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    “As conexões que nos unem são invisíveis aos olhos, mas tangíveis à alma. Elas nos guiam, nos prendem e, por vezes, nos libertam. Cada linha é uma escolha, cada nó, um destino.”

    Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.


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    — Tum! Tum… Tum!

    A batida ecoava em sua mente, um som grave e constante. Harley sabia o que aquilo significava. Era uma lembrança antiga, um resquício de um passado que ele preferia não revisitar. 

    — Tum! Tum… Tum!

    Os tambores… Eles sempre voltavam, não importava o quanto o jovem Ginsu tentasse se afastar deles. Por um instante, a imagem daquele som reverberou em sua mente, mas, com um esforço consciente, ele empurrou a memória para o fundo de sua consciência. 

    “Não agora!” — pensou, abrindo os olhos para enfrentar o caos ao seu redor.

    Seus sentidos estavam à beira do colapso. O capacete, peça essencial para estabilizar sua percepção, tentava compensar a torrente de estímulos que o invadia, piscando freneticamente enquanto uma suave luminosidade começava a envolver o ambiente. 

    A luz se expandia devagar, desvanecendo as linhas que se estendiam dele e se perdiam no horizonte, trazendo uma sensação de calma. Com ela, as cores vibrantes, que antes se misturavam em um turbilhão indistinto, começaram a se separar e se organizar.

    A cada impacto, o mundo ao redor de Harley se transformava em uma confusão fugaz, com múltiplas linhas se entrelaçando temporariamente. Após um tempo, essas linhas sumiam, mas ele ainda sentia sua presença, tal qual um eco de uma memória distante.

    Havia uma força, invisível, porém palpável, que o conduzia adiante, mesmo quando seus olhos não podiam enxergar o que o aguardava. Essa sensação etérea de conexão o impulsionava, fazendo-o continuar seguindo a linha que hipotéticamente o levava a Aurora.

    Harley olhou para trás, buscando seus companheiros. As quatro criaturas sintéticas, suas peles marcadas por tons de azul, cinza, verde e amarelo, estavam ali, seguindo-o em silêncio. 

    Acompanhava-o, imitando a presença silenciosa das sombras. Mais do que simples criaturas, eram fusões bizarras de lagartos e elefantes, seres cuja presença se confundia quase perfeitamente com as formas geométricas que preenchiam o mundo ao redor. Mesmo assim, havia algo neles que o fazia sentir-se ainda mais sozinho.

    “Sou o único vivo aqui!” — pensou, voltando sua atenção para o caminho que uma das linhas que resolveu seguir apontava. 

    Ele tentava ignorar os companheiros artificiais ao seu redor, mas a solidão era tão densa que parecia quase física, com seu peso esmagador. Embora as criaturas sintéticas estivessem por perto, a ausência de expressões, interações ou empatia fazia Harley sentir-se completamente isolado em sua jornada.

    E as linhas… aquelas linhas malditas que sumiam rapidamente. Novamente, elas não estavam à vista, mas o jovem Ginsu sentia sua presença. A cada colisão, o jovem se concentrava em outras linhas, em novas opções de destino que surgiam diante dele e novos pensamentos apareciam:

    “Como ter certeza de que estou realmente escolhendo o caminho certo? São tantas possibilidades, tão confusas.”

    Com os olhos semicerrados, Harley caminhou mais um passo, sentindo o choque vibrar através de seu corpo ao colidir com outra forma geométrica. O impacto trouxe consigo uma visão breve das linhas novamente. 

    A cada choque, ele precisava refazer sua trajetória, reconectar-se com a trilha escolhida. Dentro de si, uma voz insistia que essa era a jornada certa, que levaria até Aurora. A lembrança dela era sua força, sua âncora, mas, aos poucos, essa memória começava a se dissolver, semelhante à névoa que se desfaz com o nascer do sol.

    Estou me afastando da linha” — pensou, sentindo o pânico crescer em seu peito igual a uma chama incontrolável. 

    A linha era sua única certeza, seu único ponto de referência. Se a perdesse, estaria perdido em um mar de incertezas. Ele precisava reencontrá-la. Com um suspiro profundo, Harley se lançou com força, colidindo com as formas ao seu redor, esperando que o impacto revelasse, de alguma forma, a linha que tanto buscava.

    — Tum! Tum! Tum!

    O som dos tambores começou a se infiltrar em seus pensamentos, fazendo-o sentir que o eco distante se intensificava gradualmente. A melodia rítmica fazia com que as linhas ao seu redor se tornassem mais difusas. 

    Era um som de guerra, de destruição. Ele reconhecia esse ritmo, o pulsar pesado que o assombrava desde sua juventude. Era o som que acompanhava a queda de sua tribo, o dia em que tudo desmoronou. Fechando os olhos com força, Harley tentou afastar as memórias, mas elas o invadiram com a mesma intensidade dos tambores.

    — Tum! Tum! Tum! Tum!

    A imagem de seu pai surgiu em sua mente, forte e imponente, suas palavras ecoando no ritmo dos tambores que preenchiam sua cabeça:

    “Não há força maior em uma guerra do que o som de um tambor. Com ele, nos tornamos uma força unida, imbatível, capaz de vencer qualquer desafio!”

    Harley abriu os olhos, sentindo o peso das palavras de seu pai ressoarem dentro de si. A batida dos tambores não era apenas uma memória dolorosa. Era um chamado, um lembrete de quem ele era e de onde vinha. 

    Mesmo com tudo o que havia perdido, o jovem ainda carregava dentro de si o espírito de sua tribo, o eco das batidas que orientavam seus passos.

    — Tum! Tum! Tum! Tum!

    As formas geométricas ao seu redor continuavam a se mover em padrões caóticos e distorcidos, mas Harley ignorou-as. Sua mente estava ocupada demais, tentando reconciliar as memórias dolorosas com o caos do presente. 

    Avançou, sentindo o choque das formas contra seu corpo, o impacto trazendo vislumbres fugazes das linhas que guiavam seu caminho. E mesmo quando a dor das lembranças se tornava insuportável, ele sabia que não podia parar:

    “Preciso encontrar a linha. Preciso seguir em frente. Há algo lá, no final dessa jornada, algo que preciso descobrir, algo que dará sentido a todo o sofrimento que suportei.” 

    — Tum! Tum! Tum! Tum! Tum!

    A batida dos tambores agora era inescapável, uma presença constante que ressoava dentro de sua cabeça. Cada batida o empurrava mais para dentro de suas memórias, revivendo o dia em que sua tribo caiu, o dia em que perdeu tudo. 

    Harley sentiu as lágrimas se formarem em seus olhos, mas ele não permitiu que caíssem. Não havia espaço para fraqueza agora.

    Ao invés disso, focou nas linhas. Eram sua única esperança. Mesmo invisíveis, sabia que estavam lá, e cada passo que dava era guiado por uma força que não compreendia totalmente, mas que sentia profundamente. A linha o levaria ao que buscava, e enquanto pudesse senti-la, ainda havia esperança.

    O caminho era incerto, mas Harley não parou. Apesar do som dos tambores reverberando em seus ouvidos e das formas caóticas colidindo ao seu redor.

    Em algum momento, ele sabia que a linha escolhida se revelaria novamente, ou algum outro sinal o guiaria. E, assim, seguiu em frente, determinado a continuar, mesmo quando tudo ao seu redor parecia conspirar. Porque, no fim, o que realmente importava era continuar.

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