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    A vista de cima daquele hotel era melhor que qualquer outra vista da cidade alta de Orfenos. Ao menos, era isso que Émile conseguia pensar. Sentada em uma cadeira de plástico, perto da beira do topo do prédio, conseguia ver todos os distritos residenciais e partes dos distritos industriais. 

    Um momento de inspiração bateu em seu coração. Colocou a mão no bolso, esperando pegar o seu celular e tirar uma foto. Mas….

    — Ah, é, o celular quebrou quando o Axel me soltou no estacionamento… De novo… — Fez uma cara inconformada, os ombros ficaram tensos por um segundo. Mas após um breve suspiro, decidiu apenas continuar olhando aquela vista. 

    Pois, uma vez que se virasse, uma vez que se movesse, mudando apenas um centímetro… Aquela visão não seria mais a mesma. Perdida, para sempre. 

    Ficou assim por longos minutos, até ouvir o elevador atrás de si, abrindo. Manteve-se firme para não se virar. Com os passos se aproximando, começou a se sentir ansiosa, com algum medo. Tudo isso se foi quando ouviu a voz.

    — Oi Émile. — Era a voz de Quincas Borba. — Sei que você disse querer ficar um tempo sozinha, mas… Faz uma hora já, então vim ver como você estava. 

    Émile se despediu daquela vista. Fechou os olhos e virou o rosto para trás, ficando surpresa com algo: Quincas tinha em mão uma cadeira de plástico também. 

    — Por que trouxe uma cadeira? — perguntou. No fundo, estava segurando a risada, tinha achado aquilo inesperado. 

    — Ah, sabe… Pensei que poderia querer conversar né. Ai já me adiantei. Posso me sentar?

    — Pode sim. 

    — Ótimo! 

    Quincas deu um sorriso animado e colocou a cadeira de plástico ao lado da garota. Sentou-se, e apoiou os cotovelos nos seus joelhos. Ficou boquiaberto. 

    — Sabe… Eu tava olhando essa vista antes, depois que o cara fugiu. E olhando agora, de novo… É impressionante. 

    — Para ser sincera… Também é uma das primeiras vezes que eu vejo algo assim. — Émile, por sua vez, parecia um tanto quanto distante. 

    — Sério? Pensei que isso fosse uma vista comum de onde vem. Cidade alta de Orfenos e tudo mais. 

    — Bem, é que a cidade alta de Orfenos fica literalmente em cima da cidade baixa. Então exceto se você vá para borda olhar o pouco que sobra da cidade para ver. Tudo que tem vista é um longo, imenso verde de planície… Ou o azul do lago, também. 

    — Entendi… Ainda assim, deve ser uma baita visão. 

    — Deve ser legal para quem não é de lá, mas para mim que já está acostumada? Acaba sendo a mesma coisa. É como… sempre ver o deserto, no seu caso?

    — Bah! Nunca fui pra um deserto. Não daqueles que são puras dunas — Quincas corrigiu, Émile fez uma cara confusa — pera, tu acha que tudo fora das cidades é deserto? Ha! Não, não! É meio seco, sim, mas é geralmente várias e várias planícies de grama. 

    — Sério?! Eu sempre achei que era tudo meio desértico, que nem nos filmes de velho oeste da Terra!

    — Até tem seus desertos perto da fronteira, mas lá é barra pesada até para mim. Ouvi umas histórias sinistras sobre lá!

    — Imagino! Eu adoraria visitar esses lugares fora da cidade…. Mas… — O sorriso que tinha se esvaiu, o corpo começou a tremer. Engoliu a seco a saliva. — Para ser sincera… Eu tava pensando, sabe? De… ir com a Carreta, viajar pelo mundo. Mas vocês vão ser mercenários não é? Esse tipo de coisa, esse perigo… ia ser algo diário. 

    Quincas conseguia perceber os olhos de Émile enchendo-se de lágrimas. Hesitou um pouco, mas descansou sua mão sobre as costas dela e dava leve tampinhas. 

    — Calma, calma! Agora está segura. Sei que passou por muita coisa, mas esse tipo de coisa não irá acontecer mais.

    — Eu sei… Eu… espero. É só que parece que o sonho se quebrou. Vale a pena ir atrás de algo quando se bota o pescoço em risco? Eu tive sorte dessa vez, e se eu não tiver na próxima? E se eu levar uma bala perdida?! O que eu faço?

