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    Durante os dois dias seguintes após toda a briga do bar, as coisas foram monótonas. Axel e Quincas conversaram pouco, mas conversaram. Baret não chegou a ver Arya novamente pelo hotel. Pelos dois dias, o grupo saiu e entrosou; foram para shoppings, parques e outros eventos turísticos da cidade. Gravaram muitos vídeos a pedido de Émile, os dislikes de seu canal aumentavam cada vez mais, mas suas visualizações aumentavam ao quadrado disso. 

    No terceiro dia após a briga do bar, dia dezessete de fevereiro, o dia tão esperado pelo grupo, principalmente Baret chegou: o aniversário de Émile. Pela manhã, na décima terceira hora das trintas de um dia, o trio de mercenários acordou Émile e a colocou à força num carro, com o pretexto simples: “vamos te levar a um local que vai gostar”. 

    Pelas ruas da cidade, o papo seguia da forma mais esperada. 

    — A gente já chegou? — Émile perguntou, pela terceira vez em dez minutos. Estava no banco de trás do carro, ao lado de Axel. Baret, a motorista, deu um suspiro e respondeu:

    — Não. Não vamos chegar tão cedo não caraí, já te disse que o lugar é longe. 

    — Tá, mas não dá para o Axel fazer um portal pro lugar? Ia facilitar bastante o transporte. 

    — Nem sei para onde a gente tá indo — O homem se intrometeu, enquanto encarava as janelas. — Onde é que a gente tá indo Baret?

    — É segredo. 

    — Que segredo é esse?

    — É segredo!

    — Eu faço parte do grupo, eu devia saber pra onde a gente tá indo!

    — Se eu falasse para você, é certeza que você ia estragar a surpresa! Então fica quietinho aí, ok?

    Quincas, no banco de passageiro, fez uma cara estranha, colocou a mão no queixo, pensou um pouco. Após muito pensar, comentou sua conclusão: 

    — Uma… Uma boate?

    — Uma boate?! De manhã? Tipo… Da onde tirou isso?! — Baret respondeu. 

    — A Émile disse que a gente precisava aprender a dançar para os vídeos. Que lugar melhor pra aprender do que numa boate?

    — Verdade! — Émile se intrometeu. — Uma boate não seria ruim. Sempre quis saber como são as de Romaniva. A gente pode ir em uma?!

    — Não. 

    — Por que não?! É meu aniversário, eu devia poder escolher. 

    — Boate em Romaniva é bagunça total. — Olhou para Émile pelo retrovisor, franzindo as sobrancelhas. — Nem eu tanko o negócio. Última vez que fui em uma, acabei no hospital. 

    — Não deve ser tão ruim assim. As de vilas eram animadas, cheias de vida! E sempre tinham só algumas pessoas. Na cidade grande deve ser tão bom quanto. Né não, Axel?

    — Não. 

    — Ok — Quincas apenas concordou. Achou melhor evitar qualquer conflito, já que o clima ainda andava meio ruim. 

    O carro continuou andando pelas ruas de Romaniva. Vez ou outra, ficavam presos em pequenos trânsitos. Viram um acidente no meio do caminho, e ao último terço do trajeto, ficaram escutando o rádio. Como o carro era Orfeno, o rádio era péssimo: apenas pegava o sinal de notícias políticas. E a única coisa que se falava era o do atentado à vida do presidente Loid, e como aquilo afetaria o encontro diplomático que ocorreria no dia seguinte. 

    Após quarenta minutos, finalmente chegaram no local. Era de uma rua vazia, não muito rica, mas também não muito pobre. Estavam em frente a um grande armazém que parecia ocupar o quarteirão inteiro. Não era essa, entretanto, a coisa que mais destacava. E sim a pessoa que estava em frente a ela: Atlantis.

    “O que meu irmão ta fazendo aqui?”

    Émile foi a primeira a sair e ficar de frente com o CEO. Ele não ficou parado, abriu os braços de forma tão larga quanto o seu sorriso. Émile entendeu na hora, circulou os braços entre o corpo do irmão e deram ambos um abraço forte. 

    — Feliz aniversário — Atlantis cochichou. Ambos se afastaram um pouco, o irmão olhou para todos e confirmou que todos estavam ali — ótimo, já que todos chegaram, gostaria de agradecer suas presenças, hoje quero fazer que seja um dia bem especial. 

