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    “Não há mapa para a vastidão das dimensões. Há apenas o corajoso coração que se atreve a navegar por elas.”

    Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. sobre possíveis dimensões.


    A luz suave que emanava do invólucro de transporte criava uma atmosfera quase etérea. Dentro da estrutura metálica, Harley sentia a tensão no ar, acompanhada pelo constante murmúrio das máquinas que se preparavam para a decolagem. 

    Ao seu redor, guerreiros e soldados, todos prontos para a missão, se acomodavam em seus lugares. Milenium e o Cônsul embarcaram com uma tranquilidade que parecia contrastar com a magnitude da operação que estava prestes a começar.

    O jovem Ginsu, ainda fascinado pela dimensão da missão, observava as máquinas de transporte ao redor se preparando para partir em direção ao Local Proibido. Cada invólucro carregava consigo a promessa de um confronto inevitável, e a imensidão da frota indicava o tamanho do perigo que estavam prestes a enfrentar.

    Era a primeira vez que Harley se encontrava diante de uma máquina que prometia desafiá-lo de uma maneira tão diferente. Em seu mundo natal, o voo era privilégio dos pássaros, dos poucos seres que conheciam os segredos do céu. 

    Para ele, os céus sempre foram inalcançáveis, domínios de liberdade desconhecida. Agora, ao entrar naquele invólucro, sentia como se estivesse cruzando para um novo reino, onde as leis da natureza eram desafiadas pela tecnologia.

    O jovem Ginsu se acomodou em seu assento enquanto o invólucro começava a elevar-se lentamente do solo. Ele fixou o olhar no chão que se distanciava cada vez mais, como se o mundo que conhecia estivesse se afastando dele tanto no espaço quanto em significado. 

    Era uma sensação incomum, não apenas o distanciamento físico, mas também a percepção de que algo mais estava sendo deixado para trás.

    Dentro do invólucro, a sensação de movimento era quase imperceptível. Não havia tremores, nem barulho de motores. Era como se a máquina estivesse parada, embora estivesse subindo rapidamente pelos céus. 

    Harley percebeu que não precisava se segurar, pois não sentia a força da gravidade que deveria estar puxando-o para baixo. A desconexão entre o que via e o que sentia era desconcertante.

    Ele olhou pela abertura transparente do veículo, vendo as vastas terras sob seus pés se transformarem em miniaturas. As montanhas, antes imponentes, agora pareciam sombras distantes, enquanto o horizonte era envolvido por um manto de nuvens que se movia lentamente. 

    Era uma visão quase surreal, um lembrete de como o mundo parecia pequeno visto do alto. O ar ali em cima era rarefeito, e sentia como se estivesse em um lugar entre dois mundos: o terreno que conhecia e o novo que estava prestes a explorar.

    “Estou voando!” — pensou Harley, ainda atordoado pela descoberta. 

    Para alguém que cresceu em um mundo onde o céu era inacessível, estar ali, suspenso no ar, era uma experiência libertadora. E ao mesmo tempo, desconcertante.

    A sensação de deslizar pelo céu era ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Olhando para o lado, o jovem Ginsu viu outros invólucros voando em formação, parecendo tão leves quanto folhas ao vento. 

    O jovem Ginsu sabia que aquele momento era um marco. Um ponto de não retorno em sua jornada. E, por mais impressionante que fosse a tecnologia que os levava ao Local Proibido, algo dentro dele o incomodava profundamente.

    Harley não pôde conter a dúvida que crescia em seu peito. Virou-se para o Cônsul, que estava ao seu lado, observando as telas de controle com sua habitual serenidade.

    — Com essa quantidade de invólucros, não corremos o risco de alertar o inimigo? — perguntou, sua voz carregada de preocupação. 

    Ele sabia que estavam indo em direção a Doravan, um território que poderia estar cheio de armadilhas e vigilância.

    O Cônsul, sempre calmo, virou-se para ele e respondeu com confiança.

