Capítulo 7 (Parte 2) - Espadas não cortam algemas
O clima não estava nem um pouco bom.
La Zorra Roja estava com sua bazuca apontada a Axel. Ao seu lado, estava Quincas, cercado dos homens de Zorra apontando suas armas a ele. Axel, por sua vez, estava com sua mão no cabo de sua slinger; ele tinha um plano, mas antes disso…
— Não é lá uma boa ideia explodir o seu próprio bar — comentou — acho que eu que to na vantagem.
— Você não é o único com refém. — Balançou a cabeça em direção a Quincas. — E essa sua slinger aí cobre todos os custos que eu vou ter.
— Pô gente… Não tem um jeito melhor de resolver as coisas não? Um carteado, corrida de cavalo? É certa…
— Cala a boca! Deixa a Senhorita Simone falar! — Um dos homens armados o interrompeu, forçando o cano da arma contra a cabeça de Quincas.
Quincas deu um sorriso forçado e deixou as mãos para cima, onde podia ser visto. A situação não estava boa, e ele sabia muito bem que deixar as coisas para o seu amigo certamente só seria pior pra ambos. Olhou ao redor, pensou, pensou e esperou.
— Apenas pague o que deve — La Zorra Roja disse — sou paciente, podemos fazer um combinado e achar uns juros baixos. Talvez… Quarenta por cento por semana?
Axel não respondeu.
Embora sentisse que a situação estava ao seu favor, ele não podia dizer exatamente isso pra Quincas. Podia estar até um pouco puto com ele, mas não queria o seu mal. No momento que ele fizesse alguma ação agressiva, os homens talvez atirassem nele.
Quem sabe, houvesse um jeito.
O silêncio se instaurou. O vento soprou pelas janelas abertas, batendo contra os cabelos de todos ali. Tudo isso ocorreu ao mesmo tempo.
Quincas puxou a pistola de sua cueca e atirou contra a mulher. Mas ela não levou dano algum. Pelo contrário, estava intocada e, ao mesmo tempo, sentada. Axel, por sua vez, puxou sua slinger da bainha numa velocidade impressionante. Atirou duas vezes ao chão do seu lado, e então fincou a lâmina de sua espada-revólver ao chão. Como se estivesse cortando o próprio tecido do espaço-tempo, abriu um portal diretamente conectado com chão embaixo da cadeira que Quincas estava.
Quincas não contava com Axel fazendo algo, e Axel não contava com Quincas fazendo algo. E La Zorra não contava com ambos fazendo algo em simultâneo. Quando se deram conta, Zorra estava sentada na cadeira de Quincas, caindo pelo portal e aparecendo ao lado de Axel que já estava pronto para dar ombrada contra a cadeira, esperando que iria tirar Quincas do caminho.
Simone, caindo da cadeira, deu uma cambalhota para trás e aproveitou a oportunidade. Deu um último sorrisinho e cochichou um “adeus”. Disparou sua slinger sem embutir nenhum feitiço, pronta para explodir Axel em pedaços.
O tempo para ele parou.
Não tinha como arear um tiro de bazuca. Desviar poderia machucar algum civil idiota que não saiu. Ele só tinha uma opção.
Apontou o cano do seu revólver para a diagonal e disparou, mantendo a imagem mental de um local que conhecia muito bem. A bala percorreu apenas alguns centímetros, parando bem a frente do seu peito. O espaço ao redor distorceu-se, e numa velocidade impressionante, cortou o espaço com a lâmina de sua slinger.
O espaço se abriu, o portal surgiu bem a tempo da bala de canhão o atravessar.
Quincas também não ficou parado. Os homens de Simone tinham suas armas apontadas a ele, e estavam prontos para disparar. Ele apontou sua slinger para o homem do meio e atirou. Não causou danos, simplesmente trocaram de posição. O vaqueiro estava agora no meio do outros dois homens de Simone.
Antes que eles disparassem contra o amigo, ou fossem rápidos o bastante para apontar suas armas para Quincas novamente, ele usou a mão esquerda para dar um soco direto no queixo de um, e uma coronhada em outro, deixando ambos inconscientes.
