Capítulo 5 (Parte 2) - Não arranque o cartaz
Havia um silêncio sem igual naquele bar. Um silêncio onde apenas pode ser quebrado quando a pessoa que o impôs decide fazer. E com todas as pessoas encarando os cinco buracos no teto, era difícil ter a coragem de nem sequer dar um piu.
Pois, quando a chefe fica puta, coisas ruins acontecem.
— Como que pode?! — E finalmente, Raimunda, chefe daquele local, quebrou o silêncio. — Terceiro lugar? Me colocaram em terceiro lugar?! — Sua voz ecoava por todo o salão, no ouvido de cada membro.
Um homem decidiu ser ousado.
— Mas você ainda tem a maior recompensa oficial… — Não terminou a frase. Uma bala foi direto para a sua perna esquerda, o fazendo cair no chão e gritando de dor.
— Terceiro lugar! Não importa se é oficial ou não, eu não aceito isso! — Colidiu o rifle que segurava no chão, como se fosse uma bengala. Virou-se para todo o público. — É o seguinte, seus bandos de paspalho: a gente vai dar um jeito de eliminar essa concorrência e aumentar minha recompensa!
Começou a andar, passando pelas mesas do bar, olhando para os olhos de cada membro do grupo. Eram vários, mas apenas alguns chamariam sua atenção o suficiente. Na primeira mesa, a que mais estava próxima da saída, colocou o cano do rifle no queixo de uma das mulheres sentadas.
— Você, Pearl, vai me ajudar a pegar o senhor presidente. Estamos entendidas?
— Logo eu? — disse em um tom manhoso, mas logo continuou — Hah, estou brincando. Vamos pegar o quatro olhos. — Empurrou o cano da arma para o lado, deu um sorriso malicioso e então fez um comentário: — Isso se conseguir me acompanhar, senhorita Loki.
— Hah, essa aí tem coragem! — Continuou andando, ignorando a provocação. — Pros dois irmãos, eu quero… — Apontou a arma dessa vez para um homem, vestido todo de preto e com o chapéu cobrindo boa parte do rosto.
Era um dos poucos que realmente não parecia estar prestando tanta atenção. Mas ela sabia que era só um “parecia”. O homem em sua frente não era um qualquer, muito menos alguém que simplesmente ignorava seus arredores.
O homem levantou o rosto levemente, mostrando um pouco do seu olhar afiado.
— Você, Eliot, vai pegar os dois irmãos. E eu quero os dois vivos!
— Acompanhado ou sozinho? — perguntou com uma voz calma, aconchegante, como se fosse veludo.
— Isso aí não é trabalho de um só… Deixa eu ver, cade a Ra…
— EU! EU! EU! DEIXA EU ACOMPANHAR ELE, OU ATÉ MELHOR, DEIXA EU ACOMPANHAR VOCÊ PRA GENTE METER BALA NO PRESI… — Uma bala atingiu sua bochecha de raspão, fazendo ela “subitamente” ficar um pouquinho mais quieta.
— Mulher, cala a boca e não abre mais! Caramba, hein! Que barulho! — Foi andando rapidamente até a garota. Uma loira com tiara de diabinho. Usava shortinho e jaqueta curta. Tinha a definição estampada em seus olhos de alguém que pouca gente gosta.
Raimunda olhou para ela de cima para baixo. Olhou a slinger dela que estava em cima da mesa, um troço gigante de três canos. Deu uma pensada, uma alisada no queixo, perguntou:
— Qual é teu nome?
Ela não respondeu.
— Tá, pode abrir a boca.
— É Destroyer, senhora.
— Senhora, não! Não sou casada para ser senhora! Mas beleza… — Alisou o queixo mais uma vez. — Você é boa em algo além de destruir coisas?
— Não… — Parecia um cachorrinho triste.
— Perfeito! Você vai com o Eliot. Mas antes eu quero saber, onde tá a Ramona? Eu juro, essa mulher só aparece quando eu não preciso ouvir a voz dela! — Virou para cada um dos lados, esperando alguma resposta, mas nenhuma veio.
O silêncio dominou, até que subitamente, um homem ergueu a mão.
— Ah, fala aí Pinga!
— Já falei para parar de me chamar assim… — cochichou, mas continuou — eu vi ela saindo hoje, com um dos cartazes na mão. Era o da irmã do CEO da Water, tentei avisar pra ela que não pode pegar os cartazes, de novo, mas ela só mandou eu me foder.
— Clássico dela. Bem, tu imprimiu o cartaz de volta, então vou te dar uma moral. — Virou-se dessa vez para Eliot, que continuava a parecer desatento. — Acha ela e manda virar gente. Depois que pegar os irmãos, traz eles pra mim.
Elliot apenas confirmou com a cabeça. Raimunda apenas deixou por isso mesmo, bateu as palmas e voltou para o quadro com os cartazes de procurados. Arrancou cada um daqueles três papéis.
— Agora, para o resto: tá proibido caçar eles, tendeu?! Não é pra matar o presidente, não é pra matar o CEO, não é pra matar… Sei lá, não conheço a garota pra dar um apelido, mas não é pra matar ela! Entendido?!
