Índice de Capítulo

    Os olhos do Perez se arregalaram tanto que dava pra ver direitinho a forma redonda das pupilas vermelhas.

    Ele ali na minha frente, um cara que expressa muitas emoções, mas fazia tempo que não via uma cara tão surpresa.

    Enquanto eu encarava o novo visual do Perez, ele me encarava em silêncio.

    A sala ficou num silêncio comprido.

    — Nossa…

    Abri a boca pra falar alguma coisa, mas só saiu essa exclamação.

    — Perez, você…

    Como é que a mudança de cor de cabelo pode mexer tanto com o humor de alguém?

    Foi uma tintura que dei a ele por curiosidade, mas não sabia que ia fazer tanto efeito assim.

    Mas uma coisa era certa.

    — Se você for loiro…

    Não consegui. As próximas palavras simplesmente não saíram.

    Foi mesmo o que engoli.

    Não era saliva.

    — Hmm.

    Tossi um pouco e dei uns passos pra olhar o rosto do Perez mais de perto.

    Tinha um pessoal ao redor com cabelo loiro.

    Eram só os gêmeos naquele momento.

    Mas ninguém tinha um loiro tão platinado como o do Perez hoje.

    Talvez por isso.

    — Seus olhos tão mais parecidos com rubis, viu?

    Os olhos vermelhos dele, que sempre achei cor de sangue, hoje pareciam rubis bem brilhantes.

    E cada vez que ele piscava, o loiro vinha descendo devagar e suavemente.

    — Ficou sexy.

    Por um instante, os olhos do Perez brilharam de riso e ele inclinou a cabeça.

    Não, o que tô falando?

    — Não, quer dizer, bonito, sim, loiro combina bem com você.

    — … obrigado.

    De alguma forma a voz do Perez ficou mais baixa, como a de um cara cansado.

    — Tia, você…

    Um olhar vermelho sutil passou pelo meu rosto.

    Claro, só um olhar parecido com o de sempre.

    Por que é tão difícil encarar?

    — Acho que a cor original do cabelo da Tia é melhor.

    — … é estranho?

    — Não. De jeito nenhum. É só que, esse visual é um pouco…

    Perigoso.

    Não tô enganada.

    Claramente é ‘perigoso’ agora…

    — Vamos descer pra jantar?

    O Perez disse isso e naturalmente me escoltou.

    No momento em que falei ‘Uhh’, ele suavemente me empurrou e fomos.

    Espera aí, espera aí.

    Acho que a comida não é o problema agora.

    Nos acomodamos no restaurante no térreo do hostel.

    Ficou decidido que seria melhor terminar a refeição logo e descansar bem porque tenho que pegar a estrada de novo amanhã cedo.

    — O cardápio é bem mais variado do que eu imaginava.

    Enquanto falava, dei uma olhada no Perez através do cardápio.

    Ah, é estranho.

    Como pode um cara que conheço desde criança parecer tão diferente só porque mudou a cor do cabelo?

    Mas quando parei pra pensar, percebi que não era só a cor do cabelo.

    Desde que saí da mansão Lombardi, o Perez estava com uma aparência diferente a cada momento.

    Por exemplo.

    — Vai querer pedir algo?

    — Tem algum prato que recomenda?

    Essas conversas habilidosas com o funcionário do restaurante.

    Talvez fosse o Perez, que tinha bem mais experiência no mundo do que eu.

    Sim, eu sei disso.

    Mesmo assim, era estranho.

    Bati os dedos na mesa tentando descobrir a origem desse sentimento.

    — O cardápio é o nosso menu especial, e o molho apimentado é excelente.

    O Perez me olhou por um momento e respondeu à explicação do funcionário.

    — Exceto comida apimentada…

    — Não, eu gosto de comida apimentada.

    Costumava ser coreana, afinal.

    — Essa comida é muito apimentada?

    — Dá pra ajustar de acordo com o gosto do cliente. Quer pedir pra cozinha deixar apimentado?

    — Sim. Por favor, faz isso. Faz tempo que não como algo bem apimentado.

    — … vou pegar isso.

    Quando o funcionário que anotou o pedido do Perez voltou, ele me encarou e perguntou.

    — Gosta de comida apimentada…?

    — Sim, adoro.

    — Desde quando?

    Desde quando mesmo?

    — Desde criança.

    — … não sabia disso.

    Perez tocou a boca como se estivesse um pouco bobo.

    Toc, toc.

    Ainda batucava a mesa com os dedos.

    — Por que achava que a Tia não aguentava comida apimentada?

    — É o mesmo pra mim.

    Ao dizer isso, que quebrou um pouco o ritmo da conversa, Perez me olhou com seus olhos vermelhos, um pouco escurecidos pela luz.

    Assim.

    Por que achava que ele era ruim em lidar com pessoas?

    Perez Brivachau Durelli é aquele que pode conquistar qualquer um se precisar.

    Toc.

    Um batidinha um pouco mais forte do dedo na mesa, e perguntei de repente.

    — Que tal uma bebida, Perez?

    Pensando bem, nunca sentei cara a cara com ele pra tomar algo.

    Na melhor das hipóteses, sempre foi uma refeição leve antes de comer juntos.

    Mesmo depois de tanto tempo conhecendo um ao outro.

    — … alcool?

    — Sim, álcool.

    Respondi, olhando a lista de bebidas que o funcionário tinha deixado.

    O preço era bom e o sabor parecia ótimo.

    — A gente nunca bebeu juntos, né? Vamos fazer isso hoje.

    E talvez a gente descubra um lado novo um do outro.

    Perez, olhando pra mim com uma expressão um pouco contida sobre o que ele estava pensando, logo abriu um sorriso.

