Capítulo 143 de 38 – Obrigado por se preocupar
No jardim das flores, diante do altar em chamas, Lai ergueu-se subitamente, o corpo envolto pelo fogo. Ham, tomado de surpresa, não compreendeu de imediato o que ocorria.
À sua volta, no entanto, as pessoas permaneciam abatidas, sem qualquer sinal de espanto. Mais uma vez, ele se perguntou se aquilo não passava de uma miragem.
A anciã assumiu uma postura impossível de esquecer — a mesma que precedia o ataque que ocasionou a sua morte. Mas, naquela ocasião, não havia uma pedra no centro da formação. No lugar dela, uma esfera tomava forma, tornando-se cada vez mais densa.
— Mestra…
Ao ouvir a voz do discípulo, a velha o fitou em silêncio e apontou o ataque em sua direção. Ham ficou incrédulo por um instante, mas logo aceitou a possibilidade de que sua mestra veio para ceifar sua vida — e, com isso, pôr fim à culpa que carregava.
A esfera negra, já plenamente condensada, atingiu-o no peito. Mesmo assim, ele manteve os olhos fixos nela. E então percebeu: ela sorria. Não com o semblante de quem destruía o próprio discípulo, mas com a expressão serena de alguém tomado pelo orgulho.
— Discípulo idiota! — A velha gritou, a voz cortante. — Acorde!
— Acorde?
A esfera em seu peito explodiu e lançou seu corpo em um estado de choque. Ham abriu os olhos de súbito. Ao redor, o cenário já não era o mesmo. Estava em outro lugar — um espaço tomado pelo fogo, onde tudo ardia em chamas.
O calor o envolvia por completo, e o sangue escorria lentamente por sua cabeça, marcando o início de algo que ele ainda não compreendia.
— Léo?
Estava gravemente ferido. Os danos em seu corpo eram tantos que Ham já não distinguia qual parte doía mais. As vestes vermelhas, rasgadas e chamuscadas, deixavam à mostra o peito dilacerado.
Com esforço, levou a mão à barriga, pressionando a ferida aberta. O calor de seus próprios dedos parecia querer selar a dor — ou ao menos contê-la por instinto.
— Hum? Finalmente acordou — Léo disse, o tom entre o alívio e a impaciência.
— O que está acontecendo? Cadê a Loi? — Ele perguntou, os olhos ainda confusos, tentando processar a situação.
— Não temos tempo. Me siga… vamos fugir.
Mesmo mancando, Léo se aproximou dele e, com esforço, o agarrou pelos ombros, começando a afastá-lo cada vez mais. Ao redor, os corredores estavam tomados pelas chamas, e corpos de membros do clã espalhavam-se por todo lado.
Ham, atordoado e confuso, questionou o que acontecia. No entanto, a resposta de Léo foi a mesma: nada além de um silêncio inquietante, como se as palavras tivessem perdido o peso de uma explicação.
— De novo com isso…
Chegaram ao corredor, próximos das janelas, quando avistaram mais demônios que se aproximavam rapidamente. Léo, com uma expressão tensa, retirou a mão da ferida e soltou Ham. Sem hesitar, levantou as mãos para frente e, com força, gritou:
— Rajada de fogo!
Com um movimento rápido, liberou um ataque devastador. Um jato de chamas, potente como uma mangueira lançando água com força, atingiu diretamente os sete demônios que avançavam em sua direção. A explosão os envolveu e erradicou-os instantaneamente.
— Léo! — gritou Ham.
Ao virar-se, avistou Ham caído no chão, desmaiado. Sem hesitar, ele agarrou a cabeça de um demônio próximo e a queimou com fúria. Em seguida, apoiou-o nas costas e, com voz grave, disse:
— De novo…
Ham despertou novamente e encontrou-se em um local diferente. Ao perceber quem o carregava nas costas, sobre a terra de barro, ele perguntou, com a voz ainda abafada pela confusão:
— Onde estamos, cadê Loi?
— Somente cala a boca — respondeu.
— Cadê todo mundo. Aonde estamos indo? Cadê a minha irmãzona? Me diga Léo! Onde estamos, o que estamos fazendo aqui! E me deixe descer! Eu quero saber o que esta acontecendo!
A cada palavra de Ham, Léo sentia sua paciência se esvair. Em um acesso de fúria, ele o largou no chão com brutalidade, o encarou nos olhos e gritou:
— Cala a boca!
— Hum?
— Toda a hora a mesma pergunta, seu idiota. Todos morreram! Entendeu, estão todos mortos.
Léo desabou no chão, enquanto lagrimas acumulava no seu rosto.
