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    “Em tempos de grande escuridão, apenas aqueles que enxergam além do véu podem revelar o verdadeiro caminho.”

     — Discursos do Grande Explorador Zandar, Vol. sobre Ciência.


    A frota, composta por invólucros de transporte voador, continuava se movendo com precisão calculada pelo ar do Mundo Mágico. A explosão de uma nave não alterou nada, apenas ampliou as expectativas sobre o que mais todos enfrentariam.

    Três sóis projetavam sombras estranhas e longas sobre as vastas extensões do deserto translúcido abaixo, um deserto que parecia esconder em suas profundezas um abismo negro, insondável e proibido. O calor era opressivo, mas os trajes dos tripulantes protegiam contra as piores partes do ambiente hostil.

    Com os olhos fixos no visor, o Cônsul observava as linhas de dados pulsando freneticamente. Uma sensação inquietante de que algo estava profundamente errado preenchia o ar da cabine de comando. 

    Ele nunca subestimava sua intuição, especialmente quando se deparava com algo que fugia ao padrão. Para ele, tudo seguia movimentos pré-estabelecidos e constantes, tornando os dados ou a própria vida algo inicialmente previsíveis. 

    Mas quando algo saía da norma, seu instinto de alerta se ativava. Embora pudesse ser apenas uma coincidência, sua experiência lhe dizia que aquilo era sempre o começo de algo, e nas circunstâncias atuais, poderia ser o prenúncio de uma tragédia. 

    Algo dentro dele o instigava a examinar os dados com ainda mais atenção. A possibilidade de haver mais traidores infiltrados era alta. Não fazia sentido que houvesse apenas um. Pensando como o inimigo, ele sabia que, para garantir o sucesso do plano que tentava frustrar, as táticas mais inesperadas e difíceis de neutralizar precisariam ser levadas em conta. 

    Uma delas seria o uso de múltiplos agentes infiltrados, estrategicamente posicionados para semear o máximo de caos. O Cônsul sentia o peso da responsabilidade em seus ombros, consciente de que cada decisão sua poderia significar a vida ou a morte de seus homens e maiores dificuldades no jogo de poder do Mundo Mágico.    

    Ele percebeu que, sozinho, seria ineficaz e demorado para lidar com o problema. Como cada invólucro voador possuía seu próprio comandante, a melhor estratégia era dividir a responsabilidade, testando ao mesmo tempo o tempo de reação e a eficiência de cada líder sob seu comando:

    — Capitães, iniciem uma varredura em todas as unidades de transporte — ordenou ele, a voz firme, sem traços de hesitação — Qualquer sinal padrão suspeito, compartilhem imediatamente. Não há espaço para erros.

    As ordens foram cumpridas com a precisão esperada, e todos os visores estavam integrados ao visor central do invólucro do Cônsul. Cercado por uma vasta quantidade de dados, ele recorria a uma ferramenta gráfica para identificar padrões, traçar formas e destacar irregularidades. 

    O Líder da Escola de Exploradores interdimensionais sabia que o tempo era crítico, e que seu inimigo, hábil em se ocultar nas sombras, exigiria respostas rápidas e precisas. Sua mente, em ritmo acelerado, antecipava os próximos movimentos enquanto delineava as contramedidas necessárias.

    Harley, Milenium e Marcus observavam tudo à distância. Eles sabiam que o Cônsul não permitiria outra traição. A frieza com que comandava os seus guerreiros era um reflexo do controle absoluto que exercia sobre suas próprias emoções. 

    Mas Milenium, mais do que ninguém, compreendia o custo desse controle. A pressão, o fardo de cada decisão. Era como se o destino do Mundo Mágico repousasse inteiramente sobre os ombros do Líder da Escola de Exploradores interdimensionais.

    “O que eu faria no lugar dele?” — pensou a jovem, tentando entender a mente do seu pai. A garota sabia que ele era pragmático, disposto a sacrificar qualquer coisa pelo bem maior — “Mas até que ponto um comandante deveria ir?”

    — Cônsul! — A voz urgente de um dos comandantes rasgou o silêncio, arrancando Milenium de seus pensamentos enquanto transmitia novas informações.

    O Líder da Escola de Exploradores Interdimensionais interrompeu parcialmente as funções dos trajes de cada membro sob sua liderança. Com o intuito de atrair os traidores, ele passou a exibir sinais não autorizados ou anômalos no visor geral de todos os invólucros de transporte, usando seu exército voador como uma isca estratégica.

    Harley se aproximou, tentando ver por si mesmo o que estava acontecendo. O visor mostrava uma linha de transmissão representativas de um das naves que piscava em vermelho, um aviso claro de que algo estava terrivelmente errado.

