Um mês ruim, um término e desânimo num geral. Isso foi o que causou eu ficar tanto tempo sem postar, e de certa forma, escrever um cap que eu considero curto. Não posso dizer que estou 100% melhor, e que vou voltar a postar na mesma frequência de antigamente, mas pelo menos estou capaz de escrever novamente.
Capítulo 25 – Por livre e espontânea pressão
Foram flashes de luzes aleatórios, visões sem sentido; mas ele lembra claramente de ter visto meia duzia, talvez uma dezena de pessoas pulando ao lago, tudo isso para salvar ele. Depois disso, mais e mais flashes, sensações, fosse de dor ou alívio, secas e molhadas.
Por bem ou por mal, Atlântis foi salvo mais uma vez.
Não sabe por quanto ficou inconsciente, apenas que foi posto para dormir a força, dopado com mais drogas que se infundiam em seu corpo, faziam seu cérebro delirar e então, dormir. Foi como viver num mundo de sonhos, e mesmo assim querer acordar, só que algo não permitia; o máximo que podia fazer era ficar flutuando entre o estado de “acordar” e “adormecer”.
Tudo isso durou não se sabe quanto tempo, talvez tenha sido semanas ou apenas um dia. Atlântis apenas sabia que uma hora, acabou. Ele acordou uma vez e não sentiu seus olhos tão pesados ao ponto de o por para dormir mais uma vez. Estava lá, consciente, vivo, capaz.
As enfermeiras entravam em seu quarto e agiam como sempre, numa gentileza quase forçada e estupidez quase ofensiva. Médicos viam vez ou outra checar como ele estava. Ninguém respondia suas perguntas e, muito menos, ousavam comentar sobre sua tentativa de suicídio. Não é como se negassem que tinha acontecido, só simplesmente ignoravam.
Foi assim por três dias inteiros; onde mais e mais testes foram feitos. Até que no quarto dia, ele entrou no seu quarto.
Com os óculos de sempre, olhar cansado e sorriso sútil. O mesmo homem daquele dia; Loid III. Não foi realmente uma surpresa ver ele, talvez Atlântis apenas não esperava que ele viesse conversar assim tão cedo. Algo lhe dizia que, por conta disso, a situação era muito pior do que realmente esperava.
— Como você está, Atlântis? — Loid perguntou. Aproximou-se lentamente dele e, sentando numa cadeira ao lado da cama, continuou: — Espero que tenha conseguido relaxar, descansar um pouco. Você deu um susto bem grande em todo mundo.
Não conseguiu responder de primeira. As palavras não sairiam de sua boca. Atlântis estava, pela primeira vez em muito tempo, assustado. Seus olhos automaticamente passaram pelos seus braços e pernas, ou melhor, para onde eles deveriam estar.
Loid, é claro, percebeu o terror camuflado nos olhos do jovem.
— Calma, calma. Não tenho intenção de fazer nenhum mal a você, nem tentamos machucá-lo. Eu entendo perfeitamente como deve estar se sentindo. — Sentando-se numa cadeira ao lado da cama de Atlântis, Loid ajeitou o óculos. — Na verdade, pode-se dizer que salvamos a sua vida.
— Me salvaram…?
— Você deve se recordar do ataque ao seu barco quando a comissão diplomática de Orfenos estava saindo de Romaniva. Pelo menos flashes, não é?
— Lembro, sim.
— Então sabe que o responsável pelo ataque foi Raimunda. O que não sabe, e o que eu vou falar não é uma certeza, apenas uma teoria… o responsável por fazer Raimunda e a Wild Hunt irem atrás de você, e de mim também.
— Quem?
— Pelas minhas investigações, e pelos acontecimentos recentes, tudo me leva a crer que o chefe de segurança da sua empresa, Lazlo Armstrong, foi quem pôs uma recompensa pela sua cabeça, também foi quem colaborou com ela para invadir nossa reunião.
Aquilo não fazia sentido. Ou melhor, fazia tanto sentido que não poderia ser outra coisa do que uma mentira bem elaborada, uma manipulação por parte do governo inimigo.
— O que está acontecendo? Quais são esses “eventos recentes”?
— Bom, veja você mesmo… — Loid pegou o controle da televisão do quarto e, com alguns cliques, pôs em algo que Atlântis gostaria que fosse pura edição.
