Capítulo 10 (Parte 2) - "Você veio"
A centenas de metros dali, quando a voz eletrônica ecoou pelo ouvido de Elliot, seu sorriso singelo e simples se esvaiu. Abaixou a cabeça levemente, de forma que na perspectiva de Baret, o chapéu tinha cobrido completamente os seus olhos.
Ele não disse mais nada. Fez somente um movimento rápido com suas mãos para pegar a slinger e apontar contra Baret. Ela não ficou parada; antes que levasse um tiro no peito, colocou as mãos por baixo da mesa e a empurrou para cima.
Elliot foi esperto o suficiente para não desperdiçar um tiro naquilo. Deu um passo para trás e um chute poderoso na mesa, empurrando-a a vários metros, levando Baret junto.
Os gritos dos civis dominavam o ouvido de todos, a música de fundo cantada por Simone, parou. Os guardas do restaurante tentaram bancar os heróis, alguns deles avançando contra Elliot buscando desarmá-lo, outros tentando atirar nele.
Fracasso.
Os dois guardas que tentaram desarmá-lo levaram um tiro no peito, e o sangue que saia de seus corpos era dominado pelo feitiço de Elliot, servindo de barreira contra as munições comuns disparadas contra ele, também sendo usadas como ofensiva aos guardas que disparavam de longe. Em um segundo, todos aqueles guardas estavam mortos.
Após acabar com os guardas, concentrou o sangue que estava controlando em uma pequena esfera e direcionou ela ao palco, preparando-se para matar de uma vez Simone. Para sua surpresa, ela não estava mais lá. Antes que seus olhos pudessem perambular pela sala, procurando seu alvo, ouviu um assobio.
Instintivamente sua cabeça girou para o lado esquerdo, perto da mesa que tinha jogado com Baret junto. Tomando como parte de cobertura, ali estava Simone já com a sua slinger em mãos, mirando aquele lança-míssil em Elliot. Sem perder tempo, atirou.
Num movimento de mão desesperado, liberou toda a pressão que tinha na esfera de sangue, criando uma barreira improvisada. Talvez não fosse o suficiente para aguentar o poder da explosão, mas talvez fosse o suficiente para sobreviver. Na metade do caminho, entretanto, o míssil se desfez em água e tomou forma: a forma de quatro tubarões líquidos.
Um dos tubarões misturou-se com o sangue, fazendo ambos perderem a estrutura e caírem no chão, os outros três, por outro lado, avançaram ferozmente contra Elliot.
O homem do chapéu se jogou para trás, desviando da mordida de dois dos tubarões enquanto outro o acertou uma pancada na barriga. Se levantou o mais rápido possível. Os tubarões não o atacaram, começaram a circular como se fosse uma presa.
De trás da mesa, saiu Baret, com alguns hematomas, mas bem. Tirou o revólver e apontou para Elliot; ao lado dela, Simone, recarregando sua slinger.
— Tu tá cercado! Não adianta lutar, e daqui a pouco um seu ‘poliça’ que algum civil chamou vai chegar! Fez o movimento errado!
Elliot ajeitou a postura, ficou reto e com uma expressão calma, deu um suspiro longo. Baret sabia que estava planejando algo, atirou duas vezes, mas ambas ele desviou como se fosse nada.
— Simone!
— Sim, sim! — Deu o comando para os tubarões o atacarem novamente. E numa velocidade surpreendente, talvez igual metade de uma bala, avançaram com suas bocas cheias de dentes. Elliot desviou, ou melhor, sobreviveu. Os tubarões conseguiram mordiscar partes do seu corpo, tirando-lhe a roupa e a sua pele.
Mas ele deu um sorriso, um sorriso de raiva.
— Ninguém destrói a minha roupa!
Tirou do cinto um frasco de sangue, jogou no ar e disparou contra ele. Ativando seu feitiço, o sangue se espalhou como se fosse uma espécie de névoa avermelhada. Ambas as mulheres perderam ele de vista. Baret se ligou na hora.
“Vai tentar ferrar o Axel?!”