    — Qual invólucro? — O tom do Cônsul era cortante, carregando a frieza de uma decisão já firmada antes mesmo da indagação.

    — Invólucro A-14, senhor. Está voando em formação, mas… parece haver uma atividade incomum nas suas comunicações internas. Não consigo bloquear o sinal.

    O Líder da Escola de Exploradores interdimensionais não hesitou:

    — Booom! — O som da explosão ecoou pelas naves restantes, um aviso feroz de que o tempo dos traidores estava se esgotando.

    Um novo ponto piscou em vermelho, seguido de uma comunicação urgente:

    — Senhor, o sistema da D-2 não responde. Eles devem ter assumido o controle manual.

    O Cônsul, imperturbável e sem hesitar diante da perda de mais de seus guerreiros, pressionou um botão no painel de controle.

    — Booom!

    Milenium, ao olhar para seu pai, finalmente compreendeu: um comandante sempre devia estar preparado para tomar as decisões mais difíceis, mesmo que isso significasse sacrificar parte de sua própria força. 

    “A vitória exigia coragem implacável. Cada escolha trazia consigo um peso” — ela refletia, sabendo que — “a inércia era um erro fatal e adiar decisões críticas só abriria as portas para derrotas — ela pensou — “Um líder deve agir, independentemente do custo.”

    Outros sinais apareceram na tela.

    — Booom!

    — Booom!

    — Booom!

    O Cônsul cerrava os punhos, sua determinação sendo testada ao limite. Harley podia ver a tensão nos músculos de seu rosto.

    Mas o jovem sabia que algo estava errado, já que para ele, o Líder da Escola de Exploradores interdimensionais estava agindo rápido demais, sem considerar outras opções. 

    “E se os sinais fossem uma armadilha? E se o inimigo quisesse que eles destruíssem sua própria frota, peça por peça?” — refletia mentamente Harley.

    — Cônsul, espere! — Harley se adiantou, a voz carregada de urgência — E se isso for o que o inimigo quer? E se eles estão manipulando nossos sinais para que destruamos a nós mesmos?

    O pai de Milenium virou-se lentamente para encarar o jovem Ginsu, seus olhos estreitos, avaliando a possibilidade. 

    — Se continuarmos a destruir nossos próprios invólucros, acabaremos sem força suficiente para enfrentar o verdadeiro inimigo — continuou Harley. 

    O Cônsul ficou em silêncio por um momento, considerando as palavras do jovem. Ele sabia que o jovem tinha razão, mas também sabia que qualquer hesitação poderia custar caro. Finalmente, ele acenou com a cabeça.

    O Líder da Escola de Exploradores interdimensionais observava os múltiplos sinais que pipocavam nos visores à sua frente, cada um representando uma potencial ameaça dentro de sua própria frota.

    As sinalizações vermelhas, antes dispersas, agora surgiam em uma sequência frenética, como se estivessem interligadas por um fio invisível de caos.

    Sem hesitar, o Cônsul acionou o comando que paralisaria todos os trajes de seus guerreiros. Cada guerreiro, cada comandante, cada membro de seu exército estava agora imobilizado, à mercê das suas próximas decisões. 

    O tempo era crítico, mas ele sabia que qualquer passo mal calculado poderia significar o fim de sua missão, ou pior, a completa destruição de sua frota e diminuição de seu poder bélico. 

    Harley sentiu-se desconfortável quando percebeu que seus movimentos estavam bloqueados, o traje paralisando seu corpo contra sua vontade. A realidade de estar à mercê de outro se tornou inegavelmente clara naquele instante. 

    Embora o traje fosse um presente, o que antes parecia um ato de confiança agora revelava uma verdade inquietante: ele estava sob o controle de outra pessoa. O poder do Cônsul sobre ele era absoluto, capaz de desativar sua liberdade com um simples comando. 

    Ao mover o pescoço, o jovem se deu conta de que era o único movimento que lhe restava, e que Milenium era a única entre todos os presentes no invólucro de transporte que ainda tinha liberdade de movimento.

    Marcus sentia a frustração crescer a cada instante enquanto lidava com a constante sensação de estar sob suspeita. A jovem, por outro lado, começava a compreender que: 

    “Comandar não era apenas avaliar cenários e escolher o melhor caminho. Era também lidar com a decepção dos outros, causar impactos profundos e sempre estar um passo à frente, com uma variedade de ações prontas para qualquer eventualidade” — refletia Milenium. 

    Ciente de que não havia outra saída, o Cônsul decidiu arriscar e aterrissar naquele deserto translúcido. Embora a decisão fosse perigosa, era a única forma de recuperar o controle absoluto da frota. O pouso proporcionava a oportunidade de enfrentar e neutralizar pessoalmente cada ameaça infiltrada.

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