    — Aí dentro tem… Deixa eu adivinhar, um barco?! — Émile chutou. 

    — Hm — Atlantis colocou a mão no queixo, pensou um pouco. — Não sabia que iria querer isso. Posso providenciar depois. Mas, não, não há um barco. Bom, não vou enrolar demais: aqui, nesse galpão, montamos um labirinto. 

    — Um labirinto? — Todo o grupo falou ao mesmo tempo. Baret era especialmente a que mais estava surpresa. Achou que seria só uma exposição de arte, não um labirinto inteiro.

    — Sim. É um labirinto bem grande, o objetivo dele é bem simples: encontrar “22 pontos de interesse” que estão espalhados por todo labirinto para conseguir ativar o caminho brilhante onde levará à saída. Duas informações importantes: não há um caminho correto, mas há caminhos que podem parecer corretos quando, depois de muito tempo, podem levar a um “dead end”. Outra coisa: como imagino que vão demorar demais, ao centro do Labirinto, há um banquete pronto pra vocês comerem e recuperarem suas energias.

    “Que perfeito!”, Émile pensou. 

    — E o senhor? — Baret questionou — vai nos acompanhar?

    — Infelizmente, não. Tenho algumas reuniões de negócios… Mas não se preocupem, eu tenho certeza que vão se divertir bastante; pedi para que os melhores da minha empresa fizessem um design apropriado. Creio também que haverá outra coisa de seu agrado, Émile. 

    O grupo olhou entre si, Axel tinha suas teorias e Quincas apenas queria ver o que tudo isso iria dar. Baret, por outro lado, tinha certeza que Arya devia ser a “outra coisa do agrado”. Colocou a mão em cima do revólver e já conseguia imaginar o escândalo de fanzisse que a Émile faria. 

    — Bom, vamos — Émile disse animada — quero ver se isso aqui vai ser melhor que a caça ao tesouro do ano passado! Brigada maninho!

    — Não há de quê. — Atlantis reforçou seu sorriso. — Apenas entrem naquela porta e o labirinto começa. Lembre-se, só conseguiram sair assim que encontrarem os 22 pontos!

    — Certo!

    O grupo inteiro se reuniu e passou pela porta, enquanto Atlantis foi embora. Adentraram um corredor escuro, deram alguns passos e deram de cara com uma sala, tão escura quanto o corredor, mas cheio de iluminação neon. Uma voz feminina pôde ser escutada por auto-falantes. 

    — Bem vindos! Esse é… “O Fantástico Labirinto das 22 peças de arte!” E eu… 

    Um som de tambor começou a ser tocado junto a uma névoa que começou a se concentrar no meio da sala. 

    — Que exagero — Axel comentou. 

    — Cala boca! — Baret deu uma cotovelada no seu braço, mas ele mal sentiu. 

    Os tambores continuaram batendo, até finalmente a luz da sala se acender. Uma figura podia ser vista saindo da névoa: uma mulher já conhecida por Baret. Émile levou um tempo para reconhecer, mas no momento que processou a visão, seus olhos brilharam, começou a respirar rápido. 

    — Serei sua anfitriã! — Arya disse animada enquanto fazia uma reverência.

    — É A DUONE! É DUONE! EU NÃO ACREDITO NISSO, É A DUONE! — Correu até ela, seus olhos brilhantes eram idênticos aos de uma criança vendo uma heroína. — Eu sou sua maior fã! Até pedi pro meu irmão comprar uma estátua sua! Nossa, quando eu vi o seu último trabalho, “O Pescador”, eu falei: “ESSA MULHER É INCRÍVEL”, MAS EU, EU…!

    — Calma! — A moça deu uma risada sincera. — Pode me chamar de Arya! É um prazer conhecer uma fã como você! Também gosto do seu trabalho!

    — Hã?!

    — Dos seus vídeos! Acompanho eles faz um bom tempo. Aquele seu vídeo de você gravando um jardim com zoom alto, acompanhando a trajetória de uma abelha pelas flores? Achei magnífico! Arte em sua mais pura forma. 

    — S-sério?!

    — Sérrismo! Você tem certamente uma visão artística refinada. A visão de alguém que quer mostrar o mundo para as pessoas. 

