Capítulo 26.4 — A Terra de Batalhas Ferozes

Tradutor: Asu | Editor: Asu

O dia da destruição de Erin também marcou o fim de Camelot.

Naquele dia, todos os países dentro de Erin, incluindo a Terra da Escuridão, haviam sido destruídos sob as tempestades de fogo de Surtr.

Onde o rei não podia proteger seu país e seus cidadãos, os cavaleiros também falharam em proteger seu rei.

Todos eles haviam desaparecido em fumaça e cinzas.

Ou tinham?

Houve, de fato, sobreviventes em meio à poeira.

Um sobrevivente, para ser mais preciso.

Tae Ho piscou.

Adenmaha e Siri também o fizeram, e também não foi exceção para Ingrid, Bracky e Harabal.

“He… da?”

A voz de Tae Ho estava fraca. Foi precisamente devido à mulher que se materializou diante deles depois que ele ativou sua Saga.

O capacete e a armadura decorados em asas.

O cabelo imaculado e sombreado rubi.

Aos olhos de todos os presentes, era inequivocamente Heda; no entanto, Tae Ho foi rápido em perceber que a Heda na frente dele não era a que ele conhecia. Embora seu sorriso fosse incomum por alguém ter sido convocado tão inesperadamente, Tae Ho tinha certeza por uma razão diferente.

Através de sua visão, essas palavras verdes brilhantes flutuaram calmamente acima da cabeça da falsa Heda.

Cu Chulainn também havia percebido que esta Heda não era real através de um método diferente. Era fácil perder com todas as semelhanças, mas a aura que ela emanava era seguramente mais fraca do que a de Heda. Chamá-lo de uma cópia desleixada não seria um eufemismo.

[Então é uma convocação… Não, não deveria ser chamada de anjo da guarda?]

O Heda na frente deles era uma recriação, formada pela Saga.

Ingrid percebeu a verdade após Cu Chulainn.

De uma perspectiva diferente, não era incomum alguém formar armas usando uma Saga. Ingrid relembrou a história de um guerreiro de alto escalão que uma vez convocou um exército usando o poder de sua Saga durante a Grande Guerra.

Ainda assim, era difícil aceitar a situação atual tranquilamente.

Ingrid bateu os lábios e depois explicou sua compreensão aos outros guerreiros.

Esta era uma Saga que poderia invocar uma Valquíria.

Ingrid ainda se convenceu ao explicá-lo ao resto.

A origem de uma Saga foi derivada da história por trás dela.

No entanto, parecia que o significado da Saga de Tae Ho estava com ele encontrando uma Valquíria, não a identidade real da própria Valquíria.

A própria razão pela qual ele havia convocado um anjo da guarda em vez de uma verdadeira Valquíria era testemunho dessa noção.

Por outro lado, Tae Ho olhou para as palavras verdes em cima da falsa Heda com uma expressão duvidosa.

“Por que ela é chamada de Valquíria Um?”

Se houvesse um “um”, não haveria também um “dois”?

Tae Ho concentrou sua mente na Saga recém-formada. Sua compreensão de sua própria história, que havia começado a transcender para o status mitológico, logo se desencadeou a partir de então.

Sem aviso, uma nova Valquíria apareceu ao lado da falsa Heda. Ingrid, que estava no meio de uma explicação, de repente parecia que seus olhos iriam sair de suas órbitas. Harabal e o resto também revelaram expressões chocadas.

[Meu Deus! Você está montando um esquadrão de Valquírias?]

Cu Chulainn gritou incrédulo enquanto o sorriso deslumbrante da falsa Valquíria mantinha um forte contraste com o rosto da verdadeira Ingrid.

O Guerreiro Que Se Encontra Com Valquírias.

Supostamente, o número de Valquírias que ele poderia registrar era de nove.

Ao mesmo tempo, ele levantou a hipótese de que o número de Valquírias invocáveis aumentaria à medida que ele se tornasse mais forte. Ainda…

“Ela definitivamente não se parece com Heda.”

As cópias de Heda e Ingrid eram meio transparentes como fantasmas, e suas auras eram muito fracas.

[O número de reuniões e bênçãos… ou afeto… Enfim, essas variáveis também contam?]

