Capítulo 158 - O cientista Doravan
“Navegar pelas incertezas e manter a harmonia enquanto tudo ao redor ameaça desmoronar é a marca de um guerreiro. Cada decisão é um passo arriscado, e a estabilidade pode ser destruída por um único movimento em falso.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 21.
DORAVAN
O velho professor observava o trio cercado por suas tropas, o êxtase crescendo em cada fibra de seu ser. Após anos de manipulações e intrigas, cada sacrifício e cada passo meticulosamente calculado o haviam trazido até aquele momento.
O caos que devastava o Mundo Mágico era a coroação de seu triunfo. Com essa dimensão em ruínas, ele podia finalmente agir da maneira que sempre desejou: livre de máscaras, livre para reinar sobre as ruínas de sua própria criação.
Os pesos e contrapesos da delicada distribuição de autoridade entre as escolas daquele planeta haviam sido rompidos. Os corpos dos adversários, reconfigurados sob sua vontade em cadáveres autômatos, eram a prova concreta de seu domínio crescente.
Secretamente, ele tinha construído um exército de criaturas híbridas, ignorando as regras que limitavam seu poder. Mesmo com a fiscalização constante, havia armazenado suas criações e desenvolvido experimentos longe dos olhos atentos de seus adversários.
Olhando para o Local Proibido, Doravan refletia com amargura:
“O que eu já teria alcançado sem essas limitações?”
Para ele, os covardes e acomodados eram entraves. A verdadeira utilidade dessas pessoas era perpetuar um ciclo de estagnação, drenando o que já foi conquistado em vez de impulsionar o progresso.
O velho cientista via no medo um impulso necessário, algo que deveria levar ao avanço, e não uma âncora presa que impedia o progresso.
Olhando para todas as possibilidades de contato e exploração de novas realidade, ele refletia com fúria sobre as limitações que impuseram às suas experimentações, e o bloqueio do Local Proibido representava o ápice de sua frustração.
Enquanto todos temiam invasões, contágios ou domínio, Doravan via naqueles portais a chave para transformar o local onde nasceu em algo muito maior.
“As demais dimensões que deveriam temer-nos, não o oposto.” — pensou, ponderando sobre os efeitos de sua presença nas fronteiras interdimensionais.
O velho cientista os observava, imóvel em sua posição de domínio. Harley, a jovem e Marcus pareciam pequenos, quase irrelevantes, meros insetos diante de um poder pronto para esmagá-los. Ele sabia que o início da batalha dependia exclusivamente de sua vontade, e isso lhe dava tempo para refletir.
Era curioso observar o nervosismo dos jovens, suas posturas tensas, suas mãos segurando armas que, em sua visão, eram inúteis contra o destino que ele já havia decidido.
“Cada ato até agora foi um quadro perfeito pintado com estratégia!” — refletiu Doravan, enquanto o sorriso frio se alargava em seu rosto.
A derrocada dos grupos de influência, a explosão da Academia de Batalha Tradicional, a aniquilação dos combatentes de elite no Local Proibido e a captura da filha do líder dos Exploradores Interdimensionais eram apenas os primeiros ecos de seus planos.
Abrir os portais interdimensionais, quebrando as barreiras entre os mundos, seria o próximo ato, selando o destino do Mundo Mágico.
Com cada passo calculado, ele transformaria aquele lugar em uma tela vazia, pronta para ser redesenhada por suas mãos. Não havia resistência suficiente para desafiá-lo, não restavam alianças fortes que pudessem se unir contra sua ascensão.
“A ciência não para!” — repetiu, a crença pulsando em sua mente, alimentando a determinação que não aceitava limites.
O peso do silêncio ao seu redor parecia alimentar sua convicção: tudo dependia dele, e só ele tinha a capacidade de moldar o destino desse momento. O momento que tanto esperara havia finalmente chegado, e cada decisão seria um golpe que ecoaria no vazio do passado e na vastidão do futuro.