Já o homem do meio, que tinha trocado de lugar; não teve outro jeito se não disparar a arma. Dessa vez sem feitiço, tomando todo o cuidado do mundo para acertar num ponto não letal da perna, apenas o fazendo cair.
Apontou sua arma para Simone e gritou.
— Cabou-se! Está cercada, tchê!
Axel desfez os portais e apontou a lâmina e o cano do revólver para Simone e disse:
— Não foi dessa vez, hein!
— Tsc… — Simone não teve outra opção. Largou sua slinger no chão e levantou as mãos. — Vocês tão bem enganados se acham que isso é uma derrota pra mim.
— Opa, calma lá, eu não gosto desse tom — disse Quincas — isso é o tom de quem tem uma carta na manga.
Simone apenas sorriu de canto.
. . .
Ao dobrarem a rua, as três garotas tiveram uma baita de uma surpresa ao ver o bar com uma viatura da polícia na frente. Ao redor, uma multidão.
— Ué, será que deu problema? — Baret comentou.
Émile ficou quieta, pensou por um segundo e então disse cheia de animação:
— Menta, rápido, pega o celular e começa a gravar! Rápido! Você vai ser minha cameraman!
— Hã? Ah… Ok! — Enfiou a mão no bolso e começou a gravar. Émile deu uma breve tossida, em seguida, começou a falar para frente da câmera.
— GENTE! Cheguei aqui no… Errr, Baret qual o nome do Bar?
— Tá escrito ali. — Apontou para o letreiro. — El gato rojo.
— Cheguei aqui no El gato rojo e olha só! Polícia! O que será que deu?! Vamos descobrir! — Começou a andar em direção ao bar, com Agni indo logo atrás dela. Baret deu um suspiro, iria andar lentamente, se não visse algo que a deixou completamente surpresa.
— FOI AUTO-DEFESA! — Axel estava gritando quando estava sendo empurrado até a viatura a força por um policial. — ELA PUXOU A SLINGER PRIMEIRO, TÁ NA LEI QUE EU TENHO DIREITO DE DEFESA! EU SEI MEUS DIREITOS!
Baret fungou de raiva e correu em direção a eles.
— Que porra ta acontecendo aqui?! — Baret intrometeu-se. Émile e Menta apenas ficaram a alguns metros de distância gravando tudo.
— Baret! Baret diz pra ele os meus direitos! Eu tenho direito de autodefesa se puxam a slinger primeiro!
— Sim, você tem! Artigo 23 da jurisdição dos gunslingers. Agora pode me dizer o que CARALHOS ocorreu? Seu polícia?!
O policial não falou nada. Mas saindo do bar, com um cigarro nas mãos, estava Simone. Com um rosto neutro, tirou a fumaça dos pulmões e disse:
— Ele se recusou a pagar a conta, depois, puxou briga. Tive que intervir.
— Ah nem vem! — Axel forçou sua perna, fazendo que nem o próprio policial conseguisse o empurrar. — Tá gravado! Você puxou primeiro.
— Gravado, é? Alguém aqui gravou? — Olhou ao redor, nenhum dos civis ousou falar uma única palavra. — Parece que não. Agora, Geraldo, leva ele embora logo por favor.
— “Geraldo”…? — Baret questionou — como que tu sabe o nome do policial?
— …
— AH, eu tô sentindo um cheirinho de corrupção! — Apontou pra Simone. — Já que grana parece que é o problema, me diz, quanto?
— Por que se importa tanto com ele? Seu amigo? Namorado? Ah pera… Você é a Víbora, né? Reconheço esse cabelo aí de longe. Não achava que ia te ver com esse tipo de cara.
— Meu empregado! Agora, diz logo teu preço, pois eu preciso desse idiota aqui vivo e livre.
— Opa, opa, não me chama de idiota!
Ambas ignoraram.
Simone pensou por um momento, fez os cálculos de cabeça e então falou:
— Uns vinte mil. Com juros de cinquenta por cento por semana.
Baret sentiu o coração doer, mas falou com convicção.
— Fechado.
— Ótimo. Geraldo, pode soltar!