De repente, ele entendeu por que não conseguia invocar Rasgrid ou Gandur. Nenhuma delas jamais se levantou para encontrá-la.

“Guerreiro Tae Ho, o que é isso?”

Os olhos de Ingrid estavam colados em sua cópia, e ela falou com uma voz desorientada. Com base no brilho em seus olhos, ela já havia compreendido sua pergunta, mas parecia não estar disposta a aceitar sua conclusão.

Não era só ela. Bracky e Harabal também estavam implorando por uma explicação com olhos sérios, então Tae Ho decidiu elaborar.

Era uma Saga que poderia criar cópias menores das Valquírias com quem ele tinha uma conexão.

Ele podia invocar um máximo de nove Valquírias, e era até possível invocar várias de uma só vez.

“Bom Senhor.”

Harabal olhou para a falsa Heda e Ingrid com um rosto distraído. Ao lado dele, o espírito de Bracky fora claramente movido.

“Mestre das Valquírias!”

Era um título engraçado que Bracky abruptamente deixou escapar do nada, mas realmente se adequava a Tae Ho. Bracky estava ficando claramente extasiado com sua própria ideia, e ele balançou o punho e exclamou.

“Certo! Tae Ho, a partir de agora, você é o Mestre das Valquírias! Você embarcará em uma jornada para reunir todas as Valquírias de Valhalla… kuk!”

“Eu— Me desculpe! Aconteceu no reflexo.”

Ingrid fez Bracky tropeçar ao agarrar seus tornozelos e prontamente se desculpou com uma voz confusa. A julgar pela sua atitude, ela parecia ter agido puramente por hábito.

“É… é incrível em vários níveis.”

Siri comentou, seus olhos mornos. Adenmaha então fez uma pergunta enquanto beliscava as bochechas da falsa Heda.

“Você não pode me convocar também?”

“Você disse que não era uma Valquíria.”

“Isso mesmo, mas……”

Adenmaha fez uma pausa, e seu rosto inexplicavelmente se eriçou quando ela deu um passo para trás.

Siri sorriu para Adenmaha antes de se virar para Tae Ho.

“Elas têm capacidades de batalha?”

“Sim, provavelmente.”

A cópia de Heda tinha a taxa mais rápida de recriação. Ele queria testar sua destreza de batalha e examinar sua capacidade de autocontrole.

“Estou com ciúmes.”

“Eu também quero fazê-las…”

Harabal e Bracky não puderam deixar de gemer e revelar suas opiniões honestas. Os guerreiros restantes do mundo mortal também tinham rostos de extremo respeito.

Mas naquele momento-

“Mestre?!”

A timidez de Adenmaha desapareceu, e ela gritou alarmada. Sem aviso, uma luz forte surgiu da Unnir que pendia na cintura de Tae Ho.

Havia mais. Inexplicavelmente, Tae Ho sentiu o Fragmento da Espada Desconhecida começar a vibrar violentamente em sua bainha. Foi a mesma sensação que ele sentiu ao descobrir Gae Bolg pela primeira vez.

Tae Ho apressadamente abriu a boca da Unnir e percebeu que as Liberatus dentro estavam, de forma bastante chocante, explodindo de energia.

Ingrid agarrou sua espada reflexivamente, mas Adenmaha rapidamente a impediu.

“Pare! É o poder de Erin. Não é um inimigo!”

A aura era incrivelmente brilhante. Era uma energia que parecia capaz de erradicar toda a escuridão em todo o mundo. Um sentimento estranho tomou conta do grupo.

Não durou muito, no entanto. Depois de um momento, a luz desapareceu e as Liberatus voltaram aos seus estados anteriores.

[Merlin.]

Cu Chulainn comentou. Adenmaha febrilmente assentiu como se de alguma forma o tivesse ouvido e falado.

“Tenho certeza de que é Merlin, já que foi ele quem fez aquelas Liberatus. Senhor Mestre, ele deve ter percebido que alguém havia recuperado a Liberatus de Kataron. Isso! Tenho certeza que deve ser isso. Merlin- Ele está vindo para encontrá-lo, mestre!”

Suas palavras eram uma bagunça de excitação, mas todos entendiam seu significado bem o suficiente.