Preferiu não arriscar. Tomou toda a coragem que tinha e torceu muito para que aquele sangue não tivesse nenhuma doença transmissível. Avançou na névoa avermelhada e saiu pela porta do estabelecimento. Vendo o vulto do homem de chapéu indo até o estacionamento, começou a segui-lo.
Uma perseguição de alguns minutos começou e terminou. Quando ambos estavam no estacionamento, frente a frente, Baret conseguia ver Émile caída no chão, a alguns metros de Elliot. Ele não perdeu tempo, recarregou a arma, Baret fez o mesmo e tomou cobertura num carro.
“Sem sinal do Axel, a Émile no chão… Ele fez algum portal e não conseguiu levar ela? Um aliado desse cara, talvez a mina com Sniper? É, deve ter sido isso… Mas se ele fez um portal, para onde foi…? Será que…?”
Parou de pensar quando uma “bala” de sangue acertou o carro que estava tomando cobertura e quase perfurou sua cabeça.
— Não tenho tempo para isso! — Levantou e disparou, fazendo Elliot desviar da bala. Tomou esse leve intervalo para pular sobre o carro e se aproximar pouco a pouco. — Cadê a porra da Simone?!
Quando viu um tubarão de água passando sobre sua cabeça, pensou consigo mesma: “bem, isso responde à pergunta”.
Elliot usou o sangue que estava controlando para bloquear o tubarão. Com a água e sangue se misturando, ambos os feitiços pareciam se cancelar. Podia ser bom, a depender de quantos carregamentos Simone tivesse, poderia passar sobre ela.
O problema era a quantidade de sangue.
Tinha apenas alguns frascos de sangue consigo, pelo menos alguns litros; e parecia precisar da quantidade de sangue equivalente a um frasco para acabar com um tubarão. Tirou mais um frasco, disparou nele e o controlou.
Vendo Simone sendo seguida de mais dois tubarões, disparou dardos de sangue de alta pressão contra ela, que teve diversos problemas para desviar daqueles dardos; alguns a acertaram em cheio. Não foi suficiente para perfurar sua carne, mas o suficiente para machucar.
Tomou cobertura num carro, e então…
— Porra de salto! — Tirou o salto alto que estava vestindo, e gritou: — Baret, faz alguma coisa aí!
— Vou fazer o que, porra?! Tu que é a gunslinger aqui!
— Ta foda, hein… Cade o teu empregado?!
— Boa pergunta!
A centenas de metros ali, no quarto de hotel não mais vazio, havia duas pessoas: um guarda-costas com a perna furada, e uma caçadora de recompensa que achava que não podia usar sua slinger.
Após muito se encarar, avançaram um contra o outro. As lâminas cortavam o ar com movimentos rápidos e precisos. Ambas as partes tinham suas próprias vantagens; Ramona sua velocidade, Axel seu alcance. Mas era mais que um fato que aquela luta não iria durar muito, com ambos se expondo em perigo daquela forma, cedo ou tarde seriam acertados por um golpe letal.
Axel foi o primeiro a perceber que, com aquela ferida em sua perna, com o sangue que estava saindo, seria o primeiro a morrer. Após dar um corte horizontal, deu uma joelhada com a perna boa, fazendo Ramona ter que recuar alguns metros.
Aproveitou para recuperar um pouco seu fôlego. Tinha que vencer logo, se não, estava ferrado. A única vantagem que tinha é que Ramona não estava usando a slinger, ao menos, ainda. No momento que ele usasse algum portal ou bala comum, isso é, no momento que Ramona percebesse que ninguém de fato iria ouvir o disparo, era morte certa.
Precisava de um portal perfeito, de uma estratégia que iria funcionar. Era hora de fazer o truque que estava escondendo. Guardou suas espadas na bainha, e segurou o cabo da slinger, preparando-se para sacar sua espada.
Mas Ramona não esperou; fez um movimento que ele achou inusitado: lançou a faca dela contra ele, de forma tão rápida e precisa que acertou sua outra perna em cheio; ele caiu no chão. Não perdeu a oportunidade, Ramona correu até ele, pegou sua faca e o olhou de cima, apontando a lâmina a ele.
— Acho que a faca é melhor.
Axel segurou sua expressão de dor. Deu um suspiro e colocou um sorriso provocante no rosto.