O policial obedeceu. Tirou as algemas de titânio e deu de volta a slinger e a espada para Axel.
— Foi ótimo fazer negócios com você. Na verdade, tenho até um pouco de interesse… Mas deixa pra lá. Quando tiver o dinheiro todo, traz pra cá. — Não deu oportunidade de resposta, entrou no bar novamente e fechou as portas.
A multidão se dispersou, sobrando apenas o pequeno grupo.
— Sabe Baret, tu subiu no meu conceito agora, nunca pensei que…
— VOCÊ CALE A BOCA! — Apontou pra ele, quase dando um tapa. — O QUE TU TINHA NA CABEÇA PRA ARRUMAR BRIGA COM AGIOTA? TU SABE QUE ELES CONTROLAM A POLÍCIA!
— Primeiro: eu sou errado como cidadão em acreditar nas instituições públicas? Segundo: a culpa não é minha, é do Quincas.
— Quincas?! Ele nem tá aqui!
— Claro que não! Fujão do caralho, quando ouviu a sirene da polícia, deu no pé! A slinger dele faz ele trocar de lugar com as coisas, lembra? Ele só atirou contra um civil pela janela e bum! Desapareceu. — Cruzou os braços. — Sério, como que eu posso confiar nele depois disso?
Baret parou por um segundo, pensou um pouco e então olhou bem para os olhos cobertos de Axel.
— Tu tá escondendo algo.
— Tô não.
— Tá sim!
— Ok, quer saber? Posso ter tido meus desentendimentos com ele, o que podem ter causados toda essa situação, mas tudo poderia ser resolvido se ele tivesse me dito que não tinha dinheiro nenhum e que tava contando comigo pra pagar tudo. Pois aí, sim, eu não iria sair com ele. — Ajeitou os óculos.
Baret ficou em silêncio por um segundo, e depois, falou com toda a convicção.
— Se tu saiu com ele achando que ele iria pagar a parte dele, você tem um QI de um dígito.
— Como que eu ia saber? Conheço o cara faz nem um dia! Mas tá. Agora me diz: onde tu espera arranjar esse dinheiro todo?
— Onde?! Da sua parte e a do Quincas, é claro! Tu realmente achou que eu ia dar um jeito de arranjar esse dinheiro todo por você?
— Pô, magoou meus sentimentos agora… — Se fingiu de triste por um segundo. Até subitamente voltar ao normal. — Mas olha, você poderia pensar um pouco fora da caixa.
— Hm?
Axel apontou pra Émile e Agni que gravavam tudo aquilo. Émile em especial estava com os olhos brilhando por ver toda aquela cena.
— Eu não lembro de ter dado os meus direitos de imagem, Émile!
A herdeira voltou pra realidade, fechando o rosto.
— O que tu quer, quebrador de celular?
— Oportunidade de negócio: vinte e cinco mil pelos meus direitos de imagem. E ainda te dou um desconto de cinco mil pelo celular que quebrei. O que tu diz?
— … Por quanto tempo?
— Hm… Por um ano inteiro.
— Fechado! Eu te mando o contrato depois!
Axel deu um sorriso. Olhou para Baret e com o dedo, bateu na própria testa.
— E essa é a diferença entre o meu QI de 3 dígitos e o seu QI de dois dígitos. — Não deu chance de resposta, saiu andando enquanto Émile mandava Menta o seguir.
Baret ficou parada por um tempo. Olhou para o bar, olhou para o trio, e disse a si mesma bem baixinha:
— Eu devia ter pedido duzentos mil…
. . .
Ainda que o clima não estivesse lá dos melhores, o grupo ainda estava faminto. Decidiram passar por um bar mais calmo. Impressionantemente, ninguém estava falando sobre Axel ou a briga do Bar de Simone, indicando que nenhum vídeo dele tinha realmente circulado.
Émile estava andando pelo bar com o celular de Menta, gravando como tudo era incrível, mesmo para um bar de “classes baixas”. Já o trio sentado na mesa, Baret, Axel e Menta ficaram quietos o tempo todo, comendo em silêncio.
Próximo da meia-noite, voltaram ao hotel. Apenas pra ter uma visão muito curiosa.
