Índice de Capítulo

    “A ressurreição dos mortos como guerreiros transforma a morte em uma ferramenta de guerra e é a expressão máxima do desespero e da crueldade. Cada soldado ressuscitado é uma lembrança do preço da guerra e da determinação inquebrável do inimigo.”

    — Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. sobre necromancia.


    Finalmente, Doravan mostrou sua verdadeira face ao observar o alinhamento meticuloso dos cadáveres autômatos. Um sorriso frio atravessou seu rosto, denotando a satisfação que sentia com a eficiência impiedosa de sua criação. 

    Ele não apenas aprovava o resultado, mas parecia saborear cada detalhe do macabro exército que forjara.

    — O que você pretende com isso? — gritou Aurora, sua voz carregada de frustração. Ela olhava para seu orientador, que permanecia em silêncio, observando tudo com frieza. 

    Sem demonstrar o menor interesse em responder, Doravan manteve seu olhar distante, deixando a pergunta de sua aprendiz no ar. Seu silêncio, por si só, era suficiente para reafirmar sua autoridade incontestável.

    Nenhuma palavra saiu de seus lábios, mas a clareza de suas intenções estava gravada em cada movimento. A precisão de suas ações e a frieza em seus gestos diziam mais do que qualquer palavra poderia. 

    Cada detalhe indicava que tudo estava sob seu controle, uma coreografia fria de poder que todos compreendiam. Seu silêncio era tanto uma ameaça quanto uma confirmação de sua supremacia.

    — Dois mensageiros são mais que suficientes — disse Doravan, quebrando o silêncio com sua voz fria. As palavras saíram da boca dele com a certeza de quem já sabia que modo tudo terminaria.

    Harley, a jovem e Marcus interromperam seus passos simultaneamente. A voz tranquila do velho professor parecia perfurar o ar, fria e implacável. Seus olhares se voltaram para ele, e finalmente confirmando que ele era: o mestre dos fios invisíveis, controlando cada detalhe desde o início.

    O jovem Ginsu tentava entender o que havia levado Doravan a se transformar tanto. Pelas interações passadas que teve, ele parecia ser um homem obcecado apenas por tecnologia, suas invenções e o desenvolvimento de armas.

    “Eu realmente me enganei tanto assim na minha avaliação?” — recriminou-se Harley 

    Mas, esse homem atual, estava fixado tendo uma ambição muito maior. Ele não era diferente dos reis, líderes ou outros poderosos que buscavam autoridade a qualquer custo. 

    “Seria essa a verdadeira face dele? Seria o poder capaz de corromper até os mais brilhantes?” — indagou-se Harley, tomado por mais uma onda de incertezas.

    Tornava-se cada vez mais claro, para o jovem Ginsu, que o desejo por controle, tal qual um veneno invisível, estava se infiltrando lentamente, distorcendo sua percepção da realidade e fazendo-o acreditar que suas ações eram justificadas por um ideal maior.

    Alheio às avaliações e olhares, Doravan permanecia no alto do declive, exibindo a calma implacável de um carrasco ao encarar os frutos de seu trabalho.

    Seu anúncio já tinha sido feito e por sua força ele sabia que não haveria contestações e qualquer resistência seria massacrada. 

    Sua calma fria parecia devorar a tensão que pairava no ar. O vento, embora leve, era incapaz de dispersar o peso esmagador do ambiente, onde todos sabiam que a verdadeira tempestade ainda estava por vir.

    Antes que qualquer um pudesse reagir, a Guardiã Sombria emergiu das sombras. Seu exército grotesco seguia atrás dela, e a visão que se formava à frente de Harley era a materialização de um pesadelo. 

    Com sua pele negra brilhante e trajes majestosos, a Guardiã aumentava o poder que lançava contra eles. Seu olhar arrogante transmitindo uma certeza esmagadora: os três não eram inimigos, mas frágeis brinquedos prestes a serem descartados com indiferença.

    O coração de Harley batia cada vez mais rápido à medida que a fúria crescia dentro dele. A visão da Guardiã trouxe de volta memórias dolorosas, do braço arrancado e da fuga humilhante causada pela diferença esmagadora de poder. 

    O desejo de vingança era quase tangível neste instante, mas a verdade era implacável: a disparidade de força só havia aumentado. Ele, neste momento, estava em maior desvantagem do que jamais estivera. 

    Seu braço direito tremia de raiva, e seus punhos estavam cerrados com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.

    Ele se lembrava do encontro anterior. Mesmo que a Guardiã não tivesse sido diretamente responsável pela perda de seu braço, ela simbolizava tudo o que ele havia perdido. Cada sacrifício, cada batalha, e cada pedaço de dor que carregava dentro de si parecia se concentrar nela. 

    “Ela vai pagar caro pelo que fez” — Harley afirmou para si, a certeza ardente queimando em seu peito, uma chama incontrolável alimentada por sua convicção.

    Enquanto o jovem Ginsu lutava com sua raiva interna, o exército da Guardiã emergia completamente. Criaturas feitas de sombras, fusões grotescas de animais e humanos, serpentes gigantes, guepardos e gorilas sinistros avançavam pelo campo. 

    Entre eles, sanguessuga, a loira de tentáculos pulsantes nas costas, neste momento uma figura de sombra viva, avançou deslizando como uma predadora, com um sorriso sádico que prometia destruição.

    O sorriso enigmático de Doravan era a manifestação de sua certeza: para ele, os três não tinham qualquer chance, e o futuro já estava moldado por suas próprias mãos.

    — Milenium! — disse ele, em um tom calmo e firme que reverberou no ar, mesmo em meio ao caos — Você e Marcus devem retornar. Avisem seu pai que esta área está agora interditada. O Mundo Mágico tem 30 dias, a partir de sua saída do Local Proibido, para se submeter a mim ou enfrentar a aniquilação.

    Harley perdeu o equilíbrio por um segundo, a mente invadida por dúvidas:

    “Por que Milenium? Por que todos insistem em chamá-la de Milenium? Se ela é Aurora, a traição de Doravan deve estar esmagando o seu coração”

    A jovem e Marcus começaram a se afastar lentamente diante da impossibilidade de enfrentar todo aquele exército. Eles sabiam que a mensagem precisava ser entregue, e que a situação fugiu de seus controles. 

    Harley os observava enquanto seu corpo, quase instintivamente, começava a seguir na mesma direção. Parecia sensato acompanhá-los e deixar aquele lugar antes que as coisas piorassem ainda mais.

    Mas, assim que o jovem Ginsu deu o primeiro passo, a voz de Doravan ressoou novamente, desta vez carregada de uma autoridade que ele não havia mostrado antes.

    — Eu não disse que você poderia partir, Harley.

    O jovem Ginsu congelou, cada músculo de seu corpo se travando ao som daquela frase. O peso das palavras do velho professor o atingia com a precisão de uma lâmina afiada, destruindo qualquer possibilidade de fuga.

    Doravan o observava de longe. O silêncio que se seguiu foi opressor. O jovem Ginsu sabia, naquele momento, que o que quer que acontecesse a seguir mudaria tudo. 

    Tudo parou. A jovem e Marcus congelaram, suas respirações mal audíveis no silêncio que retornou ao ambiente. Harley estava imóvel, a adaga parecia pesar, carregando o fardo de todas as escolhas que havia tomado ao longo de sua vida.

    Ele sabia que Doravan tinha algo a resolver. Então, esperou, aguardando o próximo movimento que viria de seu oponente.

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