    — Tia, não sabia que você bebia álcool.

    — Bebia bastante com a família. Especialmente, Gillieu e Mairon são meus parceiros de bebida.

    Como sempre, os gêmeos combinavam comigo na hora de beber.

    — Que tal isso?

    Perez, ao ver o nome da bebida que apontei, perguntou de volta.

    — Vai aguentar? Essa é bem forte.

    — O que acha? Sou boa de copo?

    — … sim, vamos experimentar.

    No momento certo, pedi uma bebida para o funcionário que trouxe a comida.

    E a refeição com álcool começou, e antes que percebesse, o fundo do copo estava aparecendo.

    — E aí, o que achou? Tô bem, né? Falei que aguentava.

    — Sim.

    — Ah, não tá divertido porque ainda tô bem. Mas, sabe, Perez.

    — Hmm.

    — Por favor, para de mexer na mesa. Tô ficando tonta.

    Enquanto apontava para a mesa balançando de um lado para o outro e fazia uma careta, Perez sorriu e respondeu.

    — Okay. Desculpa.

    — Sabe que fica bonitinho quando é gentil assim.

    Ele é tão bonito que nem consigo ficar brava.

    — Quase todas as garrafas estão vazias. Vamos pedir mais uma?

    — Não, vamos só terminar isso por hoje.

    — Por quê?

    — Eu… achei que ia ficar bêbado.

    — Agora é fraco pra bebida, é?

    Perez riu novamente diante da minha pergunta, e logo balançou a cabeça.

    — Sim. Na verdade, não sou bom nisso.

    — Aff. É, sempre tem alguma coisa que a gente não faz bem. Entendo, irmão mais velha.

    — … haha.

    Ele de repente cobriu a boca.

    Depois, perguntou, os olhos levemente franzidos.

    — Irmão mais velha?

    — Claro! Irmão mais velha!

    — Okay. Irmão mais velha.

    — É sério mesmo, irmão mais velha.

    Perez, concordando com a cabeça, se inclinou mais perto de mim com os cotovelos apoiados na mesa e me encarou sorridente.

    — Haha.

    — O que foi, tô engraçada?

    — Hmm, Tia é fofa, não, é bonita.

    — Bonita… hum, você sabe, eu falo isso desde criança, mas quando uma criança tão bonita como você fala assim, parece que tá tirando sarro de mim.

    — Estou falando sério. Aos meus olhos, você é a mais bonita, Tia.

    — O quê, o que é isso?

    De repente, estava ficando quente por alguma razão.

    — Pra um loiro desses! Não dá pra só piscar e falar isso com uma cara tão colorida.

    Disse, beliscando uma das bochechas do Perez.

    — O coração da irmã mais velha está batendo mais rápido, entendeu? É isso que estou dizendo!

    — … ha.

    Perez parecia sem palavras por um momento, mas com um suspiro baixo, murmurou ‘… colorida’, e então secou o rosto.

    — Tia.

    — Huh?

    — No futuro, beba só comigo.

    — Só com você? Claro, é claro.

    Concordei feliz.

    — Mas por que está bravo? E fazendo careta!

    Estendi a mão e pressionei firmemente entre suas sobrancelhas.

    Então, como se tivesse sido isso, as rugas na testa do Perez desapareceram.

    — Hey, era isso.

    — … tá me deixando louco.

    — Oh, de novo! Está franzindo a testa de novo! Você não está ouvindo! Por que está tão bravo?

    — Não estou bravo. Como eu ficaria bravo com você.

    — Então o que é isso?

    — Só… porque acho que outras pessoas não viram uma figura tão bonita assim…

    Acho que ele disse mais alguma coisa.

    Estranhamente, não consegui ouvir bem.

    — O quê?

    — Vamos subir agora?

    — Oh, está com sono, né? Tudo bem, se estiver, essa irmã mais velha vai cooperar de novo.

    — Sim, irmã mais velha.

    — O quê?

    — Nada.

    Tenho certeza de que tinha algo.

    Levantei-me da cadeira, balançando a cabeça que não estava funcionando bem, talvez devido ao cansaço da viagem acumulado.

    — Ah, não mexe na mesa.

    — Desculpa.

    Segura na minha mão.

    — Oh, meu Perez, você é tão bonito, vou te perdoar.

    — Haha.

    Por alguma razão, o Perez explodiu em risadas.

    E quando olhei para ele, não entendi por que, mas também comecei a rir.

    — Hehe, vamos lá, vamos para a cama, Perez! Você tem que ser mais alto!

    Foi uma coisa muito estranha.

    Parecia uma distância curta quando desci.

    O caminho de volta para o quarto parecia uma eternidade.

    Quando finalmente cheguei ao quarto e abri a porta.

    — Uau, o que é isso?

    Enquanto comia por um tempo, o pessoal do hostel parecia estar lá.

    — Sim, somos recém-casados.

    Eu sempre esqueço.

    Sem perceber, soltei a mão do Perez e entrei no quarto.

    Nesse meio tempo, ouvi o som da porta batendo atrás de mim.

    — Bonito.

    O quarto estava iluminado com delicadas velas e pétalas espalhadas sobre a cama.

    Assim como quando o Perez mexeu na mesa um tempo atrás, o chão balançou, e o centro do meu corpo se inclinou para frente.

    Assim que fechei os olhos pensando que ia cair, pude sentir mãos firmes me segurando.

    Abri os olhos devagar.

    — Perez.

    — Huh.

    — Está perto?

    — … sim.

    Seu cabelo loiro e olhos vermelhos de rubi estavam bem na minha frente.

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