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    Esse ultimo mês foi bem fodido. Não tive tempo quase nenhum pra escrever.

    — No meu apartamento? — Kawadark perguntou, estranhada. Cruzou os braços e, com a sobrancelha sobressaltando, continuou: — O que você quer fazer no meu apartamento?

    — Não é nada de mais. Só que eu tava num hotel de rico até pouco tempo atrás, saca? Bateu uma saudade do luxo. Vai me dizer que uma criadora de conteúdo tão famosa quanto você não mora num lugar luxoso?

    — O problema não é esse. Sabe o quão importante é essa informação? Da última vez que descobriram meu endereço, pessoas acamparam na minha rua por dias! Não posso correr esse risco novamente. 

    Axel revirou os olhos. Colocou as mãos atrás da cabeça e disse, irônico:

    — Então deixa eu ver se entendi, você tá disposta a vir aqui, sem maquiagem alguma e me dizer seu nome verdadeiro, mas ir pra sua casa já é demais? Tô acostumado com gente burra, porém vou te dizer, você tá subindo na lista hein. 

    — Eu nunca falei o meu nome. 

    — Fernanda Lira. 

    Aquelas palavras não puderam ser respondidas com outra coisa senão um espanto. Uma falta de ar preencheu seus pulmões, uma ansiedade que a muito não sentia. 

    — Como você…?

    — Qual é, sério? Você me conta uma história pessoal demais para ser de outra pessoa, basicamente confirma ela e depois fica surpresa? Acha que eu não fiz uma pesquisa antes? Puff, a Baret tá tendo concorrência, hein. 

    — Então é isso? Sua tática vai ser chantagem?

    Axel soltou o sorriso irônico e se apoiou a mesa, aproximando-se um pouco mais de Kawadark e fechou seu semblante. Com uma voz séria, disse, cheio de certeza:

    — Estou falando que você já está depositando sua confiança em mim, querendo ou não. Agora, se você quer que eu confie em você, vai precisar mostrar um pouco mais de serviço. É isso, ou nada feito.

    Fernanda deu um suspiro e olhou ao redor. Custou para responder, muito menos falar qualquer coisa. Após alguns segundos de pensamento incessante, confirmou com a cabeça. 

    — Tá — disse, simplesmente — pode ser. Mas sem truques. 

    — Então a gente vai agora?

    — Não. Tenho algumas coisas pra preparar, me encontra daqui a duas horas… Vou mandar o endereço por mensagem. 

    — Beleza, eu te encontro lá. 

    Sem despedidas, Fernanda jogou algum dinheiro a mesa, levantou e saiu. Axel ficou lá por mais alguns minutos, comendo para a compensar a falta de um almoço decente nos últimos dois dias. Quando se levantou pra sair, notou algo estranho: um homem, um tanto familiar, levantou-se da sua mesa no mesmo momento. 

    Axel começou a andar sem rumo na rua, desconfiado, e suas suspeitas estavam se confirmando: aquele homem estava o seguindo. Um belo dum idiota. Deu um suspiro e entrou num beco qualquer. Quando o homem foi logo atrás, Axel o imobilizou e o jogou no chão. 

    — Que porra é essa, hein? — Axel perguntou — tá achando que eu sou idiota? Que eu não ia perceber que tava me seguindo?

    — Porra… Ferrei com tudo…

    — Ferrou pra caralho! Agora adianta que eu não tenho o dia todo: quem te mandou? E por quê?

    — Foi a Simone! — Nem ao menos tentou esconder. — Ela mandou te procurar e te seguir, disse que era pra descobrir o quê você tava planejando! 

    Não sentiu nenhuma surpresa. Um pouco de raiva, talvez, mas não o suficiente para estragar uma semana que já estava fodida. 

    — Me dá o seu celular. 

    — Quê?

    — Dá a porra do seu celular!

    O homem pegou do bolso o seu celular, com tela toda trincada e suja. Axel tirou da mão e, sem hesitar, jogou com toda a força contra uma parede, estilhaçando o aparelho.