— Mentira, você está mentindo para mim! Léo seu mentiroso! Eu não acredito em você! Me leve de volta a fortaleza! Seu idiota! — Ham gritava e xingava.
Ele cerrou os punhos, e, tomado pela raiva, desferiu um golpe forte na cabeça de Ham. Enquanto sua mente começava a se apagar, ele ainda ouviu:
— Nem consegue ver a fortaleza queimando, seu idiota.
O que ele está dizendo?
Ham despertou novamente, mas desta vez permaneceu no mesmo local onde havia caído antes. Olhou ao redor e avistou os gêmeos juntos. Uma sensação de alívio o preencheu, e ele começou a correr em direção a eles. No entanto, ao se aproximar, seus olhos se fixaram à distância: a fortaleza estava em chamas.
— Quê? O que está acontecendo?
Ele olhou novamente para os gêmeos, e a incredulidade tomou conta dele. Loi estava estrangulando seu irmão sem qualquer remorso. De repente, uma energia negativa começou a fluir do corpo dela para Léo. Atônito, Ham perguntou:
— Demônios?
Os gêmeos o encararam, e um sorriso enigmático se formou em seus rostos ao perceberem sua presença. Lentamente, começaram a se aproximar. Ham, naquele instante, percebeu com uma sensação crescente de desespero que aquelas pessoas diante dele não eram as mesmas que ele conhecia.
— Demônios…
Ele caiu no chão, suas pernas incapazes de se mover. Arrastando-se com as mãos, ele tentou retroceder, mas Loi logo correu até ele, segurando sua cabeça com força. Ham, em meio à dor, chorava, impotente diante da situação. O medo o dominava.
Em um movimento rápido, Loi levou a mão ao seu peito. Naquele instante, Ham sentiu a morte se aproximando, mas estranhamente, não havia dor. A mão dela atravessou seu corpo, como se sua existência fosse uma ilusão. No entanto, ela parecia desaparecer, sem deixar vestígios.
A mão que ainda segurava sua cabeça se fechou com um gesto brusco, e ele caiu no chão. Seu corpo começou a desaparecer, aos poucos, como se fosse uma sombra que se esvaía. Os gêmeos se entreolharam, confusos e sem entender o que acabou de acontecer, enquanto Ham sumia por completo.
Ele abriu os olhos novamente e, ao olhar ao redor, viu um rosto conhecido. No entanto, ao recordar seu último instante, um medo visceral tomou conta dele. Seu corpo reagiu automaticamente, afastando-se com rapidez, como se quisesse fugir daquela realidade.
— Dam? — perguntou Ui.
— Dam? Dam… Eu sou…
Naquele momento, memórias antigas invadiram a mente de Ham. Ele logo percebeu que, há séculos, havia sido conhecido como Ham, mas agora, naquele instante, seu verdadeiro nome era Dam — um nome que muitos ainda reconheciam.
— Não faz sentido… isso foi séculos atrás…
Ele não conseguia acreditar, mas as memórias começaram a preencher as lacunas de suas dúvidas. Havia algo que se conectava, mas uma parte de sua mente se recusava a aceitar: ele havia vivido na mesma época que os gêmeos.
O que aconteceu comigo nesses séculos ausente?
— Ham? — Loi perguntou.
Dam a olhou nos olhos, sua expressão tensa, e perguntou:
— Quem de fato é você? Por que tenho memórias desse tal de Ham? Me diga, agora!
— Que mal-educado. Ela te salva e é assim que você a recompensa? — Idalme disse, a frustração transbordava.
— Salvou minha vida?
— Sim, o teu corpo estava desaparecendo um minuto atrás. Se não fosse por ela, agora estaria morto ou algo muito pior.
— Como assim desaparecendo? Eu não estou entendendo… — Dam balbuciou.
Antes mesmo de completar seu pensamento, uma memória surgiu repentinamente. Ele lembrou de antes de ser morto por Loi: seu corpo estava diferente. Não havia dor, nem ferimentos. Estava inteiramente intacto.
Eu desapareci?
— Eu sei que é confuso, mas acho que tenho uma ideia da causa do seu desaparecimento por séculos — comunicou Loi.
— Então vamos retomar. — Max disse, sua voz impaciente. — Já perdemos tempo demais com isso.
Ui se aproximou dele, segurou suas mãos com cuidado e disse:
— Que bom… que bom que você está bem. De repente, você desmaiou e começou a desaparecer. Não sabíamos o que fazer.
Naquele momento, Dam sentiu uma intenção opressora, como se os olhos de alguém o esmagassem. Imediatamente, afastou a mão de Ui e agradeceu:
— Obrigado por se preocupar.
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