— Tem que ser muito burra para achar isso. — Ramona recuou na hora quando percebeu que ele estava puxando sua slinger, acreditando que ele iria tentar perfurar-lá; mas não. Disparou uma única vez no chão e cortou o espaço; fazendo um portal para um lugar bem distante, fora dos confins da cidade.
O sorriso se expandiu mais ainda, pois um dos às de sua manga revelou-se: colocou a mão dentro do portal, e como se fosse um frisbee, arremessou ele até a Ramona. O portal em si não saiu do chão; mas tirou completamente o chão de Ramona, que não conseguiu desviar a tempo: acabou caindo no portal.
Quando caiu de vista completamente, Axel colocou a slinger na bainha novamente, fechando o portal.
— Vitória… — Relaxou completamente. — Ainda bem que ela foi burra….
Iria dormir ali mesmo se pudesse, mas a dor nas suas pernas estava forte demais e o sangramento era preocupante. Se levantou com muita dificuldade, foi até o banheiro e pegou o kit MED, sentou-se no chão, tirou a camisa e colocou aquela caixa sobre seu peito. Apertou o botão.
Um choque passou sobre seu corpo, sua cabeça sentiu-se engraçada. E num passe de alguns minutos, a sensação passou; e suas pernas estavam novinhas em folha, sem marca alguma de tiros, nem mesmo cicatriz.
— Odeio essa porra… Parece que meu QI baixa uns cinquenta por cento… — Levantou-se ainda meio zonzo e pegou a slinger da bainha novamente. — Vamos pegar a dorminhoca logo, se pá devo avisar pra Baret que deu merda… Vamos ver, o estacionamento era… Ah, sim, fácil de lembrar.
Disparou na parede do banheiro e colocou a espada no espaço. Cortou ele e fez o portal exatamente onde estava o carro que Émile tinha sido metida. Se deparou com uma cena bem curiosa: Émile caída no chão, um homem de chapéu preto pouco a frente dela, Simone com uma bazuca e pés descalços, Baret segurando seu revólver toda ensanguentada.
Tudo parou. Todos olharam para o portal que tinha acabado de se formar. O vento soprou.
— Ai merd… — Axel tentou fechar o portal, mas Elliot foi rápido. Entrou do portal, e deu um golpe de karatê em Axel, lançado para fora do portal enquanto soltou sua slinger; deixando-a no banheiro. Quando Axel caiu no chão do estacionamento, o portal se fechou.
— Porra! — Baret se aproximou, deu uma conferida em como Axel estava e gritou. — Por que CARALHOS o seu portal fechou no pior dos momentos…
— Meu portal fecha se a slinger não tiver na minha mão ou tiver na bainha… Ô soquinho forte, hein…
— Porra… Tá, não tenho tempo para isso… — Pegou o celular o mais rápido possível, ligou para Arya imediatamente. Em um minuto, ela atendeu.
— Alô? Baret? Tudo cer…
— Escuta, um dos caras da Wild Hunt tá aí no hotel, eu não sei onde exatamente, mas ele está no hotel. Se o elevador estiver vindo pro andar que vocês tão, já sabe! Enche de pipoco! O Axel idiota perdeu a slinger, a gente vai tentar chegar aí o mais rápido possível. Aguenta o tranco!
— Hã? Hã…. Tá, ok! Vou me preparar aqui, não se preocupem!
Arya desligou o celular e pegou a pistola; foi diretamente para a sala em frente ao elevador. O modo de “não-perturbe” deveria ser o suficiente para garantir que o elevador não pudesse abrir naquele andar. Talvez fosse outra pessoa, talvez fosse o tal sequestrador.
Não importava. Tinha prometido que iria garantir que a tal Destroyer não fosse pega, e estava disposta a cumprir aquilo. Apontou a pistola para a porta do elevador e se preparou para o pior: um confronto. Um silêncio se instaurou pela sala.
O único som que havia era do elevador se movendo. Seu coração não estava batendo forte, pelo contrário, estava terrivelmente calma. Bastava saber quem era, e se fosse o inimigo, iria atirar. Simples assim.
O elevador parou naquele andar.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.