    — Eu… Eu… — Começou a lacrimejar de leve. Mas segurou, limpou com a manga da camisa. 

    — Err… — Axel, o mais para trás do grupo, perguntou: — Quem que é essa aí?

    Outra cotovelada. E de novo, Axel sequer moveu-se um único centímetro. 

    — Mano, você é muito idiota!

    — Eu gosto de ter contexto das coisas! Eu não sei quem é essa aí! Acho que o Quincas também não sa…

    — Essa aí é uma artista muito famosa em Orfenos. Suas esculturas misturam o fantástico com o cotidiano, mostrando um outro lado da realidade que não é normalmente visto. 

    Tanto Baret e Axel ficaram surpresos. 

     — Como tu…? — Axel questionou.

    — A Bianca escutou o nome dela de um dos funcionários do Atlantis e me contou, aí eu pesquisei na internet. — Limpou o ouvido com o dedinho. — Eu só não sabia que ela tava envolvida no aniversário em si. 

    — … Viu só, Axel? 

    — Ata, aposto que você não sabia também! Deve ter descobrido só quando o Atlantis te deu as instruções. 

    — Na verdade…

    Arya interrompeu a conversa quando se aproximou do grupinho. Olhou para Baret com os olhos, deu um abraço na garota no meio do nada. 

    — É bom te ver de novo!

    — Hein? — Baret não esperava por essa. Émile nem reagiu, ainda estava processando o que tinha ouvido de sua ídolo; Quincas achou fofo, e Axel, repugnante. 

    — Enfim! — Arya apenas se virou e aproximou-se de uma caixa que havia ali no canto da sala. Tirou pulseiras para todo mundo, inclusive colocando uma em si mesma. — Peço que todos botem uma.

    Todos obedeceram. Era uma pulseira simples, com um único diferencial de ter dois botões: um botão quadrado e outro de forma triangular. Arya se pôs a explicar:

    — Em partes do labirinto, haverá perguntas que, a depender das respostas, irão separar o grupo. É proibido dizer qual resposta vão colocar! Não se preocupem, pelo que fui informada, o labirinto foi feito de uma forma que em partes, ficaremos juntos e em outras partes, ficaremos separados… E ah! Caso queiram ir ao banheiro, tem um botão pequeno de X! Apenas apartem que o chão vai revelar o caminho para o banheiro, bebedouro e Kit MED mais próximo. Enfim, há 22 pontos de interesse, ou melhor dizendo, estátuas! Quando o grupo todo encontrar as 22 estátuas, o caminho até a saída será revelado. Ou o caminho pra todas as Estátuas que Émile não viu. 

    — Pera aê! — Axel interrompeu. — Tu não sabe o caminho do labirinto?

    — Ah, não se preocupe, anjo! — Axel até ficou sem palavras. — Eu só participei na montagem das estátuas e dos temas de cada sessão, o labirinto em si e o resto foi montado por outra equipe. Atlantis queria que eu participasse, afinal!

    — … E-então tá bom…

    — Bom, vamos? — Arya questionou — ah, e lembrem de deixar o celular na entrada, é proibido ligar um pro outro pela trajetória do labirinto!

    O grupo todo colocou as pulseiras e adentraram ao labirinto, que assim como antes, era escuro com algumas luzes neons para iluminar o caminho. As luzes tomavam cada vez mais forma, formas de estrelas, planetas com anéis, foguetes. Era um grande tema espacial. 

    Andavam pelos corredores, vezes pegando os certo, vezes pegando o errado. Levou muito tempo para finalmente chegarem na primeira divisória de grupo. Um caminho bifurcado, cada um bloqueado por uma espécie de campo de força. No meio das passagens, uma tela que colocava a seguinte pergunta:

    “Quando não se sabe para onde o caminho leva, é melhor ir para… Quadrado: esquerda, triangulo: direita”

    — Que pergunta estranha — Baret indagou — tipo, é meio óbvio a resposta. 

    — Sem dizer a resposta que vai colocar. — Arya a parou.

    Cada um apertou os botões da resposta que acreditavam. Após alguns segundos, a tela mostrou o resultado: quadrado: Arya, Ednaldo e Émile. Triângulo: Axel, Baret. 

    Os dois grupos conflitantes olharam entre si. 

    — Por que vocês iriam para direita? — Quincas questionou. 

