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    Fazia uns cinco minutos que Axel estava esperando o elevador chegar. O monitor mostrava em quais andares o elevador parava. Em momento, estava no sétimo, depois no nono, em seguida parou no oitavo, ficava um minuto parado e depois ia direto para o andar doze. 

    Com uma mala em mãos e os óculos cobrindo o olhar de incômodo, Axel estava a uma gota de usar sua slinger pra ir para o quarto andar e dali, dar um jeito de ir pro quinto. 

    — Quando fazem o elevador com a bunda, é isso que dá… — comentou baixinho — prédio de rico com um elevador só…? De quem foi essa ideia de jegue?

    Quando virou para trás para ir a um lugar mais isolado, deu logo de cara com Quincas que, curiosamente, vestia um roupão azul. 

    — Oi. 

    Axel não chegou a tomar um susto. Olhou de cima pra baixo, pensou muito em todas as possibilidades, levou diversos segundos para nem sequer imaginar o que dizer e após muito pensar, perguntou:

    — Que porra de roupão é esse?

    — Gostou? O pessoal daqui falou que as minhas roupas não estavam com um cheiro “apropriado” e me pediram pra deixar eles lavarem. Mas como eu não tinha mais nenhuma roupa, eles me deram esse roupão do SPA. É muito confortável! Se quiser, te arranjo um! — Passou a mão pelo corpo, sentindo a maciez da peça, deu um sorriso confortável e voltou a falar. — Sério, isso é uma delícia de usar!

    — Eu… Eu dispenso. 

    — Você que sabe. — Deu de ombros. Em seguida, olhou para a mala de Axel. — Veio deixar as suas coisas?

    Axel estava prestes a fazer um comentário sarcástico e incrivelmente grosseiro, mas o cansaço já tinha dominado a sua mente, deu um suspiro e respondeu:

    — Esse era o plano, se esse elevador quisesse fazer seu trabalho e me levar até o quinto andar. 

    — Ué, o elevador não tá vindo?

    — Não. 

    Quincas colocou a mão no queixo, olhou o painel do elevador, onde mostrava os andares que estava. Olhou ao redor do hall e, vendo uma das funcionárias do hotel passando, deu um sorriso. 

    — Ou, Bianca, vem aqui! 

    — Hm? — A funcionaria olhou para dupla, e vendo Quincas, retribuiu o sorriso. Foi até eles e perguntou em voz doce: — Como posso ajudar, Senhor Quincas?

    — Que isso, me chame de Quincas! Mas bem, o meu amigo aqui… — Apontou para Axel. — Precisa levar a bagagem pro quinto andar. Mas o elevador não está vindo, sabe o que a gente pode fazer?

    Bianca olhou o elevador por alguns segundos, até entender o que estava de fato acontecendo. 

    — Ah, sim, deve ser o pessoal da comissão. A gente deu um passe de prioridade pra eles, já que eles precisam resolver umas coisas. Se quiser, pode deixar sua mala aqui na recepção que eu levo pro quinto andar quando der. 

    Axel ficou sem palavras. Ficou hesitante, precisou de umas duas tentativas para entregar a mala até a funcionária, mas com um empurrãozinho de Quincas, ele finalmente deixou sua mala com a funcionária. 

    — Toma cuidado. Tu não vai entender, mas tem muita coisa frágil aí dentro. Então, por favor, não quebre e não abra.

    — Relaxe, senhor. Vou colocar no quinto andar assim que der! — Pegou e mala e saiu. 

    Axel deu um suspiro. Olhou pro lado, diretamente pros olhos de Axel e fez uma rápida e simples pergunta:

    — Como?

    Quincas levantou a sobrancelha, e fez apenas um “Hm?”. 

    — Como diabos você conhecia ela? Ao ponto dela… Tu sabe. 

    — Ela que me alcançou esse roupão, então a gente bateu um papo sobre os melhores tecidos de roupa. Não entendi nada, mas acho que ela curtiu, afinal, disse que qualquer coisa era só chamar. 

    — Eu pensei que você iria pro bar daqui. 

    — E eu fui. Mas bah, que negócio ruim! Não deixam misturar bebida e o pior: não tinha ninguém! Qual a graça de um bar, se não tem ninguém pra bater um papo? Nem barman tinha, colocaram um robô no lugar. 

    — Foda. Bem, nesse caso, tchau. Vou achar algo pra fazer….

