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    “Cada escolha, cada decisão, é um passo em direção a um destino inescapável. Em tempos de crise, é a clareza de propósito que distingue os heróis dos que apenas sobrevivem.” 

    — O Código do Guerreiro Solitário, Verso 15.


    Milenium e Harley ficaram na sala, observando Solarium sair do grande salão. Os sons dos dispositivos de segurança sendo ativados e os bloqueios mecânicos se fechando ecoaram no ambiente até que, por fim, o silêncio reinou novamente. 

    A vastidão do espaço agora parecia fria e desolada, amplificando a tensão que pairava entre eles. Os dois permaneciam imóveis, seus olhares presos um no outro, cada um carregando consigo o peso das decisões que precisavam tomar.

    Harley sentia as palavras não ditas pressionando sua garganta. A urgência de abordar o que realmente importava já não podia ser adiada. O silêncio entre eles parecia uma barreira invisível, que ele sabia precisar romper. Respirou fundo, reunindo toda a coragem, e, com um suspiro profundo, preparou-se para falar.

    — EiHa! — disseram os dois simultaneamente, interrompendo-se no mesmo instante. Ambos riram brevemente, mas a tensão entre eles permaneceu intacta.

    — Pode falar — disse Harley, tentando aliviar o desconforto com um sorriso contido.

    — Não, você primeiro — respondeu Milenium, a voz suave, mas cheia de expectativa.

    O jovem Ginsu desviou o olhar, seus pensamentos correndo em direções opostas. Por mais que soubesse que toda a família de Milenium compartilharia aquela conversa quando ela dormisse, ele não podia mais recuar. A questão era importante demais. Depois de um breve momento de hesitação, ele finalmente falou:

    — Eu fiz um compromisso com seus pais… e com seu clã — disse, e Milenium ergueu uma sobrancelha ao ouvi-lo usar a palavra “clã”. Harley não se incomodou com a reação dela e prosseguiu — Eu aceito as consequências disso, mas em toda escolha, alguém acaba sendo magoado ou decepcionado. Não podemos agradar a todos.

    Milenium o observava com uma expressão estranha. As palavras dele indicavam que algo de grande importância estava prestes a ser revelado, e isso aguçou ainda mais sua curiosidade.

    — Sei que sua família usou todas as vantagens possíveis para me atrair até aqui. — ele disse, sua voz carregada de resignação — E eu respeito isso. Um guerreiro deve sempre usar todas as armas a seu favor. — ele fez uma pausa, encarando-a diretamente — Mas um guerreiro também não pode perder sua essência… seu dever… nem deixar de quitar suas dívidas.

    Harley respirou fundo antes de continuar:

    — Sua irmã me salvou. Preciso de sua ajuda para resgatá-la, mesmo que seja uma missão suicida. Mesmo que, no fim, eu traga apenas seu corpo de volta.

    A reação de Milenium foi imediata. Seus olhos começaram a lacrimejar, e ela tentou, sem sucesso, conter as lágrimas que silenciosamente escorriam por suas bochechas. 

    Ela iria pedir a Harley o mesmo. Desde o desaparecimento de Aurora, ela não conseguia dormir em paz, atormentada por uma série de imagens confusas, como se sua irmã tentasse se comunicar de alguma forma, mesmo à distância.

    — Eu recebi flashes de Aurora… durante meu sono — confessou Milenium, com a voz trêmula. — Não consigo acreditar que ela está morta. E mesmo que ela tenha sido transformada em algo controlado pela tecnologia de Doravan, como meus pais sugerem… 

    — Eu preciso fazer algo. Preciso tentar. Ela sempre me protegeu, sacrificou tanto pela minha segurança… — continuou Milenium enxugando as lágrimas com raiva, como se tentasse afastar a própria fragilidade.

    — Sim! — disse Milenium, sua voz cheia de emoção. 

    Ela cortou qualquer nova justificativa que Harley pudesse dar. Não havia mais nada a dizer. Estavam ambos decididos.

    Sentiu um alívio imediato ao ouvir sua resposta, mas a culpa persistia em seu peito. Sabia que, apesar da aliança que começava a se formar entre eles, ainda era, em muitos sentidos, um prisioneiro ali. 

    Seus movimentos eram monitorados, seus passos seguidos. A confiança plena era algo que levaria tempo para ser construída, e ele sabia que cada ação dali em diante seria crucial para manter essa frágil aliança intacta.