    O homem pensou um pouco. Conseguia sentir a tristeza, a confusão, o medo. Aqueles sentimentos, tão usuais para si, tão diluídos pela bebida e a adrenalina; batiam com força na garota. Um pássaro que estava tentando sair do ninho, sentindo a dor de abrir as asas pela primeira vez. 

    — Meio difícil dizer. — Passou a mão pela própria barba. — Não sei exatamente o que você quer, em primeiro lugar. 

    — Ah… Sei lá. Não sei o que quero pra minha vida. Acho que justamente por isso que eu queria sair, viajar pelo mundo. Tentar descobrir o que eu quero, quem sabe conhecer algo novo, algo tão belo que a minha vida gira em torno disso. Mas agora que tive um gostinho do que seria, me pergunto se vale a pena? O que eu faço, Quincas?

    — Bom… Eu sou meio suspeito de te falar isso, mas vou ser bem sincero com você: não há nada realmente belo lá fora. 

    — Hã?

    — As vilas selvagens, a natureza… As pessoas em si. Essas coisas são perigosas, e podem, sim, matar você caso não seja cuidadosa. E pessoalmente? Não vejo beleza na fatalidade. 

    — Então é inútil?

    — Não disse isso. Há coisas que são perigosas lá fora, sim. Mas não é tudo que há, o mundo é muito maior do que se pensa. Talvez não haja beleza intrínseca nas coisas, mas a beleza no que sentimentos sobre isso. Isso, sim, vale a pena.

    — Não sei se tô entendendo direito…

    — O que eu quero dizer é que… Olha, você tá com medo, e tudo bem-estar. Todo mundo tem medo de morrer. Mas o medo não anula o desejo, e se tu quer ir viajar pelo mundo, tipo, viajar de verdade… Pegue a oportunidade quando aparecer. Se não for agora, o desejo não vai sumir. E vai sempre pensar: “e se eu tivesse ido?”. Claro, caso sinta que ainda não está pronta, você pode tomar essa decisão outro tempo, mas não será a mesma coisa, seja pro bem ou para o mal.  

    — Não, não… Tu tem razão. Mas eu também sei que a Baret nunca me aceitaria no grupo. Então acho que o jeito é voltar para Orfenos, começar a treinar e quem sabe daqui a um tempo, achar outro grupo. 

    Quincas deu uma risada. 

    — Acho que ela te aceitaria sim! Sem querer ofender, ela me parece do tipo que aceitaria qualquer pessoa, contanto que ela realmente queira vir. 

    — Acha? Eu não sou muito útil. Eu sei atirar! Sei atirar até que bem. Mas numa outra pessoa…? Isso eu nunca tentei. Nem sei se consigo também. 

    Quincas deu um suspiro misturado com uma risada. Levantou-se da cadeira, estalou as costas. 

    — Que tal eu só chamar a chefia para conversar sobre? Ela tem certamente a palavra maior que a minha. 

    — Errr, eu não sei… Não quero incomodar ela. 

    — Relaxa! Sério, fica aí que eu já volto! 

    — Pera, calma!

    Quincas não perdeu mais tempo mesmo com os protestos de Émile. Foi até o elevador e desceu os andares, enquanto deixou Émile para trás, com cara de cachorrinho abandonado. Tinha certeza que tudo daria certo, mas quando a porta do elevador abriu, teve uma vista que não foi uma surpresa. 

    — Não é sustentável cara!

    — Mas o processo é?! Você é tá sendo maluca!

    — Não tô sendo não! Tô sendo esperta! Pensa um pouco com a cabeça, porra!

    Axel e Baret, como sempre, discutindo. Sentados no sofá, Arya e Simone. Quincas ficou ali, em frente ao elevador observando a briga, até que finalmente decidiu intervir. 

    — O que tá acontecendo?! — gritou, fazendo os dois voltarem seu olhar ao homem. Axel foi o primeiro a falar. 

    — Fala para ela, Quincas! Fala como que vai dar merda a gente tentar esconder o sequestro do Atlantis! E pior ainda: pedir pra ELA esconder! Imagina se ela conta pra ele como a gente não só falhou…

    — Não! — Baret interrompeu. — Não importa como ele descobrir ou não, se a gente falar, tamo ferrado! Tanto eu quanto você! Pensa um pouco com o cérebro, cara. Que mal faz a gente esconder? Ela ta segura agora!