Era uma declaração de guerra. Não. Em melhores palavras, era uma declaração de destruição. Poderia ser a destruição de Benzaiten, ou talvez de Orfenos, quem sabe talvez apenas do presente como conheciam, ou no pior e no mais provável dos casos, de tudo.
Estudou a história da humanidade, pois sempre foi curioso sobre a natureza humana, Atlântis queria tentar entender o que, normalmente, não poderia. Mas o resultado disso foi apenas péssimo; alguns até mesmo diriam que seria desdém pela humanidade em si, pela própria coisa que chamam de “coração humano”.
Atlântis sabia; ele tinha certeza: aquela declaração de guerra seria o fim. A mais estúpida forma de Lazlo alcançar os seus objetivos, seja lá qual forem.
— Não houve conflito armado até agora. Nós e o governo de Romaniva estamos tentando negociar com o governo de Lazlo, embora não tenha tido muito sucesso.
— O que você espera mostrando… Não, o que você espera me mantendo vivo? Me usar de refém?
Loid deu um suspiro. Levantou-se da cadeira e andou um pouco pelo quarto, imaginando como falar o que estava prestes a propor.
— Lazlo tem muito poder político. Com toda certeza, ele planejou isso bem e tem muitos aliados. Mesmo com você tendo a influência que tem, você seria incapaz de evitar esse conflito. No melhor dos casos, você é irrelevante, no pior e talvez no provável dos casos, será morto e usaram sua morte para alavancar ainda mais a guerra, como já estão fazendo.
— Vá direto ao ponto.
— Vamos colaborar. Volte para Orfenos, tente reconstruir seu reinado político mais uma vez. Só que em vez de fazer isso sozinho, tenha o completo apoio de Benzaiten, com todos os seus recursos. É claro, por baixo dos panos…
— E?
— E você nos ajuda com a guerra, caso tenha. Nos dará informação, fará apoio, seguirá ordens se necessário.
— Ser o seu espião, em resumo. Esse é o seu preço. Quer que eu colabore com a unificação também?
— Isso seria te forçar a ajudar na unificação. Se eu precisar forçar a unificação, então a guerra é sinceramente mais fácil. Talvez, com um pouco de sorte, você entenda que a unificação vai ser para o melhor. Na verdade… eu espero que seja assim. — Loid sentou-se na cadeira mais uma vez. — Tudo que eu peço agora, é ajuda para evitar uma guerra. Tenho certeza que isso é do seu interesse, também.
Atlântis não sabia o que responder. Talvez apenas não tivesse o que responder em primeiro lugar. Aquilo era ao menos uma escolha? O que aconteceria com ele se simplesmente negasse?
Loid mantinha aquele rosto pleno, aquele sorriso sútil. Só que isso não o enganava: ele era um líder como qualquer outro, aquele que está disposto a fazer o que bem precisar para alcançar seus objetivos. Seguir suas ordens ou ser um refém, essa era sua real escolha.
— Em Romaniva, ter encontrado o meu corpo deve ter te deixado muito feliz — Atlântis comentou — Você sabe que eu não tenho escolha de verdade.
— Eu realmente entendo que acha que sou uma espécie de vilão; mas saiba que estou fazendo o que é melhor pra todos; e isso também inclui você.
“Quantos ditadores já falaram algo assim?”, Atlântis pensou. Deu um suspiro longo e fechou seus olhos. Imaginou tudo que poderia perder, tudo que estava em jogo. Sua vida, sua cidade, sua família e… Mais ainda, uma aparência vazia de uma pessoa que não conseguia preencher, mesmo sendo importante.
Nunca foi alguém que almejou fazer o bem. Era pessimista demais para almejar mudança e com isso tornou-se parte do próprio problema. Então apenas almejou recordar a história, se pudesse mostrar a história como é, como foi…
Só que o homem que estava em sua frente, o homem que prometia o melhor não faria isso. Quanto tempo até o presente que viviam ser recordado como uma fábula? Um conto de fadas? Todos os seus sacrifícios…
Mas para isso… Eles precisavam ao menos chegar no futuro.
— Tudo bem. Eu faço isso.
O sorriso sútil alargou-se.
— Fico feliz que podemos colaborar. Deixarei você descansar; os preparativos serão feitos.
Loid levantou-se e foi até a porta. Parou por um segundo, como se estivesse com algo na ponta de sua língua, mas não disse nada. Atlântis ficou ali, não que tivesse outro lugar para ir. E por um instante…
— Vendi minha alma para o diabo.
… Deixou-se ser sincero apenas uma vez.
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