    — Cientificamente falando, as pessoas preferem ir para o caminho da esquerda. É instintivo. Gente com cabeça escolhe a direita. Por mais que seja estranho que a Baret também tenha escolhido a direita. Ela deve ter apertado errado. 

    — HEY! Eu escolhi baseado nisso também!

    — Que nada, se eu não tivesse explicado, você não ia dizer. 

    — Eu quero mudar a minha resposta. 

    — Infelizmente, não pode — Arya disse — não deve levar muito para nos unirmos, não se preocupe.

    — É! — Émile reforçou — não se preocupa, você tá sem celular, o quebrador de celular não pode te fazer mal!

    — Não há o que fazer — Arya deu de ombros. — O que resta é continuar. 

    O trio de esquerdistas foi para a esquerda e a dupla de direitistas para a direita. Seguindo pelo caminho, o trio parecia bastante tranquilo, mas Quincas parecia mais e mais pensativo, chegou até colocar a mão na parede por um segundo, como se estivesse analisando algo. 

    Émile percebeu. 

    — Que foi, Quincas? Parece estranho. 

    — As paredes parecem ser boas isolantes sonoras, por isso tô preocupado. 

    — Com o quê? — a aniversariante questionou. 

    — A Baret ta com o revólver e o Axel com a slinger. To com medo deles se matarem.

    — Justo — Émile respondeu. Mas continuou andando como se fosse meramente algo que aconteceria e nada pudesse ser feito. Arya, por sua vez, pareceu preocupada. 

     — A relação de ambos não é boa? Achei que eles tinham intimidade, do jeito que se tratavam. Achei até que fossem irmãos. 

    — A Baret é uma soda e o Axel é um mentos. É uma combinação bem explosiva. — Quincas parecia certo disso, mas em seguida deu um sorriso. — Nah, não tenho porque ficar preocupado, quem sabe eles encontrem alguma coisa em comum. Bora continuar!

    O trio continuou andando pelos labirintos, vendo as várias artes de tema espacial espalhadas pelas paredes. Após cerca de meia hora, chegaram a um pequeno hall circular onde havia a primeira estátua: era feita de uma pedra branca, bastante irregular. Se tratava de um astronauta flutuando, segurando um cabo conectado a sua mochila, em sua mão direita, havia uma faca que tentava cortar esse cabo. 

    Os olhos de Émile brilharam, circulou toda a estátua, pensou um pouco e chegou a uma conclusão:

    — É uma metáfora para nascimento, e de certa forma, independência. O astronauta é um símbolo de vida, afinal, se não fosse por eles, não estaríamos aqui em Vulcano. O cabo de oxigênio representa o cordão umbilical, o astronauta está o cortando, mesmo que sua vida dependa disso, para se tornar um ser separado de sua nave, isso é, sua mãe. Já material… Parece que é rocha? Mas é estranho…

    — A rocha veio de um meteorito, bom, vários. Esse foi o mais difícil de conseguir o material, precisei da ajuda de Atlantis para isso. Sobre sua interpretação, ela é linda!

    — Feito de meteoro? Uau, eu sempre quis ver um! — Quincas comentou admirando. 

    — Pois está vendo! Heh, eu mesma fiquei muito impressionada com o senhor Atlantis conseguir essa quantidade toda. 

    — Isso me lembra um velho sonho. — Quincas cruzou os braços, olhou para a estátua e deu um sorriso. — Queria ser astronauta. Bah, lembro das naves de papelão que eu fazia quando criança! Era cada uma tão boa que parecia que ia realmente começar a voar!

    — Huhu, devia deixar seus pais cheios de orgulho.

    — Nem tanto pro meu pai. Ele quebrava tudo quando via. Foi o motivo de eu parar. 

    — Ah… — O clima ficou ruim por um momento. Arya desviou o olhar por um momento, mas em seguida, deu um sorriso e respondeu com uma voz doce. — Se quiser, eu posso te ajudar a fazer um foguete de papelão. 

    — Sério?!

    — Sério. 

    — Então ta combinado! Te passo meu número depois, e aí combinamos certinho. 

    Ambos deram um sorriso, mas foram plenamente interrompidos com Émile

    — Hey! Vamos continuar! Ainda faltam 21 estátuas!

    Voltaram a andar pelo labirinto. 

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