Capítulo 12 (Parte 2) - O começo do sonho
Quincas andava pelas ruas de Romaniva enquanto empurrava um carrinho de supermercado cheio de coisas. Já tinha feito duas viagens do distrito comercial para a garagem onde Axel estava, e até então, tinha apenas comprado metade da lista de eletrônicos.
— Porque diachos o Axel precisa de uma secadora de pratos modelo industrial? Onde que eu vou achar isso? E tenho que me lembrar de comprar munição para Baret…
— Alguém disse… “munição”?!
Quincas virou o rosto para o lado, dando de cara com um sujeito curioso: era um homem alto, de cabelos curtos com tons que mesclavam loiro e castanho, tendo olhos esverdeados. Trajava algo único: uma calça jeans, uma camisa de praia colorida com a estampa de um coqueiro e por cima de tudo isso, um colete a prova de bala e várias bandoleiras de munição. O braço mecânico direito contava a história de um homem vivido, e a kombi aberta cheia de produtos era um indício de um vendedor de primeira mão.
Os produtos eram aquilo que todo romanivano deveria ter: quilos e mais quilos de armamento pesado. Armas dos mais variados tipos: pistolas, revólveres, submetralhadoras, fuzis de assalto, escopetas, rifles de precisão e até mesmo lança mísseis.
Quincas se aproximou com seu carrinho de compras. Olhou de baixo para cima o homem e respondeu:
— Eu mesmo. Por acaso teria a venda?
— Se tenho? Poxa, meu amigo, tenho para dar e vender! Preferencialmente, para vender! — Pegou uma escopeta dentro de sua kombi e a recarregou, apontando ela para o céu. — O quê precisa? De munição forte o suficiente para destruir seu oponente com o apertar de um gatilho? Ou talvez… — Guardou a escopeta, pegou um rifle de precisão, aproximando a luneta no seu olho. — Algo mais preciso?! Para derrotar seu oponente a centenas de metros de distância? O que me manda, rei?!
— Preciso de .38, umas caixinhas para viagem, sabe?
— Ah! O clássico três oitão! Sim, sim! Tenho aos montes! — Foi para o outro lado de sua kombi e tirou de lá uma caixa grande de papelão. Voltou para perto de Quincas, abriu a caixa e tirou várias outras caixinhas de calibre .38. — Quantas para a viagem? Cada caixa conta com noventa munições!
— Hã… Hm… Quanto que fica?
— Novecentos créditos a caixa.
— NOVECENTOS CRÉDITOS? — Quincas deu um passo para trás.
— Aham! Preço de mercado, amigo. Os grandes varejistas vendem barato, acha? Abre a munição e vai ver que a pólvora é rala, que a munição está fora da validade… Eu apenas trabalho com qualidade. Sou um vendedor de armas, mas vendo conforto e segurança.
— Poxa, novecentos créditos? Isso aí fica um pouco fora da minha verba… Não tem como dar um desconto?
— Claro que posso. Todos os meus itens aqui têm preço negociável. Mas se me permite, tenho que dar uma pausa para a garganta. — O vendedor pegou um banquinho e sentou-se nele. Puxou uma garrafa térmica de água e uma cuia, colocando uma erva moída no recipiente e em seguida, a água. — Aceitas um chimarrão?
— Mas bah, é assim que eu gosto! — Quincas se aproximou. Encostou as costas na kombi e, após o homem terminar de dar um gole no chimarrão, pegou a cuia e bebeu um pouco. — Nossa, que amargo! Esquenta até a alma.
— Aqui o mate é no capricho. Então, o que me contas? Trabalhando muito?
— Puts, até demais! Sempre fui dos trabalhos mais… autônomos, sabe? Ser meu próprio patrão. — Deu mais um gole no chimarrão e passou para o vendedor. — Mas agora me juntei a uma expedição. A chefe é bem curiosa, meio esquentada da cabeça, mas uma boa líder. Só não se dá muito bem com o meu colega de trabalho.
— E qual o nome desse colega? — o homem perguntou despretensiosamente, dando um gole.
— Axel. Sujeito esperto, porém… complicado. É um bom amigo, gosto dele.
— Ah, o Axel? É, sim, sim. É um homem de muito a se falar. Poderia passar o dia todo falando dele.
— Conhece ele?!