Vários “SIM!” ecoaram por todo o bar.
— Ótimo… Agora, alguém me vê uma breja, preciso de um álcool na mente pra trabalhar! Rápido!
O silêncio se foi. O clima do bar ficou animado, e as bebidas começaram a circular que nem água. Se tinha uma coisa que Raimunda, melhor conhecida como “Loki” iria ensinar ao mundo, é que ninguém mexe com a Wild Hunt, o maior grupo de gunslingers do mundo. E o mais importante: ninguém tira algo que é dela.
Ninguém mesmo.
Havia tinta escorrendo pela janela.
Foi um golpe de sorte, por assim dizer. Quarenta e três guardas protegiam o perímetro enquanto o trem estava parado para uma manutenção de emergência.
Desses quarenta e três, quatro eram gunslingers. Isso deveria ser o suficiente para evitar qualquer tipo de ameaça contra a vida do presidente durante todo o trajeto. O trem também não era pouca coisa. Paredes e janelas blindadas, fortes o suficiente para aguentar a explosão de uma slinger de um único tiro sem receber dano algum. Capaz de andar mesmo sem trilhos se necessário, era quase como um tanque de guerra.
Outros cinco trens como esse saíram, todos com um sósia para garantir que não haveria nenhum, absolutamente perigo nenhum para a vida do presidente. O trem com “manutenção de emergência” foi justamente aquele em que o verdadeiro estava.
E deveria ser o que menos tem chances para tal. Que tipo de trem feito para levar o presidente iria quebrar dessa forma?
Mas isso não impediu o garoto.
Tinha uns dezessete ou dezoito anos, no máximo. Se esgueirou pela multidão, junto de outros três amigos carregando garrafas de vidro cheias de tinta. Ele foi o único que conseguiu passar dos guardas, e não somente isso, conseguiu jogar a garrafa longe o suficiente para acertar uma janela do trem. Justo a janela que Loid estava sentado ao lado.
Foi um verdadeiro golpe de sorte. Não deveria ser possível ver ele através do outro lado. E mesmo assim, o garoto acertou.
— Impressionante… — cochichou para si.
Quando o trem começou a andar novamente, Loid quebrou um pouco o protocolo e abriu a janela. Passou o dedo pela tinta. Fechou a janela novamente, e dessa vez, do seu lado, desenhou usando o dedo molhado de tinta.
“:)”
Deu uma risada baixa consigo mesmo. E com uma voz bem humorada, chamou.
— Chyou!
Num mero instante, uma mulher trajada com um uniforme militar e com uma metralhadora nas costas e na bandoleira, ambas idênticas, apareceu. Bateu continência, manteve o queixo alto e falou com voz firme:
— Presente, senhor.
— Relatório, por favor.
— Os dois primeiros trens já chegaram. Ambos foram recebidos com protestos da população. Os guardas, tanto de Benzaiten quanto de Romaniva já aprenderam vinte e três pessoas armadas no local. Duas eram gunslingers.
— É mesmo? Bom, isso é certamente um reflexo do porte de arma exagerado de lá… Não tem problema. Sem nenhum ferido, espero. Teve?
— Não, senhor. Não houve nenhum disparo, ferido ou muito menos casualidade. Não há porquê se preocupar.
— Não, não estou preocupado. Ah, e “ele”? Já se estabeleceu na cidade?
— Sobre isso… Não recebemos nenhum comunicado dele, mas pela estimativa, ele deve estar na Terra de prata, é um local conhecido por ter um sinal péssimo. Em breve deve mandar alguma mensagem ou sinal de vida.
— Certo então. Nenhum desvio no plano, nesse caso. Pode descansar, Chyou.
— Entendido. — Fez tudo, menos descansar. A mulher parecia mais uma máquina pronta para qualquer ordem do que uma pessoa em si. Era fácil perceber o seu senso de responsabilidade imenso. Ainda assim, deixou seus olhos abaixarem um pouco, permitindo ver o seu superior. E uma surpresa tão grande a tomou que não pode ficar quieta — Senhor, isso é… tinta?
— Uhum. — Continuava desenhando na janela, sem se importar em parecer infantil. — Quando eu pegava o metrô em Benzaiten, adorava bocejar nas janelas e desenhar. Claro, é anti-higiênico… Mas eu era criança, então não notava isso. Quer um pouco da tinta?
— Dispenso.
— Ok, pode voltar ao seu posto.
— Sim, senhor! — Bateu uma contingência mais uma vez, e saiu andando.
Loid deu uma risada baixa mais uma vez. Era uma espécie de hobby brincar com as expectativas de seus subordinados em relação a ele mesmo. Quem esperaria que o presidente de Benzaiten fosse assim, quase infantil? Continuou desenhando até ter rabiscado toda a janela, sem espaço para mais.
— Dois gunslingers, é…? Que pena, para jogar a vida fora só para tentar me matar… — Olhou para o teto, e fechou lentamente os olhos, preparando-se para cochilar. Uma calma dominou seu corpo, estava muito perto de sonhar.
Mas quando ouviu um estrondo e sentiu um tremor passar por todo o seu corpo…
Já estava com a mão no coldre.
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