Capítulo 147 - A batalha pelo poder

“Nas chamas da batalha, forjam-se o guerreiro. A luta é tanto externa quanto interna, onde cada guerreiro enfrenta não só o inimigo, mas também as suas deficiências e falhas de julgamento. 

— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 49.

— Esqueçam os outros! Concentrem-se em Milenium! — rugiu o guerreiro, sua voz rasgando o ar com urgência.

As palavras atingiram os ouvidos de Harley tal qual uma revelação cortante. Aquela não era uma simples estratégia militar. Era uma traição, uma quebra deliberada do acordo que havia estabelecido.

O jovem Ginsu observava a formação de ataque que se aproximava, sua mente acelerada tentando compreender o que estava por trás daqueles movimentos:

“Será que eles acham que a sobrevivência de Milenium à explosão não foi um acaso? Acreditam que ela tem algo a ver com a destruição da Academia?” — hesitou, tentando processar a gravidade da ideia.

“Ou talvez… eles estejam tentando eliminar Milenium agora, antes que ela não se torne uma ameaça maior pela luta de poder no Mundo Mágico?”

Mas o que mais intrigava Harley era a forma com que os guerreiros conseguiam discernir quem era Milenium. Os outros quatro companheiros dela eram apenas reflexos idênticos, figuras sem individualidade, apenas sombras dela mesma, movendo-se todas com a mesma fluidez.

Rapidamente, os quatro guerreiros da Academia de Combate Tradicional, formaram uma linha coesa. Suas ações eram rápidas: cada guerreiro retirou um grande escudo das costas, encaixando com precisão seus machados de guerra no centro das proteções, de modo que as lâminas afiadas se projetassem para além dos escudos, formando uma barreira móvel. 

Harley observava, enquanto eles avançavam em mais um ataque, agora em formação de cunha, se movendo com uma sincronia absoluta, todos direcionados a Milenium, filha do líder dos Exploradores e provável sucessora.

A formação de escudos era reforçada pelas lâminas dos machados, que se entrelaçavam ao escudo e giravam como lâminas de serra, formando uma barreira quase impenetrável. Ao mesmo tempo, a estrutura defensiva era também uma arma ofensiva, com os machados prontos para cortar qualquer coisa que ousasse se aproximar.

A cunha avançava implacável, seguindo sua trajetória sem desvio, e, surpreendentemente, Harley percebeu com clareza que estava sem saída. Encurralado entre a formação esmagadora e o alvo que os guerreiros buscavam eliminar.

Sentiu seus músculos se contraírem, o corpo tenso, a mente em alerta. A cunha avançava com uma força avassaladora, a ameaça iminente era inescapável. Movendo-se, Harley se lançou para o lado, seu corpo já em movimento antes de pensar. 

Os escudos cortaram o espaço ao seu redor, passando tão perto que ele sentiu o vento do impacto. A sensação de desaceleração envolveu-o por um instante, mas antes que pudesse se recompor, uma outra rajada de tiros rasgou o ar, atingindo o local exato onde estivera segundos antes. A morte, agora, era uma presença constante.

O caos o cercava, e Harley compreendeu que permanecer no centro do conflito era uma sentença de morte. Sua sobrevivência dependia da velocidade de suas decisões. 

Ele não tinha escolha. Sem hesitar, correu em direção a uma das extremidades do campo de batalha, na tentativa de encontrar algum abrigo ou pelo menos se afastar do ponto de maior perigo.

O som mecânico dos rifles recarregando ecoou. Novamente, Harley estava no caminho dos três inimigos. Eles avançavam rapidamente, focados em Milenium, provavelmente para ajudá-la. Mas o jovem Ginsu estava entre eles e o destino, um obstáculo inevitável que precisava ser superado para que pudessem alcançá-la.

Eles vinham silenciosamente, quase imperceptíveis, vestidos com trajes de camuflagem. Até então, os três inimigos haviam sido apenas sombras à distância, identificáveis apenas pelos tiros que haviam disparado. 

Agora, estavam mais próximos, avançando com confiança. Era claro que esses guerreiros confiavam em sua capacidade de atacar de perto e de longe, o que tornava a situação ainda mais complicada.

A mente de Harley trabalhava em ritmo frenético. A aproximação dos inimigos apertava a sensação de que o mundo ao seu redor estava encolhendo. Cada movimento precisava ser calculado com precisão, cada desvio planejado com cuidado. 

Ele sabia que qualquer erro, por menor que fosse, poderia significar o fim. Os três combatentes moviam-se com uma coordenação absoluta, uma formação cerrada, cada um cobrindo o ponto cego do outro, um cerco perfeito.