    — Que tal…

    — CHEGA! — Quincas gritou mais alto ainda — sério, a garota acabou de ser resgatada, ainda ta malzona, e vocês discutindo o que é melhor pra vocês? Ela nem tá pensando se deveria contar ou não, pelo contrário, ela quer entrar pra carreta!

    — Hein? — os dois falaram isso ao mesmo tempo. Arya e Simone também ficaram surpresas e até um tanto quanto confusas. 

    — Ela quer entrar? — Arya repetiu — ela falou isso?

    — Bom… Mais ou menos. Disse que tava pensando em entrar antes, mas agora que deu todo esse lance do sequestro e tal, não tem certeza. Não por conta do sequestro em si, mais… pelo perigo, saca? 

    — Em resumo, não, ela não disse isso — Simone corrigiu — até falaria que o mais sábio seria assumir a responsabilidade, mas se vocês assumirem, eu provavelmente não vou ganhar o meu dinheiro, nesse caso…

    — Nem começa essa discussão! — Quincas apontou para Simone. — Eu nem sei direito o porquê de você estar aqui em primeiro lugar, mas tanto faz. O importante é deixar a garota em paz e bem. Em relação a isso… Ela quer falar com você, lá no terraço. — Quincas apontou para Baret, que respondeu da forma mais natural que podia: 

    — O porra. 

    — Ha! Sabia que iria ter essa reação. — Axel deu uma risada. Sentou-se numa das poltronas e colocou as mãos atrás do pescoço, fazendo pose relaxada. — Bom, vai lá chefia. 

    — Tu não tava contra isso até agora não? — Baret questionou. Cruzou os braços esperando resposta, mas nada. Deu um suspiro e olhou a Quincas. — Ela realmente quer ir falar comigo?

    — Querer ela quer, mas tem medo de ser incômodo. Dito isso… Vai conversar com ela, vai! Não queima o meu crédito. 

    A garota deu um suspiro, pôs as mãos na cintura e pensou um pouco. Todos estavam olhando para ela, não havia forma de recusar. Nesse caso então…

    — Certo. Eu vou falar com ela. Fiquem aqui. 

    Não esperou mais um único segundo, subiu com o elevador até a cobertura apenas para achar um absoluto nada. Nenhuma alma viva. Tudo que havia era duas cadeiras de plástico na borda. 

    — Ué… Ela saiu? Hm, será que foi pro quarto dela? — Colocou no queixo e pensou. Era o mais provável, embora tivesse uma intuição dizendo que não, que seria, na verdade, em outro lugar. — Será que…?

    Talvez fosse improvável, mas entrou no elevador de novo e foi ao subsolo, onde ficavam os andares da piscina. E seu palpite estava curiosamente correto. Na borda da piscina, olhando a água se mover, estava Émile, que ainda não tinha percebido que Baret estava ali. 

    Estava pensando no que fazer, até que teve uma ideia um tanto divertida. Foi lentamente se aproximando, com os passos mais silenciosos que poderia produzir. Quando chegou ao seu alcance, deu um sorrisinho e empurrou Émile na piscina. 

    — AI! — O som do susto abafado pelo splash de água. Mas não demorou muito para emergir, tossindo água. — QUE PORRA FOI… Ah, oi, Baret. 

    — Eaê. Pensei que estaria lá no terraço. Como está?

    Émile pensou antes de responder, até chegar na palavra correta:

    — Encharcada. 

    — Justo, mas e aí? Por que veio aqui?

    — Ah é… Que… eu… Eu tentei fugir. Sabe?

    — Fugir? Pera, fugir de mim? Haha! — Baret deu uma risada sincera. Tirou os tênis e sentou-se na borda, colocando os pés na água. — Por quê?

    Émile deu um suspiro. Mesmo arrepiada por sentir todas as suas roupas molhadas, começou a flutuar na água e a olhar o teto. Após isso, respondeu: 

    — Só não queria fazer você perder tempo. Não é o tipo de coisa que você precisa ouvir, não é? Então… Só queria evitar. 

    — Não preciso ouvir. Mas eu quero, então diz aí? O que tu tá pensando?

    Émile desviou o olhar. Parou de flutuar e foi até a escada da piscina. Subiu ela lentamente e se aproximou de Baret. Encaram-se por um segundo em silêncio, até que do nada… Émile empurrou Baret com o pé, fazendo-a cair na piscina. 