— Só pela internet, conheci pelo torneio que participou. Minha sobrinha gostou muito do vivente, sabe? Falou que a slinger dele era muito maneira. Aí fui ver as redes sociais, acabei vendo uma coisa ou outra. Nada de mais.
— Entendi. Bem, é realmente diferente a slinger dele, nunca vi uma slinger que também é uma espada. Mas acho que o mundo é grande né! Sempre tem novas possibilidades.
— Mas disse que vai numa expedição? Para onde?
— Explorar o mundo. — Pegou a cuia de chimarrão e deu mais um gole. — Não sei pra onde. Depende da minha chefe, acho que iria querer uma vila com bastante gunslingers.
— Quer uma recomendação? Vila Cristal, fora do território de Romaniva. Tem bastante gunslinger lá, mesmo que seja um pouco longe.
— Anotado. Vou deixar minha chefe saber disso.
— Maravilha. Enfim, minha garganta agora ta bem hidratada. Vamos voltar aos negócios. — O homem pegou a cuia de chimarrão das mãos de Quincas, deu um gole e levantou-se.
— Como que fica o desconto? Algum trabalho para fazer, combo para comprar?
O vendedor deu uma risada. Colocou a cuia em cima do banquinho que estava sentado e em seguida, pegou duas caixas de munição.
— Compre duas caixas por 1550. Mais cinquenta créditos, e tu leva uma cuia de chimarrão de brinde.
Quincas deu um sorriso entusiasmado, puxou o seu celular com tela quebrada e disse com ânimo:
— Negócio fechado!
. . .
Após andar por cerca de vinte minutos, Baret tinha finalmente chegado ao El Gato Rojo. Estava fechado, com várias tábuas de madeira bloqueando as janelas quebradas pelo tiroteio de dias atrás. Se aproximou da porta, pressionou o rosto contra o vidro dela para ver se conseguia ver alguma coisa.
— Vazio… Tem ninguém nessa porra não? — Questionou para si mesma, porém ouviu algo que deixou arrepiada.
— Não.
— Ai! — Baret se afastou da porta e olhou ao lado: era Nil, com roupas casuais e carregando algumas sacolas de compras. — Ah, é tu. Que coincidência.
— Chegou mais cedo do que eu pensava. — Tirou do seu bolso uma chave eletrônica e aproximou-a da porta, abrindo-a. — Entra aí, vamos conversar lá dentro.
Ambos entraram no restaurante. O lugar estava um tanto quanto limpo se considerasse o estado que Eliot tinha deixado o restaurante naquele confronto, embora, ainda era possível ver algumas manchas de sangue seco no chão.
Nil sentou-se em cima de uma das mesas, pegou das sacolas de compra uma lata de refrigerante. Abriu e começou a beber, após dar alguns goles, perguntou para a Baret:
— Veio pagar a dívida?
— Aham, passa a chave do PIX.
— 67B99C1 — respondeu.
Baret puxou o celular e entrou no aplicativo do Banco. Sentiu um pouco de dor para transferir o dinheiro, vendo que aqueles cento e vinte mil estavam rapidamente acabando, mas não hesitou, fez o pagamento. Se aproximou de Nil e mostrou o comprovante.
— Tá feito. Vinte mil, pago.
— Beleza! Agora só falta noventa mil.
— Oi? — Baret não tinha acreditado no que tinha ouvido. Piscou algumas vezes até ousar perguntar: — De onde CARALHOS surgiu os noventa mil?
— Dos quatro guardas que morreram no tiroteio, é claro. Eram meus empregados, sabe? Tive que pagar indenização, vinte mil conto para cada. Além disso, tem o valor das reformas, produtos de limpeza. No total, noventa mil, que obviamente vai entrar para sua dívida.
— E-eu não tenho esse dinheiro! E nem sei quando eu vou ter… Isso aí não é justo!
— Claro que é. Te ajudei para conseguir os vinte mil que estava me devendo, agora, não faz sentido eu ter te ajudado se eu fico no prejuízo, né? Mas não sou tão cruel assim, tenho uma alternativa para você.
Baret já deu alguns passos para trás, esperando o pior. Ainda assim, se pôs a ouvir.
— O que é?
— A Carreta… esse seu grupinho aí, tá esperando quanto de lucro?
— Hã? Sei lá? O tesouro do Tálio deve dar o suficiente.
