Capítulo 8 (Parte 2) - Aniversário Astérico
As quinze e vinte, uma dupla andava pelas ruas com certo cuidado, ou melhor dizendo, o homem alto, de roupas e chapéu preto andava com cuidado e a garota loira que o acompanhava segurava sua slinger em forma de metralhadora para todos verem. Era uma sorte a rua estar vazia, mas bastava bater o olho nela que sabia que problemas era algo que traria com gosto.
Em frente ao grande galpão, o homem disse em voz suave:
— Lembra do plano?
— Destruir tudo!
— Não. O outro plano.
— Você disse que eu podia explodir tudo a vontade! Elliot!
O homem deu um suspiro, confirmou com a cabeça por um instante. Tirou um papel de seu bolso e deu para a garota.
— Destroyer, destruir tudo deve ser só uma consequência, não o plano. Olhe, aqui é um labirinto bem grande, e temos que achar a garota Dayone antes dela terminar o percurso, além de que, pelo que confirmei, um dos guardas dela é capaz de fazer portais. Nesse caso, é nossa prioridade eliminá-lo ou garantir que ele esteja longe.
— “Labirinto grande… 22 estátuas…” que que é isso?
— Informações que consegui com um dos funcionários. Não consegui um mapa, infelizmente.
— Tsc… Pera, e a Ramona? A patroa mandou a gente achar ela antes de pegar a garota!
— Ramona só é achada se quiser ser achada. — Gesticulou com a mão de forma que dizia “tanto faz”. — Não adianta nos esquentar com isso. Nossa prioridade é pegar a garota, assim como Raimunda mandou.
— Tá! Ok… Tá! Qual o plano, além de destruir?
— Se sei algo do labirinto, ele tem uma bifurcação inicial que separa as pessoas em dois grupos. Vamos no separar nessa bifurcação para adiantar. Lembre-se: se encontrar a Dayone, pegue ela viva. Já outras pessoas… Faça o que bem entender.
— Destruir!
— Correto. Vamos.
Ficou em frente a porta que, naturalmente, estava fechada. Se tratava daqueles modelos eletrônicos, sem fechadura. Não seria do tipo que poderia facilmente abrir ou arrombar, nem mesmo uma explosão poderia ser o suficiente. Mas ele tinha um método mais eficiente.
Colocou a mão por trás de sua capa preta, e retirou de um cinto um frasco de sangue. Jogou ao chão, espalhando o líquido vermelho viscoso. Apontou sua slinger, uma flintlock para a poça de sangue e disparou. O som ecoou pela rua, mas nada que um bom romanivano já não estivesse acostumado. O sangue brilhou por um mero segundo, e então… Estava sobre seu controle.
Com a mão esquerda, começou a fazer movimentos que pareciam controlar o sangue como se fosse uma marionete. O líquido saiu do chão, formou-se como um globo. Em seguida, a bolha adentrou pelos vãos e vazios da porta, espalhando-se pelos seus sistemas mecânicos. Elliot fazia movimentos precisos com seus dedos, até fechar completamente a mão em forma de punho, ao mesmo momento, a porta se abriu e o sangue saiu de lá, concentrando-se novamente em sua mão.
— Vamos.
Os dois entraram e seguiram pelo corredor escuro, até alcançar a sala iluminada onde a entrada do labirinto de fato ficava. Elliot não perdeu tempo, entrou no labirinto seguido de Destroyer. Manipulando o sangue em sua mão, o fez flutuar pelos corredores em sua frente, determinando onde era o caminho correto, e onde era o caminho errado.
Foi assim por mais ou menos quatro minutos, até o sangue simplesmente cair ao chão.
— E o feitiço acaba — comentou — hm, me pergunto se deveria ou não utilizar outro tiro…
— Qual o problema? Só atira! Não quero perder tempo no labirinto. Quero ir logo pra diversão!
— O problema é o barulho… — Elliot colocou a mão numa das paredes, analisando-a por um segundo. — O tiro da minha slinger é alto. Se ele ecoar pelas paredes, podem acabar alertando nosso alvo.
— Será…? — A garota coçou a cabeça. — Mas se a gente ficar no labirinto por muito tempo, eles podem só achar a saída e sair.