“Finalmente.” — pensou ele — “cheguei ao ponto de virada.”
Esse momento marcava o início de algo muito maior, um vislumbre do caos que ele planejava para o Mundo Mágico. O que se revelava nesse exato momento era apenas a primeira faísca de sua ascensão. A verdadeira autoridade que detinha estava além de qualquer imaginação mortal.
Ele não pretendia fechar as conexões com outras dimensões. Queria rasgá-las completamente, abrindo portais permanentes que inundariam este mundo com poderes inimagináveis. Com o controle do Local Proibido, Doravan teria o monopólio absoluto de artefatos e energias que nenhum outro ousaria alcançar.
Olhando para os dois exércitos à sua disposição, o velho cientista sabia que não havia mais volta. Uma legião vasta de Energia Sombria, uma força invisível que ele havia controlado e canalizado ao longo dos anos, estava de um lado.
Do outro, a aranha gigante e os oito iniciais seres sintéticos, moldados pelos corpos dos caídos e pelos parasitas que ele próprio havia criado. Ambos estavam prontos para obedecer ao menor comando, para aniquilar qualquer resquício de oposição.
Doravan deixou sua mente viajar brevemente ao passado. Ele se lembrou de quando tudo começou: anos de estudos ocultos, explorando territórios proibidos, buscando conhecimento ancestral nas profundezas dos mistérios do Mundo Mágico.
O conhecimento o havia consumido, mas também o transformara. O que o velho professor havia descoberto, ninguém mais ousava sequer imaginar. Ele havia fundido a magia com a ciência, criando algo que estava além do entendimento comum dos magos ou guerreiros.
“Eles não fazem ideia do que está por vir.” — refletiu, com um desprezo crescente por aqueles que ousavam resistir — “Tudo isso é apenas o começo.”
Doravan levantou a mão levemente, deixando claro que o próximo ato estava prestes a começar. Ele conseguia sentir a energia densa do campo de batalha, tão palpável quanto o ar carregado de tensão.
A parceria com a Guardiã Sombria não apenas amplificava esse domínio, mas também servia a seus interesses mútuos. Ela desejava uma ponte para o Mundo Mágico além de capturar Harley.
Enquanto ele via nela uma oportunidade para explorar e dominar a Dimensão Sombria. Além disso, Doravan nunca confiava completamente em aliados. Utilizava essa aliança para testar o poder da Guardiã Sombria e garantir que estivesse sempre um passo à frente, seja dela, seja de seus inimigos.
Enquanto observava de longe, o velho professor sentia uma satisfação silenciosa. A Escola de Exploradores Interdimensionais se debatia contra inimigos imaginários, enquanto o verdadeiro perigo crescia nas penumbras.
Ele tecera suas mentiras com precisão, assegurando-se de que a maior fonte de oposição daquele planeta estivesse ocupado demais para notar o fio que apertava lentamente ao redor de seu pescoço.
O momento certo havia chegado, e o golpe final seria rápido e implacável, desfazendo tudo com a precisão de quem domina o inevitável.
Naquele ponto, ele só precisava escolher o momento ideal para colher os frutos de suas ações.
Ele entendia que o controle real não estava apenas em derrotar os outros, mas em escolher quando e como fazê-lo. Doravan não era guiado pela necessidade, mas pela certeza de que o mundo já estava em suas mãos, apenas esperando que ele fechasse o punho.
— Está na hora — murmurou ele, seus olhos frios fixos nos três à sua frente — Vocês jogaram fora a única oportunidade. Agora, é meu dever apagar seus nomes do Mundo Mágico para sempre.
O professor sorriu, não o sorriso de um vitorioso, mas o sorriso de alguém que sabia que o fim estava selado.
O mestre cientista deu mais um passo à frente, seus olhos implacáveis. O exército de sombras, a aranha sintética e seus cadáveres autômatos estavam prestes a ser liberados da inação completamente.
Sem hesitar, ele levantou o braço, dando o sinal que iniciaria o fim.
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