    — Qual é! Eu ainda tava pagando esse celular!

    — Escuta aqui, James Bond. — Axel pegou o homem pelo colarinho, e o olhou nos olhos. — Você vai voltar pra casa, e ficar lá. Se te perguntarem do porquê você não fez o seu trabalho, diz que torceu o pé ou sei lá, entendeu? — Foi respondido por uma cabeça balançando em sinal de sim. — Agora, vaza daqui. 

    Soltou ele e ele só saiu correndo. Axel deu um suspiro, por um minuto, pensou em cancelar a entrevista, pressentindo que ia dar merda. 

    — Mas vai ser suspeito pra caralho… — passou a mão pelo moicano, pensativo. Não levou muito tempo para chegar numa conclusão: — Foda-se. Quem não arrisca não petisca. 

    Não iria desanimar por isso. Tinha um plano e, mais ainda, um objetivo. Desistir agora seria o pior que poderia fazer.

    . . .

    A chuva tinha voltado a todo vapor, e mesmo assim, eles tiveram que ir a pé, sem estragar a maquiagem. Foram algumas horas de preparação e pesquisa, mas a Carreta conseguiu achar alguém de influência que morava lá: um antigo executivo da Water, que tinha saído recentemente para formar a própria empresa. 

    Achar o número dele não foi difícil, ainda mais fazer contato: estava indo tão mal que atendeu o primeiro telefonema, desesperado por qualquer migalha de dinheiro.  

    O pequeno grupo de Émile, Quincas e Arya estava todo arrumado. Émile usava um vestido azul, tal qual maquiagem pesada, Arya uma camisa social e jeans e Quincas pegou as roupas de Axel: seu blazer e óculos escuros, vestindo-se de guarda.

    Formaram um plano que, na opinião deles, não poderia dar errado: fazer uma “parceria” com o executivo e o convencer a fazer uma sessão de fotos no elevador. Com isso, iriam para a cobertura e Quincas faria sua mágica. Baret e Nil ficariam de fora, especificamente para Baret não fazer besteira.   

     Chegando ao prédio, o hall de entrada era quase uma entrada de prisão de segurança máxima: era cheia de câmeras, sensores de movimento e alarme. Eram dois recepcionistas que, pelo que pareciam, usavam armas e colete a prova de balas. Émile respirou fundo e, se aproximando da recepção, falou no tom mais rico possível:

    — Tenho um horário marcado com o Sr. Moeira, do andar vinte e três. Avise-o que cheguei, agora mesmo, de preferência. 

    — Sim, senhora. — A recepcionista nem tentou criar problema. Pegou o telefone e discou o número. Quando confirmou com o Moeira, fez um “sim” com a cabeça. Émile já estava indo para a secção de elevadores, mas a recepcionista a interrompeu: — Preciso que deixe todas as armas aqui. 

    Émile travou na hora. 

    — Como é? Eu sou uma gunslinger! E meu guarda também é! Nosso porte de arma supera qualquer restrição…

    — Não aqui, temos acordo federal para proibir entrada de armas no nosso condomínio. Se não, aqui não seria um local de segurança máxima, não é? 

    — Você sabe quem eu sou? — Émile se aproximou da recepcionista, encarou o olhar de confusa dela e respondeu para si mesma: — Parece que não! Eu sou Émilie Antoinette Dayone, esse nome te lembra algo?

    — A… comissão diplomática?

    — POIS É! Atentaram contra a minha vida, contra a do meu irmão e de muitos colegas! E você quer que eu me arrisque ficar armas? Pois pode esquecer! Avise pro Moeira que eu não vou mais, e explique em alto e bom-tom que eu não entrei, pois você não me deixou entrar!

    — Senhora, é política do prédio…

    — Adeus! — Émile se virou, Quincas e Arya, mesmo que confusos, seguiram o teatro. Quando chegou a porta, ouviu um:

    — Espera! 

    Deu um sorriso por um segundo, mas voltou ao semblante sério. Se virou e perguntou:

    — O que foi? Meu tempo é valioso! 