    — PORRA! MINHA ROUPA! — Baret emergiu o mais rápido possível. 

    — Agora, sim, estamos quites. Mas bem… Vamos conversar em outro lugar. 

    Baret foi a borda e saiu da piscina. Respirou um pouco. 

    — Onde? 

    — Deixa eu ver… Bem, tem um dos andares da piscina que eu não fui ainda, é um toboágua de boia, bem grande. Acho que ele inteiro é equivalente a uns três andares. 

    — Como diabos um hotel tem um negócio desse no subsolo? Mas tá. Bora. Já tô molhada mesmo. 

    Com as duas com a roupa pingando, foram ao elevador e colocaram no penúltimo andar do subsolo. Após cerca de um minuto do elevador descendo, chegaram. Se tratava de uma sala pequena, não muito maior que metade de um quarto do hotel. Havia somente duas coisas: um buraco na parede, onde era o começo do tobogã, e uma pequena piscina com várias boias. 

    Não perderam tempo. Pegaram uma das boias para duas pessoas, e colocaram na entrada do tobogã. Mas nada aconteceu. 

    — E aí? — Baret perguntou. 

    — Errr… Tem que apertar aquele botão ali. — Apontou a um botão que era fora da entrada. Baret bufou, se levantou e preparou-se: quando apertou o botão, saiu correndo e pulou em cima da boia, para que não fosse deixada para trás. Frente a frente, esperaram. 

    Uma corrente de água começou a sair e pouco a pouco empurrar a boia. E numa questão de alguns segundos estavam começando o percurso. As primeiras partes do tobogã eram um corredor colorido. 

    — Foram dias legais, sabe? — Émile começou a falar — fazer amizades é difícil, principalmente quando se é rico. Mas com você, Quincas e Quebrador de celular… Foram dias incríveis. Eu sempre estava tranquila, sempre estava ao redor de pessoas genuínas que eram elas mesmas. Senti poder ser eu, eu poderia sorrir, dizer o que quiser. 

    — Foram dias legais para mim também. Mas acho que pelo seu tom, há mais coisa não é? 

    Saíram do corredor de água e caíram numa espiral escura com diversos pontos brilhantes, como um mar estrelado. De olho a olho, os olhos vermelhos refletiam ao azul de Émile. 

    — É. Eu podia ser quem eu era, mas o que é ser eu? Quem eu sou? Eu não sei e não sei como dizer. Você me disse antes que sempre soube o que você queria, mas isso vale ao mesmo para o “você”? Você sempre foi quem você foi?

    — … Ninguém nasce sendo a si mesmo. Pessoas se montam, depois se destroem e reconstroem. Nós criamos a partir das peças que temos em mão, algumas pessoas têm mais opções que outras e outras nascem apenas com um punhado. — Os olhos vermelhos desviaram-se. Focando na espiral de água, disse com convicção: — Eu sempre soube o que eu quero. Mas eu nem sempre fui eu. Eu sou quem sou, pois, quero algo… Baret Leone é Baret Leone, pois tem um sonho. Foi assim que eu me montei. — E então, olharam ao fundo de Émile. 

    — Mas como fazer isso, se eu não sei de nada…? 

    — Você sabe de algo. O problema é outro, não é? — Caindo da espiral de água. Estavam agora caindo em alta velocidade em um corredor escuro e cheio de spray’s de água apontados a si, como se fosse uma tempestade. — Medo? 

    Émile engoliu a seco. Seus olhos ficaram esbugalhados por um segundo. Havia tremor em sua voz. 

    — Eu quase morri. Mas essa foi a minha decisão. Eu fui pega… Não, eu fui pega de forma tão fácil, pois eu queria fazer o certo, queria salvar alguém. Então eu me sacrifiquei, eu fiz a minha escolha. Porém, no último segundo… Quando eu tinha certeza que era o fim, eu não consegui sorrir. 

    — Bom, você fez essa escolha de cabeça quente, sem muito tempo para pensar… E nem sempre as escolhas que tomamos alinham com o que sentimos. 

    — Eu sei disso… É só que… Eu não quero morrer, muito menos com arrependimentos. — Água caiu em cima do rosto de Émile, uma lágrima de cloro escorreu sobre seus olhos. 