Cu Chulainn também concordou.

[É exatamente como Adenmaha disse. Merlin está, sem dúvida, procurando por você.]

Ingrid inclinou a cabeça em confusão, e Siri a levou de lado para explicar brevemente o que havia acontecido em Nidavellir. A apreciação logo se tornou aparente no rosto da primeira.

Tae Ho respirou fundo e desconvocou as duas cópias de Valquíria. Ele pegou sua Liberatus e acalmou sua excitação, embora não fosse uma coisa fácil de realizar.

Era Merlin! Ninguém menos que Merlin de Camelot! De todas as pessoas, ele era alguém que corria em direção a eles para encontrá-lo.

Tae Ho olhou para o Liberatus, e seus olhos brilharam com antecipação.

Os cavaleiros de Camelot falharam em proteger seu rei.

Os Cavaleiros da Távola Redonda, os guardiões protetores de Camelot, não estavam isentos desta declaração.

No dia da destruição de Erin, a maioria dos Cavaleiros da Távola Redonda foram totalmente derrotados, caídos ao lado de seu rei.

Quanto aos poucos que mal conseguiram escapar, seus esforços contínuos para proteger Asgard foram de curta duração.

Eles, que haviam sido privados de seu rei, de seu povo e até mesmo do reino que haviam jurado defender, continuaram lutando como os Cavaleiros do Ramo Vermelho fizeram sem levar em conta suas próprias vidas. Em sua dor, eles logo caíram um após o outro durante as batalhas finais da longa guerra.

Assim, as almas remanescentes dos Cavaleiros da Távola Redonda foram extintas.

Após sua morte, os últimos vestígios de cavaleiros acabaram desaparecendo do mundo.

Mas a verdade era diferente, pois ainda permanecia um.

Havia um único e solitário cavaleiro que havia sobrevivido, e o espírito de Camelot prevaleceu, queimando ferozmente dentro de sua alma.

O grupo de Tae Ho decidiu adiar a continuação de sua jornada.

Isso porque eles haviam percebido o quão perto Merlin estava, já que a luz da Liberatus havia se tornado muito brilhante e intensa.

Bracky, que era conhecedor da geografia de Midgard, propôs que havia uma grande possibilidade de Merlin ter viajado através de um canal de água que se conectava a Kataron.

Como a direção que Adenmaha havia sentido era da mesma direção aproximada de Kataron, o palpite de Bracky tinha uma alta confiabilidade.

Percebendo isso, Ingrid não demorou a enviar corvos para notificar Rasgrid e Kaldea de seu adiamento. Ela então enviou outro corvo em direção a Kataron para analisar a situação.

No terceiro dia, Ingrid ficou certa da chegada iminente de Merlin; embora, não tenha sido devido a qualquer resposta do corvo.

Nos últimos dias, Liberatus tornou-se semelhante a uma bússola, brilhando cintilantemente em uma direção específica e quase parecendo pulsar com uma luminosidade crescente.

Não houve enrolação. A chegada de Merlin estava próxima.

Havia uma alta probabilidade de seus caminhos se sobreporem, então o grupo de Tae Ho não fez nenhum movimento precipitado. Eles permaneceram perto do rio e esperaram pacientemente por Merlin.

Finalmente, em seu quinto dia de espera pela chegada de Merlin-

O corvo de Ingrid relatou a aparência de um homem velho em um navio.

Os sentimentos do cavaleiro solitário por Camelot tinham sido mais fortes do que os de todos os outros.

Devido a seu amor, cada dia após a destruição de Erin fora brutalmente esculpido em sua alma.

Devido a sua miséria, ele não deixou de notar a luz que parecia capaz de queimar todas as trevas do mundo. Não conseguiu.

Devido a sua paixão, o cavaleiro avançou dia e noite para recuperar a glória de Camelot mais uma vez.

Muito acima deles, um corvo escuro perfurou silenciosamente o ar. Normalmente, teria sido muito difícil identificar um corvo voando no escuro da noite, mas esse não foi o caso de Merlin. Para ele, a escuridão era tão clara quanto qualquer dia.

O sorriso de Merlin era brilhante quando ele sacudiu levemente seu cajado. O vento que não havia cessado por cinco dias cresceu várias vezes para aumentar ainda mais a velocidade de sua embarcação.