— Infelizmente sim… Vamos continuar normalmente, se não acharmos o caminho bifurcado logo, usarei a slinger.
— Tá bom!
Voltaram a andar, mantenho um silêncio que, até então, era o padrão entre os dois. Destroyer não gostava disso. Podia até entender que Elliot era um cara fechado, um sussurro, por assim dizer. Não ajudava que as paredes negras eram desinteressantes demais.
Puxar assunto era inevitável.
— ENTÃO…
— Shh!
— Então… O que a gente faz quando pegar ela? A garota.
— Se conseguirmos levar ela sem testemunhas, levamos ela direto para Raimunda. Se alguém escapar, por outro lado… Precisamos esperar a poeira baixar, garantir que não seremos seguidos. Não queremos levar eles para a base de operações, queremos?
— Eu não me importaria! Daria uma treta boa, eu pegaria minha slinger e bang, bang, bang!
— Shhhh, tome cuidado pra não falar alto. Não temos certeza se há alguém próximo ou não. O ideal seria não falarmos nada.
— Mas é chato…! Além disso… Eles já estão aqui ao quê? Duas, três horas? Já devem estar bem longe ou num andar de cima. Se não formos mais rápido, eles vão sair logo mesmo! Deixa eu usar os meus pimpolhos e explodir as paredes?
— Isso pode colapsar o prédio. Hm… Mas acho que está certa, eles já devem estar bem para frente. — Tirou de seu cinto mais um frasco de sangue, espalhou o sangue no chão e, em seguida, tirou sua slinger do coldre. — Quando eu disparar a arma, irei usar o sangue para ver o caminho. Não irei parar de correr, para maximizar o tempo do feitiço. Quando encontrarmos a bifurcação, qual caminho irá pegar: direita ou esquerda?
— Direita, é claro!
— Ótimo, eu estava pensando em ir para esquerda mesmo. Muito bem…
Sem mais delongas disparou a arma. O som ecoou por todo o labirinto.
Um tanto longe dali, a mais ou menos seis estátuas de distâncias, o trio paralisou ao ouvir o eco do disparo. Quincas principalmente parou, mordeu o lábio por um segundo e mexeu a cabeça lentamente em confirmação.
— Bom… Talvez eles tenham se matado no final. Não consigo identificar pelo som, mas acho que a Baret deu cabo no Axel.
— … Pera, será mesmo? — Émile questionou com a sobrancelha erguida.
— Sei lá, talvez tenha sido um deles atirando pra avisar…? Ou melhor, talvez o Axel fazendo um portal pra ir embora! Tô achando até estranho a gente demorar tanto para se reencontrar. Não era pra gente se reencontrar logo depois da primeira estátua? — Quincas direcionou seu olhar para Ayra.
— Não sei… Eu acho que sim? Como eu disse, eu não sei nada do labirinto, talvez tenham me dado uma informação errada ou desatualizada. Já achamos seis estátuas, se eu tivesse que assumir, Baret e Axel devem ter achado esse número também.
— Será que tamo chegando perto do centro? Tô ficando com uma fome… — Émile colocou as mãos por cima da barriga. — Carregar minha slinger não é tão ruim quando eu imaginava, mas ainda põe um stress na cintura.
— Tu se acostuma! — Quincas deu um leve tapinha no próprio coldre. — Às vezes é legal colocar outra coisa do mesmo peso, tipo outra arma no outro lado do coldre, pra balancear. Só não trouxe minha outra pistola, pois achei desnecessário.
— Heh, não entendo muito dos romanivanos carregarem armas por tudo que é lugar… — Arya comentou — Baret também estava armada, não é? Além daquele outro amigo de vocês, Axel, não é? Estava com duas espadas.
— Uma das espadas é a slinger dele. É tipo um revólver com lâmina — o homem corrigiu.
— Sério? Que diferente!
Voltaram a andar, por infortúnio, em círculos. Levou quase meia hora para chegarem ao caminho correto. Émile e Quincas pareciam tranquilos, mas Arya era a única que mostrava algum grau de preocupação com aquele barulho de tempos atrás.
