Índice de Capítulo

    “Nossas trajetórias são linhas que se cruzam em um vasto e complexo padrão. Cada vida é uma linha nesse tecido, cada encontro, um nó que fortalece ou desafia nossa compreensão do destino. E esse entrelaçamento das vidas cria o tecido da existência. 

    Misteriosos inscritos no templo da Adaga Arcana. Sem autor identificável.


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    Com rapidez, Harley se moveu entre os corpos caídos, seu único pensamento fixo na névoa que precisava retomar antes que fosse tarde demais. Ele sentia que cada segundo fora dela o tornava mais vulnerável, e a bruma já começava a dissipar lentamente.

    A batalha havia feito uma pausa breve. O campo, antes repleto de gritos e aço, agora se encontrava imerso em um silêncio carregado, onde olhares ávidos por oportunidade, respirações pesadas, lâminas sendo ajustadas e passos cautelosos dos combatentes preenchiam o ar, sinalizando que a batalha estava prestes a se reiniciar.

    Harley analisava seus oponentes com frieza. Sua única vantagem era a distância e o caos que havia semeado. Mas isso não duraria; a névoa, lentamente, começava a se dissipar, e com ela, sua proteção. Ele sabia que a segurança era uma ilusão temporária, um respiro fugaz antes do próximo movimento.

    Ali, o jovem Ginsu não tinha aliados, nem grupos a quem pertencer. Sua presença era uma consequência inevitável de um encontro inesperado com aqueles dois grupos. Não havia propósito em sua luta além da sobrevivência. Permanecer a maior parte do tempo afastado ou oculto era o objetivo traçado.

    Frustrado, Harley observou seus companheiros sintéticos, mais uma vez paralisados, imunes à violência que se desenrolava ao redor. Ele se lembrou do comunicador quadrado que Doravan lhe entregara para controle das criaturas. 

    Com um gesto automático, pegou o objeto, mas algo estava errado. O dispositivo não respondeu conforme esperado, falhando em cumprir sua função. Ao olhar mais de perto, percebeu que, possivelmente durante a luta, o comunicador fora avariado. 

    Definitivamente, naquele momento, ele percebeu que seus aliados artificiais não lhe serviriam de nada. O jovem Ginsu abandonou qualquer esperança de usá-los, voltando seu foco, sem hesitação, para o campo de batalha.

    Harley sabia que a única vantagem que possuía era sua independência. Mover-se rapidamente, com ataques certeiros, aproveitando o caos criado pela névoa para desorientar seus inimigos. Ele não tinha a responsabilidade de proteger ninguém, e essa liberdade lhe permitia se concentrar apenas em sua própria sobrevivência.

    No entanto, algo interrompeu seu foco: Milenium. Sua figura surgiu novamente em seu campo de visão. 

    Sua figura surgiu de maneira etérea, seus movimentos tão fluidos que pareciam distorcer o próprio tempo. Harley sentiu algo se mexer dentro de si ao vê-la, mas rapidamente afastou o pensamento. Não havia espaço para emoções. Ali, a sobrevivência falava mais alto. 

    Ela era uma estranha, uma adversária em um campo de guerra, e o jovem Ginsu não era aliado de ninguém. Quando os guerreiros caíram, não foi por lealdade, mas por necessidade. Cada um ali usava os outros para garantir sua própria sobrevivência. E Harley havia feito o que precisava.

    Mas algo em Milenium o incomodava. Mesmo com a mente afiada e o instinto aguçado, ele hesitava. Ela não era uma inimiga comum, e isso o confundia. Era uma presença intangível, algo que o jovem não conseguia alcançar, mas também não podia deixar de observar.

    “Seria uma projeção sua?” — ele se perguntava se a confusão era sua, ou se Milenium realmente estava além de sua compreensão.

    No entanto, se ela o atacasse, não hesitaria. A batalha não permitia fraquezas. O jovem Ginsu estava pronto para enfrentar qualquer ameaça, e isso incluía Milenium.

    Harley avançou em direção à névoa, notando que sua adaga, ou talvez a bruma ao seu redor, lhe dava uma clareza que seus inimigos não tinham. Na espessa cortina de vapor, os dois adversários da Escola de Exploradores Interdimensionais restantes estavam perdidos, atacando um ao outro sem saberem realmente o que faziam. 

