Índice de Capítulo

    “Os reencontros são momentos onde o passado se encontra com o presente, entrelaçando histórias que pareciam destinadas a permanecer separadas.” 

    Fragmentos da Libertação, de Nostradamus.


    Milenium suspirou, como se estivesse carregando o peso de uma decisão há muito adiada.

    — Aurora queria te contar, mas agora… depende de você. — Ela o fitou profundamente — Você vai se unir a nós? Vai aceitar o convite do meu pai e ajudar a Escola de Exploradores Interdimensionais?

    Harley se levantou da cama, a cabeça cheia de pensamentos confusos. Por um momento, ele vagou pela sala, revivendo mentalmente suas experiências, suas fugas e suas lutas. Sempre fora guiado por um único desejo: a liberdade.

    Mas, no fundo, ele sabia que a liberdade nunca era tão simples quanto parecia. A cada mundo que cruzava, a cada inimigo que derrotava, surgia uma nova forma de prisão. Talvez a verdadeira liberdade não fosse estar completamente livre, mas sim escolher qual prisão habitar.

    O convite do cônsul lhe oferecia algo mais: conhecimento, poder, uma chance de enfrentar Doravan e seus inimigos com armas mais eficazes. 

    “Mas a que custo?” — pensou.

    Mais uma vez, ele se via à beira de se entregar a uma causa que não era inteiramente sua. Em meio ao caos dos pensamentos, a voz de Aurora voltou a ecoar:

    “Seja feliz! Fugir nem sempre é a solução.”

    — Como… como isso é possível? — sua voz soava quase sufocada, como se lutasse contra as palavras.

    — Há coisas que a maioria das pessoas nunca entenderá — disse Milenium, sua voz baixa, mas cheia de convicção — Mas Aurora acreditava que você era especial. Ela via em você algo que nem mesmo você podia ver. E, de certa forma, eu também via.

    Harley ficou imóvel, sem saber o que dizer. A ideia de que Aurora, e agora Milenium, tivessem nutrido sentimentos tão profundos e complexos por ele parecia surreal. 

    “Eu sou só uma pessoa comum, um lutador. Só estou tentando sobreviver. Especial? Como alguém como eu poderia ser especial?” — Pensou.

    Ele balançou a cabeça, tentando afastar a sensação de desconforto que crescia dentro de si. 

    — Eu sou apenas… eu. Não sei o que vocês esperavam de mim, mas nunca fui esse “especial” de que falam.

    Milenium deu um meio sorriso, mas era um sorriso triste, como se soubesse que ele nunca entenderia completamente. 

    — Talvez seja isso que te torna especial. Sua luta para ser quem você é em um mundo que constantemente tenta te moldar.

    Harley ficou em silêncio por um momento, digerindo suas palavras. Ele sempre se rebelara contra as expectativas que os outros colocavam sobre ele, lutando para manter sua própria identidade em um mundo que parecia determinado a transformá-lo em algo que ele não queria ser. 

    Mas nunca havia pensado que essa luta pudesse ser algo admirável. Para ele, era apenas sobrevivência.

    Ele desviou o olhar, perdido em pensamentos. As memórias de sua infância vieram à tona, lembranças das noites solitárias em que sua única companhia era a voz suave e desconhecida que na escuridão, contando-lhe histórias que o confortavam na escuridão…

    “Você é importante, Harley” — ela costumava dizer. 

    Mas agora, ele se perguntava se isso era verdade. O que havia de tão especial nele? Ele era apenas um garoto que aprendera a lutar para sobreviver. Essa voz sonhava que ele encontraria alguém sincero, alguém com quem pudesse compartilhar sua vida. Mas sinceridade… aquilo parecia uma ilusão distante.

    — Nunca poderei realizar o sonho dela — murmurou Harley, sem se dar conta de que falava em voz alta.

    Milenium o observou por um momento, uma expressão de curiosidade misturada com preocupação — O que disse?

    O jovem Ginsu sacudiu a cabeça, afastando o pensamento. Ele não queria falar sobre isso. Era algo pessoal demais, algo que ele preferia manter enterrado dentro de si.

    — Não é nada — disse ele, sua voz voltando a um tom mais neutro.

    Milenium olhou para ele com uma expressão de entendimento, como se percebesse que havia algo mais profundo acontecendo ali, mas optou por não pressioná-lo. Ela sabia que seu companheiro carregava muitos fardos, e não era sua intenção adicionar mais peso a isso.

    — Você não precisa carregar tudo sozinho! — ela disse suavemente, sua voz carregada de empatia — Aurora acreditava em você, e eu também acredito.

    Harley a fitou, surpreso com a sinceridade nas palavras dela. Havia uma força silenciosa em Milenium, uma determinação que ele não havia notado antes. Ela era diferente de Aurora, mas, ao mesmo tempo, havia algo nas duas que as conectava de uma forma que ele não conseguia compreender completamente.

    — Talvez… talvez eu não seja quem vocês pensam que sou. — disse, sua voz cheia de incerteza — Talvez vocês estejam se enganando.

    Milenium balançou a cabeça, um leve sorriso nos lábios. 

    — Não, Harley. Nós vimos quem você realmente é, mesmo que você não veja. E é isso que importa.

    Ele ficou em silêncio, sentindo o peso daquelas palavras. Pela primeira vez, ele se perguntou se, talvez, elas estivessem certas. Talvez houvesse algo nele que ele próprio não era capaz de ver. Algo que ia além da luta, além da sobrevivência.

    — E agora? — ele perguntou finalmente, sua voz mais suave, quase resignada.

    Milenium deu um passo à frente, estendendo a mão para ele. 

    — Agora seguimos em frente. Juntos.

    Harley hesitou por um momento, mas, ao olhar nos olhos dela, ele sentiu uma estranha sensação de paz. Talvez, pela primeira vez em muito tempo, ele não estivesse sozinho nessa jornada. E, com isso em mente, ele segurou a mão dela.

    Os dois saíram juntos, caminhando pelos corredores silenciosos da fortaleza. A presença de Milenium ao seu lado, de alguma forma, tornava o caminho menos árduo. Ele sabia que o futuro ainda reservava muitos desafios, mas, com ela ao seu lado, talvez estivesse pronto para enfrentá-los.

    O eco de seus passos ressoava pelas paredes de pedra, enquanto o silêncio da fortaleza parecia se quebrar com cada passo que davam. E, ao longe, no horizonte, o futuro incerto os aguardava, repleto de desafios, mas também de possibilidades.

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