    — Obrigado, Milenium. — disse ele, com sinceridade — Eu sei que isso não é fácil para você também.

    A jovem assentiu, ainda enxugando os olhos. 

    — Precisamos ser rápidos. Meus pais estão ocupados, mas não estarão fora por muito tempo. Temos que aproveitar essa janela de oportunidade.

    Harley concordou, já calculando os próximos passos. Sabia que não poderia sair dali sem fazer um barulho que chamasse a atenção de todos, e, sem a ajuda de Milenium, sua missão seria impossível. 

    Ela era sua única chance de escapar dos olhos vigilantes da fortaleza e chegar ao Local Proibido, onde Aurora poderia estar. Sem sua ajuda, Harley teria que enfrentar os inúmeros obstáculos sozinho, o que certamente terminaria em fracasso.

    — Sim, conto com você para isso — disse ele, sua voz firme.

    Milenium assumiu a liderança, guiando-o para fora do grande salão. Ela ativou uma passagem oculta, revelando um corredor secreto que provavelmente era utilizado para emergências. O caminho era estreito e pouco iluminado, com paredes de metal que refletiam a luz fraca em tons de prata.

    À medida que avançavam, Milenium realizava as verificações necessárias nos dispositivos de segurança, inserindo códigos e utilizando sua identidade privilegiada para abrir as portas. 

    Estava claro que somente alguém com seu nível de autoridade poderia atravessar aquele labirinto sem ser detectado. Cada barreira que superavam parecia mais difícil que a anterior, mas ela continuava, determinada.

    — Esse é um caminho que nem todos conhecem. — explicou Milenium — Foi construído para fugas rápidas em caso de ataque à Escola. Pouquíssimos têm acesso a ele.

    — Quantas vezes você o usou? — perguntou Harley, mais por curiosidade.

    — Nenhuma! — ela respondeu, sem hesitação — Até hoje.

    A caminhada parecia interminável. O jovem Ginsu olhava em volta, tentando memorizar o trajeto caso precisasse retornar sozinho, mas logo desistiu. 

    A complexidade dos corredores e passagens tornava quase impossível mapear mentalmente cada curva. Milenium movia-se com familiaridade, mas Harley sabia que, sem ela, estaria completamente perdido.

    Finalmente, após atravessarem o último arco de segurança, chegaram a um salão diferente do primeiro. Ali, uma variedade de veículos de transporte estava disposta em fileiras organizadas. 

    O jovem Ginsu observava, impressionado com a diversidade. As cápsulas e veículos variavam em forma e tamanho, desde pequenos transportes individuais até grandes estruturas que poderiam carregar dezenas de soldados.

    Milenium apontou para uma das cápsulas e declarou: 

    — Este é o ideal: rápido, discreto, e nada chamativo.

    Antes que pudessem embarcar, Harley notou uma figura ao fundo do salão. Seus olhos se estreitaram, e seu coração acelerou por um momento antes de reconhecer o homem parado ali.

    — Marcus… — murmurou, surpreso.

    Milenium virou-se para olhar também e deu um leve sorriso. — Libertamos Marcus. Ele será útil na missão.

    Marcus, o velho companheiro de batalhas de Harley, acenou discretamente ao se aproximar. Seu rosto estava marcado por cicatrizes, lembranças das lutas que travaram juntos, sentindo um misto de alívio e gratidão ao vê-lo ali.

    — Parece que as coisas estão prestes a esquentar de novo, não é? — disse Marcus, sua voz grave, mas com um leve tom de humor, quebrando a tensão.

    Harley assentiu falando:

    — Mais do que nunca.

    Os três ficaram em silêncio por um momento, cientes do peso do que estava por vir. A presença de Marcus reforçava a sensação de que aquela missão seria tudo, menos fácil.

    — Precisamos sair daqui agora. — disse Milenium, interrompendo os pensamentos de ambos — Os seguranças podem retornar a qualquer momento, e temos que estar longe antes que isso aconteça.

    Harley olhou para Milenium, sua determinação visível. A filha do cônsul estava disposta a arriscar tudo, e ele não poderia decepcioná-la. Ela estava assumindo um risco enorme ao ajudá-lo, e ele sabia que essa missão era tão importante para ela quanto para ele.

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