    O poder desorientador da névoa havia virado a batalha em uma luta cega, onde até mesmo o mais simples golpe era um erro.

    “Todos pareciam tão próximos… conversavam tanto antes?” — Harley pensou, sua mente vagando novamente — “Por que agora não havia mais palavras, nenhum diálogo?”

    A dúvida apareceu rapidamente, mas, antes que pudesse se aprofundar, ele encontrou a resposta:

    “O que mais dizer quando o aço corta a carne e o som da luta substitui qualquer outra comunicação?”

    Todos já sabiam exatamente o que queriam, e isso bastava. Alguns queriam matar, outros queriam sobreviver. E o jovem Ginsu queria apenas continuar vivo. Mas, no fim, todos teriam o mesmo destino: morte, sobrevivência ou destruição. E nada mais importava. Nenhuma palavra poderia mudar isso.

    Uma figura surgiu de repente, indo em sua direção com uma velocidade impressionante, antes que Ginsu tivesse chance de alcançar a névoa.

    Harley reconheceu Milenium de imediato. Havia algo diferente em sua movimentação: com cada passo, ela deixava pós-imagens de si mesma, realizando pequenos saltos no tempo. 

    Seu corpo parecia se mover em múltiplos lugares ao mesmo tempo, criando uma ilusão perturbadora que confundia os sentidos de Harley. Ele observava, surpreso, tentando discernir a natureza daquela habilidade.

    “Será que é uma arma mágica?” — murmurou, a dúvida percorrendo sua mente — “Ou a própria natureza deste lugar está deformando a realidade à nossa volta?”

    Harley já havia notado que algumas das formas geométricas ao redor se moviam de maneira estranha, distorcendo o próprio espaço. Porém, os movimentos de Milenium, ainda mais surpreendentes, faziam o espaço parecer curvar-se sob sua presença.

    Cada passo dela dobrava o tempo e o espaço, criando uma trilha fantasmagórica que desafiava a percepção e fazia seus instintos gritarem em alerta.

    A urgência da situação era palpável. Não havia tempo para reflexões longas. Milenium estava se aproximando, e Harley precisava agir antes que ela o alcançasse. 

    A habilidade dela, seja mágica ou física, representava uma ameaça significativa. Ele aumentou sua velocidade, movendo-se com precisão para tentar alcançar a névoa antes que fosse tarde demais.

    Porém, no fundo, sabia que não chegaria a tempo. Os passos de Milenium eram rápidos, e ela o alcançaria antes que ele pudesse se abrigar na névoa. Cada segundo de hesitação custava caro, e agora o jovem Ginsu se encontrava preso em um dilema: continuar correndo ou confrontá-la diretamente. 

    Ele podia sentir sua presença se aproximando, um abismo invisível, quase palpável, que o envolvia e ameaçava engoli-lo.

    A imagem de Aurora surgia em sua mente, involuntariamente, sempre entrelaçada com a presença de Milenium. Era impossível para Harley separar as duas figuras, e isso o perturbava profundamente. 

    Havia algo que ele estava deixando de perceber, algo vital, mas o campo de batalha não era o lugar para buscar respostas emocionais. A sobrevivência vinha em primeiro lugar.

    Milenium avançava, suas pós-imagens criando um rastro ilusório ao redor de Harley. Cada movimento dela parecia simultâneo e sobreposto, com o tempo fragmentando-se em múltiplos instantes, todos se colidindo ao mesmo tempo. 

    Era uma visão hipnotizante. Harley forçou sua mente a focar no presente, afastando as distrações emocionais. Era hora de lutar, e ele não poderia hesitar. O jovem Ginsu segurou firmemente a adaga em sua mão, seus músculos tensos e prontos para reagir a qualquer movimento inesperado. 

    Os olhos de Milenium brilhavam na névoa, e por um instante, Harley sentiu uma estranha conexão, como se estivesse olhando nos olhos de uma antiga conhecida. Mas ele afastou esse pensamento imediatamente. A batalha não permitia sentimentalismos.

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