— Então é isso? Só tá contando com o tesouro do Tálio para conseguir lucro? E os trabalhos mercenários que vai fazer no caminho?
— É que nisso eu não tenho muita garantia, né. — Deu de ombros. — Mas devemos fazer algum dinheiro.
— E o tesouro é uma garantia? Hunf, tanto faz. É o seguinte, minha proposta é simples: me deixa entrar na carreta, eu fico com uma parte dos lucros até quitar a dívida, depois disso, cada um segue seu caminho.
Baret achou a proposta estranha. Que tipo de pagamento era esse? Nunca viu pagar algo dando trabalho. Ainda assim, tinha uma pergunta certeira para fazer:
— E os juros?
— Sem juros.
— Tá, qual é a pegadinha?
Nil deu uma risada. Deu mais um gole na sua bebida e respondeu com o tom mais sincero possível.
— Sem pegadinhas. O “juros” é matar o meu tédio. Agiotagem é lucrativo, mas fica um tédio depois de um tempo. Sempre a mesma coisa, sempre as mesmas desculpas. Porém, quando a gente tava lutando contra aquele chapelão, eu senti uma empolgação que, porra, não sentia há tempos! Se a Carreta vai ter mais disso, então vai me servir bem, pelo menos até eu entediar.
— Então… o seu pagamento é isso? A chance de levar um tiro na cara? Beleza, né! Cada estranho com a sua mania, não vou negar chance de desconto. Tá dentro.
Nil deu um sorriso orgulhoso e terminou sua bebida. Esmagou a lata de refrigerante e arremessou-a para o outro lado da sala, acertando a lata de lixo em cheio. Em seguida, ergueu as outras sacolas de compras.
— Imaginei que iria aceitar. Então para provar que minhas intenções são boas, comprei carne. Bora fazer um churrasco? Sabe, para comemorar a formação do grupo, melhorar o alto astral, essas coisas.
Baret fez uma expressão surpresa e sentiu o estômago roncar e a boca ficar cheia de água. Tentou manter a compostura com uma última pergunta:
— E onde a gente vai fazer? O Axel tá ocupado consertando a carreta, e por mais que eu goste da ideia de deixar ele fora, prefiro evitar drama.
— Eu tenho uma churrasqueira portátil. Só me dá o endereço e eu levo lá. Fechado?
— Fechado! Sabe Nil, achei que era meio babaca, mas até que não! Talvez só… um terço babaca? Ou um quarto, se continuar assim.
— Hah, depende da pessoa. Mas sugiro não se acostumar com minha generosidade, além disso… Começa a planejar as margens de lucro, pois se tem algo que eu não gosto, é falta de pagamento!
— Certo, certo. — Ignorou o aviso, se concentrando no gosto da carne que logo iria em sua boca. — Bora logo! Quanto mais cedo fizermos essa carne, melhor!
. . .
Após longos minutos de espera, o elevador começou finalmente a se mover. Arya foi ao seu quarto arrumar-se para encontrar o pessoal da Carreta, conforme o combinado que fez com Émile, que, de seu lado, deveria agora falar com o seu irmão.
Sentia a ansiedade subir assim como o elevador subia os andares. Os ruídos ocasionais lembravam tiros, e a cada tiro que ouvia, um arrepio acontecia. Um minuto. Esse foi o tempo que levou até o elevador parar e se abrir, revelando o quarto do seu irmão.
Deu alguns passos para frente, olhou ao redor o procurando. Vendo que não estava em nenhum lugar que sua visão alcance-se, exclamou:
— Irmão, você tá aí? — perguntou tímida. Um arrepio passou pelo seu corpo quando escutou o som de um tiro. Não hesitou, correu até o quarto de cama de Atlantis, preparando-se para qualquer problema que houvesse. — O QUÊ TÁ… Hã? — A visão que teve, entretanto, foi inesperada: seu irmão estava sentado na cama, encarando fixamente a TV daquele quarto. O que passava era o vídeo mais comentado do momento: o vídeo do embate entre Raimunda e Loid, ou ao menos, o pouco do que foi gravado.
Atlantis mantinha a expressão neutra, os olhos focados, com grandes olheiras por baixo deles. O cabelo desarrumado e o fedor que tinha fazia Émile ter certeza que ele não tomava a banho há pelo menos dois dias. Nem sequer tinha notado que ela estava ali, seu foco era completamente na gravação do combate.