— Ai, quando todo mundo achou que eu seria incapaz de fazer algo, puxei minha slinger e… — Ali estava ele, Quincas, conversando com Bianca, uma das funcionárias do hotel. Axel nem quis saber, foi direto para o elevador de forma tão rápida que nem mesmo Quincas conseguiu perceber que ele estava ali.
Émile estava no celular de Menta, editando os vídeos que tinha feito.
Sobrou pra Baret. Ela se aproximou, Quincas deu um sorriso grande ao perceber ela.
— Baret! Há quanto tempo! Onde tava andando?
— Fazendo o meu trabalho, que é proteger a Émile. É o seu também, lembra? — Ficou com a sobrancelha levantada.
— Ah… Sério? Achei que só começava amanhã…
— Tá, tanto faz, já foi. Primeiro… Que roupão é esse? — Apontou para o “look” de Quincas.
— Gostou? Foi a Bianca aqui que me arranjou. — Quincas já estava com a mão dele circulando a cintura dela. — Bianca, essa aqui é a Baret, a minha amiga que eu te falei. Baret, essa aqui é a Bianca, uma amiga que fiz.
— Amiga… é… Amiga. Tá, errr… Podemos falar no particular? Coisa de trabalho, saca?
— Claro! — Falou algumas coisas no ouvido de Bianca, após isso, ele e Baret foram para outro canto do hotel. Ao chegarem, perguntou: — e aí? O que me conta?
— Que porra aconteceu no bar?
Quincas ficou absolutamente em silêncio. Contraiu os lábios por um segundo, olhou ao redor.
— Eu não chamaria aquilo de briga…
— Não falei nada sobre briga.
— Pois é, mas aquilo continua não sendo exatamente uma briga. Eu chamaria de… Eu chamaria de uma discussão resolvida de formas além das palavras.
— É mesmo?
— Mesmo.
Baret deu um suspiro. Deu um tapa de leve no ombro de Quincas.
— Olha, na próxima vez que arranjar problemas e for fugir, pelo menos leva o Axel junto, belê? Ele quase foi preso. — Cruzou os braços e ergueu a sobrancelha. — Ele ta meio puto com você, mas não posso dizer que o culpo. Agora vai ficar mó climão no quarto quando a gente for dormir.
— Bom, ele está bem agora, não é? — Deu uma forçada de sorriso. — Além disso, eu não vou dormir aqui hoje.
— Hein? — Franziu a testa. — Como assim não… Sério? Tão rápido assim?
— Esse é o poder de ser educado. Se quiser pode se jun…
— Nem termine essa frase. Tipo, NUNCA mais tente ao menos repetir ela. — Deu um suspiro, virou-se e começou a andar. Parou no meio do caminho e falou sem olhar pra ele. — Inclusive, tu tá devendo 10K para o Axel.
— 10K?! Não era só mil?! — Sem resposta.
Quincas deu apenas um suspiro.
“Que povinho mal-humorado”, pensou “Toda essa civilização faz mal pra cabeça mesmo”.
. . .
O hotel estava do outro lado da rua.
A dupla estava vendo o hotel pela janela, sentados ao redor de uma mesa, o homem com chapéu grande avaliava tudo com seu binóculo. A garota, por outro lado, estava certamente entediada. Reclamou:
— A gente não pode só… Sei lá, entrar pela porta da frente, explodir tudo e pegar a garota?
— Não.
— Então por que a gente não pegou ela quando tava andando na rua?
— Muitos inocentes.
— Que chato… — Deitou a cabeça na mesa. — Devia ter ido com a Raimunda! Quando que a gente vai pegar essa garota então?
— Descobri uma informação boa por um guarda que conversei. — Tirou seu olhar do binóculo, virou seu rosto para a garota e continuou: — Daqui a três dias vai ocorrer uma exposição, ela vai estar lá. Só ela e o grupinho dela.
A garota se animou, levantou com animosidade e perguntou cheia de energia:
— Quando isso rolar, posso explodir tudo?!
O homem deu um sorriso de canto leve. Voltou a observar o hotel com binóculos e então, respondeu:
— À vontade.
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