    — Calma lá! Hey, Axel, não tá a fim de ir beber ou comer algo? Você mora aqui, deve saber algum lugar maneiro. 

    Axel deu uma risada cética. 

    — Nem. Não dessa região aqui, pelo menos. Eu não sou muito de beber, e eu certamente não quero ir com você. 

    — Qual é! Somos amigos agora! Tudo bem não beber, mas pelo menos acompanhar é coisa de amigo! 

    — Não lembro de ter dado esse privilégio. 

    Quallll éééé Axeeellll! — exclamou em um tom brincalhão, apertando o nariz do seu dito amigo — a gente tá no mesmo barco agora, no caso, carreta. Tenho certeza que essa sua mente genial precisa se alimentar para funcionar direito. 

    Axel suspirou. Contou até cinco dentro de sua cabeça e o olhou nos olhos. Percebendo que seria inútil tentar ser grosseiro com aquele homem, e que de fato, estava com fome, coçou a cabeça e respondeu:

    — Tá. Vamos achar algum lugar pra comer algo. Mas eu juro, se ficar bêbado demais, eu te abandono. 

    — Relaxa! Sou do tipo bêbado controlado. 

    — Por sinal… E tua slinger

    Quincas deu um sorriso de canto. Colocou parte do roupão de lado e mostrando parte da cueca. E para a surpresa de Axel, a pistola estava lá. 

    — Nunca saio sem ela. 

    — … Agradeça muito por slingers não conseguirem disparar por acidente. — Descansou as mãos nas duas bainhas em sua cintura e saiu andando. Quincas apenas olhou de canto para Axel saindo, e deu dê ombros com olhos de um homem simples. 

    Saíram do hotel e caminharam. As ruas da cidade estavam turbulentas como de costume, com trânsito alto e um monte de pessoas andando pelas calçadas, cada uma vivendo sua própria vida. A calçada em especial era cheia de vendedores ambulantes e barracas, fosse de comida, de brinquedos infantis ou até mesmo eletrônicos. 

    Quincas até parou para dar uma olhada nas barracas, sempre sendo impedido por Axel. Afinal, ele sabia bem que aquelas coisas não eram dotadas da melhor qualidade. Na marca de vinte minutos de caminhada, chegaram a um restaurante: El gato rojo.

    O ambiente era aconchegante, era um lugar um tanto escuro com iluminação vindo de várias velas, e luzes fracas. As mesas e cadeiras em todas acolchoadas, com misturas de cor vermelha, branco e verde. De longe, porém, o que mais chamava a atenção era a música ao vivo. 

    Uma mulher ruiva, muito bonita, de cabelos longos e vestido longo de mesma cor. Cantava uma mistura de jazz com outros estilos de músicas tradicionais espanhóis, com uma voz que conseguia alcançar diversos timbres e sons. 

    — É um belo ambiente — o bebum comentou no mesmo momento que se sentou. Pegou algumas castanhas que haviam de tira gosto na mesa e colocou tudo de uma vez. Após engolir, continuou: — diferente do hotel, parece um bar de verdade. Vem sempre aqui?

    — Eu nem sabia que esse lugar existia. Eu só peço algo pra comer ou faço um macarrão instantâneo mesmo. Não tenho tempo pra ficar indo de lugar ou outro. 

    — Hah, é melhor assim! É sempre bom compartilhar uma primeira experiência. 

    — Tanto faz. 

    Alguns minutos depois, um atendente finalmente veio anotar seus pedidos. 

    — Boa noite, senhores! Posso pegar seus pedidos?

    — Pode não. Deve. Caralho hein, que demora da porra… — Axel se ajeitou da cadeira acolchoada. — Me vê um Insangel, bem gelado. 

    — Senhor… Isso é um energético. Não vendemos isso aqui. 

    — Porra, tu me diz isso agora? Caralho, eu pensei que bar tinha todo tipo de bebida! — Bateu de leve na mesa, mas foi o suficiente pra fazer ela tremer. 

    — Calma cara! — Quincas tentou amenizar o clima. — Duas cervejas, por favor!

    — Opa, opa! — Axel interrompeu. — Cerveja não!

    — Como não?

    — Não gosto de ficar bêbado. Isso aí é, ó… — Bateu o dedo na própria têmpora. — … Coisa de gente que não gosta de pensar, que não encara a vida. 

    — Mas é só pra curtir um pouco! Mas tá, ainda me traga as duas cervejas, deixa que eu bebo.