“O som foi baixo… O que poderia ser? Alguma coisa caiu talvez? As paredes são grossas, então precisa ser um barulho realmente alto a depender da distância…”
Após isso, continuaram andando até uma porta diferente de todas as outras até aquele momento. Os olhos de Arya brilharam um pouco, virou-se para o grupo entusiasmada.
— Esse aqui é o centro do labirinto! — Apontou para a porta fechada. — Só apertar qualquer um dos botões. Aí fazemos nosso almoço!
— Não seria melhor esperar a Baret e o Axel? — Quincas comentou, cruzando os braços.
— É! Pera… — Émile, então, se virou. — Tô ouvindo uns passos apressados. Devem ser eles né? Bom, já vamos abrir então!
Os dois concordaram. Apertaram os botões e lentamente, a porta se abriu. Revelando uma visão que nenhum deles esperava.
Era uma sala grande cheios de portas diferentes, ao centro dela, uma mesa longa em formato retangular. Havia uma variedade de comidas diferentes, bifes, massas, saladas, bolos e doutros doces. Era um verdadeiro banquete do mais alto nível.
Mas essa não era a surpresa.
Na ponta da mesa, exatamente a frente da porta que o trio estava, havia uma mulher sentada. Roupas de vaqueira, chapéu que cobria os olhos; uma slinger nas costas. Com garfo e faca nas mãos, comia lentamente um bife.
“Quem é essa?” os três se perguntaram mentalmente.
Ela, por sua vez, parou subitamente de comer. Largou os talheres, pegou um dos guardanapos e limpou sua boca. Moveu a cabeça para cima, revelando seus olhos amarelos como mel. Puxou uma pistola, mirou contra Émile e disparou.
Quincas teve a reação mais rápida dentre todos do grupo. Se colocou em frente a garota, rápido o suficiente para levar o tiro enquanto já botava a mão no seu coldre. Quando sentiu aquilo lhe perfurando; percebeu que não se tratava de uma mera bala: era uma espécie de dardo, possivelmente banhado em algum veneno ou sedativo.
Sentiu um pesar bater em seu corpo, as pálpebras ficaram pesadas. Não se deixou afetar. Ouvindo os passos ficarem mais próximos, precisava proteger Émile até Axel e Baret chegarem.
Apenas por um único segundo.
Quando seus olhos foram para o lado; quando viu um homem de capa preta correndo em direção a eles, apontando sua slinger. Percebeu a encrenca que se meteu.
Usou toda a força do braço direito para empurrar as duas mulheres para dentro da sala de almoço, em direção a outra porta mais próxima, que mesmo com todo o susto, conseguiram correr e atravessar.
A mulher em sua frente não ficou parada. Levantou rápido como um trovão, e apontou um rifle para Quincas, que estava cercado. Em sua frente havia a mulher e, ao lado, a alguns passos de distância, um homem com chapéu negro apontando uma pistola para ele. Havia outra opção a não ser o que estava prestes a fazer?
Apontou a arma para o homem de preto o mais rápido possível e disparou. Quincas e Elliot mudaram de lugar um mero segundo antes da mulher disparar seu rifle.
Quincas correu o mais rápido possível entre o labirinto.
Os dois invasores ficaram cara a cara, encarando-se por um segundo. A mulher deu um suspiro e parou seu dedo tempo. Andou em direção a ele calmamente.
— Deixa adivinhar: Raimunda que mandou pra me atrapalhar?
— Não exatamente, mas quase. Estávamos procurando por você por todo esse tempo. Não achei que iria achar você logo aqui. Como conseguiu entrar?
— Longa história. Veio só você? — Franziu a testa.
— Destroyer veio junto, mas ela está no outro lado do labirinto.
— Aquela garota? Ainda bem que eu não sou você. — Deu outro suspiro e olhou para a porta onde as duas mulheres escaparam juntas. — Eu pego a garota. Você elimina aquele velho. Ele não deve ir longe, coloquei um tranquilizador no dardo.
— Lembre-se: nós não podemos matar ela.
— Que se foda o que você pode fazer ou não. Mas não esquenta a cabeça. — Estalou o pescoço, em seguida, indo em direção à porta. — Eu não pretendo matar ela. Ainda.
Nenhuma palavra a mais foi dita.
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