    — Não há com o que se preocupar. — disse o líder da Escola de Exploradores Interdimensionais — Todos os nossos invólucros estão equipados com um sistema de ocultamento avançado. Eles são indetectáveis. Nem mesmo os sensores mais avançados podem nos rastrear.

    Harley acenou lentamente, ainda ponderando sobre a resposta. Por mais que a explicação fizesse sentido, ele não conseguia afastar a sensação de inquietação. No entanto, sabia que agora, mais do que nunca, teria que confiar nas decisões estratégicas do Cônsul.

    Para distrair-se, ele voltou sua atenção ao traje que havia recebido. A tecnologia envolvida no traje era impressionante, uma verdadeira obra-prima. Sentia-se como se o traje fosse uma extensão de seu próprio corpo, moldando-se perfeitamente aos seus movimentos. 

    Ele concentrou-se e, com um simples pensamento, ativou a interface do traje.

    Imediatamente, uma série de informações começou a piscar em sua mente. Era como se ele tivesse acessado um novo sentido, invisível aos outros. 

    “Traje operacional!” — ecoou uma voz eletrônica em sua cabeça — “Funções ativas: ocultamento, blindagem multidimensional, isolamento mental e sensorial.”

    Harley percorreu as opções com cautela, explorando as funcionalidades que o traje oferecia. 

    “Invisibilidade por curto período disponível. Aviso: uso prolongado consumirá todos os recursos do traje. Recomenda-se cautela.” — alertou o sistema.

    O jovem refletiu sobre o aviso. Sabia que, por mais avançado que o traje fosse, ele ainda dependia de sua Energia Sombria para proteção real. No entanto, não podia negar a utilidade do traje, especialmente quando precisasse esconder seu poder.

    Enquanto estava imerso nessas reflexões, o Cônsul se aproximou, interrompendo seus pensamentos.

    — Harley, assim que esta missão terminar, devemos retirar o bracelete feito por Doravan do seu pulso. — disse o Cônsul, referindo-se ao artefato que havia sido preso ao pulso dele durante suas interações com Doravan — Ela já não tem mais utilidade. Depois disso, poderemos realizar alguns testes com sua Energia Sombria, se você concordar.

    Aquelas palavras trouxeram à tona uma série de preocupações. A revelação de seu poder, o segredo que deveria ser guardado a todo custo, poderia estar cada vez mais vulnerável. 

    “Quantas pessoas sabem agora sobre minha habilidade? Doravan conhece o segredo. O Cônsul e sua família sabem também, então já não há segredo algum. Apenas um risco esperando para explodir.” — refletiu Harley, sua mente se enchendo de perguntas.

    “Havia outras forças no Mundo Mágico que poderiam estar cientes de sua capacidade? Doravan poderia ter espalhado essa informação como uma forma de obter vantagem? E o Observador Arcano? Teria ele vendido essa verdade a alguém?” — essas perguntas o atormentavam.

    — Vou pensar sobre isso — respondeu, cauteloso.

    O Cônsul assentiu, respeitando a hesitação do jovem. Ele entendia que Harley ainda carregava muitos fardos, e a confiança plena era algo que levaria tempo para ser estabelecida.

    Enquanto o invólucro continuava sua jornada pelo céu, o jovem Ginsu voltou a olhar pela abertura transparente. Agora, as nuvens começavam a se dissipar, revelando uma vasta extensão de terras desconhecidas. O Local Proibido estava mais perto a cada segundo.

    A voz de Milenium trouxe-o de volta à realidade. Ela havia se aproximado silenciosamente, seus olhos brilhando com determinação.

    — Estamos chegando! — disse ela, com uma tranquilidade que contrastava com a tensão visível em seu rosto — Este será o momento decisivo.

    Harley sabia que Aurora estava lá, em algum lugar. Ele faria o que fosse preciso para não decepcioná-la, nem a si mesmo, desta vez.

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