Capítulo 87 - A fúria do dragão
“A verdadeira força está em saber quando se esconder e quando agir. Nem sempre estar em evidência significa estar em controle. Às vezes, a sobrevivência é a maior vitória possível.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 29.
Enquanto isso, no outro lado do campo de batalha, Sanguessuga estava envolvida em sua própria luta desesperada. As sombras pareciam se multiplicar ao seu redor, engolfando-a como um mar infinito e sombrio. Seus tentáculos chicoteavam o ar em frenesi, cada golpe emitindo um som sibilante, um eco desesperado de resistência.
A mulher loira era uma força formidável, e sua expressão exalava concentração. Ela era alguém que havia transcendido os limites da humanidade, mas agora enfrentava algo que se movia além da compreensão.
Harley, enquanto lidava com as ofensivas de Ivana, não pôde deixar de pensar sobre a natureza dessas mulheres. Eram forças cruéis, moldadas por um mundo onde a compaixão era apenas uma fraqueza.
Não havia honra ou empatia em seus olhos, somente um desejo frio por supremacia.
Ivana avançava incessante deslocando-se cada vez mais pelas sombras, cada estocada buscando a carne de Harley, cada golpe aumentando a pressão.
A precisão de seus movimentos demonstrava uma letalidade fria. Não havia hesitação, não havia medo. Harley compreendia que precisaria mais do que apenas agilidade para enfrentá-la.
Com um sorriso provocador, ele tentou desestabilizar Ivana:
— Você luta com tanta intensidade! Será que é assim em todas as suas batalhas ou estou tendo tratamento especial?
Ivana permaneceu impassível, seus olhos semicerrados apenas cintilaram com algo próximo ao desprezo, e Harley percebeu que suas provocações não teriam o efeito desejado. Ele continuou tentando, porém:
— Com essa atitude, não deve ser fácil para você arranjar um namorado. Espanta todos os seus pretendentes assim?
Para sua surpresa, Ivana riu. Não era a reação que ele esperava, mas uma risada fria, quase zombeteira, como se ela estivesse diante da piada mais sem graça do mundo.
Sem responder, ela avançou, e Harley sentiu o peso da situação aumentar. A ferocidade em seus movimentos parecia aumentar. Cada deslocamento entre as sombras era mais rápido. Cada passo era um golpe, cada som era uma promessa de morte.
O jovem Ginsu sentiu a energia mágica em seu corpo fervilhar e decidiu usá-la de uma forma diferente, uma abordagem que pudesse virar o jogo. Concentrando sua energia, ele criou uma lança de luz e a lançou em direção a Ivana.
— Swish!
Mas, como esperava, ela desviou com facilidade, seu corpo movendo-se como se fosse parte das sombras ao redor. O verdadeiro alvo não era ela.
Atrás de Ivana, Sanguessuga, ainda presa em sua própria batalha contra as sombras, não viu a lança mágica vindo em sua direção. O impacto foi devastador. O corpo da loira cambaleou, seus tentáculos falharam, suas defesas foram quebradas em um instante.
As sombras ao redor não hesitaram — elas se lançaram sobre ela, como predadores sobre uma presa enfraquecida. Tentáculos e lâminas sombrias a envolveram, absorvendo sua essência.
— Não! — O grito dela ecoou pelo campo, um som de puro desespero, enquanto era devorada pela escuridão.
Harley observou de longe. Havia conseguido criar a abertura necessária, mas a morte de Sanguessuga era um lembrete de que a batalha estava longe de acabar.
Ivana percebeu o que acontecera, e seus olhos se encheram de fúria ao encarar Harley. Mas antes que ela pudesse agir, as sombras da Guardiã Sombria intervieram. A Guardiã Sorriu, um sorriso cruel, triunfante, como se já soubesse o resultado daquela batalha desde o início.
Com um gesto majestosamente teatral, ela envolveu Sanguessuga em um casulo de sombras, drenando sua essência lentamente, transformando-a em parte das forças da Guardiã Sombria, agora uma sombra leal, sem qualquer traço da mulher arrogante que fora um momento antes.
Harley viu aquilo com horror. A rapidez com que tudo mudara, a crueldade da transformação. Tudo isso o atingiu como um golpe. O campo de batalha havia mudado, e o poder da Guardiã Sombria parecia agora inabalável.
A Guardiã, mais poderosa do que antes, elevou a intensidade da batalha a um novo patamar. Em um gesto dramático, ela invocou um dragão de sombras, uma criatura monstruosa com olhos incandescentes em um vermelho sangrento e asas que se espalhavam pelo horizonte, como uma tempestade de pura escuridão.
O rugido do dragão reverberou pelo campo, um som que parecia sair das profundezas do abismo, e de sua boca surgiu uma rajada de fogo negro.
Esse não era um fogo comum. Não havia calor, apenas destruição. Tudo o que tocava era corrompido, reduzido a nada por uma força que ia além da compreensão humana. E estava vindo diretamente para Harley.
O jovem Ginsu respirou fundo e moldou a barreira mágica, comprimindo-a e restringindo sua área para apenas cobrir o ponto exato onde as chamas sombrias entraria em contato. Ele concentrou toda a sua energia naquele ponto, onde a resistência máxima era necessária.
Reduzir o tamanho da barreira era uma jogada tática. Tornava a proteção mais densa e, assim, muito mais eficaz contra a intensidade das chamas que tentavam penetrá-la.
Por um instante, parecia que a redoma resistiria, que conseguiria conter o ataque devastador. Mas as rachaduras começaram a se formar, linhas finas que se espalhavam como teias, revelando a fragilidade da defesa diante do poder da Guardiã.
Finalmente, a redoma cedeu. A magia se dissipou retornando para a adaga branca, deixando Harley exposto. O jovem foi jogado ao chão, o impacto arrancando-lhe o ar dos pulmões, mas ele se levantou rapidamente, um lampejo de determinação iluminando seus olhos. Ele sabia que não podia parar.
— Vamos ver o quão longe você consegue ir, garoto — a voz da Guardiã Sombria ecoou, carregada de malícia, enquanto o dragão preparava mais uma rajada.
Harley estava encurralado. O dragão sombrio à sua frente, enquanto as sombras da Guardiã o cercavam por todos os lados, dançando como serpentes prestes a atacar. Foi nesse momento de desespero, nessa fração de segundo em que tudo parecia perdido, que uma ideia surgiu em sua mente.
Com um movimento ágil, Harley utilizou a energia branca da adaga para conjurar linhas luminosas que rapidamente enlaçaram os soldados de sombras.
Eles foram amarrados e elevados pela força luminosa, transformando-se em um reforço para o escudo conjurado. A barreira formada era um amontoado de sombras densas, agora à mercê da vontade de Harley.
— Escondendo-se, garoto? — provocou a Guardiã Sombria, com desprezo em cada sílaba.
O dragão lançou a segunda rajada. A ruptura da barreira liberou uma onda de escuridão que avançou implacável, engolindo tudo em seu caminho.
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