    — Às vezes não conseguimos evitar os dois. Ou morremos, ou vivemos com arrependimentos, eu não sei dizer o que é pior, por mim… Prefiro evitar arrependimentos, principalmente aqueles de nunca ter feito. 

    Saíram do corredor escuro e entraram num outro círculo de espiral, dessa vez branco e bem iluminado, que usava de truques luminosos para fazer a água parecer vermelho sangue. Ambas as ensanguentadas encaram-se. Uma estava coberta de sangue de outros, e outra, do próprio. Tudo isso para alcançar o sonho que clamavam ter. 

    Émile não conseguia entender: sonhos são realmente tão importantes? O quão longe estava disposta a ir? O quanto sacrificaria?

    — Sonhos são importantes, esse é o fundamento de Romaniva. Quando nos limitamos ao medo, limitamos até podemos alcançar. E quando nos limitamos, mais hesitamos… — Baret olhou para cima, sangue caia de sua testa e de sua boca. — Quando hesitamos, perdemos. 

    — Mas o quanto eu devo sacrificar… O quanto eu devo fazer para mim mesma? Um lugar que pertenço…?

    Baret direcionou seu olhar sem abaixar o rosto. Com uma voz e direta, respondeu: 

    — Você não vai achar isso. Não se pode achar algo que não existe. Como eu disse antes, construa-se. Faça-se encaixar no local que você quer encaixar, ou crie seu próprio lugar. 

    — Mesmo que isso tenha risco de morte?

    — Se você não se construiu até agora, é porque tudo em sua vida ainda não lhe agradou o suficiente, não é? Então o que seria pior pra você? Morrer na busca, ou viver 90 anos sem saber quem é?

    — … Viver 90 anos nessa dúvida, com certeza. 

    Ao chegar num longo e espaçoso corredor de espelhos, o sangue sumiu. Encarando-se a si mesma infinitamente pelas paredes e teto, até mesmo ao chão inundado, Émile parecia ver as coisas mais claramente. Talvez, pela toda totalidade de sua vida, entendeu finalmente o que todas aquelas palavras, medos, anseios e desejos significavam. 

    A vida é como uma história, e a história é como uma vida. Não importa o quão longa seja, quantas sequências tenha. Se seu começo, desenvolvimento e final forem medíocres, nada importará. O começo de sua vida podia ter sido medíocre, mas…

    — Não posso deixar o segundo ato da minha existência ser vazio. Não posso mais ser ninguém, eu preciso… construir eu mesma!

    — Você é Émilie Antoinette Dayone. É você quem decide qual significado seu nome vai ter. 

    — Você tá certa! Eu… Eu quero…

    Um último corredor, esse tão veloz que era difícil acompanhar. Imitava o tema de cada sessão do tobogã, desde as faixas de cores coloridas, o mar estrelado, a tempestade, o sangue e o espelho. Cada uma delas, cada um dos desejos. Émile viu tudo. 

    Não havia mais momento para hesitação, sua decisão tinha que ser tomada. Era agora ou nunca. A boia foi freada pelo corpo de água, tinham chegado ao final do percurso. 

    — Eu quero ser da Carreta Fogueteira! — Seu sorriso era de orelha a orelha, o mais genuíno de todos. — Quero fazer parte dessa aventura. 

    — Então, como líder da Carreta. — Baret apontou seu dedo em forma de pistola. — Eu te dou boas-vindas ao grupo. 

    Ambas deram um sorriso. Saíram da boia e foram ao elevador.

    — Valeu por ter me ouvido. Não achei que você seria tão boa com conselhos — Émile comentou enquanto secava as próprias roupas. 

    — Não sou. Mas até relógio parado acerta duas vezes o horário. Eu recomendo fortemente nunca seguir os meus conselhos depois dessa. — Baret deu uma risada e cruzou os braços. 

    — Isso é um conselho? 

    — Talvez o meu segundo e último bom conselho.

    — Muito bem, então! — Retribuiu a risada que logo virou um bocejo — Cara… Eu quero dormir agora.  

    — Eu também… Bom, eu tenho que falar com o povo, dizer que você está bem. Mas depois temos que ver como falar da sua entrada pro grupo. Se bem que eles já devem achar que você tá dentro. 

    — Combinado! Também tenho que pensar em como falar pro meu irmão… Me pergunto como ele está…

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