    — É o que todo mundo diz. — Axel cruzou os braços e deu um suspiro. — Me vê uma Soda Nova, tá? 

    O atendente revirou os olhos, escreveu os pedidos na comanda, colocou na mesa da forma mais descuidada do mundo e saiu andando com passo pesado. 

    — Pô, não precisava dessa grosseria. 

    — Me poupa, vai. Cinco minutos esperando atendimento, pra um lugar que nem está cheio? Ainda mais, nem vende um energético?! Tsc, é bom o hotel ter, se não essa noite vai ser complicada. 

    — Só passar num mercadinho… — comentou em tom baixo. 

    Ficaram em silêncio após isso, sem assunto que dominava a mesa. Não demorou para Axe pegar o celular e ignorar a existência de tudo ao seu redor. Já Quincas, mantinha-se encantando pela música e pela cantora.

    Lhe dava uma sensação nostálgica, mesmo que nunca tivesse ouvido tal música, muito menos algo desse tipo de gênero. Ainda assim, sentia-se confortável.

    — Esse lugar aqui é ó! — Fez um gesto com a mão. —  Uma pechincha. Me lembra os bares de vila, talvez não em aparência, mas… em ambiente. 

    — Ah, é? — respondeu sem tirar os olhos do celular — só falta a briga de bar que vai tá completo, né?

    — Bom, não tá errado. Por aí mesmo, embora eu não seja do tipo brigão. 

    Quincas deu uma risada, mas o assunto morreu ali mesmo. Depois disso, preferiu não puxar papo por um tempo. Não que estivesse sem vontade de conversar, mas tinha percebido que do jeito que estava, nenhuma conversa iria render. Bastava esperar a sua carta na manga: birita. 

    Era uma questão de tempo até sua bebida chegar e o álcool percorrer sua mente de uma forma que a introversão de Axel tornava-se um mero detalhe num mar de assunto. Quando elas chegaram, virou metade da garrafa de uma vez só. Levou segundos até sentir o efeito dominando sua cabeça. Quando sentiu isso, soltou na lata:

    — E aí, Axel, tu… é virgem?

    Seus olhos saíram no mesmo segundo da tela do celular. Encarou Quincas, que estava com um sorriso curioso no rosto. Percebendo a seriedade da pergunta, desligou o celular. Levou alguns segundos pra responder. 

    — Quincas, você não faria o meu tipo mesmo se eu gostasse de homem. Favor: nunca mais fazer essa pergunta. 

    — Qual é! Não precisa ver maldade onde não tem! Foi uma pergunta inocente, pra te conhecer melhor, saca? E tu não respondeu, ainda por cima!

    — Cara… É só… Tipo, não sei o que responder. Por um lado, não quero te passar a ideia errada, por outro, não é a merda de assunto seu.

    — Cabaço. 

    — Para aí mesmo!

    — Cabaço!

    — Não, porra, eu não sou!

    — Viu só, não precisava enrolar tanto! — Deu uma risadinha de leve. 

    Mermão, vai se foder, né? Você falou que era bêbado controlado. 

    — E sou, ué. — Apoio a cabeça no punho esquerdo. — Só acho que o significado de controlado pode ser diferente na cidade grande. Controlado, de onde venho, é terminar a noite sem uma faca na barriga e uma recompensa de quatro dígitos na cabeça!

    Axel olhou para Quincas por um momento. Levantou da cadeira e disse um mero:

    — Boa noite. — Virou-se e começou a andar para saída. 

    — Qual é! — Quincas levantou rápido o suficiente para segurar a mão de Axel. O barulho foi tão alto que chamou a atenção de todos. A própria cantora parou. — Ah…! Errr… Desculpa aí pessoal! Podem continuar! Tá tudo tranquilo aqui!

    Ninguém continuou. Todo mundo encarava o que parecia uma briga de casal. E Axel estava surtando com essa possibilidade. Fez Quincas largar o seu braço e foi direto para a porta, não iria ficar mais um único segundo ali dentro. 

    Esse era o planejado, até que…

    — Fica paradinho ai!

    Uma voz feminina disse com toda força do mundo pelo microfone. Normalmente, ele apenas iria ignorar e sair andando, mas quando funcionários que mais pareciam guardas bloquearam a passagem, Axel deu um suspiro e se virou.

    — Que foi?!