    — Eu vou desativar os sensores, pode passar, mas só dessa vez!

    Nem respondeu. Apenas jogou o cabelo para o lado com um sorriso convencido e foi em direção aos elevadores, Arya e Quincas foram logo atrás. Quando entraram no elevador, Émile começou a respirar pesado, triunfante.

    — Caramba… eu consegui! 

    — Pera, você nunca fez isso antes? Sabe… Agir que nem babaca? — Quincas perguntou. 

    — Nunca! Eu tinha minhas empregadas pra fazer isso por mim… Nossa, fiquei com um pouco de dó pela moça…

    — Relaxa, você só tava fazendo o que precisava fazer. Embora eu pudesse ter feito isso de uma forma mais delicada… 

    — Por que não fez, então?

    — Agora sou um guarda, né? Tinha que deixar você brilhar!

    — De toda forma, esse executivo… Conhece ele? 

    — Lembro do meu irmão ter falado dele. É um cara meio babaca, só liga pra dinheiro e é super convencido, mesmo não sendo nada de mais. Mas é pro melhor, eu acho. 

    Após o elevador dar um tranco, ele finalmente chegou ao andar. A porta abriu lentamente, revelando um pequeno corredor de não mais de um metro e a porta que dava para o apartamento, já aberta. Lá estava Sr. Moeira, um homem acima do peso, com o cabelo dando indícios que estava prestes a cair e sorriso amarelo. 

    — Bem vindos! Entrem, entrem! — Dando espaço para eles passarem, o grupo entrou no apartamento luxuoso. Estava bem claro que tinha sido arrumado as pressas, Arya conseguia ver uma sujeira ou outra no chão. — Confesso que sua mensagem foi uma surpresa. Uma surpresa bem-vinda, diga-se de passagem. 

    — Sabe como é, a Water sempre segue uma linha de ação pouco previsível. 

    — Sei sim. Mas creio que isso tenha a ver com os recentes acontecimentos? — Sentando-se numa poltrona, Émile e Arya sentaram-se no sofá, enquanto Quincas se manteve de pé, com cara de mau. — Quem seria a dama que lhe acompanha?

    — Deixe-me apresentar-lá: essa é Arya, também conhecida como Duone. Talvez você conheça o trabalho dela com esculturas. 

    — Creio que já ouvi falar…

    — Ótimo, então deve saber que o senso artístico dela é dos melhores… Por isso, a Water Inc. contratou ela para fazer nosso projeto de reinauguração. 

    — Projeto de reinauguração?

    — Sim. Nós levamos um golpe pesado nesses últimos tempos… Mas queremos mostrar que estamos mais forte do que nunca, que nossos funcionários, nossa história não está abalada. E bom, mesmo que você não faça mais parte da empresa, ainda faz parte da história dela. Por isso, gostaria de pedir sua permissão para fazermos uma estátua sua. 

    Os olhos de Moeira brilharam, ele deu uma risada animada e, empolgado, confirmou com a cabeça. 

    — Eu não poderia ficar mais honrado! Como vai ser o processo?!

    — Bom, se quisermos, podemos começar as primeiras etapas agora mesmo! — Arya disse, tirando um lápis e um bloco de notas. — A primeira parte é sempre preparar o terreno, então se você poder posar enquanto eu o desenho, ficaria muito grata. 

    — Além disso… Eu gostaria de fazer uma sessão de fotos com o meu guarda aqui. — Émile apontou para Quincas. — O prédio é perfeito para o que imagino, tem como nos dar acesso ao elevador?

    — Ah, claro! Pode tirar as fotos enquanto a sua amiga faz os preparativos. Mas antes disso… Por favor, aceitem uma bebida, é o mínimo que eu posso fazer!

    Os três se olharam. Perder tempo era o que menos queriam agora, ou melhor, era o que menos poderiam fazer naquela situação, mas negar seria suspeito demais. Tinham que fazer ele se sentir tão confortável ao ponto de não suspeitar de nada. 

    Émile deu um sorriso amarelo e aceitou. 

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