Capítulo 163 - O último desejo de Aurora
“A força de um último desejo está em sua capacidade de inspirar e guiar os que permanecem. O último desejo de um guerreiro é um legado de determinação. É uma luz que brilha através das trevas, lembrando-nos do que está em jogo.”
— O Código do Guerreiro Solitário, Verso 112.
Harley e Marcus lutavam para recuperar o controle de si mesmos.
“Eu deveria estar lá. Por que não percebi isso antes?” — lamentou o jovem Ginsu, o olhar preso em seu aliado, ajoelhado, perdido em um silêncio que parecia gritar as palavras que ele não conseguia dizer.
A energia ao redor se dispersou por completo, encerrando definitivamente a passagem que os havia trazido até ali. O novo ambiente tremia de maneira imprevisível, com as paredes pulsando de forma contínua, como se algum tipo de energia fluísse através de sua superfície, dando-lhes uma aparência quase viva.
Os olhos de Marcus subiram devagar, encontrando o olhar perturbado de Harley. Com um suspiro profundo, ele finalmente se levantou, da mesma forma que se cada músculo resistisse ao movimento. Sem encarar o companheiro novamente, deixou escapar um murmúrio, quase engolido pelo vazio:
“Milenium…” — a palavra parecia pesar mais do que qualquer coisa ao seu redor.
A mente dos dois permaneciam atadas ao caos anterior. Aurora havia ficado para trás. Harley fechou os olhos, sentindo o peso da escolha dela apertar o peito.
— Ela abriu o caminho para nós. Não podemos falhar com ela! — disse, mais para si mesmo, enquanto Marcus permanecia em silêncio, ainda processando o peso da perda.
O jovem Ginsu sentiu uma mistura de raiva e frustração. Ele sempre acreditara que tinha controle sobre seu próprio destino, mas a verdade o atingia de maneira implacável: não era livre.
A vida frequentemente o empurrava para direções que ele não escolhia, e cada vez mais o controle parecia escorrer de suas mãos. Essa era a dura realidade que moldava guerreiros como ele.
O peso do ambiente ao redor logo tomou completamente a atenção dos dois. Marcus, mais rápido para se recompor, já assumira a postura fria de sempre.
— Estamos na Escola de Exploradores Interdimensionais! — disse o jovem mago, a voz controlada enquanto mais e mais soldados apareciam se aproximando deles — Não faça nenhum movimento brusco. Aguarde e siga os procedimentos de segurança.
Harley assentiu, seus olhos percorrendo o local. O salão principal da escola era imponente, e cada aspecto parecia ter sido projetado para intimidar.
As paredes eram revestidas por um metal negro e opaco, que absorvia a luz. O chão sob seus pés era feito de pedra áspera e escura, fissurada como se tivesse suportado eras de batalha.
Eles estavam em uma parte alta e se resolvessem seguir em frente teriam que avançar sobre anéis de contenção que erguiam-se ao redor, formando barreiras sucessivas, cercadas por fossos profundos, preenchidos com pontas metálicas prontas para empalar qualquer intruso.
Cada nível de segurança aumentava a sensação de estar em uma prisão, e não em uma escola. Armas avançadas estavam posicionadas por todo o salão, seus canos brilhando com uma energia pulsante que parecia aguardar ansiosamente o momento de disparar.
Guardas armados, com uniformes reforçados, aguardavam instruções ou ordem no espaço entre os anéis de contenção, seus olhos atentos, como predadores à espreita.
O ambiente parecia sufocante, e Harley sabia que tentar escapar dali seria impossível. Cada saída era bloqueada por portas pesadas e reforçadas com travas múltiplas, e os guardas mantinham suas sentinelas inabaláveis, prontos para agir ao menor sinal de ameaça.
— Cadê Aurora? — a voz grave e autoritária de um homem ecoou pelo salão — Quem são vocês?
O nome ‘Aurora’ trouxe uma onda de choque silenciosa sobre Marcus. Ele processou rapidamente a situação e entendeu que Aurora havia sido usada como substituta de Milenium pela escola. Um alívio imenso percorreu seu corpo, pois isso significava que Milenium estava segura.
A razão para o uso do capacete que ocultava o rosto da garota agora fazia sentido. Marcus, por um breve instante, permitiu-se exibir uma expressão de satisfação, que desapareceu tão rapidamente quanto surgiu.
Ele deu um passo à frente, mantendo-se calmo, ciente da tensão crescente que pairava no ar. Sabia que, como espião da Escola de Exploradores Interdimensionais, precisava jogar suas palavras com cautela.
— Somos aliados de Aurora. — começou ele, a voz controlada — Fomos enviados em uma missão conjunta, mas as circunstâncias mudaram rapidamente.
O silêncio que se seguiu foi pesado, tenso. Cada palavra de Marcus parecia flutuar no ar, sendo cuidadosamente dissecada pelos guardas e pela autoridade invisível que os questionava.
Harley permaneceu em silêncio, percebendo que qualquer palavra mal calculada poderia comprometer a segurança de ambos. Eles estavam em território inimigo agora, e cada movimento, cada respiração, seria meticulosamente observada.
— Aurora fez o que achava necessário para garantir nossa segurança — acrescentou Marcus, tentando suavizar a situação.
A voz autoritária respondeu, com um tom ainda mais rígido:
— Preciso de uma explicação mais completa. Vocês colocaram em risco a segurança da Escola.
Aquela afirmação pairou no ar, pesada. Harley sabia que aquele era o momento de falar. Ele trocou um olhar rápido com Marcus, que deu um leve aceno. Era hora de contar a verdade.
— Aurora se sacrificou para nos salvar… — começou o jovem, a voz firme, mas carregada de uma emoção profunda — Ela ativou o dispositivo de teletransporte, o quadrado tecnológico, para nos trazer para cá, longe do perigo iminente. Foi uma escolha dela, e… foi definitiva.
O salão caiu em um silêncio ainda mais tenso. A revelação do sacrifício de Aurora, a forma como ela usou o último recurso disponível, parecia ter trazido uma nova onda de incerteza. Os guardas, ainda atentos, aguardavam novas instruções, enquanto os dois jovens permaneciam sob o escrutínio de olhos invisíveis.
Após alguns momentos de reflexão, a voz autoritária soou novamente, desta vez com uma nuance de ponderação:
— Vocês estão dizendo que Aurora se sacrificou por vocês, de bom grado?
Harley engoliu seco, sentindo o peso das palavras. Ele sabia que havia uma linha tênue entre explicar a verdade e se colocar em perigo. Sabia que as ações de Aurora não eram apenas sobre salvar vidas, mas também sobre algo maior. Algo que ele ainda não compreendia totalmente.
— Sim — respondeu ele, com uma certeza na voz que refletia sua gratidão por Aurora — Ela sabia o que estava fazendo. Sabia que estávamos em uma situação sem saída. E, por isso, decidiu agir.
O ar parecia ficar ainda mais pesado com cada palavra dita. Harley sentia que, a qualquer momento, as armas apontadas para eles poderiam ser disparadas, que cada guarda ali estava aguardando o menor erro para agir. Cada segundo era vital.
Finalmente, o cônsul da Escola de Exploradores Interdimensionais, a figura autoritária que os havia interrogado à distância, emergiu das sombras. Sua figura imponente, vestida com um uniforme de gala imaculado, era tão intimidadora quanto o ambiente ao redor.
Ele parou diante dos dois e, com olhos duros, encarou Harley por um longo momento, antes de repetir a mesma pergunta anterior com um tom grave:
— Vocês estão nos dizendo que Aurora se sacrificou… de bom grado?
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