    A mulher, ou melhor dizendo, a cantora, desceu do seu pequeno palco e foi lentamente até a mesa dos dois. Quincas, que ainda estava sentado com um sorriso envergonhado no rosto, não disse uma única palavra de protesto. Esperava apenas uma oportunidade para, pelo menos, acalmar a situação. 

    Chegando a mesa, pegou a comanda de lá, com os olhos passando pela informação dos pedidos dos dois. 

    — Duas cervejas e uma Soda Nova. Isso dá quarenta e sete créditos. 

    — O meu “amigo” aí paga. 

    — Pera, eu pago?! — Quincas questionou desesperado — mas eu não tenho nem bol… — Foi interrompido com um dedo pressionado diretamente do seu lábio. A ruiva fez “shhh”, sem deixar de tirar seus olhos em Axel. 

    Axel ficou em silêncio por alguns segundos. Bufou e tirou a carteira do bolso. Mexeu nela por alguns segundos, vasculhando com atenção, enfiou a mão dentro e de lá…

    Tirou um dedo no meio. 

    Diversos sons de surpresa poderiam ser ouvidos das pessoas do bar, que acompanhavam tudo aquilo com atenção. Alguns espectadores até mesmo já estavam com o celular em mãos, gravando tudo aquilo de diversos ângulos. 

    — Isso não é bom, anjo. Seu amigo aqui não tem dinheiro, você precisa pagar por ele. 

    — Porra nenhuma. Eu pedi uma Soda. Ela ta bem lacradinha ai na mesa, só jogar na geladeira que fica como nova. Já as cervejas dele, ele que lave a louça pra pagar o que deve. Valeu. 

    Se virou e tentou sair. Mas com os guardas sem ter movido um único músculo até então, deu de cara com aquela montanha de músculos. As coisas ficaram mais tensas quando a cantora deu um assobio e um de seus funcionários trouxe nada menos que uma slinger para ela. 

    Parecia um lança-foguetes padrão, tirando o fato que seu cano tinha o formato da cabeça de um tubarão. Axel deu um sorrisinho irônico, colocou a mão por cima da bainha da slinger e disse com total confiança: 

    — Tu pegou a arma primeiro, então a partir de agora tudo que eu fizer é autodefesa. 

    — Só estou pedindo por um pagamento justo por um serviço justo. Vamos lá, certamente um ganhador de torneio deve ter dinheiro pra pagar uma conta pequena dessa, né não, Gunslinger Espadachim?

    — Olha só, não é que eu sou realmente famoso? — Ajeitou os óculos escuros, mas em seguida, negou com a cabeça. — Não rola. Esse ai já ta me devendo dinheiro. Não empresto dinheiro pra quem já me deve. 

    — Então temos isso em comum.

    — Hm? Pera lá…

    Uma engrenagem rodou em sua mente. Olhou pra moça que segurava a arma em formato de tubarão, uma moça de cabelos ruivos e ao que parecia, tinha o braço mecânico. A descrição, somado aos diversos homens que comandava, só batia com uma pessoa daquela cidade toda. 

    Não ficou desesperado, pelo contrário, sentiu-se um pouco feliz. 

    — Se tem coisa que eu não curto, é agiota. Principalmente aquele que machuca pra valer gente que não consegue pagar. 

    — É um trabalho honesto. É uma escolha ter que pegar um dinheiro que não pode pagar. E como tudo na vida, há consequências. 

    — Aham, Político também é um trabalho honesto, né não, La Zorra Roja? Sinceramente? Tanto faz. — Colocou a mão na bainha da espada, e estava pronto para sacar. — Recomendo todo mundo sair. 

    — Calma aí, galera…! — Quincas tentou, mas ninguém ouviu. Diversas pessoas começaram a sair, até mesmo pelas próprias janelas. Enquanto outros, mais aventureiros e com mais vontade de fazer sucesso, mantinham as câmeras de seus celulares ligadas. 

    O clima esquentava.

    As coisas pioraram ainda mais, quando La Zorra Roja fez um breve comentário. 

    — Um monte de gente saiu sem pagar… Acho que vou ter que colocar isso na sua conta, Axel. 

    — Pode vir. Meu amigo aqui lava os pratos. Mas eu, bem, sou mais um faxineiro, vou limpar o lixo de gunslingers que tem nesse mundo.

    Os três gunslingers ali sabiam que a noite seria longa. 

    Mas não sabiam, entretanto, que a vida deles estava entrelaçada a muito mais que uma noite. 

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