Os inimigos avançavam com as armas prontas, como lanças afiadas, dando a sensação de que estavam prestes a perfurar qualquer defesa que Harley tentasse erguer. Ele não tinha ilusões sobre o perigo que enfrentava. Aqueles rifles não eram simples armas de fogo. 

O jovem Ginsu conhecia as características dessas armas do catálogo de Doravan, mas agora entendia que a realidade era ainda mais letal. Os aspectos que havia observado não podiam preparar ninguém para a realidade impiedosa de um embate.

O campo de batalha era implacável. Harley viu uma oportunidade se esgueirar, mas seus inimigos eram rápidos. Não havia espaço para falhas. Ele precisava inovar. A experiência em combate, sabia, era uma vantagem que deveria ser aproveitada.

“Eu preciso me adaptar, usar tudo o que aprendi nas minhas lutas” — pensou Harley, sentindo a urgência crescer dentro dele.

Ele começou a tratar o rifle não apenas como uma ferramenta de disparo a longa distância, mas também igual a uma lança, uma arma corpo a corpo que dominava com precisão.

Em sua mente, os disparos dos rifles seguiam a mesma linha de uma lança em movimento. Cada direção apontada pelos rifles era percebida como uma linha de ataque, transformando cada disparo em uma estocada certeira. Com isso, ele sabia que precisava evitar essas linhas de fogo, evitando qualquer posição onde o tiro pudesse alcançá-lo.

Os três inimigos avançavam dominando o terreno, forçando Harley para a defensiva. Cada movimento deles criando novas ameaças, fechando as lacunas e tornando qualquer brecha fatal. 

Os disparos dos rifles, agora, não eram apenas balas: eram estocadas de lanças, com cada uma traçando uma linha reta até ele, avançando de forma precisa, prestes a perfurá-lo.

O som do disparo se misturava ao eco da lâmina cortando o ar. 

Harley sabia: se fosse atingido, não seria diferente de ser empalado por uma lança afiada, a dor e a morte acontecendo em um único instante. 

“Mesmo com toda a minha experiência, a prática exige muito mais” — concluiu.

Um disparo agudo cortou o ar.

— Zzzap!

Harley ouviu outro estranho zumbido que os rifles emitiam, e, ao contrário do que esperava, não eram projéteis tradicionais. Uma série de feixes de energia foi lançada em sua direção. Assemelhavam-se a cordas invisíveis, expandindo-se rapidamente, delimitando o espaço ao seu redor, cercando-o e limitando seus movimentos.

“Não posso ficar parado. Preciso me mover mais rápido, mais preciso” — refletiu Harley.

O tempo parecia se esticar enquanto analisava suas opções. Seus inimigos haviam mudado de tática, e agora o encurralavam com energia, uma arma que ele não previra. Seus movimentos ficaram restritos, submetidos a uma força invisível, que o impediam de agir, fechando-se a cada tentativa de escapar.

Enquanto isso, a batalha ao redor continuava furiosa. Milenium, o alvo principal, ainda estava sob ataque. Os guerreiros da Academia de Combate Tradicional avançavam implacavelmente em direção a ela, e Harley sabia que, se ela fosse capturada ou morta, o equilíbrio de poder naquele mundo mágico desmoronaria completamente.

“Ajudar Milenium ou salvar a minha pele… Preciso decidir rápido! — refletiu Harley

No entanto, ele não poderia simplesmente abandonar sua natureza. Em um movimento preciso, atirou-se aos feixes de energia, desviando-se das trajetórias, rompendo a limitações energéticas que o aprisionavam, libertando-se e expandindo seu campo de movimento.

Enquanto avançava, sentiu um disparo passar perto demais. O calor o atingiu, queimando levemente sua pele, mas ele não parou. Sua mente estava concentrada em um único objetivo: escapar daquele cerco de rifles. 

Ginsu rolou pelo chão, sentindo o impacto das balas e feixes de energia ao seu redor, desviando no último instante cada um dos ataques.

E então, num impulso final, ele conseguiu. Rompeu a última linha de energia que o prendia, deixando para trás os atiradores. O perigo ainda estava presente, mas o jovem havia conquistado uma pequena vitória.

Ofegante, ele olhou para o campo de batalha. Os guerreiros da Academia estavam prestes a alcançar Milenium. Harley sabia que precisava agir rápido. Não havia tempo para comemorar sua própria sobrevivência. Agora, o destino de Milenium, e talvez de todo o Mundo Mágico, dependia de seu próximo movimento.