, pela primeira vez, ela sentia a pressão da situação. Dentro daquela ampla barreira, Harley tinha espaço para lutar, recuar e se reagrupar, e ele não pretendia deixar aquela vantagem escapar.
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