Capítulo 141 - Equilíbrio e ruptura: a nova ordem mágica
“Nas profundezas da magia, o equilíbrio é frágil e sempre à beira da ruptura. O verdadeiro poder não está em manter a estabilidade, mas em adaptar-se às incertezas manipulando as forças que ameaçam desmoronar a ordem.”
— Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. sobre magia.
Harley olhou com surpresa para Doravan, enquanto ouvia a firme declaração de um dos membros da Escola de Exploradores Interdimensionais, que estava ao lado de Milenium:
— Vou distribuir os capacetes para todos.
A simples menção da palavra ‘capacete’ capturou instantaneamente a atenção do jovem Ginsu, fazendo-o repetir o termo em sua mente. Ele ponderava o que isso significava e de que modo aquele objeto impactaria a missão. Embora já esperasse algum tipo de proteção, ele não conseguia evitar o desconforto crescente.
Virando-se para Doravan, seus olhos expressavam dúvida. O professor, notando a inquietação do jovem, prontamente explicou:
— Essa proteção foi projetada pelo meu mestre. Apenas 16 desses capacetes existem, todos em posse da Escola de Exploradores Interdimensionais. Sem ele, nossas percepções seriam sobrecarregadas pelos estímulos que vamos enfrentar no Local Proibido.
“Sobrecarregar as percepções?” — refletiu Harley franzindo a testa.
A ideia era perturbadora. O Local Proibido já parecia ser uma anomalia, um lugar onde as regras do mundo que conhecia eram distorcidas. Outra dúvida surgiu em sua mente:
“Que tipo de estímulos poderiam exigir tal proteção?”
Sua mente ainda processava a dúvida anterior quando uma nova, mais urgente, surgiu, tomando-lhe por completo. A quantidade de capacetes disponíveis parecia desproporcional ao número de pessoas ali reunidas. As implicações eram demais para ignorar, e ele não conseguia parar de pensar nas consequências que estavam em jogo.
Ainda absorvendo as implicações da situação, ele se virou para Doravan, desconfiado, e perguntou:
— Você não vai entrar comigo no Lugar Proibido? Ou é Milenium quem ficará de fora?
O professor balançou a cabeça, e sua expressão era de leve frustração. Ele entendeu imediatamente as implicações da pergunta.
— Eu não sou um guerreiro — afirmou, sem rodeios — Os melhores representantes de cada escola estão aqui para essa missão.
Harley hesitou. Ele temia que Doravan tomasse seu silêncio por uma reação de medo, mas a verdadeira sensação era a de estar sendo empurrado para uma missão sem nenhuma rede de segurança.
Ele não conhecia ninguém ali, nem o lugar, e a ideia de ser jogado sozinho em algo tão arriscado o incomodava profundamente. A missão de captura da Guardiã Sombria não parecia uma simples incursão, mas algo muito maior, mais traiçoeiro.
Ele se perguntava se Doravan estava sendo sincero ou se tudo aquilo não passava de uma armadilha. Seu desconforto era palpável, e, ao perceber isso, o velho professor tentou apaziguá-lo com mais informações. Mas Harley se sentia cada vez mais perdido, sem saber em quem confiar.
— Estarei perto, testando um novo protótipo na borda do Local Proibido. Se tudo correr conforme o planejado, em breve poderemos trazer um exército para cá, em vez de apenas algumas pessoas. Isso tornaria o controle desse local muito mais eficiente — o tom do professor tinha uma nota de empolgação, mas Harley notou a preocupação que ele tentava esconder.
Ainda com o pouco tempo de contato, o jovem Ginsu conseguia perceber que aquele entusiasmo não passava de uma fachada. Sabia que Doravan estava mais apreensivo do que queria admitir. Harley não conseguia evitar a sensação de que algo não estava certo, mas não sabia ainda se podia confiar em sua intuição.
Observando a expressão do jovem a seu lado, Doravan imediatamente começou a explicar, na esperança de que mais informações pudessem diminuir a ansiedade do jovem e preencher as lacunas que o preocupavam:
— O Local Proibido não é apenas um espaço isolado, Harley. Ele é uma fonte instável de poder, alimentando todo o Mundo Mágico com sua energia. Se conseguirmos controlá-lo, isso mudará o curso de tudo.
O jovem Ginsu ficou em silêncio, absorvendo as palavras de Doravan. Agora ele entendia, com mais clareza, o quanto aquela missão poderia mudar o equilíbrio de poder de forma irrevogável no Mundo Mágico. E essa percepção não o acalmou, mas na verdade, ele sentiu um peso crescente sobre os ombros.
Sem sua energia dimensional e com armas que ainda não havia sequer testado em combate, ele começava a duvidar se estava pronto para enfrentar o que estava por vir. A voz dentro de sua mente, incerta, sussurrava:
“Será que serei mesmo capaz de sobreviver a isso?”
Quando o capacete translúcido foi entregue a ele, feito de um material desconhecido que refletia luz de forma opaca, Harley sentiu um peso crescente. Ele passou os dedos pela superfície do objeto, examinando sua textura, mas seus pensamentos vagavam:
“O que exatamente enfrentarei lá dentro? Que forças invisíveis estarão à espreita?”
Ele percebeu que a simples proteção do capacete não era suficiente para dissipar suas inquietações. Doravan não havia explicado tudo. Isso estava claro. Havia algo mais, algo oculto. Harley sempre foi cauteloso em suas ações, especialmente quando confrontado com o desconhecido, e a falta de clareza o perturbava profundamente.
“Será que o professor está ocultando a verdadeira dimensão do perigo?”
Engolindo suas preocupações, ele colocou o capacete. Esperava uma sensação imediata de diferença, algo extremo que o preparasse para o que viria. No entanto, a experiência foi mais sutil.
Por um instante, todos os seus sentidos se apagaram, provocando a sensação de que uma cortina escura havia caído sobre ele. Então, num piscar de olhos, ele foi trazido de volta, seus olhos captando novamente as cores ao redor e seus ouvidos preenchidos pelo som do ambiente que o envolvia.
A respiração parecia levemente dificultada, indicando que o capacete formava uma barreira mínima entre ele e o ar ao redor. Sua visão estava moderadamente obscurecida, mas era o suficiente para não comprometer suas habilidades de combate.
O som, por outro lado, parecia amortecido. Tudo ao seu redor era abafado, impedindo-o de perceber claramente, como se estivesse submerso.
“Deve ser alguma espécie de bolha sensorial, criada para proteger meus sentidos dos estímulos descontrolados que vou enfrentar no Local Proibido.” — pensou Harley, tentando entender a complexidade que se desdobrava diante dele.
A voz firme da líder da Escola de Exploradores Interdimensionais, Milenium, ecoou no ar, rompendo o silêncio que pairava sobre os grupos reunidos:
— É hora de decidir em qual Zona cada grupo irá adentrar.
O grupo, até então em um silêncio que parecia paralisar o ambiente, começou a se mover. As mãos se levantaram para ajustar os capacetes, a tensão se tornando palpável. Harley observou com cuidado, absorvendo cada gesto, cada olhar furtivo trocado.
Ele sabia que aquela decisão significaria o início de algo irreversível, mas sentia a lembrança do destino invadindo sua mente, carregada de uma crueldade familiar.
“Estarei, mais uma vez, fadado a ser um espectador, impotente diante das escolhas dos outros?”
Essa luta interna, entre a vontade de se impor e a realidade de estar preso aos desígnios de outros, o consumia. O pensamento de ser incapaz de controlar seu futuro era uma angústia constante, um eco do destino que se repetia, sempre lembrando que sua trajetória ainda estava fora de seu alcance.
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