Émile aproximou-se lentamente. Engoliu a seco e, da maneira mais gentil possível, encostou sua mão no ombro de Atlantis. Após piscar algumas vezes, como um sonâmbulo que acabou de ser acordado, Atlantis questionou:
— Precisa de dinheiro?
Émile estranhou. Negou com a cabeça e falou: — Não… Errr, como você está? Por que tá vendo o vídeo da Raimunda lutando contra o presidente de Benzaiten?
— Estou tentando entender os padrões. Ver se acho algum vício de movimento, alguma fraqueza. Se eu conseguir achar, talvez seja possível finalmente derrubá-la. — Usando o controle da TV, Atlantis pausou o vídeo. — Você sabia? A recompensa dela aumentou em vinte milhões. Está em cinquenta e três milhões de créditos agora.
— É… eu fiquei sabendo pelo Actua. Tá todo mundo falando sobre isso… — Émile desviou o olhar. Balançou timidamente o corpo e, em seguida, sentou-se ao lado dele. — Dizem que ela fez esse show todo apenas para aumentar a recompensa.
— Nesse caso, ela não foi bem sucedida. Apenas vinte milhões não reflete o caos que ela criou — afirmou Atlantis — Isso significa que ela não irá se dará por satisfeita. Duvido que pare antes de conseguir chegar aos cem milhões de recompensa. E é justamente por isso que…
— Você não respondeu a minha pergunta de antes. — Émile interrompeu. — Como você está?
Atlantis, até então encarando a TV desligada, virou o rosto e olhou diretamente nos olhos de Émile. Em vinte e dois anos de sua vida, essa foi a primeira vez que Émile o viu assim. Seu olhar não continha desespero, ou medo, mas tinha a mais pura obsessão, como se mais nenhum outro assunto o importasse. Deu um suspiro e acalmou seu olhar, e num tom mais desanimado, respondeu:
— Bem. Não precisa se preocupar. Agora, se você não precisa de dinheiro, o que veio fazer? Precisa de ajuda com alguma coisa?
Émile desviou o olhar por um momento. Por um lado, tinha certeza que não era um bom momento para dar a notícia que não voltaria a Orfenos, mas por outro, essa era basicamente a única oportunidade, ao menos, nada mudaria se tentasse postergar. Tossiu algumas vezes, reuniu toda a coragem que tinha.
— Então… digamos que consegui um estágio remunerado. Como você reagiria?
— Um estágio? Mas você já se formou em administração, não é meio tarde para isso? — Atlantis franziu a sobrancelha, e em resposta, Émile concordou lentamente com a cabeça.
— Eu sei, mas digamos, só digamos que esse estágio remunerado exige que eu… bem, viaje pelo mundo. Como você reagiria?
— Viajar pelo mundo? Que estágio é esse?
— É… — Émile se levantou da cama e andou brevemente pelo quarto, tentando imaginar uma resposta. — Um estágio de gerenciamento de uma turnê. Gerenciamento de finanças, sabe?
— De qual banda estamos falando? E por quanto tempo?
— Não é exatamente uma banda, sabe? É um… grupo, de serviços, atrás de… algo. Já o tempo é indefinido. Pode levar um tempinho, ou um tempão…
— Eu gostaria que fosse mais específica. — Atlantis cruzou os braços e deixou a expressão um pouco mais séria. — Sempre falei que você precisa de experiência, mas precisa ser no local correto. De qual grupo? Por quanto tempo? Qual a empresa que gerencia esse grupo? Eles têm sede em…
Émile não aguentou mais. Ficou frente a frente com seu irmão e falou em voz firme: — Eu tô falando da Carreta Fogueteira. — Na sua visão, tinha sido clara o bastante, mas o irmão apenas fez uma expressão confusa e questionou:
— É um circo?
— NÃO! É… é o grupo de mercenários que contratei. Eu apresentei eles a você! Eu… olha, eu quero tentar algo diferente, sabe? Sem mais luxos, sem mais encontros de negócios, sem mais… Tudo! Quero saber quem eu sou, então eu preciso fazer algo extremo e… e… Você entende, né?! Essa sensação de que não pertence a nenhum lugar e, ao mesmo tempo, esse sentimento que você PRECISA se encaixar! E para isso você é só algo, não alguém, não você mesmo… Vou me livrar disso! Quero ser eu, e apenas eu! Quero… dar um significado novo para Émile Antoinette Dayone!