“Eu posso ver um navio!” gritou Bultan. Helga se agarrou ao mastro e olhou ao longe. Um sorriso brilhante, rivalizando com o de Merlin, apareceu em seu rosto, pois ela se lembrava vividamente do navio pirata voador que havia navegado por Kataron.

“Senhor Guerreiro de Idun!”

Helga acenou com a mão e riu. Bultan balançou a cabeça como se suas ações interferissem em seu orgulho como guerreiro, e Merlin também riu antes de dar uma tragada em seu cachimbo. Embora tivesse perdido a capacidade de expressar alegria como Helga, ele estava verdadeiramente muito animado.

Sucessor de Erin.

Quem ele poderia ser? Onde ele recebeu tal título?

A julgar pelas palavras de Helga e pelas dos guerreiros de Kataron, parecia que ele não era um mau sujeito. Não, Merlin gostou bastante do homem de fato.

Enquanto isso, o navio pirata voador também os havia avistado.

A boca de Merlin logo se abriu em surpresa. Foi porque havia uma Deusa de Tuatha De Danann ao lado do homem que se presume ser o guerreiro de Idun.

Ela não era uma Deusa forte capaz de rivalizar com os Deuses principais, mas ela era uma Deusa real de Tuatha De Danann.

Merlin sentiu seu rosto ruborizar. Seu coração batia de tal forma que não batia desde a aniquilação de Erin.

Foi precisamente devido a essas emoções que ele não conseguiu senti-lo adequadamente.

Quando ele percebeu, já era tarde demais. Até mesmo os guerreiros de Valhalla tinham sentido isso mais cedo.

“Helga!!”

O grito de Tae Ho quebrou o clima como um trovão. Ele chutou com força no ar e avançou enquanto Adenmaha rugia e se tornava uma feroz serpente marinha. Bracky e Harabal explodiram em movimento, e Siri lançou flechas com sua besta.

Helga chicoteou a cabeça tarde demais quando, do nada, um ataque monstruoso de repente sobrecarregou os que estavam a bordo. Para a consternação de todos, o ataque cruel dividiu o navio e o rio abaixo dele em um único movimento fluido. O agressor, quem quer que fosse, continha um nível horrível de poder.

O navio condenado começou sua agonia de morte quando Helga engoliu um grito, cambaleando pesadamente por ter sido pega de surpresa.

Seu agressor; ele era alguém que há muito tempo se fundira na escuridão.

Alguém que agora parecia canalizar a própria noite.

Ele estava adornado com uma armadura preta com um capacete que obscurecia todo o seu rosto; no entanto, Merlin soube imediatamente sua identidade.

Como não poderia, pois a espada que brandia era prova suficiente por si só.

O cavaleiro facilmente desviou a flecha de Siri e pousou no chão, prontamente balançando sua espada pela segunda vez.

Merlin, cujos olhos transbordavam de lágrimas, abriu a boca e jurou angustiado.

Ele gritou o nome do cavaleiro em uma voz de selvageria. Uma voz consumida pela raiva e tristeza em meio a uma miríade de outras emoções.

Os feitos do cavaleiro solitário haviam sido esquecidos pela maioria.

Ele havia ficado do lado dos gigantes no dia da destruição de Erin. Ele levantou a espada lendária, Clarent¹ e derrubou o Rei Arthur.

Talvez o mais infame, ele fora o primeiro e último Cavaleiro da Távola Redonda a trair Camelot.

O nome do cavaleiro… era Mordred².

1. Clarent é uma espada lendária na mitologia arturiana. Na lenda, ela é a espada do traidor [nome do traidor é mostrado abaixo] e é frequentemente retratada como uma espada gêmea de Excalibur, a lendária espada do Rei Arthur. Clarent é geralmente vista como um símbolo da traição e da queda do reino de Camelot.[↩]
2. Mordred é um personagem da lenda arturiana, geralmente retratado como o filho ilegítimo do Rei Arthur e sua meia-irmã, Morgana. Ele é frequentemente descrito como um vilão, que conspirou contra o rei e o levou à sua morte na batalha de Camlan.[↩]