Capítulo 186 - A batalha contra o impossível
“No limite do impossível, a mente busca respostas onde apenas a loucura é encontrada. A coragem, por vezes, é simplesmente a aceitação de que não há outro caminho além do desconhecido.”
— Sussurros das Sombras XVII, transmissão oral do Clã Adaga Arcana.
Os soldados continuavam disparando, seus tiros iluminando a vastidão da caverna. Os projéteis de luz cruzavam o ar, atingindo a Criatura com força, mas continuavam não causando nenhum estrago apesar do aumento da carga.
Mais explosivos foram lançados na direção dos pés da Criatura. A explosão resultante encheu o espaço de poeira e fragmentos de rocha, mas quando a fumaça dissipou-se, a Criatura ainda estava lá, avançando com sua presença aterrorizante, como se nada tivesse acontecido.
— Use os feixes de plasma. Todos no meio da criatura! — gritou o Cônsul, sua voz carregada de tensão.
Os soldados que ainda possuíam as armas mais poderosas se posicionaram, disparando feixes brilhantes que cortavam a escuridão e se chocavam contra a superfície geométrica da Criatura.
O impacto fazia com que o ambiente ao redor se iluminasse por um breve instante, mas nada parecia deter o monstro. Ele absorvia os ataques como se fossem meros incômodos, continuando a avançar com sua marcha implacável.
Milenium se moveu rapidamente, retirando uma carga explosiva maior de sua mochila e fixando-a em uma das paredes da caverna, próxima ao caminho da Criatura.
— Afastem-se! — gritou ela, enquanto ativava o detonador.
Uma explosão violenta fez o chão tremer, desmoronando parte da parede sobre a Criatura. A esperança iluminou os rostos dos soldados, mas foi um momento efêmero. Entre os destroços, um brilho sombrio surgiu, e as extremidades afiadas da Criatura romperam os escombros, empurrando as pedras para longe.
A Criatura avançava ainda mais, seus movimentos angulares gerando uma distorção que parecia rasgar o próprio ar ao seu redor. Alguns soldados tentaram se reagrupar, buscando um ângulo melhor para atacar, enquanto outros disparavam incessantemente, o medo estampado em seus olhos.
O Cônsul, percebendo que estavam ficando sem alternativas, tentou coordenar uma retirada estratégica, mas a Criatura era implacável, sua velocidade aumentando a cada passo.
— Não podemos pará-la! — gritou um dos soldados, a voz carregada de desespero.
O Cônsul sabia que ele tinha razão. Todas as tentativas haviam falhado, e a Criatura continuava sua marcha, imune a qualquer esforço humano. Enquanto os soldados recuavam, Harley observava atentamente, procurando qualquer sinal, qualquer fraqueza. Algo precisava ser feito, e rápido.
Foi então que o jovem Ginsu viu algo inusitado. Algo que nunca havia percebido antes. Uma linha tênue, quase invisível, conectava-o à Criatura.
Era uma linha do destino, mas diferente de qualquer outra — negra, pulsante, como uma corrente de energia sombria. Um arrepio percorreu sua espinha, e sua mente correu, buscando entender o que estava diante de seus olhos.
“Será que essa Criatura… protege um portal dentro dela?” O pensamento parecia absurdo, mas, naquele lugar, nada mais seguia as regras do que era possível ou lógico. Ele refletiu, sentindo a desesperança crescer. Não tinham como derrotá-la. Nada, absolutamente nada, parecia funcionar.
Harley engoliu em seco, uma ideia louca se formando em sua mente. Eles não tinham como fugir. Não podiam lutar. Estavam encurralados, e todas as estratégias haviam falhado. Restava apenas uma coisa a fazer.
Sem dar explicações, ele correu. Com toda a coragem que possuía, avançou em direção à Criatura, a adaga negra em mãos.
— Harley, o que está fazendo?! — gritou Milenium, ao vê-lo se separar do grupo e correr para o perigo.
Ele não respondeu. Apertou a adaga com força, o peso familiar em sua mão dando-lhe uma falsa sensação de controle. Os olhares ao seu redor eram de puro espanto, incapazes de acreditar no que viam. Seu ataque parecia suicida, um voo desesperado para a morte.
— Harley! — gritou Milenium, desesperada.
— Essa não é a solução! — exclamou o Cônsul.
— Pare! — implorou um soldado.
— Ainda podemos encontrar outra saída! — alguém gritou, mas o jovem Ginsu já estava além de ouvir, sua mente fixada no fim.
A Criatura se virou em sua direção, seus movimentos distorcendo o espaço ao redor, como se estivesse prestes a rasgar a própria realidade. O ar parecia vibrar com a iminência do impacto, e tudo ficou mais lento.
Ele podia ver a Criatura se preparando para atacá-lo, seus ângulos letais se posicionando para estraçalhá-lo.
— Não! — alguém gritou ao longe, a voz desesperada ecoando na vastidão da caverna.
Mas Harley continuou.
No meio da corrida, seus olhos caíram sobre a adaga negra. Uma lâmina que já havia sido sua aliada em momentos impossíveis. Sem hesitar, ele passou a lâmina sobre um dos cortes em seu braço, deixando o sangue escorrer pela superfície negra. O brilho da adaga pareceu intensificar-se, como se tivesse vida própria, como se sentisse o sacrifício que estava por vir.
Em todas as ocasiões anteriores, havia uma troca: sangue, energia, até mesmo parte de sua própria vitalidade. Sempre um sacrifício para liberar o poder da adaga. “E se…”
No último momento, quando para todos parecia que ele seria destruído, a adaga brilhou intensamente, um brilho negro e poderoso, e ele a cravou contra o corpo da Criatura.
Por um breve instante, tudo ficou em silêncio. A Criatura congelou, suas formas geométricas tremendo, como se algo dentro dela tivesse mudado. Então, um clarão se abriu em seu torso, e Harley viu: um portal, um vórtice que girava e pulsava, semelhante aos outros portais que eles já haviam atravessado.
Uma força imensa emergiu do portal, sugando tudo ao seu redor. Soldados foram arrancados do chão, pedras, fragmentos, armas, tudo era atraído para aquele vazio. Ele sentiu seus pés perderem contato com o chão, e ele foi puxado para o vórtice, sua visão embaçada pela luz e pela velocidade.
A Criatura emitiu um último rugido, um som que parecia uma mistura de dor e alívio, como se finalmente estivesse cumprindo seu propósito. Suas formas geométricas começaram a desmoronar, quebrando-se em pedaços enquanto o portal a consumia.
E então, em uma explosão final de luz, a Criatura se desfez, e o portal os engoliu completamente.
O mundo ao redor de Harley desapareceu. Ele não sabia para onde estavam indo, não sabia se encontrariam segurança ou outro desafio ainda mais perigoso. Tudo o que ele sabia era que, naquele momento, haviam escapado do inevitável.
Ele sentiu a pressão do vórtice ao seu redor, o ar sendo arrancado de seus pulmões, seus sentidos sobrecarregados por luzes e sons.
E então, tudo ficou em silêncio.
Por um breve momento, Harley sentiu como se estivesse flutuando no vazio, sem peso, sem direção. Ele não conseguia ver, não conseguia ouvir. Apenas o silêncio absoluto, uma paz momentânea em meio ao caos que havia dominado suas últimas horas.
Mas ele sabia que aquilo não era o fim. Sentia o poder do portal ao seu redor, preparando-se para jogá-los em algum outro lugar, talvez em uma nova batalha, talvez em uma nova esperança.
Então, a luz começou a se apagar, e a sensação de queda o envolveu, como se estivesse sendo lançado em direção ao desconhecido.
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