Ao final daquele desabafo, seus olhos estavam lacrimejando e sua respiração pesada. Tinha finalmente dito, seu peito parecia mais leve e suas mãos não pareciam mais estar amarradas por algemas de titânio. Como se suas asas tivessem se aberto, sentia-se um pássaro no céu.
Atlantis, por outro lado, jogou fora aquela expressão depressiva. Tudo que tinha era mais pura surpresa, pensou por vários momentos e, após muito silêncio, disse o seguinte:
— Você tem certeza do que está fazendo?
— Absoluta! — Émile não hesitou em responder. Sua expressão determinada deixava claro seus sentimentos. — Sei que é perigoso. Sei que é imprudente. Mas eu tenho que fazer! Sério! Tô cansada de ser uma mimada, então por favor, me deixe ir!
Atlantis coçou a cabeça e deu um suspiro. Levantou-se da cama, olhando Émile de cima.
— Então você perdeu o juízo. Desculpe-me, mas sabe que eu não posso apoiar essa decisão. Não é questão de você sair de Orfenos ou coisa parecida. Mas um grupo mercenário? De gunslingers? Isso é…
— Eu sou uma gunslinger! — Émile apontou para o coldre em sua cintura, onde sua arma estava. — Eu sou uma! E… nem sei o porquê de eu ter virado uma! Você nunca perguntou, mas sabe qual é o meu feitiço? É herdar coisas! HERDAR COISAS! Como que isso pode ser… o que eu sou? Minha identidade precisa ser apenas isso? De ser rica?!
— Sabe que não é verdade. E sabe que existem várias formas de se descobrir. Formas muito mais seguras, por sinal. Já pensou em faculdade de artes? Cinema? Que tal…
— Sem faculdade! Você mesmo disse, não disse? “Estudar a experiência dos outros só te leva até certo ponto.”! Chega de estudar sobre como os outros foram bem sucedidos, em como eles colocarem seus sentimentos em tal tela, em como eles conseguirem transmitir suas emoções num papel. Tá na hora de eu jogar o jogo! E o jogo, sou eu que escolho!
Atlantis ficou em silêncio. Suas pernas perderam a força por um momento, sentando-se na cama mais uma vez. Por acidente, apertou o controle da TV, ligando-a novamente. O vídeo começou mais uma vez, a voz de Raimunda começou a falar, os sons dos tiros começaram a ecoar.
Ele voltou para aquele corredor escuro.
— Vai morrer — disse, baixinho. Levantando-se e indo a Émile, ela instintivamente perguntou:
— Como?
— VOCÊ VAI MORRER! — Subitamente, um grito. Uma explosão. Seu punho foi em direção ao epicentro daqueles problemas, colidindo com a TV, quebrando a tela em diversos pedaços, tirando ela do frame da parede. O som dos fragmentos caindo no chão foi seguido era acompanhado do som da respiração de Atlantis e de Émile sem fôlego.
Encaravam-se. Ambos sentiram o tremor da ansiedade passando pelos seus corpos. Atlantis apertou o punho, engoliu a seco e continuou:
— Você já tem vinte e dois anos. Não é assunto meu o que fará com sua vida, mas escute-me bem: o que está fazendo é um erro, e um que o dinheiro talvez não resolva. E não digo apenas no risco de morte.
— Eu sei. Mas o que é pior? Morrer tentando ou viver cheia de arrependimentos? — Os olhos de Émile brilham em determinação. Deu alguns passos para trás, em direção ao elevador. — Eu já decidi.
— Se você não aparecer amanhã no barco, não venha me pedir dinheiro para sustentar sua vida. Você vai estar por si mesma.
— É justamente o que eu quero. Eu te mando umas fotos quando tiver com a galeria cheia. Valeu, irmão. — Émile se virou e foi até o elevador. Atlantis tentou ir atrás, porém parou no meio do caminho. Trocaram olhares na medida que a porta do elevador fechava-se.
Émile estava certa que não seria a última vez que veriam um ao outro. Porém, quem sabe, seria a última vez que Atlantis veria aquela versão de si mesma.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.